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Octávio de Faria sobre Léon Bloy


Assim como sua vida pode ser considerada, em seu todo, como o testemunho vivo de sua fé em Deus, também seu pensamento pode se sintetizar em uma frase: Deus existe. Esse homem, Léon Bloy, acreditava em Deus, e sua mensagem, por mais rica e complexa que se nos apresente, é apenas a expressão disso, a afirmação, não importa em quantos tons e sob que variantes, dessa realidade fundamental. É de que, em consequência, existe entre o mundo divino e o mundo humano uma constante intercomunicação. Sua maior grandeza, sua força principal para nós que vivemos home, vem daí, desse fato de ter acreditado na existência de Deus como nenhum outro homem, e de ter consagrado uma obra e uma existência inteira a essa afirmação nuclear: Deus existe. Deus existe e Jesus Cristo, seu Filho, morreu por nós, e o Espírito Santo, Terceira Pessoa da Trindade Divina, virá um dia varrer a terra com o seu fogo de purificação - Tal é a sua mensagem essencial.

Da intensidade com que esse cristão privilegiado acreditava em Deus, não sei como dar uma idéia, aqui. Não sei que trechos escolher numa obra que, toda ela, diz a mesma coisa, mostrando a todos os momentos a presença ou a ausência de Deus em tudo, nas coisas que acontecem tão bem quanto nas que deixam de acontecer. Mas, não será suficiente relembrar que para ele o visível era, apenas, "o rastro dos passos do invisível"? ... Ou, simplesmente, recordar o que sua existência foi, como toda ela o exprime, e diariamente, a mesma idéia fundamental: a diferença entre o mundo e eu, Léon Bloy, é que eu, Léon Bloy, acredito em Deus e a Ele me entreguei por inteiro, e o mundo não acredita em Deus, renegando-o a todos os instantes. Daí meu sofrimento - daí a glória do mundo...

Acreditou em Deus nos detalhes mais ínfimos das horas que passavam e no desenrolar dos destinos maiores de que a história deu notícia, no dos Imperadores de Bizâncio, no de Joana D'Arc, no de Cristóvão Colombo, no de Maria Antonieta e no de seu pobre filho, no de Napoleão ("face de Deus nas trevas") e, sobretudo, no seu próprio. Viu-O por toda a parte, até mesmo por detrás da linguagem despreocupada do burguês - nessas espantosas exegeses de lugares-comuns que valem como o "police-verso" dirigido contra o mundo da Burguesia - e viu_o na glória dos seus maiores santos e dos místicos que mais perto d'Ele chegaram. Acreditou n'Ele, esperou n'Ele e por Ele, "discutiu" com Ele, sofreu aos Seus pés e ao Seu lado. E foi mesmo mais longe ainda, para escândalo do mundo, dos homens da ciência e dos filósofos que tudo sabem e demonstram: acreditou realmente no demônio, temeu-o, distinguindo nas coisas do mundo, as suas coisas das de Deus. Proclamou-o sem medo, fez até, dessa distinção, uma de suas principais revelações. Chegou mesmo a declarar (cubram a cara os que quiserem): "Tudo, nesse mundo, é inexplicável sem a intervenção do Demônio."

É que seu catolicismo era um catolicismo vivo, catolicismo de quem só conhecia uma regra fundamental: o Evangelho. E, o Evangelho sem a distinção, a seus olhos odiosa, demoníaca, entre o preceito e o conselho. O Evangelho, que ensina: é preciso ser pobre para se salvar, o Evangelho que ele próprio propõe: "Vender tudo, deixar tudo, destruir em si o espírito do mundo." O Evangelho, a quem todos deviam configurar suas vidas diárias, porque nele está escrito, para sempre, a história de todos os homens. Dirá mesmo: "A ressurreição de Lázaro é a história de todo o mundo, a cura do cego de nascença, do surdo-mudo, do paralítico ou dos dez leprosos, todos os milagres do Evangelho são a história de todo o mundo, mas ninguém o percebe. Aliás, como percebê-lo, se mais de uma vez ele próprio nos adverte: "A nenhum homem é dado conhecer a sua própria história"?

Catolicismo vivo, intransigente, de quem sabe que, se Deus existe, existe em todas as coisas e a todos os momentos, na dor como na alegria, na glória dos céus como pregado no Madeiro, sangrando e sofrendo. Catolicismo de quem, como já tivemos ocasião de ver, aprendeu com Pascal que Jesus o Cristo está em agonia até a consumação dos séculos, até que os homens tenham suficiente piedade dele pra ir tirá-lo da Cruz, abandonando as riquezas e os prazeres do mundo, renegando o Dinheiro que é o "Sangue do Pobre". Catolicismo de todos os instantes, que sabe perfeitamente: nada se faz, nada se diz, nada se pensa, que não vá diretamente tocar as pessoas da Trindade Divina, o Pai que é Amor e Glória, o Filho que é Sofrimento e Pobreza, o Espírito Santo que é Fogo e Mistério. Catolicismo de quem, de tanto caminhar à sombra do Espírito Santo, conseguiu descobrir: "Quer o queira ou não, quer o saiba ou o ignore, cada homem é forçado, a todos os instantes de sua vida, a declarar a morte de Jesus Cristo. Aquele que compra um pão, anuncia a morte de Jesus Cristo." - e que diz também, com igual inspiração divina: "Jesus está no centro de tudo, assume tudo, sofre tudo. É impossível golpear uma criatura sem golpeá-lo, humilhar alguém sem humilhá-lo, amaldiçoar ou matar quem quer que seja sem amaldiçoá-lo ou matá-lo. O mais vil de todos os miseráveis é obrigado a tomar emprestada a Face do Cristo para receber uma bofetada, de não importa que mão."

