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Dança na Liturgia - Card. Joseph Ratzinger


A dança não é uma forma de expressão cristã. Já no século II, os círculos gnósticos-docéticos tentaram introduzi-la na Liturgia. Eles consideravam a crucificação apenas como uma aparência: segundo eles, Cristo nunca abandonou o corpo, porque nunca chegou a encarnar antes de Sua paixão; consequentemente, a dança podia ocupar o lugar da Liturgia da Cruz, tendo a cruz sido apenas uma aparência.

As danças cultuais das diversas religiões são orientadas de maneiras variadas: invocação, magia analógica, êxtase místico; porém, nenhuma dessas formas corresponde à orientação interior da Liturgia do "sacrifício da Palavra". É totalmente absurdo, na tentativa de tornar a Liturgia "mais atraente", recorrer a espetáculos de pantominas de dança, possivelmente com grupos profissionais que, muitas vezes, terminam em aplauso.

Sempre que haja aplauso pelos aspectos humanos da Liturgia, é sinal de que a sua natureza se perdeu inteiramente, tendo sido substituída por diversão de gênero religioso.

Joseph Ratzinger, Introdução ao Espírito da Liturgia

Apelação modernista: Montfortianos são satanistas


Numa reunião de Liturgia, um dos assuntos tratados parece ter sido a existência de uma associação suspeita: A Montfort. Lá, foi dito aos incautos que os que participam de tal movimento ou sociedade são satanistas...

kkk.. Esse realmente foi o cúmulo dos absurdos.. kk
A sinceridade desse povo me comove....

"Bem aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus" (Mt 5,11-12).

28 de Agosto - Dia de Sto Agostinho, Doutor da Igreja


"Tarde te amei, Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Tu estavas dentro de mim e eu te buscava fora de mim. Como um animal buscava as coisas belas que tu criaste. Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo. Mantinham-me atado, longe de ti, essas coisas que, se não fossem sustentadas por ti, deixariam de ser. Chamaste-me, gritavas-me, rompeste minha surdez. Brilhaste e resplandeceste diante de mim, e expulsas-te dos meus olhos a cegueira. Exalaste o teu Espírito e aspirei o seu perfume, e desejei-te. Saboreei-te, e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me e abrasei-me na tua paz"

Santo Agostinho, Confissões.

Papa pede que fiéis se apeguem com obstinação à fé católica

Da Efe, no Vaticano

O Papa Bento 16 pediu neste domingo aos católicos do mundo que sejam obstinados e não se contentem em serem "superficialmente" apegados à fé católica, embora, algumas vezes, os ensinamentos de Jesus possam ser "duros"

"Jesus não se conforma com um apego superficial e formal, não lhe é suficiente uma primeira e entusiasta adesão. É necessário, ao contrário, participar durante toda a vida de seu pensar e de seu querer", afirmou o pontífice na residência de verão de Castelgandolfo, próxima a Roma.

"Seguir Jesus enche o coração de alegria e dá sentido pleno à nossa existência, mas comporta dificuldades e renúncias, porque muito frequentemente é preciso ir contra a corrente", acrescentou Bento 16 durante a celebração do Angelus.

O Papa, que pela primeira vez apareceu sem o gesso que cobria seu punho direito desde 17 de julho e que brincou sobre o fato de sua mão ainda estar um pouco "preguiçosa", pediu aos católicos que permaneçam fiéis à fé, que "é um dócil testemunho da palavra do Senhor, que é a lâmpada para os passos e uma luz no caminho".

"Também hoje, não poucos ficam escandalizados com o paradoxo da fé cristã. O ensino de Jesus parece duro, difícil demais para assumi-lo e colocá-lo em prática. Há, portanto, quem o rejeite e abandone Cristo. Há quem tente adaptar a palavra às modas dos tempos, alterando seu sentido e valor", concluiu.

Fonte

Será ignorância ou falta de sinceridade mesmo?


Temos visto a recente polêmica entre o professor Orlando Fedeli e o Pe. Joãozinho. Há pouco estiveram fazendo desafios um ao outro. Justamente neste ponto, surge uma dúvida... As coisas, aparentemente, não andam lá tão sinceras, ou então uma das partes carece de conhecimento a respeito do que a Igreja ensina.

Reconheço minha pequenez neste meio, pelo que ouso alguns comentários apenas neste humilde espaço, e sem a mínima pretensão de encerrar a questão. Mas, confiante no auxílio da Graça divina, prossigo...

Primeiramente, o prof. Orlando Fedeli evoca um dogma do IV Concílio de Latrão, segundo o qual, "Fora da Igreja não há salvação". Ora, dogma é dogma! Faltaria ao Dr. Pe. João Carlos (por que não Pe. Dr. João Carlos?) este conhecimento tão básico a respeito do caráter absoluto do dogma? Seria tão desastrosa a formação dos padres ecumenistas? Claro, sobre este dogma, há os casos de ignorância invencível, em que o indivíduo faz parte da "alma da Igreja" sem fazer parte do corpo, como bem o lembrou o Gustavo. Mas isto não valida o protestantismo em si.

Pe. Joãozinho, por sua vez, sugere que a última e mais perfeita interpretação do "Extra Ecclesiam nulla salus" foi oferecida pelo Concílio Vatiicano II, com o polêmico "subsistit in". Nisto vejo o seguinte: não é próprio das declarações dogmáticas serem o mais claras e diretas possíveis, evitando toda ambiguidade? A declaração dogmática do IV Concílio de Latrão não contém estes atributos? Será, então, que a Igreja vinha tateando passos, oscilando entre interpretações erradas, até se deparar com a "grande luz" do CVII, que esclareceu todas as suas dúvidas? É estranho declarar um dogma quando se tem dúvidas a respeito do que ele significa.
Não devemos procurar a interpretação do dogma em períodos posteriores, mas, antes, o seu real significado encontra-se no momento mesmo em que foi proferido. A Igreja, compreendendo uma verdade de fé, presente desde os tempos apostólicos, dotada de particular clareza em um determinado momento, proclama que esta verdade é infalível. Não é preciso esperar por tempos futuros para que o real significado deste dogma se revele. Claro que a compreensão a respeito de algo pode vir a crescer. O mistério é, por sua própria natureza, inesgotável, mas isto não abre a possibilidade de uma mudança substancial na compreensão mesma do dogma.

Depois, o Pe. Joãozinho estabelece uma tensão entre o "ensino atual" da Igreja e o anterior ao CVII, quando escreve: "Nossa visão é a da Igreja Católica Apostólica Romana, em seu magistério recente e INFALÍVEL. Falamos de uma Encíclica UT UNUM SINT (que todos sejam um)".

Isso me parece claramente a condenada "hermenêutica da ruptura". Pe. Joãozinho, ao dizer que segue a visão do Magistério recente, demonstra que o entende como essencialmente distinto do anterior. Nesta perspectiva, abandona o ensino tradicional e adota um novo, segundo o entende, o que torna sua atitude explicitamente herética. Depois, rebate uma declaração dogmática, com uma outra encíclica que pretende infalível, mas que não é.

E isto é outra coisa que sinceramente me preocupa em vários padres. Parecem não saber distinguir uma declaração dogmática de outra meramente pastoral, igualando-lhes o valor. O reverendo padre parece lutar contra a Igreja tradicional, usando armas pós-conciliares. Não pretendo fazer uma defesa cega do Prof. Orlando, mas, neste caso, ele é muito mais coerente e, na minha opinião, vence fácil (daí a imagem do post).

