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Marxismo e Cristianismo

Como situar a relação entre cristianismo e marxismo? Mais exatamente o cristão pode colaborar com os marxistas na luta político-social?

Já mencionamos que o ateísmo não é de forma alguma um apêndice ou elemento adventício no marxismo, mas antes uma das idéias principais, até mesmo a inspiração profunda do sistema. Isso é dito de forma claríssima pelos intérpretes mais que autorizados do pensamento marxista, como A. Cornu, etc. Pode-se mesmo dizer que a crítica marxista da religião não é tão somente um corolário da crítica do liberalismo econômico contida em “O Capital” (como acreditam tolamente muitos cristãos de nosso país), mas é justamente o contrário que é verdadeiro: o esquema da alienação, cuja essência está em Feuerbach e que se aplica às relações entre o homem e Deus, é por sua vez aplicado por Marx à sociedade capitalista.

Falávamos do problema atual, a um tempo atrás, com uma alta personalidade romana. Esta nos declarou: “Não consigo entender o comportamento de certos católicos franceses, que sempre tentam conservar-se em perpétuo contato com o comunismo: a oposição total contudo é mais que manifesta, e em todos os níveis as doutrinas são inteiramente antagonistas e inconciliáveis uma com a outra. A Igreja já interveio diversas vezes para dizer que se deve pensar nisso, que o cristão católico deveria encerrar o debate. Enfim há a prova dos fatos: em todo lugar onde o comunismo está no poder, ele se encarniça em destruir a religião cristã”.

Essas palavras autorizadas nos dão o traçado de um plano:

Caráter intrinsecamente inconciliável das doutrinas

Elas se opõem no que respeita à idéia que têm da realidade, da hierarquia dos bens e dos males, da finalidade que almejam, e enfim da escolha dos meios.

a) Para o cristão (e em geral para o espiritualista e o homem de religião monoteísta) o mundo material existe com certeza e é obra de Deus: não devemos desprezá-lo, nem negligenciá-lo, no entanto a realidade suprema é Deus e o mundo espiritual, muito mais rico e denso que o mundo material. Qualquer ato de fé proclama essa realidade, e os santos fizeram disso o centro de suas vidas. Para o marxista só existe a matéria, o pensamento não passa de um efeito dela, e tudo o que pertence ao mundo espiritual é pura fantasmagoria, mistificação nefasta que se deve extirpar.

b) Para o cristão a suprema aflição, a única alienação integral é o pecado, a falta moral. Em comparação a isso o resto é secundário. Para o marxista a noção de pecado é enganadora e irracional, o mal supremo é o sofrimento resultante da opressão social.

c) Para o cristão a vida dos homens cá embaixo não é totalmente desinteressante, devendo-se combater a injustiça, mas no final das contas a última morada é o céu, e a esperança está no Reino de Deus, e não na técnica e na racionalização dos meios de produção. Para o marxista “o paraíso está na terra que construiremos” (Maurice Thorez, retomando uma expressão de Marx) , o resto é quimera odiosa.

d) Para o cristão existem meios de ação intrinsecamente ilegítimos, que não se devem empregar nunca, qualquer seja seu efeito temporal (visto que o pecado é o maior dos males). Para o marxista, bom é o que serve à causa da Revolução, e mal o que se lhe opõe*, de modo que é coisa rara ver as boas almas se espantarem quando o comunismo se vale de procedimentos como a mentira, a calúnia em detrimento do adversário, os processos pré-fabricados, a liquidação física de indivíduos ou grupos, etc. Em sua visão haveria grande prejuízo em tolher as ações devido a um escrúpulo pequeno-burguês, já que se trata de tornar os homens felizes de uma vez por todas.

Como então poderia o cristão colaborar, mesmo no plano puramente prático (?) com o Partido Comunista? Não dá para entender, logicamente falando, como alguns puderam acreditar e perseverar nesse caminho (o que prova que certos espíritos são capazes de rejeitar até às evidências).

JUGNET, Louis. Doutrinas Filosóficas e Sistemas Políticos. Rio de Janeiro: Editora Permanência, 2008, p.69-71.
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