Catolicismo, portanto, de quem tem de ver tudo de modo diferente do comum dos homens, de quem tem de denunciar os perigos que o mundo corre, de quem tem de lhe gritar - já que esse mundo criminoso esqueceu completamente o Cristo e a verdadeira prática de sua religião -: "É preciso rezar. Tudo mais é vão e estúpido. É preciso orar para suportar o horror desse mundo, é preciso rezar para ser puro, é preciso rezar para obter a graça de "esperar". Catolicismo profundo, visceral, de quem orava incessantemente, de quem trazia nas calças as marcas das constantes genuflexões que fazia. E Léon Bloy, realmente, andava pelas ruas rezando, de rosário no bolso, sem que os homens o percebessem, como também não viam o rosário no bolso de Péguy - desse Péguy que passou, provavelmente mais de uma vez, rezando, a seu lado nas ruas de Paris, sem que nenhum dos dois tivesse consciência disso...

Rezar, portanto. Rezar para que os homens tenham noção do perigo que estão correndo - outro não tendo sido o aviso da Virgem na Salette - e voltem enfim a Deus. Pois, como Bloy tão bem disse: "Ninguém, seja entre os melhores cristãos, parece procurar Deus, nem mesmo pensar n'Ele. Todos se sentam à mesa como cães e vão pra a cama como porcos. Impossível conseguir a menor atenção, quando se fala de Deus."

Esquecimento de Deus - esquecimento de Cristo. E, se Dostoievsky, nessa época, do fundo da Rússia, denunciava na perda do Cristo o motivo fundamental da decadência da civilização ocidental, Léon Bloy, em pleno campo de batalha, não vê diferentemente o problema. Também para ele, a renegação do Cristo, tácita ou explícita, o esquecimento ou a deturpação do seu ensino, é a razão decisiva do esboroamento do mundo moderno, desse universo católico que via marchando tão violentamente para as anunciadas catástrofes finais que não havia terremoto na Sicília, naufrágio no Atlântico ou incêndio na Ópera ou num Bazar de Caridade qualquer, que não lhe parecesse logo o mais evidente sinal de que o castigo último ia enfim começar - o dilúvio esperado, ardentemente esperado, não devendo demorar muito...

O mundo e Judas traíram o Cristo. Bloy, no entanto, ao mundo, ainda prefere Judas. Pelo menos, esse pobre miserável, que reuniu contra si o universo inteiro, teve o movimento final de revolta contra sua miséria, contra sua traição. Renegou-se publicamente. O mundo, não. Dele, nenhum desespero a esperar, nada que se pareça com a devolução dos trinta dinheiros. (...) Tal é o mundo que odiou tanto (talvez como ninguém mais), e de um modo tal que frequentemente o surpreendia, já que, na verdade, era capaz de muito amor, de grandes movimentos de ternura, como o provam inúmeros trechos de sua obra, especialmente os consagrados à glorificação da Virgem e à propagação de sua mensagem da Salette. No entanto, para o mundo propriamente, eram bem outros seus impulsos, e mais de uma vez teve de fazer dessas confissões: "Sim, é verdade, sinto-me cheio de ódio desde a minha infância e ninguém jamais amou os homens mais ingenuamente do que eu. Detestei, porém, as coisas, as instituições, as leis do mundo. Odiei infinitamente o Mundo e as experiências de minha vida não serviram senão para exasperar essa paixão."

nenhuma dúvida: entre Deus e Mamon, não teve vacilações. Não as compreenderia, nesse terreno. Considerando-se, como sabemos, um apóstolo "do cristianismo absoluto", não transigia em nada, não abandonava coisa alguma para que, em troca, lhe fizessem concessões vantajosas. Seu catolicismo é absoluto, repitamos mais uma vez. E os exemplos acorrem para desacoroçoar, de início, os que acaso sonhem em em adaptá-lo à meia-luz e aos meios-tons de suas tristes telas. A Alguém que, na Dinamarca, certa vez, lhe oferece jornais do dia para ler as novidades, responde: "Quando quero saber as últimas novidades, leio São Paulo." A um inquérito sobre "clericalismo", replica, furioso: "Clericalismo é uma palavra vaga e covarde, uma palavra podre que rejeito com asco. Se se quer designar, desse modo, o Catolicismo romano, isto é: a única forma religiosa, eis a minha resposta, bem nítida, às três questões propostas: I) - Eu sou pela Teocracia absoluta, tal qual é afirmada na Bula "Unam Sanctam", de Bonifácio VIII. II) - Eu penso que a Igreja deve deter em suas mãos as duas Espadas, a Espiritual e a Temporal, que tudo lhe pertence, as almas e os corpos, e que, fora dela, não pode haver salvação, nem para indivíduos nem para sociedades. III) - Enfim, acho que é ofensivo para a razão humana por em discussão princípios tão elementares."