Depois, algumas perguntas que o Pe. Joãozinho faz aparentam ser meramente uma evasiva.
Todos sabemos que o Prof. Orlando Fedeli não aceita o CVII. Depois, a Associação Montfort não se impõe pela autoridade eclesial, mas pela clareza dos argumentos. Bem.. é assim que vejo.

E diante disto, só posso lamentar a pobre formação de tantos padres, mesmo daqueles que ostentam, antes do seu ofício sagrado, o título de doutor.
Fábio Luciano.

O vírus da gripe A é anticlerical



Padre Gonçalo Portocarrero de Almada

A nota pastoral relativa aos cuidados a ter nas celebrações litúrgicas, por causa do vírus da gripe A, deu-me que pensar. Não sendo um documento de natureza científica, nunca supus que pudesse revelar a natureza do terrível vírus H1N1, mas a verdade é que esse texto esclarece definitivamente a sua maléfica estirpe.

É significativo que não se desaconselham determinados comportamentos em geral, mas apenas nas celebrações litúrgicas. Tendo em conta que a moderna concepção da caridade cristã pugna sobretudo pela imunidade pessoal e, só depois, pelo amor ao próximo, era de esperar que os pais católicos fossem impedidos de beijar os seus filhos, mas nenhum zeloso pastor veio ainda proibir que os imprudentes progenitores osculem a sua extremosa prole, a não ser que o façam na Missa.Também seria de supor que os noivos fossem impedidos de se beijarem, mas também não consta que nenhum pároco tenha, até à data, imposto este higiénico impedimento matrimonial, excepto durante a Eucaristia. Mesmo em lugares muito frequentados, como pode ser o caso das estâncias balneares, das discotecas ou dos centros comerciais, os católicos, ao que parece, não correm qualquer perigo de contágio pois, em caso contrário, tais ambientes teriam sido desaconselhados pela sua ASAE confessional.

Estes exemplos bastam para que se possa retirar uma importante conclusão científica: o vírus da gripe A só exerce a sua perniciosa acção nas igrejas. Ou seja, é um vírus tipicamente anticlerical: daí o A que o distingue de todas as outras gripes, que são menos beatas, na medida em que também frequentam ambientes laicais; mais ecuménicas, porque também atacam fiéis de outras crenças; e até mesmo mais politicamente correctas porque, contagiando também ateus e agnósticos, provam que não discriminam as suas vítimas por razões religiosas.
 
Assim sendo, temo que o vírus H1N1 não seja apenas anticlerical, mas demoníaco, talvez até a expressão viral do Anticristo (que, por estranha coincidência, também tem por inicial a primeira letra do alfabeto…). De facto, este vírus não incomoda os cristãos que não se benzem com água benta, nem os que não dão o abraço da paz aos seus irmãos, nem comungam, mas apenas aqueles que, por serem mais piedosos e caridosos, humedecem os dedos com que fazem o sinal da Cruz, expressam com o ósculo a autenticidade da sua caridade e, porque estão na graça de Deus, estão aptos para receberem a sagrada comunhão. Portanto, não só é um vírus que age nas igrejas como preferencialmente atinge os fiéis que mais rezam e frequentam os sacramentos! Se isto não é diabólico, confesso que não sei o que é!Sendo esta a natureza do nefando vírus, há que concluir que o princípio activo susceptível de o debelar não é nenhum Tamiflu farmacêutico, mas um exorcismo, que é a resposta eclesial contra as investidas do maligno. Sendo pastoral a nota que o anatematiza, era de esperar que se recomendassem meios espirituais e não apenas medidas da mais prosaica higiene, em que a Igreja Católica não parece particularmente competente, visto que já o seu Mestre não só foi acusado pelos seus contemporâneos de omitir as abluções rituais que os fariseus, pelo contrário, não dispensavam, como também tocava em leprosos e outros doentes, sem depois proceder à conveniente desinfecção.
 
Importa ainda expressar a mais profunda indignação pelo facto do Papa Bento XVI, não satisfeito com a sua gritante insensibilidade na questão do preservativo, insistir em promover comportamentos de risco, pois, como é sabido, só dá a comunhão aos fiéis que, ajoelhados, a recebam na boca. É caso para lamentar que a Santa Sé não esteja sujeita à pastoral da saúde da nossa terrinha. Mentes mais afoitas na teoria da conspiração, talvez não desdenhem a hipótese de algum acordo secreto entre o Vaticano e as funerárias, pois só assim se explicaria a inconsciência de um tão criminoso procedimento litúrgico que, como é óbvio, atenta contra a vida e a saúde de milhões de fiéis.

Padre Gonçalo Portocarrero de Almada - "O vírus da gripe A é anticlerical"

MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=cronicas&artigo=virus-anticlerical&lang=bra

Negar-se ao eu - Pe. Antônio Vieira


Se alguém quer vir após mim, diz o Senhor, negue-se a si mesmo. Porventura, que é esta a mais notável sentença que Cristo disse. Que quer dizer que nos neguemos a nós mesmos? Quer dizer que nos hajamos conosco como se não fôssems nós. Eu que me haja comigo coo se não fosse eu: vós, que vis hajais convosco, como se não fôsseis vós. Oh, que documento tão divino para o bem e para o mal! Se as nossas prosperidades nos viessem como se fossem de outrem, que pouco nos haviam e desvanecer! E se as nossas adversidades as tomássemos como se não fossem nossas, que pouco nos haviam de molestar!

O verdadeiro amigo dizem que é outro eu: o verdadeiro cristão, diz Cristo que há de ser um não eu (...). O verdadeiro amigo é outro eu; porque se há de haver nas coisas do amigo como se fossem próprias: o verdadeiro cristão é um não eu; porque se há de haer nas coisas próprias como se fossem alheias. Ao próximo diz Cristo que tratemos como a nós mesmos; e a nós, que nos tratemos como se não fôssemos nós. Nestes dois pontos se encerra toda a perfeição evangélica. Aos outros, como se fosse eu; a mim, como se eu fosse outro.

E que vida tão descansada seria a nossa, se assim vivêssemos! Que fácil seria a paciência nas injúrias! Que igual a conformidade nos trabalhos! Que moderado o apetite nas pretensões! Que comedido o desejo nos afetos! Enfim, que senhores seríamos de nós mesmos e da fortuna! Mas porque não nos despegamos de nós, andamos pegados a tudo e por isso tudo nos embaraça. Negar-se a si mesmo, dizem que é a maior fineza; e eu não sei de comodidade maior: dizem que é o maior ato de amor de Deus, e eu o tenho pela maior destreza do amor próprio. Só sabe querer-se bem quem sabe livrar-se de si.

Pe. Antônio Vieira, Páginas Espirituais

O Cristo da escola liberal - Karl Adam

A segunda corrente, que se originou de Strauss, é a chamada escola liberal, na investigação histórica sobre o Cristo. Ao contrário de Hegel, sustenta que são as personalidades, não as idéias, que plasmam a história.

Por isso, a personalidade de Jesus vem em primeiro plano, na sua explicação do cristianismo. A sua ambição, entretanto, é compreender a personalidade de Jesus com os recursos do método histórico, portanto, com uma rigorosa análise das fontes, e com a aplicação das leis da analogia e da correlação.

Tudo que em Jesus ultrapasse as analogias e os paralelos históricos e que se possa demonstrar esteja acima da correlação histórica, acima do nexo causal histórico é anti-histórico e, consequentemente, deve ser cancelado de sua imagem.

Com esse pressuposto, a escola liberal visa, fundamentalmente, a demonstrar que tudo o que há de misterioso e de sobrenatural na vida do Senhor é anti-histórico, mero produto da fé da comunidade.

Assim se acautela, diligentemente, de considerar toda a tradição evangélica como fruto da mitologia.

Encontra muita pedra primitiva sólida que martelo algum de crítico pode estilhaçar; tudo isso, entretanto, não passa de ruínas soltas. O crítico, porém, pode organizá-las num bloco, e o critério dessa sistematização são os ideais culturais de cada época.

Por isso, a escola liberal se vangloria de apresentar um Cristo a gosto do homem moderno. Esse Jesus se caracteriza, essencialmente, por seus traços ético-religiosos; é o mestre da vida interior, que nos leva ao Pai, o primeiro dos gênios religiosos da humanidade.

E uma vez que essa escola tira do Jesus histórico tudo o que há de sobrenatural e seu caráter messiânico, sua doutrina se caracteriza como "jesuanismo", que considera objeto da investigação histórica o Jesus da história, e não, o Cristo da fé.

Por mais que se revolva a história da fé, esse Jesus "histórico" jamais se encontra em parte alguma. Nem mesmo os monarquianos dinâmicos, que viam em Cristo apenas uma força espiritual consubstancial ao Pai, nele operante, conheceram um Jesus histórico como o da escola liberal.

Não! Esse Jesus jamais atuou na história, é um puro devaneio, uma mera criação literária.

Karl Adam, O Cristo da Fé.

Estarei em retiro... Dia de Nossa Senhora Rainha.


Caríssimos, voltarei a postar somente na Segunda Feira. Abraços...

Hoje a Igreja celebra Nossa Senhora Rainha.
Virgem Mãe de Deus, Rainha do Céu e da terra, ora pro nobis.

Fábio Luciano

Pe. Joãozinho acusa Montfort de "marxismo velado"

Polêmica no blog do Pe. Joãozinho: O Marxismo velado do site Montfort.

20 de Agosto - Dia de S. Bernardo de Claraval, doutor da Igreja


“O amor basta-se a si mesmo, em si e por sua causa encontra satisfação. É seu mérito, seu próprio prêmio. Além de si mesmo, o amor não exige motivo nem fruto. Seu fruto é o próprio ato de amar. Amo porque amo, amo para amar!

Grande coisa é o amor, contanto que vá a seu Princípio, volte à sua Origem, mergulhe em sua Fonte, sempre beba donde corre sem cassar.

De todos os movimentos da alma, sentidos e afeições, o amor é o único com que pode a criatura, embora não condignamente, responder ao Criador e, por sua vez, dar-lhe outro tanto. Pois quando Deus ama não quer outra coisa senão ser amado, já que ama para ser amado; porque sabe que serão felizes pelo amor àqueles que o amarem.

O amor do Esposo, ou melhor, o Esposo-amor somente procura a resposta do amor e a fidelidade. Seja permitido à amada responder ao Amor! Por que a esposa - e esposa do Amor – não deveria amar? Por que não seria amado o Amor?

É justo que, renunciando a todos os outros sentimentos, única e totalmente se entregue ao amor, aquela que há de corresponder a ele, pagando amor com amor. Pois mesmo que se esgote toda no amor, que é isto diante da perene corrente do amor do outro?

Certamente não corre com igual abundância o caudal do amante e do Amor, da alma e do Verbo, da esposa e do Esposo, do Criador e da criatura; há entre eles mesma diferença que entre o sedento e a fonte.

E então? Desaparecerá por isto e se esvaziará de todo a promessa da desposada, o desejo que suspira, o ardor da que ama, a confiança da que ousa, já que não pode de igual para igual correr com o gigante, rivalizar a doçura com o mel, a brandura com o cordeiro, a alvura com o lírio, a claridade com o sol, a caridade com aquele que é a caridade?

Não. Mesmo amando menos, por ser menor, se a criatura amar com tudo o que é, haverá de dar tudo. Por esta razão, amar assim é unir-se em matrimônio, porque não pode amar deste modo e ser menos amada, de sorte que no consenso dos dois haja íntegro e perfeito casamento. A não ser que alguém duvide ser amado primeiro e muito mais pelo Verbo”.

São Bernardo de Claraval, Abade e Doutor

Sermo 83, 4-6 in Opera Omnia
(Editiones Cistercienses 2, 300-302)

Fonte: A voz do silêncio

Jesus e a filosofia


Pe. Leonel Franca

O advento do cristianismo divide a história do pensamento, como a história da civilização, em duas partes inteiramente distintas.

Jesus Cristo não se apresenta ao mundo como um fundador de escola, semelhante a Platão e Aristóteles, que investiga, raciocina, discute e propõe a um círculo mais ou menos estreito de iniciados, o seu sistema de idéias, a sua explicação do Universo; revela-se como Deus e Salvador que, possuindo a verdade em sua plenitude, a comunica aos homens por meio de seu magistério infalível. Não é, pois, o cristianismo um sistema filosófico, no sentido rigoroso do termo. Não obstante, íntima e universal foi a influência que exerceu sobre a orientação da filosofia. Era natural. Propostas como infalivelmente verdadeiras, as novas soluções sobre a existência e a natureza de Deus, as suas relações com o mundo, a origem e os destinos do homem, a obrigação e sanção da lei moral, não podiam deixar de ter uma repercussão profunda em toda a filosofia que versa sobre estas mesmas questões ainda que encaradas sob aspecto diverso.

O próprio fato da revelação, alargando por novos meios de conhecimento a esfera das verdades cognoscíveis e abrindo novo campo às esperanças humanas, era de impor-se à inteligência como uma questão completamente nova e de importância transcendental. Com efeito, da vinda de Cristo em diante, quase toda questão filosófica apresenta um aspecto duplo, racional e religioso, e todo filósofo deve definir e justificar sua atitude em face deste acontecimento único, com todas as consequências que ele envolve, atitude que será de reconhecimento e submissão na filosofia cristã, de revolta e menosprezo na filosofia racionalista. Como para Jesus, centro da vida da humanidade, convergiram em todos os tempos os amores e os ódios de todos os corações, assim também para ele se dirigem todas as inteligências, rejeitando ou aceitando-lhe o Verbo da verdade que regenerou o mundo.

Pe. Leonel Franca, Noções de História da Philosophia.

Tosco... Tosquíssimo...



Ontem, dia 17 de Agosto, inventei de assistir um programa na TV Aparecida, chamado "Etc". O tema da noite era "Vida religiosa consagrada", e, como é algo que muito me interessa, dediquei o meu tempo a ver o que saía. Além do apresentador de sempre, um padre que não usa clergyman (ele mesmo frizou que muitos o criticam por isto) e outro, que acredito ser padre também e fica a ler os e-mails, havia três convidados, que são os mostrados na imagem acima.

Minha expectativa, já meio desconfiada, se converteu em total decepção. Foi só iniciarem a exposição sobre o voto de pobreza, que a sala se encheu do fedor do comunismo. Parece que este povo acredita que, se S. Francisco de Assis fosse ainda vivo, ele provavelmente seguiria Marx. A definição de pobreza que deram foi o de pôr os "bens em comum", como se o voto evocasse somente isto, e como se o ideal marxista aproximasse as pessoas do ideal evangélico da pobreza. Um outro aspecto abordado foi a necessidade de vestir-se como os excluídos. Aff....

A esta altura, começaram a tratar do hábito religioso: afirmando-o ser uma simples roupa medieval, terminaram por concluir a sua quase necessidade de desaparecimento. Uma oblata de "são Marx" e "s. Guevara dos Disparates" proclamou que o Concílio Vaticano II abolira o uso das vestes religiosas, declarando a sua inconveniência nos dias atuais. Diante de uma resposta cheia de medo e respeitos humanos de um frei franciscano que, embora estivesse de hábito, terminou por criticar também o seu uso, onde ele dizia que o hábito lembrava o Cristo na Cruz, a oblata devota de "s. Stallin do Fuzilamento" esclareceu que os crucificados de hoje usam havaiana, calça arrebentada, etc... Aff 2....