Mais intransigentemente, ainda, declara adiante: "Vazio de tudo o que não é divino." ou, variando, "insuficiência e miséria de tudo o que não é divino." E, cumula sua intransigência com essa afirmação que, por certo, desorientará a muitos, mas vale por um de seus melhores retratos de corpo inteiro que conheço: "Enfim, tudo o que não é estritamente, exclusivamente, desesperadamente católico, deve ser atirado às latrinas" ...

Octávio de Faria. Léon Bloy. Rio de Janeiro: Gráfica Record, 1968. p. 60-64

Somente o que é Absoluto é verdadeiro

 

"Quando se é um homem e se toca num princípio qualquer, é preciso esgotá-lo, sendo possível. Quando se toma uma certa direção, e não se é um imbecil ou um covarde, é preciso ir até o fim, não importa o que aconteça, ou então nunca se deveria ter tomado o bastão do viajante. Os corações valentes não param nunca no meio do caminho. Não tomam da Verdade isso, deixando aquilo, mas aceitam-na toda inteira, de modo a lhe serem fiéis até mesmo além da morte. Os semi-ordinários fazem-nos pena, e é um sentimento muito justo, pois todo erro não é senão um abuso da verdade. Mas, o que diremos de um homem honesto pela metade e, com mais razão, da metade de um cristão? Somente o que é Absoluto é verdadeiro." 

Léon Bloy

Léon Bloy sobre a Comunhão Diária


"Quando não se comunga todos os dias, não se é cristão, salvo no caso de invencível empecilho. É o seu caso? Então, é vontade divina que lhe seja infligida tal provação. Sob esse ponto, não posso lhe dar conselho... Tudo o que sei, ei-lo aqui: preferiria me expor aos maiores perigos, do que ser privado da comunhão diária. Como poderá Jesus resistir a uma alma que morre de fome e lhe pede para receber seu Corpo? É, muito simplesmente, uma imensa confiança em Deus."

Mais algumas citações de Pascal


"Não somente não conhecemos Deus senão por Jesus Cristo, como não nos conhecemos a nós mesmos senão por Jesus Cristo. Não conhecemos a vida nem a morte senão por Jesus Cristo. Fora de Jesus Cristo, não sabemos o que é nem a vida nem a morte, nem Deus, nem nós mesmos."

"O Deus dos cristãos não consiste num Deus simplesmente autor das verdades geométricas e da ordem dos elementos: é a parte dos pagãos e dos epicuristas. Não consiste unicamente num Deus que exerce sua providência sobre a vida e sobre os bens dos homens, para oferecer aos que o adoram um feliz suceder de anos: é a parte dos judeus. Mas, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacob, o Deus dos cristãos, é um Deus de amor e de consolação. É um Deus que lhes faz sentir inteiramente suas misérias e sua infinita misericórdia, que se une ao fundo de suas almas, que as enche de humildade, de alegria, de confiança, de amor, que as torna incapazes de outro fim senão ele próprio."

Vídeo: Tarde te Amei - Sto Agostinho


Oração de Pascal


"Amai meus sofrimentos, Senhor, e que os meus males vos incitem a me visitar. Mas, para terminar a preparação da vossa morada, fazei, ó meu Salvador, que se o meu corpo tiver isso em comum com o vosso, que ele sofra pelas minhas ofensas. E se a minha alma tiver também isso em comum com a vossa, que ela se entristeça por essas minhas ofensas. E que, assim, eu sofra convosco, e como vós, e em meu corpo, e em minha alma, pelos pecados que cometi. Fazei-me a graça, Senhor, de acrescentar vossas consolações aos meus sofrimentos, a fim de que sofra como Cristão. Não peço ser isento de dores. Pois, é a recompensa dos santos. Mas, peço não ser entregue às dores da natureza sem o consolo do vosso Espírito. Pois, é a maldição dos Judeus e dos Pagãos. Não peço, também, ficar em plenitude de males, sem consolo. Pois, é um estado de Judaísmo. Mas peço, Senhor, sentir conjuntamente as dores da natureza, em paga dos meus pecados, e as consolações do vosso Espírito, mediante vossa graça. Pois, é o verdadeiro estado do Cristianismo."

Pascal.

Octávio de Faria. Léon Bloy. Rio de Janeiro: Gráfica Record, 1968.

Jovem ateia, leitora do “novo ateísmo”, até que leu Bento XVI e Santo Tomás de Aquino


Megan Hodder é inglesa, tem 21 anos e é uma leitora voraz. Desde o Pentecostes deste ano, também é católica, recém-batizada. 

Há cerca de dois ou três anos ninguém poderia prever isto, porque Megan não recebeu absolutamente nenhuma educação cristã e lia com assiduidade e gosto autores de divulgação do “novo ateísmo”: Dawkins, Harris, Hitchens…

Mas tudo mudou quando decidiu que para poder zombar da Igreja Católica, grande símbolo da irracionalidade, devia ler diretamente Bento XVI. E aí foi onde começou uma conversão marcada pela lógica, razão e pensamento.

CRESCER DEPOIS DO 11 DE SETEMBRO

“Fui educada sem religião, e tinha 8 anos quando sucedeu o atentado das Torres Gêmeas no dia 11 de setembro de 2001. A religião era irrelevante em minha vida pessoal, e durante meus anos de estudo a religião só proporcionava um fundo de notícias sobre violência e extremismo”, assinala em seu testemunho no “The Catholic Herald”.