E vejam que interessante. A tal senhora havia participado recentemente do 12º intereclesial de Cebs.. Vejam só o que eles aprendem!

Pelo que sei, o hábito religioso é a mortalha daqueles que morreram para o mundo e têm sua vida escondida com Cristo em Deus. Não se trata de simples roupa medieval, mas de um sinal de consagração a Nosso Senhor. Mas para este povo, as vestes consagradas, as roupas litúrgicas, os paramentos... tudo isto é coisa do passado. Não me espantaria se, daqui a alguns anos, substituíssem o incenso pelo "cachimbo da paz".

Foi, enfim, uma noite em que tive muita raiva. E diante de toda porcaria que passa na televisão, um programa que parece ser uma luz no meio das trevas, se converteu em propaganda da maior negrura.


Que mais dizer, senão, mais uma vez, Miserere Nobis?

Fábio Luciano

Leitura Recomendada

"Entrevista de Monsenhor Domenico Bartolucci, de 92 anos, nomeado por Pio XII maestro “ad vitam” da Capela Sixtina, mas afastado do cargo em 1997, devido a uma intervenção de Mons. Piero Marini, uma medida que foi vigorosamente rechaçada pelo então Cardeal Joseph Ratzinger." (Fratres In Unum).

Se queres ser perfeito...

Um jovem aproxima-se do divino Salvador e pergunta-lhe sobre o que deve fazer para alcançar a vida eterna. Jesus pede-lhe observar os mandamentos. Como o jovem afirmasse já fazê-lo desde a infância, Nosso Senhor lhe faz um grande convite: "Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me" (Mt 19,21). No entanto, o jovem, ouvindo aquele convite e as implicâncias que ele trazia, "foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico" (Mt 19,22).

Eu gosto muito deste Evangelho. Nele fica clara a contradição em que vive os que se apegam às criaturas. Na ordem correta das coisas, os seres devem ser amados em função do Criador, dAquele sem o qual eles não existiriam, e de Quem todos dão testemunho. Aquele, porém, que ama algo fora de Deus, gera uma desordem, retira o objeto amado do contexto em que devia estar, amando-o com particularidade. Desta forma, já não se tem as mãos livres para o serviço, nem os pés descalços para a adoração (Cf Ex 3,5), nem a alma nua para a entrega (Is 20,2); abandona-se a leveza do caminho da pobreza pela aflição das posses. A alma que vive assim já não enxerga direito, é como cego. Submete-se, não ao Senhor, mas às paixões e passa a alimentar-se, não do Maná, mas das migalhas, como os cães (Mc 7,27). Nesta situação lamentável, aquele que se faz escravo de seus apegos, terminará por ser expulso e perderá o convívio dos Filhos de Deus (Cf. Gn 21,10).

Poderíamos objetar que o rapaz de que fala o Evangelho não se encontrava em semelhante estado, visto que afirmou praticar os mandamentos. Isto prova que ele amava o Senhor, pois o Cristo disse: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra" (Jo 14,23). No entanto, observemos melhor. Primeiramente, há a hipótese de que o rapaz estivesse animado de presunção, querendo antes causar admiração pela sua vida devota. Seria mais um clássico caso do fariseu que reza no templo agradecendo por não ser como os outros. Podemos ainda entender que, naqueles tempos, a observância da lei era, por vezes, compreendida de forma puramente exterior. Por este motivo, Cristo afirmou ter vindo aperfeiçoar a Lei. Se antes era proibido matar, agora aquele que cultivasse ódio pelo irmão, era réu de assassinato. Se era pecado adulterar, agora o homem que alimentasse desejos impuros no seu coração era culpado por este delito. Quando Cristo convidou o jovem para o Seu seguimento, foi apenas uma forma de constatar a veracidade da sua religiosidade. Aquele que vive os mandamentos é aquele que luta contra si mesmo e acostuma-se a renunciar os próprios desejos. Ora, se o jovem fazia isto desde a infância, haveria de saber fazê-lo agora também. O convite de Jesus toca o cerne da verdadeira devoção, e o que Ele propõe é a mesmo que o fará em outro momento: "Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo". Cristo mostrou o caminho da cruz àquele rapaz, mas as escamas que trazia nos olhos não lhe permitiram ver a beleza daquele chamado. Será que isto acontece conosco?

O jovem dizia e acreditava cumprir todos os mandamentos. Mas, o primeiro, aquele que fundamenta todos os outros, ele não vivia: o mandamento de "amar a Deus sobre todas as coisas". Isto esconde um perigo. Por vezes, na nossa sede de aventura, em nossos orgulhos secretos e pretensões de heroísmo, nos propomos ao seguimento de Nosso Senhor, não por amor a Ele, mas por apreço a nós, por acreditar na nossa própria capacidade, por saber que é difícil e encarar como um desafio. Há o perigo de que tudo não passe de um desejo de auto-satisfação. A alegria que sentimos quando fazemos algo virtuoso consiste em que? Será mesmo amor a Deus, ou reconhecimento por nós mesmos? E a dor quando pecamos? Será por termos ofendido a Deus ou por termos nos descoberto imperfeitos? Amar a Deus sobre todas as coisas! Sem isto, tudo é barulho inútil e agitação estéril.

Sim... Talvez aquele jovem sejamos nós. Engolfado na satisfação de sua própria vaidade, ele não reconheceu a voz de Quem o chamava. Porém, como dizia uma santa que agora não me recordo o nome, "o coração puro de longe, Senhor, Vos perceberá". Se aquele rapaz amasse a Deus sobre todas as coisas, saberia que aquela voz era a dEle. "As minhas ovelhas conhecem Minha voz".

Por fim, o jovem foi embora triste porque tinha muitos bens. E isto me lembra S. João da Cruz: "para vires a ter tudo, não queiras ter nada". Cristo era aquela pérola pela qual o rapaz devia entregar tudo; era Ele o tesouro escondido, que o jovem, distraído com suas riquezas, desprezou. Sim.. Somente um pobre (no autêntico sentido evangélico) poderia ver com clareza quem era Aquele Homem.

E isto me lembra a frase do Papa João Paulo II: "Francisco, o mundo tem saudades de ti".

Que Cristo, nosso Amado Deus, nos ensine a ser pobres, verdadeiramente pobres assim como Ele foi, vivendo de uma pobreza que é motivada pelo amor (os "pobres" marxistas e TListas são, na verdade, a sumidade da soberba humana). Se aprendermos isto, poderemos seguí-Lo sem entraves, sem empecilhos, num constante suspiro de amor. "Bem-aventurados os pobres, pois deles é o Reino dos Céus".

Fábio Luciano

Ave Maris Stella



15 de Agosto - Assunção de Nossa Senhora


Ave do Mar, Estrela,
Bendita Mãe de Deus
Fecunda e sempre virgem
Portal feliz do céu

Ouvindo aquele "Ave"
Do anjo Gabriel
Mudando de Eva o nome
Trazei-nos paz do céu.

Ao cego iluminai,
Ao réu livrai também.
De todo o mal guardai-nos
e dai-nos todo o bem.

Mostrai ser nossa mãe
Levando a nossa voz
A quem por vós, nascido
Dignou-se vir de vós

Suave mais que todas
Ó Virgem sem igual
Fazei-nos mansos puros,
Guardai-nos contra o mal

Ó dai-nos vida pura
Guiai-nos para a Luz
Que um dia ao vosso lado
Possamos ver Jesus

Louvor a Deus, o Pai
E ao Filho, Sumo Bem,
Com Seu Divino Espírito,
Agora e sempre, amém.

S. Bernardo de Claraval
Adaptação: Frei Marcos Hideo Matsubara, OCD.

O amor e a negação a mim mesmo


A verdade e a justiça devem estar acima da minha comodidade e incolumidade física, senão a minha própria vida torna-se uma mentira. E, por fim, também o « sim » ao amor é fonte de sofrimento, porque o amor exige sempre expropriações do meu eu, nas quais me deixo podar e ferir. O amor não pode de modo algum existir sem esta renúncia mesmo dolorosa a mim mesmo, senão torna-se puro egoísmo, anulando-se deste modo a si próprio enquanto tal.

Bento XVI, Spe Salvi

A conversa da "Atitude"


Estive agora visitando um blog (não católico) que ostenta este termo: atitude. O mais interessante é a conotação ideológica que dão ele. Impressionante o nível de doutrinação a que certas pessoas são submetidas. É como se, na falta de uma religião, ou mesmo com ela, às vezes, estas pessoas buscassem um substituto para o absoluto que lhes falta. Lá no curso de filosofia, lembro-me de um rapaz, muito bem intencionado, embora muito mal orientado, que trazia tatuado no braço direito, em maiúscula, esta palavra. Vejo-a em comerciais, em discursos, em conversas... como este nome é evocado com facilidade. Mas.. o que será que isto esconde? E que mal tem em ter "atitude"?

A princípio, nenhum. O problema é a forma como o entendem. Vivemos num mundo que inverte tudo. Precede a prática à teoria, precede a ação à oração, precede as atividades à contemplação, valoriza mais a ação em si do que a intenção que a move. Além de todo este ativismo, a miopia ideológica das erquerdas simplesmente assola o mundo. Concebendo a revolução como princípio motor de toda mudança, e estabelecendo como pressuposto imutável a impossibilidade de conciliação das partes, estes moços se dedicam a uma revolta generalizada contra tudo o que não venha com o carimbo fétido do comunismo.

A agitação revoltada passa a ser um "a priori". Ao invés de terem o bom senso de responder de acordo com o estímulo que se apresenta no real, estes "intelectuais" garantem previamente o tipo de interpretação que farão deste real somente lendo tosquices como o índice do "Manifesto Comunista" e pulando, em seguida, pra última linha deste "conjunto impresso de flatulações condensadas" (kk.. os pré-socráticos até tinham sua razão: os gases condensados formam cada coisa... ).

Na verdade, tudo o que façamos pode ser entendido como uma atitude. O mover-se é atitude, assim como o aquietar-se. Porém, da forma como é compreendida, isto é, como sendo necessidade de contínua agitação, a "ideologia da atitude" não tem consistência. Primeiro que, quando se põe a ação anterior à reflexão, ela perde sua base e fada-se a todo tipo de incoerências. O único norte que uma coisa frenética assim pode ter é seguir a maioria do mesmo grupo, fazer do fator quantidade o critério de verdade, o que nunca deu certo... Mas num mundo agnóstico e cético, em que a verdade some dos horizontes, faz-se de tudo. É como o filho pródigo que, abandonando a casa paterna, vê diante de si somente a lavagem dos porcos. E esta é verdade profunda: o que não é pão dos filhos é migalha de cães.

Bem.. Isto escrevo, não porque tenha esperanças de que este povo da foice leia estas linhas. Meus colegas fãs de Marx conservam, também aprioristicamente, um receio e uma raiva do que quer que se enquadre na esfera da religião. Afinal, como dizia o "materialista discípulo do idealista" (aff...o mínimo de coerência, por favor...), a "religião é o ópio do povo". Deixe estar...

O meu foco, porém, são alguns católicos, pois ainda há, aos montes, os desavisados e os que não se dão a uma reflexão maior sobre estas coisas. Aos outros católicos, os muitos que me ultrapassam em profundidade de reflexão, peço paciência...

Vejam só. Um tal ativismo pode ser uma tentação velada, mesmo para os católicos já mais adiantados. É comum que, ao percebermos o nosso próprio crescimento pessoal e intelectual, comecemos a cultivar, disfarçadamente, aquele torpe apreço por nós mesmos, origem de todos os vícios, e a creditar certa eficácia particular a tudo o que fazemos. Há vezes em que colocamos a nossa ótica pessoal no cume da hierarquia das impressões. Sem percebermos, começamos a fazer tudo gravitar em torno de nós, crendo piamente na importância da nossa contribuição pela Igreja e como que vislumbrando os sorrisos de satisfação de Deus ao nos contemplar do Céu. Nós somos a própria vaidade, como dizia Sta Teresa D'Avila. No meio deste fervilhão de misérias, por vezes, arriscamos publicamente dizer coisas do tipo: "ah... mas eu sou um servo inútil". Melhor seria que disséssemos isso pra nós mesmos, crendo nesta afirmação. Vejam bem. Não quero sugerir que seja preciso alhear-nos de nossas qualidades. Ao contrário. A humildade não se identifica, de forma nenhuma, com uma posição pusilânime e insegura. Fechar os olhos para os dons recebidos e para a próprias capacidades representa falta de auto-conhecimento, grande miséria dos homens de hoje e verdadeiro impedimento de santidade, além de tal conduta estar no pólo oposto ao da pobreza evangélica. Sta Teresa dizia que "a humildade é a verdade" e S. Josemaria, por sua vez, que "para seres humilde, não precisas diminuir teus dotes, mas, somente saber de onde vieram".

No cultivo, porém, deste orgulho transmutado, é comum que nos lancemos a todo tipo de trabalho exterior e nos descuidemos da alma. E isto, comumente se faz até com boa intenção. É então que podemos cair neste tipo de ativismo, numa série de agitações e supostos compromissos que cremos agradar o céu. Aos nossos próprios olhos, passamos a nos ver como pessoas sérias, católicos como poucos, e achar que um mundo com meia dúzia de nós seria suficiente para a conversão dos pecadores... Queira Deus que isto nem sequer apareça nos horizontes da nossa alma... Mas desde já, perscrutemos o nosso interior esmagando as sementes destes vícios sobre a rocha de um conhecimento pessoal fundado em Deus. S. João Clímaco diz que "o verdadeiro sentinela do coração é aquele que está disposto a derrubar e matar qualquer um que se aproxime". Isto está ainda presente na ordem de Nosso Senhor: "vigiai!"

Algum tempo atrás, mais ou menos na época em que conheci S. João da Cruz, e quando tinha também certas intenções de grandeza de forma mais acentuada (não que eu não as tenha hoje, infelizmente), comecei a ler coisas que, para mim, foram como verdadeiros luzeiros e me ajudaram a compreender, um pouco melhor, certas verdades. S. João da Cruz começava cortando impiedosamente vários gigantes, dizendo mais ou menos o seguinte: "farás muito mais para Deus submetendo-te e renunciando tuas vontades, do que todos estes serviços que pensas prestar-Lhe". Isto, particularmente pra mim, foi um míssil de Deus...kk.. Depois o Monge Louis (Thomas Merton), trapista, seguia retirando-me as escamas dos olhos: "agitação e barulho podem ser manifestação de qualquer espírito, menos do Espírito Santo", além de discorrer sobre a covardia própria de quem sempre procura algo pra fazer. E é muito interessante isto: muito se fala em oração, e pouco se sabe o que é, como dizia o peregrino russo, porque a soberba, como ensinava S. Francisco de Assis, se importa meramente com a teoria das coisas, desmerecendo-lhe a substância. E assim se arruma todo tipo de distrações: mil músicas, mil livros, mil cadernos, mil programas e, por vezes, se crê que isto é vida devota. Por fim, S. Josemaria me dizia o seguinte: "aproveitarás melhor teus dons guardando-os do que desperdiçando-os de forma errada". Estes e outros escritos preciosos, para mim, foram essenciais.