Megan é representante de uma geração jovem que cresceu lendo autores como Dawkins, Harris e Hitchens, que com um estilo informativo afirmam que a religião é a causa de quase todos os males do mundo, que o terrorismo islâmico é a prova e que o cristianismo é quase a mesma coisa.
Mas desde a adolescência, Megan entendeu que tinha que ler algo mais do que apenas os polemistas do novo ateísmo. Decidiu se instruir sobre “os mais distintos inimigos da razão, os católicos”, para refutá-los em sua ignorância.

UMA FÉ COMPATÍVEL COM A RAZÃO

A primeira coisa que fez foi ler o famoso discurso em Ratisbona de Bento XVI, que defendia a razão frente à fé cega. A maneira com a qual a BBC em línguas asiáticas difundiu este discurso nos países islâmicos causou grandes manifestações anticristãs, com violência e vítimas fatais.

Também leu o livro mais curto que pôde encontrar de Bento XVI: “Sobre a consciência” (tradução livre da obra).

“Esperava e desejava mostrar sua irracionalidade e preconceitos, para justificar meu ateísmo. Mas em contrapartida, um Deus que era o Logos se apresentou a mim; não um ditador sobrenatural que esmaga a razão humana; mas a fonte da bondade e verdade objetivas, que expressa a Si mesmo, para a qual se orienta nossa razão, e onde alcança sua plenitude; uma entidade que não controla nossa moral de maneira robótica, mas que é a fonte da nossa percepção moral…”.

O fato é que aquilo que Megan encontrava não era o que os autores do “novo ateísmo” diziam. “Era uma percepção da fé mais humana, sutil e, sim, crível, do que esperava. Não me conduziu a uma epifania espiritual dramática, mas me animou  a buscar mais o catolicismo, a reexaminar com um olhar mais crítico alguns problemas que tinha com o ateísmo”.

OS PROBLEMAS DA MORAL SEM DEUS

Megan entendia que uma moralidade sem Deus tem duas tendências problemáticas, ou é tão subjetiva que chega a ser absurda, ou tenta seguir uma suposta lógica estreita que leva a resultados tão desumanizantes que causa repugnância.

As teorias éticas que melhor superavam estes problemas, entendeu, eram teístas, e depois de ler Bento XVI o teísmo não parecia tão absurdo.

DAWKINS NÃO ENTENDEU TOMÁS DE AQUINO

Outro problema presente no “novo ateísmo” é a metafísica. “Logo percebi que confiar nos novos ateus para ter argumentos contra a existência de Deus foi um erro, porque Dawkins, por exemplo, trata de maneira desdenhosa Santo Tomás de Aquino em “Deus, um delírio”, Dawkins só aborda um resumo das Cinco Vias e sem entender aquilo que apresentam. Foquei-me nas ideias tomistas e aristotélicas, e vi que apresentavam uma explicação válida do mundo natural, uma explicação que os filósofos ateus não souberam atacar de maneira coerente”, escreve Megan.
Megan buscou incoerências e inconsistências na fé católica, mas teve que admitir que uma vez aceitando sua estrutura e conceitos básicos, tudo se encaixa “com uma velocidade impressionante”.

O GRANDE OBSTÁCULO: A MORAL SEXUAL

A exigente moral sexual católica começava a ter sentido quando era abordada a partir dos textos da “Teologia do Corpo” de João Paulo II. George Weigel deu a ideia fundamental em “Cartas a um jovem católico”, quando disse: “as coisas importam”. No catolicismo o sexo importa, o corpo importa, a vida e a fertilidade importam, o que se faz é importante, tem consequências e expressa algo.

“A moral sexual católica não é uma lista de proibições, como pintam por aí”, escreve Megan em seu blog. “É o reconhecimento de que existe uma harmonia entre Deus e a humanidade que está incrustada no mundo material, que se manifesta de uma forma assombrosa e aguda na complementaridade entre o homem e a mulher e seu chamado a ser uma só carne”.

Megan, que cresceu numa Inglaterra de liberalismo sexual absoluto, assinala “o fato de que os métodos contraceptivos são responsáveis por quase dois terços dos abortos do Reino Unido, e as doenças sexualmente transmissíveis alcançam níveis altos, históricos”, para indicar o fracasso do “sexo-sem-consequências”.

Sobre o feminismo, constata que a cultura pansexual converteu a mulher num mero objeto, não num ser humano com igual dignidade, e que desconhece a realidade da fertilidade feminina e seus ritmos naturais.

A “Teologia do Corpo” e a moral sexual católica oferecem assim “um modelo de relações humanas que é seguro, duradouro e comprometido, encima de bases sólidas, ordenado para a unidade e a vida. O ideal católico das relações humanas é um desafio exigente, mas um desafio rumo à excelência, para ser fiéis às nossas necessidades reais e às de nossos companheiros”.

É A VONTADE, NÃO O INTELECTO

Megan se deu conta de que os livros levavam-na à fé, mas que, apesar disso,“a fé não é um exercício intelectual, um assentir a certas proposições, mas um ato radical da vontade, que gera uma mudança total na pessoa”. Percebeu como eram os católicos que conhecia, gostou e deu o passo.