O ativismo desenfreado somente consegue parar quando cai no precipício: é o cego chamado soberba guiando o cego chamado homem: cairão no mesmo buraco.

Por isto chamo a atenção para esta verdade: muitas vezes se faz mais, ficando quieto, ou, como dizia o Beato Rafael, fala-se mais quando se fica em silêncio. Mas, também aqui, é importante ter um reto discernimento. Por vezes, sem dúvida, há situações que exigem a nossa ação, e, então, usar de toda maestria que nos foi concedida, torna-se não só uma conveniência, mas um dever. Que Cristo, nosso Amado Senhor, nos ensine estas coisas, porque sozinhos somos puras trevas. Compreendamos, por fim, que a humildade também nada tem a ver com o medo. Ao contrário, é humilde quem tem a ousadia de dizer: "tudo posso nAquele que me conforta".

Escrevi um bocado hoje.. rs...

Fábio Luciano.

Panis Angelicus

Músicas Eucarísticas

Hóstia Branca


Adoramos o Verbo

Proposta indecente...


Ontem à noite, após a Santa Missa recebi uma proposta indecente... "Providenciar para que a Santa Missa, na quarta feira, seja bem animada". Ouvindo a minha resposta de que eu não saberia fazer isto, visto ser uma situação totalmente divergente do espírito da Liturgia, ouvi  argumento de que deveríamos nos adaptar à linguagem dos participantes que, na noite, seriam os jovens. Depois de eu expor a doutrina da Igreja a este respeito, falando do caráter Sacrifical da Santa Missa, sendo mesmo perpetuação do Calvário, e que não se faz festa na Cruz, fundamentando tudo isto com o que ensina o Concílio de Trento, ouvi a já tão usada frase vinda de um modernista: "mas nós estamos no Vaticano II". Continuei falando da intenção de Bento XVI e da luta que tem travado visando restaurar a Liturgia. Falei, por fim, que o Concílio de Trento é dogmático, enquanto que o Vaticano II é apenas pastoral e que Bento XVI condena esta leitura que o interpreta como descontinuidade da Tradição, a famigerada "Hermenêutica da Ruptura".

E então, tornou-se manifesta a intenção de todo modernista e o que trazem dentro do peito, quando, por fim, ouvi de sua boca: "Bento XVI já deveria estar na glória".

Porém, uma das coisas que mais me chamaram a atenção foi o apelo usado para me convencer a transgredir a Sagrada Liturgia. Ao me pressionar, pediam para que eu fizesse isso "pelo amor de Deus".

Lembrei as palavras de Cristo a Pe. Pio.. Em vão...

Parece que o Cristo é quem menos interessa nestas "diversões".

Estou muito triste.

Miserere Nobis.

Fábio.

Ontem, dia 9 de Agosto, foi dia de Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), Carmelita Descalça e Filósofa


""Examinai tudo e ficai com o bom" (I Ts, 5,21). Mas só pode examinar quem tenha um critério. Nós temos esse critério em nossa Fé e na rica herança de nossos grandes pensadores católicos: nossos Padres e Doutores da Igreja. Quem tenha feito totalmente sua a imagem do mundo e a concepção do mundo de nossa dogmática e de nossa filosofia clássica, poderá abordar sem perigo os resultados e os métodos da investigação dos pensadores modernos e aprender deles. Sem essa preparação, seu estudo não poderia ser considerado como isento de perigos." (Edith Stein)

Santa Teresa Benedita da Cruz, ora pro nobis!

Pio XII exorcizava Hittler à distância

O historiador e jesuíta alemão Peter Gumpel, teólogo relator do processo de beatificação de Pio XII, revelou no transcurso de uma mesa redonda realizada em Roma em companhia do senador Giulio Andreotti acerca do tema «Pio XII, construtor da paz», que o Papa Pacelli exorcizou «várias vezes» e a distância Adolf Hittler, por considerá-lo uma pessoa possuída, um endemoninhado; assim declarou Sor Pascalina, secretária particular do Pontifíce. No exorcismo, o Papa invocava a Deus para que libertasse da influência diabólica que sofria o Führer. A notícia completa pode ser encontrada em Religion en Libertad.

Sobre a oração

Bento XVI

Em S. Mateus, uma curta catequese sobre a oração precede a oração do Senhor, a qual quer sobretudo nos precaver contra as formas falsas de oração. A oração não deve ser exposição perante s homens; ela exige discrição, que é essencial para uma relação de amor. Deus dirige-se a cada um individualmente com o seu próprio nome, que aliás ninguém conhece, diz-nos a Escritura (Ap 2,17). O amor de Deus por cada um é totalmente pessoal e traz em si este mistério da unicidade que não deve ser divulgado aos homens. Esta discrição essencial da oração não exclui a oração em comum: O Pai-Nosso é, como o nome indica, uma oração na primeira pessoa do plural, e somente neste estar com o "nós" dos filhos de Deus é que podemos absolutamente ultrapassar as fronteiras deste mundo e chegar a Deus. Mas este "nós" desperta então o fundo mais íntimo da minha pessoa; na oração devem compenetrar-se sempre este elemento totalmente pessoal e o elemento comunitário.

A outra falsa forma de oração, contra a qual o Senhor nos adverte, é a tagarelice, o palavreado, que asfixia o espírito. Todos nós conhecemos o perigo de reetir formas habituais e termos ao mesmo tempo o espírito totalmente longe. Estamos mais atentos quando, a partir de uma necessidade mais profunda, pedimos a Deus algo ou lhe agraecemos, de coração feliz, algum benefício experimentado. Mas o mais importante é - para além dessas situações pontuais - que a relação com Deus esteja presente no mais íntimo do ser. Para que isto aconteça, é preciso que esta relação seja sempre desperta e que sejam sempre a ela referidas as coisas de cada dia. Havemos de rezar tanto melhor quanto mais a orientação para Deus estiver no mais íntimo da nossa alma. Quanto mais ela for a razão que leva em si toda a nossa existência, tanto mais havemos de ser homens da paz. Tanto mais poderemos suportar a dor, tanto mais poderemos compreender os outros e estar abertos para eles. Esta orientação que impregna toda a nossa consciência, a presença silenciosa de Deus na base do nosso pensamento, da nossa reflexão e do nosso ser, é tudo isso que chamamos de "oração permanente". Ela é, em última instância, isso que entendemos por amor de Deus, que é ao mesmo tempo a condição mais íntima e a força motriz do amor para com o próximo.

Esta autêntica oração, a presença interior e silenciosa de Deus, precisa de alimento, e é para isso que serve a oração concreta, com palavras ou representações ou pensamentos. QUanto mais Deus estiver em nós, tanto mais poderemos nós estar realmente com Ele nas várias formas de oração. Mas vale igualmente o inverso: que a oração ativa realiza e aprofunda o nosso estar com Deus. Esta oração pode, e deve, subir antes de tudo ao que diz o nosso coração, às nossas necessidades, esperanças, alegrias e sofrimentos, à vergonha pelos pecados bem como ao agradecimento pelo bem, e assim ser uma oração totalmente pessoal.

Mas precisamos também nos apoiar em fórmulas de oração, nas quais tomaram forma o encontro com Deus de toda a Igreja, bem como dos homens individualmente. De fato, sem estas ajudas para a oração, a nossa oração e a nossa imagem de Deus tornam-se subjetivas e refletem em última instância mais a nós mesmos do que o Deus vivo. Nas fórmulas de oração que em primeiro lugar surgiram da fé de Israel e depois da fé da Igreja orante, aprendemos a conhecer a Deus e a nós mesmos. Elas são escolas de oração e assim transformações e aberturas da nossa vida.

S. Bento marcou na sua Regra a fórmula: Mens nostra concordet voci nostrae, "o nosso espírito deve estar em harmonia com a nossa voz" (Reg 19,7). Normalmente, o pensamento precede a palavra, procura e forma a palavra. Mas na oração dos salmos, sobretudo na oração litúrgica, passa-se o contrário: a palavra, a voz precede-nos, e o nosso espírito deve inserir-se nesta voz. De fato, a partir de nós mesmos não sabemos como "devemos rezar de um modo correto" (Rm 8,26), tão longe estamos de Deus, tão misterioso e grande Ele é para nós. E assim Deus veio em nossa ajuda: Ele mesmo nos dá as palavras da oração e nos ensina a rezar, oferece-nos, nas palavras da oração que vêm dEle, a possibilidade de estarmos perto dEle, de nos colocarmos em Sua direção e, por meio da oração com os irmãos, que Ele nos ofereceu, progressivamente O conhecermos.

Em S. Bento, a citada frase refere-se imediatamente aos salmos, o grande livro de oração do povo de Deus no Antigo e no Novo Testamento: são palavras que o Espírito Santo ofereceu aos homens, palavras tornadas Espírito de Deus. Assim, nós rezamos "no Espírito", com o Espírito Santo. Isso naturalmente vale ainda mais para o Pai-Nosso: nós rezamos a Deus com as palavras dadas por Deus para Deus, quando rezamos o Pai-Nosso, diz S. Cipriano. E ele acrescenta: quando rezamos o Pai-Nosso, cumpre-se em nós a promessa de Jesus a respeito do verdadeiro adorador, que adora o Pai "em Espírito e Verdade" (Jo 4,23). Cristo, que é a verdade, ofereceu-nos as palavras, e nelas nos oferece o Espírito Santo. Deste modo, também se torna claro aqui algo que é específico da mística cristã. Ela não consiste em primeiro lugar num mergulhar em si mesmo, mas no encontro com o Espírito de Deus da palavra que nos precede, encntro com o Filho e com o Espírito Santo, e assim o orante se torna um só com o Deus vivo, que está sempre tanto em nós como acima de nós.

Bento XVI, Jesus de Nazaré.

Cristo e Barrabás


Bento XVI

O reino de Cristo é algo completamente diferente dos reinos da terra e do seu esplendor que Satanás apresenta. Este esplendor, como a palavra grega doxa diz, é aparência que se dissolve. Tal esplendor, Cristo não tem. O seu cresce através da humildade da pregação naqueles que se deixam fazer seus discípulos, que são batizados no nome da Santíssima Trindade e que guardam os seus mandamentos (Mt 28, 19s).

Mas voltemos à (terceira) tentação. O seu verdadeiro conteúdo torna-se visível se considerarmos as novas formas que assume constantemente ao longo da história. O império cristão tentou fazer da fé um fator político da unidade do Império. o reino de Cristo deve então receber a forma e o esplendor de um reino político. A impotência da fé, a impotência terrena de Jesus Cristo deve ser ajudada pelo poder político e militar. Em todos os séculos ressurgiu sempre, e em múltiplas formas, esta tentação de assegurar a fé através do poder, e ela correu sempre o risco de ser asfixiada nos abraços com o poder. A luta pela liberdade da Igreja e, portanto, a luta porque o reino de Jesus não pode ser identificado com nenhuma figura política, deve ser travada durante todos os séculos. Então, o preço pela mistura da fé e do poder político consiste, em última análise, no fato de que a fé entra a serviço do poder e deve vergar-se aos seus critérios.

Na história da Paixão do Senhor, esta alternativa de que aqui se trata aparece numa forma verdadeiramente provocante. No auge do processo, Pilatos apresenta ao povo Jesus e Barrabás para que seja escolhido um deles, pois um deles deve ser libertado. Mas quem era Barrabás? Temos conhecimento apenas do que se apresenta no Evangelho de S. João: "Barrabás era um salteador" (Jo 18,40). Só que o termo grego salteador havia recebido um significado específico na situação política de então na Palestina. Ele significava o mesmo que "lutador de resistência". Barrabás havia participado de uma rebelião (cf. Mc 15,7) e além disso era acusado - neste contexto - de homicídio (Lc 15,7). Quando S. Mateus diz que Barrabás tinha sido um "preso célebre", isso significa que tinha sido um dos destacados lutadores da resistência, talvez até o próprio cabeça da rebelião (Mt 27,62).

Em outras palavras: Barrabás era uma figura messiânica. A escolha entre Jesus e Barrabás não é casual: estão em confronto duas figuras messiânicas, duas formas de messianismo. Isto se torna ainda mais claro quando pensamos que Bar-Abbas quer dizer "filho do Pai". Trata-se de uma típica designação messiânica, de um nome cultual de um destacado cabeça de um movimento messiânico. A última grande guerra messiânica dos judeus fora conduzida no ano 132 por Bar-Kochba, "filho da estrela". É a mesma configuração do nome, a mesma intenção é representada.

Por Orígenes tomamos conhecimento de um outro pormenor muito interessante: em muitos manuscritos dos Evangelhos até o séc. III, o homem aqui em referência chamava-se Jesus Barrabbas, "Jesus filho do Pai". Ele se apresenta como uma espécie de sósia de Jesus; concebiam a mesma pretensão, mas de um modo totalmente diferente. A escolha consiste, portanto, entre um Messias que encabeça um combate que promete liberdade e o próprio reino e este misterioso Jesus que anuncia o perder-se como caminho para a vida. É então surpreendente que as massas tenham dado a prioridade a Barrabás?

Se hoje tivéssemos de escolher, teria Jesus de Nazaré, o filho de Maria, o filho do Pai, alguma possibilidade? Será que conhecemos mesmo Jesus? Será que O compreendemos? Não deveríamos hoje, tanto quanto ontem esforçar-nos para de novo O conhecer? O tentador não é tão rude a ponto de nos propor diretamente a adoração do diabo. Ele apenas nos propõe que nos decidamos por aquilo que é racional, pela primazia de um mundo planejado e organizado, no qual Deus pode ter o seu lugar como uma questão privada, mas que não pode imiscuir-se nas nossas intenções essenciais. Solowjew dedica ao Anticristo O caminho aberto para a paz e o bem-estar do mundo, que de certo modo se torna a nova Bíblia e que tem como próprio conteúdo a adoração da prosperidade e do planejamento racional.

A terceira tentação de Jesus é tida como a tentação fundamental: a questão sobre o que um redentor do mundo deve fazer. Ela perpassa toda a vida de Jesus. Evidencia-se, de novo e abertamente, numa virada decisiva do seu caminho. Pedro tinhas em nome dos discípulos dito a confissão em Jesus como o Messias-Cristo, o filho do Deus vivo, e assim formulado aquela fé sobre a qual a Igreja se edifica e inaugurado a comunidade dos crentes fundada em Cristo. Mas precisamente neste lugar em que se evidencia o conhecimento de Jesus, que marca a cisão e a decisão a respeito da "opinião da multidão" e assim começa a formar-se a sua nova família, precisamente aí está o tentador - o perigo de tudo inverter no seu contrário. O senhor explica imediatamente que o conceito de Messias deve ser compreendido tendo como base o conjunto da mensagem profética - que diz não ao poder mundano, mas sim à cruz e, portanto, a uma comunidade totalmente diferente que se origina precisamente a partir e através da cruz.