No domingo de Pentecostes de 2013, Megan foi batizada e ingressou, assim, na Igreja Católica.
Hoje assinala que “para cada ateu confesso e embasado, existe outro sem nenhuma experiência pessoal com a religião, nem interesse no debate, que simplesmente se deixa levar pela corrente cultural. Espero ser um exemplo, ainda que seja pequeno, da atuação do catolicismo, em uma era que às vezes parece ser tão oposta a ele de maneira indiscutível”.

Fonte: Reparatoris

Autoridade vaticana: A teologia da libertação não faz falta para cuidar dos pobres


 ROMA, 26 Ago. 13 / 01:30 pm (ACI/EWTN Noticias).- O secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina, o leigo Guzmán Carriquiry, afirmou que "não faz falta uma teologia da libertação" para cuidar dos pobres, basta viver o Evangelho, "o abraço da caridade, o testemunho comovido de si".

O leigo uruguaio fez esta afirmação durante um encontro convocado pelo movimento Comunhão e Libertação na cidade de Rímini, ao norte da Itália, no último dia 21 de agosto, onde também disse que a Igreja precisa "libertar" a fé de "incrustações mundanas" para torna-la novamente atrativa.
"Certamente já seus predecessores iniciaram um progressivo desmantelamento da sujeira real da cúria. João Paulo II preferia estar pelas ruas do mundo que no Vaticano. E Bento XVI disparou raios contra o carreirismo, o clericalismo, a mundanidade, a divisão, as ambições de poder e a sujeira na Igreja. Agora Francisco realiza o que seu predecessor pediu tantas vezes... e muito mais. Tudo isto faz parte da 'revolução evangélica' que marca uma profunda mudança do modo mesmo de ser Papa", afirmou.

Nesse sentido, destacou a continuidade entre Bento XVI e Francisco. Concluiu propondo que a encíclica Lumen Fidei seja lida à luz do pontificado do Papa Francisco, das "pérolas" de suas homilias cotidianas, de sua catequese e do "sair missionário" para compartilhar a luz da fé ad gentes.

Fonte: ACI Digital

‘Renunciei porque Deus me disse’, diz Bento XVI


CIDADE DO VATICANO - “Foi porque Deus me disse”. Assim, Bento XVI explicou a decisão de renunciar ao pontificado, em 11 de fevereiro, de acordo com a publicação católica “Zenit”. Apesar da vida de clausura, o Papa Emérito dá esporadicamente algumas entrevistas no convento Mater Ecclesiae onde vive atualmente, nos Jardins do Vaticano. Em uma dessas ocasiões, ele explicou pela primeira vez por que renunciou à liderança da Igreja Católica e acrescentou:

- Quanto mais vejo o carisma de Francisco, mais entendo a vontade divina - afirmou, de acordo com a publicação.

Na reportagem, Bento XVI conta que não houve qualquer tipo de aparição ou fenômenos semelhantes, mas sim uma “experiência mística”, na qual o Senhor teria demonstrado um “desejo absoluto” de permanecer a sós com ele. Uma experiência que poderia durar meses, como relatado por uma fonte que prefere permanecer em anonimato.

Como já havia antecipado na época em que decidiu deixar a liderança da Igreja Católica, o Papa Emérito reiterou que não era uma fuga do mundo, mas pretendia “refugiar-se em Deus”.
A entrevista foi realizada no último domingo, quando Bento XVI fez uma curta viagem até Castelgandolfo, acompanhado de quatro funcionários que trabalharam com ele durante os anos de pontificado e seguem em seus cargos após a renúncia. Mesmo durante a entrevista, o Papa Emérito manteve-se reservado, evitando reflexões que poderiam ser interpretadas como “declarações do outro Papa”.

Fonte: O Globo 

A vontade humana deseja o Bem infinito


Eis o que a metafísica diz a respeito! Não é a vontade humana, como apetite, cega em si, que está sabendo para que ela tende, impulsionada pela fome e sede de felicidade, apetecendo o bem correspondente que a sacie plenamente, mas é a razão metafísica que descobre a realidade necessária deste bem. Ela analisa, antes de tudo, o objeto formal da vontade como tendência natural. Este objeto não é tal ou tal bem, mas o bem como tal, bem como bem, sem nenhuma limitação. Daí resulta que a vontade humana, como apetite natural, tende para o ilimitado, a fim de saciar a sua sede de felicidade, o amor. A felicidade pode realizar-se só possuindo o bem correspondente à amplidão da aspiração natural. Esta amplidão é ilimitada. Portanto, o bem correspondente não pode ser encontrado em nenhum ente finito, mas só no Bem que concentre em si a totalidadedo bem, ou seja, no Sumo Bem. Por isso o Sumo Bem é real. É impossível que o amor natural volitivo, reto, que proclama perante a razão metafísica a realidade do Bem sem limites, seja frustrado. O amor natural é sempre reto, não mente. Sem a realidade do Sumo Bem, a vontade no seu apetite natural seria contraditória, pois ela existiria assim lançada, porque existe e, ao mesmo tempo não existiria, porque sem o Sumo Bem, para o Qual tende inevitavelmente, que a atrai, não poderia existir. O Sumo Bem é Deus, como a metafísica evidencia competentemente. Deus, possuído como Sumo Bem, gera o amor e manifesta-se como Amor, Raiz profunda e última, a Fonte da felicidade.

Esta conclusão metafísica é confirmada pela análise da experiência interna. É um fato inegável que nenhum bem finito do mundo aquieta o desejo natural de felicidade do homem: não o pode aquietar a riqueza, nem as honras e as glórias mundanas, nem o poder, nem algum bem do corpo, nem os prazeres sensíveis, nem os atos das virtudes morais, nem a operação artística, nem a ciência, nem mesmo o conhecimento de Deus. Só o pode aquietar o Sumo Bem, isto é, Deus mesmo! É inegável esta experiência interna, que testemunha tudo isso vivencialmente à pessoa adulta e madura: o homem tende para além de todo e qualquer bem finito, para o Bem sem limites - Sumo Bem, que portanto é real, é a realidade plena, que transcende todas as realidades, conforme a conclusão metafísica, baseada na análise do objeto formal da vontade como apetite natural.

Prof. Dr. Pe. Stanislavs Ladusãns, Gnosiologia Pluridimensional. São Paulo: Loyola, 1992. p.26-27.

Oração de Edith Stein: "Ser como se não fosse"


"Minha mãe, hoje já foi como um dia de despedida. Nos próximos dois dias devo estar ocupada com preparativos exteriores, e não poderei mais ficar completamente em silêncio junto a ti e contigo junto ao Senhor. Por isso, peço novamente a ti com todo o coração para que me ajudes a dispor-me para a hora do matrimônio. Sobretudo com um arrependimento ardoroso, para queimar em mim tudo que impeça minha união com o Senhor. Faze que, como tu, eu seja como se não fosse, que eu não tenha mais vida senão a vida de Jesus, que se esqueça de mim e saiba apenas dele. Sei que isso que falei e escrevi sobre a verdade me compromete com bastante rigor. Recorda-me sempre disso se por acaso eu escorregar e decair do verdadeiro ser para algo de aparente."

Sta Teresa Benedita da Cruz

A ousadia do Sinal da Cruz - Sta Edith Stein


"Quando fazemos o sinal da cruz, dizemos: "em nome do Pai e do Filho, e do Espírito Santo". Significa que aquilo que fazemos acontece como incumbência e na força da Santíssima Trindade. De onde temos o direito a essa linguagem ousada inédita? Da força da sagrada Cruz. Possuímos o direito de falar assim porque fomos remidos pela santa Cruz, ela foi escolhida pela Santíssima Trindade desde a eternidade como instrumento da redenção, e no madeiro amplamente visível da ignomínia foi fixado o peso do pecado da humanidade. Fazendo o sinal da cruz em nome da Trindade, prestamos honra à justiça divina e com ela proferimos o juízo de morte sobre nossa natureza pecadora (Hb 3,6). Nós somos a morada de Deus."

Edith Stein, Teu coração deseja mais.

Sta Edith Stein descreve seu encontro com o "Acontecimento Real do Cristianismo"


"Nos longos anos do tempo de preparação, seguramente ele - o elemento intelectual - exerceu forte influência. Mas cientemente decisivo foi o acontecimento real em mim (por favor, acontecimento real, não "sentimento"): mão na mão da figura concreta do cristianismo autêntico nos testemunhos eloquentes (Agostinho, Francisco, Teresa). Mas como irei descrever-lhe com algumas palavras uma imagem daquele "acontecimento real"? É um mundo infinito que se apresenta completamente novo, quando uma vez começou-se a viver para o íntimo em vez de viver para o exterior. Todas as realidades com as quais até então estava às voltas tornam-se transparentes, e começa-se a farejar forças verdadeiramente sustentadoras e motivadoras. Os conflitos com os quais se estava às voltas antes se tornam totalmente insignificantes. E que plenitude de vida não toma pulso no dia, exteriormente quase totalmente desprovido de acontecimentos, de uma existência humana individual, com sofrimento e bem-aventurança, como o mundo terreno não conhece e não pode conceber! E como nos sentimos estranhos quando nos encontramos juntos de pessoas que vêem apenas a superfície, vivendo como uma delas, sem que sequer suspeitem ou percebam que se tem tudo isso em si e ao redor de si."

Edith Stein, Carta a Roman Ingarden

Viver Eucaristicamente - Sta Edith Stein


Há um longo caminho entre a satisfação pessoal de ser um "bom católico", que "cumpre com seu dever", lê um "bom jornal", "faz boas escolhas", etc., mas no mais faz o que lhe agrada, até chegar a uma vida nas mãos de Deus e a partir das mãos dele, na simplicidade da criança e na humildade do cobrador de impostos. Todavia, quem uma vez já trilhou o caminho não o fará novamente. Assim, a filiação divina significa: tornar-se pequeno, mas ao mesmo tempo tornar-se grande. Viver eucaristicamente significa sair perfeitamente da estreiteza da própria vida e crescer para dentro da amplidão da vida de Cristo. Quem procurar o Senhor em sua morada não vai querer vê-lo ocupar-se apenas conosco e com os nossos assuntos pessoais. Irá começar a interessar-se pelos assuntos do Senhor.

Edith Stein, teu coração deseja mais

Iniciada a investigação para a causa de beatificação de Chesterton

Roma,  (Zenit.orgAntonio Gaspari 

O bispo britânico Peter John Haworth Doyle nomeou um clérigo para investigar a causa de beatificação do escritor Gilbert Keith Chesterton. A notícia foi dada por Dale Ahlquist, Presidente do American Chesterton Society, no passado 1º agosto.
Em seu discurso de abertura da 32ª Conferência Anual da American Chesterton Society, realizada no Colégio da Assunção, Ahlquist expressou alegria e gratidão por esta iniciativa porque "está em sintonia com os nossos desejos" para a canonização de Chesterton.
"É para mim um grande privilégio poder fazer esse anúncio - acrescentou - também porque a razão que motivou mons. Doyle é o fato de que quando o Cardeal Bergoglio era arcebispo de Buenos Aires falou favoravelmente para a abertura da causa".
Mons. Doyle é bispo da Diocese de Northampton, uma sede sufragânea da Arquidiocese de Westminster, que inclui os condados de Bedfordshire e Northamptonshire, bem como o tradicional condado de Buckinghamshire.
Gilbert Keith Chesterton (1874-1936) é um dos escritores ingleses mais citados do mundo. Muito conhecidos seus livros "Ortodoxia", "O homem eterno", "A aventura de um homem vivo", "São Tomás de Aquino", "São Francisco de Assis", bem como toda a série de histórias do "Padre Brown". Em particular, é de grande importância o livro "A minha fé", no qual explica a sua conversão ao catolicismo.
Está amplamente demonstrado que os escritos de Chesterton foram significativos para a conversão de muitas pessoas e que têm influenciado positivamente muitos dos grandes homens do século XX.
O escritor e filólogo britânico Clive Staples Lewis escreveu que, depois de ter lido o livro Chesterton, The Everlasting Man (traduzido para o português sob o título "O Homem Eterno"), "pela primeira vez eu vi a história de uma forma cristã que fazia sentido".
De acordo com Dale Ahlquist, a abordagem de Dorothy Day para a economia foi influenciada por um modelo criado por Chesterton baseada nos ensinamentos sociais da Igreja e conhecido como "distributismo" (Dorothy Day foi um jornalista e ativista social anárquica norte-americano, famosa por suas campanhas de justiça social em defesa dos pobres e sem-teto. Converteu-se ao catolicismo em 1927 n.d.r.).
Chesterton também influenciou John Ronald Reuel Tolkien, autor de "O Senhor dos Anéis" e de outros célebres ‘pedras milenârias’ do gênero fantasy , como "O Hobbit" e "O Silmarillion". E foi fonte de inspiração também para o escritor, dramaturgo, poeta e jornalista Maurice Baring, para o historiador Christopher Henry Dawson, para o teólogo monsenhor Ronald Knox, e para os autores agnósticos como o grande escritor argentino, Jorge Luis Borges.
Não basta ser um grande escritor para ser um santo, mas não há dúvida de que Chesterton foi um mestre da virtude. Magistrais os seus ensinamentos no campo da fé, da defesa da família natural, da santidade da vida e da justiça econômica.
No mundo, ele é conhecido por sua grande inteligência, humildade e alegria profunda que brotou do seu tornar-se católico. O presidente da Chesterton American Society lembrou a influência que Chesterton teve também sobre o servo de Deus e Arcebispo norte-americano Fulton John Sheen, entre os mais eficazes e brilhantes pregadores do seu tempo. “Acho que Chesterton é um santo para o nosso tempo e poderia continuar a atrair muitas pessoas à Igreja Católica”, concluiu Dale Ahlquist.
Traduzido do original italiano por Thácio Siqueira

Fonte: Zenit

Proibição de crucifixos nas escolas e o excesso de "dialoguismo" da Igreja

O excesso de simpatia da Igreja: um motor do secularismo?

Dom Luigi Negri, bispo de San Marino-Montefeltro, qualificou a sentença [tomada pelo Tribunal de Estrasburgo de proibição dos crucifixos nas salas de aula da Itália] como "objetivamente um gesto de rejeição ao Crucificado", afirmando o que muitos de nós pensamos: que o excesso de irenismo e de aberturismo do mundo católico tem como resultado, por parte do laicismo radical e anti-cristão, o desprezo.

O Bispo Negri, exortando sua diocese ao desagravo, disse:

"A decisão tomada pela corte de Direitos Humanos de Estrasburgo era largamente previsível e, em certos aspectos, esperada. Nestas instituições está se catalisando de forma substancial o pior laicismo, com uma conotação objetivamente anti-católica e que tende a eliminar, até com violência, a presença cristã da vida em sociedade e, além disso, os símbolos desta presença. Outros já apontaram, sobretudo a Conferência Episcopal Italiana, a mesquinhez cultural desta decisão, a miopia, como disse a Santa Sé, mas eu creio que é correto dizer que se trata de uma vontade subversiva em relação à presença cristã, conduzida com uma ferocidade só comparável à aparente objetividade ou neutralidade das instituições do direito. No entanto, é também correto - como faziam nossos antepassados, e nós amiúde esquecemos esta lição - que nos perguntemos se nós, como povo cristão - e, quisera dizer, como eclesiásticos -, não temos alguma responsabilidade para com esta situação. É sempre correto fazer uma leitura em profundidade sobre se não corremos o risco, de algum modo, de ser cúmplices.
A questão de Estrasburgo, em sua brutalidade, é também uma consequência da abordagem demasiado conciliadora que atravessa o mundo católico há décadas, pelo que a principal preocupação não é a nossa identidade, mas o diálogo a todo o custo, a concordar com as posições mais distantes. Este respeito pela diversidade de posições culturais e religiosas, apoiada na idéia de uma equivalência substancial entre as várias posições e religiões, é que faz o catolicismo perder sua especificidade absoluta. Um irenismo, um aberturismo, uma disposição de diálogo a todo custo, que é compensada da única maneira que o poder humano sempre recompensa estas atitudes desordenadas de compromisso: com desprezo e violência.
É necessário renovar a consciência da própria identidade, da própria especificidade como acontecimento humano e cristão diante de qualquer outra posição, e nos prepararmos para viver o diálogo com todas as outras posições, não sobre a base de uma desmobilização da própria identidade, mas como expressão última, crítica, intensa, de nossa identidade.
Em última análise, será prova significativa, uma prova que pode ser formativa, uma prova pela qual - como muitas vezes nos lembra a tradição dos grandes Padres da Igreja - Deus continua educando seu povo. Mas é necessário que o juízo seja claro e não se detenha em reações emocionais, para que se compreenda com profundidade a tarefa que temos diante de nós: recuperar nossa identidade eclesial e comprometer-nos com o testemunho diante do mundo."

Deus espera de nós um testemunho de fé íntegra e não um dialoguismo que, da perda da identidade católica, se transforme facilmente em apostasia.

Pe. Juan Claudio Sanahuja, Poder Global e Religião Universal. Campinas-SP: Ecclesiae, 2012. p.142-144

Servo de Deus Jerôme Lejeune, a defesa da vida e a falácia do "mal menor".


Por último, ainda que sem esgotar a intervenção de João Paulo II de fevereiro de 2000, quero ressaltar que ao referir-se à mentalidade renunciatória diante das leis iníquas o Santo Padre afirma: "A consciência civil e moral não pode aceitar esta falsa inevitabilidade, do mesmo modo que não aceita a idéia da inevitabilidade das guerras ou dos extermínios inter-étnicos."

A pressão social, o medo de sermos qualificados de fundamentalistas e um sincero, ainda que equivocado, espírito de salvar o que pode ser salvo frente à avalanche de projetos, leis e costumes iníquos, podem fazer-nos cair na tentação de negociar o que é inegociável e, portanto, ceder quanto ao que não nos pertence - a ordem natural e a doutrina de Jesus Cristo. Esta atitude nos fará cair na opção do mal menor, num malminorismo moralmente inadmissível.

Que sirva para ilustrar o exemplo do Servo de Deus Jerôme Lejeune. Aos 33 anos, em 1959, Lejune publicou sua descoberta sobre a causa da síndrome de Down, a "trissomia do 21", e isto o transformou em um dos pais da genética moderna. Em 1962 foi designado como especialista em genética humana na Organização Mundial de Saúde (OMS) e, em 1964, foi nomeado Diretor do Centro Nacional de Investigações Científicas da França; no mesmo ano, é criada para ele, na Faculdade de Medicina da Sorbonne, a primeira cátedra de Genética fundamental. Transforma-se assim em candidato número um ao Prêmio Nobel de Medicina.

Aplaudido e lisonjeado pelos grandes do mundo, deixa de sê-lo em 1970, quando se opõe ferozmente ao projeto de lei do aborto eugênico. Lejeune combateu o malminorismo que infectou os católicos na França; estes supunham que cedendo no aborto eugênico freavam as pretensões abortistas e evitavam uma legislação mais permissiva. Os argumentos de Lejeune eram muito claros: não podemos ser cúmplices, o aborto é sempre um assassinato, quem está doente não merece a morte por isso e, mais ainda, longe de frear males maiores o aborto eugênico abre as portas para a liberalização total desse crime. Sua postura lhe rendeu uma real perseguição eclesial que se juntou à perseguição civil, acentuada por sua defesa do nascituro nas Nações Unidas.

Também em 1970, participou de uma reunião na OMS, na qual se tentava justificar a legalização do aborto para evitar abortos clandestinos. Foi nesse momento, quando se referindo à Organização Mundial de Saúde, que disse: "eis aqui uma instituição de saúde que se tornou uma instituição para a morte." Nessa mesma tarde, ele escreveu para sua esposa e filha dizendo: "Hoje eu joguei fora o Prêmio Nobel". Em nenhum momento deu ouvidos aos prudentes, que o aconselhavam calar-se para chegar mais alto e assim mais poder influir.

João Paulo II, em uma carta ao Cardeal Jean-Marie Lustinger, então arcebispo de Paris, por ocasião da morte de Lejeune, disse:

"Como cientista e biólogo era um apaixonado pela vida. Ele se tornou o maior defensor da vida, especialmente a vida dos nascituros, tão ameaçada na sociedade contemporânea, de modo que se pode pensar que seja uma ameaça programada. Lejeune assumiu plenamente a particular responsabilidade do cientista, disposto a ser um sinal de contradição, ignorando a pressão da sociedade permissiva e do ostracismo do qual era vítima."

Mons. Sanahuja. Poder Global e Religião Universal. Campinas SP: Ecclesiae, 2012.
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