Mas isso Pedro não entendeu: "Tomando-O de parte, Pedro começou a repreendê-Lo dizendo: Deus te livre de tal, Senhor. Isso não há-de acontecer". Se lermos essas palavras sob o pano de fundo da história das tentações - como o seu retorno num instante decisivo - , então percebemos a incrivelmente dura resposta de Jesus: "Afasta-te de mim, Satanás! Tu és para mim um estorvo, porque os teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens" (Mt 16,22s).

Bento XVI, Jesus de Nazaré.

Dúvida sanada, graças a Deus...


Exponho aqui, de uma forma rápida, uma dúvida que eu tinha e que consegui esclarecer.
Talvez muitos a considerem simplória... e eu peço que estes tenham paciência...
Talvez, porém, a dúvida sirva para esclarecer a outros.

Pensava eu, cá com meus botões, sobre o milagre da transubstanciação. Sem saber onde encontrar resposta, me perguntava o seguinte: no milagre da transubstanciação, o pão deixa de ser pão para ser o bendito corpo de Nosso Senhor, e o vinho deixa a sua substância passando a ser o Sangue de Cristo. Certo... Porém, sei também que, sofrendo corrupção, a Hóstia consagrada deixa de ser o Corpo de Cristo. Mas, se já não havia pão, e agora já não é Corpo de Cristo, ela torna-se o quê? Volta a ser pão? Se sim, seria então uma segunda transubstanciação? Perdoem-me mais uma vez a minha simplicidade. rs...

Lendo, então, um artigo no site Montfort, numa das notas havia a seguinte explicação de Inocêncio V: "os acidentes da Eucaristia nutrem ao revestir qualidade ou modo de substância; pois, ainda que sejam acidentes, têm, entretanto, vigor e natureza de substância; disso decorre que, embora no começo de sua absorção sejam acidentes, entretanto, ao fim da digestão se convertem nas mesmas substâncias que corresponderiam à conversão de sua própria substância. Não há nisto, portanto, novo milagre, porque tudo decorre do milagre precedente da transubstanciação”.

Pax

Fábio Luciano

Fase experimental

Estarei dando umas mexidas no blog, pelo que ele estará, temporariamente, em fase experimental.
Acredito que irei mexer em poucas coisas e, não ficando lá tão interessante, é possível que retorne ao visual antigo. Como também não sou especialista nestes assuntos, as mudanças serão modestas, dentro das possibilidades oferecidas pelos próprios recursos do blogspot.
Bem, seja como for, já sabem....rs.

Pax et bonum

Fábio Luciano

O pecado mortal e a alma - Sta Teresa D'Avila


Antes de passar adiante, quero dizer-vos que considereis o que será ver este castelo tão resplandecente e formoso, esta pérola oriental, esta árvore de vida que está plantada nas mesmas águas vivas da Vida, que é Deus, quando cai em pecado mortal. Não há trevas mais tenebrosas, nem coisa tão escura e negra que ela o não esteja muito mais. Basta saber que, estando até o mesmo Sol, que lhe dava tanto resplendor e formosura no centro da sua alma, todavia é como se ali não estivesse, para participar d'Ele, apesar de ser tão capaz de gozar de Sua Majestade, como o cristal o é para nele resplandecer o sol. Nenhuma coisa lhe aproveita; e daqui vem que todas as boas obras que fizer, estando assim em pecado mortal, são de nenhum fruto para alcançar glória; porque, não procedendo daquele princípio que é Deus, do qual vem que a nossa virtude é virtude, e apartando-nos d'Ele, não pode a obra ser agradável a Seus olhos; porque, enfim, o intento de quem faz um pecado mortal, não é contentar a Deus, senão dar prazer ao demônio o qual, como é as mesmas trevas, assim a pobre alma fica feita uma mesma treva.

Eu sei de uma pessoa a quem Nosso Senhor quis mostrar como ficava uma alma quando pecava mortalmente. Diz aquela pessoa que lhe parece que, se o entendessem, não seria possível que alguém pecasse, ainda que se pusesse nos maiores trabalhos que se possam pensar para fugir das ocasiões. E assim, deu-lhe um grande desejo de que todos o entendessem. Assim vo-lo dê a vós, filhas, de rogar a Deus pelos que estão neste estado, todos feitos uma escutidão, e tais são suas obras; porque, assim como duma fonte muito clara, claros são os arroiozitos que dela manam, assim é uma alma que está em graça, pois daqui lhe vem serem suas obras tão agradáveis aos olhos de Deus e dos homens, porque procedem desta fonte de vida, onde a alma está como uma árvore plantada; nem ela teria a frescura e fruto, se não lhe viesse dali; é isto que a sustenta e faz com que não seque e que dê bom fruto. Assim a alma que, por sua culpa se aparta desta fonte e se transplanta a outra de uma negríssima água e de muito mau odor, tudo o que dela sai é a mesma desventura e sujidade.

É de considerar aqui que a fonte e aquele Sol resplandecente que está no centro da alma, não perdem seu resplendor e formosura, que está sempre dentro dela, e não há coisa que lhe possa tirar a formosura. Mas, se sobre um cristal que está ao sol, se pusesse um pano muito negro, claro está que, embora o sol dê nele, a sua claridade não fará o seu efeito no cristal.

Ó almas remidas pelo Sangue de Jesus Cristo! Entendei-vos e tende dó de vós mesmas! Como é possível que, entendendo isto, não procureis tirar este pez deste cristal? Olhai que, se a vida se vos acaba, jamais tornareis a gozar desta luz. Ó Jesus! O que é ver uma alma apartada dela! Como ficam os pobres aposentos do castelo! Que perturbados andam os sentidos, que é a gente que vive neles! E as potências, que são os alcaides, mordomos e mestres-salas, com que cegueira, com que mau governo! Enfim, como onde está plantada a árvore é o demônio, que fruto pode dar?

Ouvi uma vez a um homem espiritual, que não se espantava do que fazia quem está em pecado mortal, mas sim do que não fazia. Deus, por Sua misericórdia, nos livre de tão grande mal, que não há coisa, enquanto vivemos, que mereça este nome de mal, senão esta; pois acarreta males eternos para sempre. É disto, filhas, que devemos andar temerosas e o que temos de pedir a Deus em nossas orações; porque, se Ele não guarda a cidade, em vão trabalharemos, pois somos a própria vaidade.

Dizia aquela pessoa que tinha aproveitado duas coisas da mercê que Deus lhe fez: uma, um temor grandíssimo de O ofender, e assim sempre Lhe andava suplicando não a deixasse cair, vendo tão terríveis danos; a segunda, um espelho para a humildade, vendo que, coisa boa que façamos, não tem seu princípio em nós mesmos, mas naquela fonte onde está plantada esta árvore das nossas almas, e neste Sol que dá calor às nossas obras. Disse que se lhe representou isto tão claro que, em fazendo alguma coisa boa ou vendo-a fazer, acudia ao seu princípo e entendia como, sem esta ajuda, não podíamos nada; e daqui lhe procedia ir logo a louvar a Deus, e, habitualmente, não se lembrava de si em coisa boa que fizesse.

Não seria tempo perdido, irmãs, o que gastásseis a ler isto, nem eu a escrevê-lo, se ficássemos com estas duas coisas...

Sta Teresa D'Avila, Castelo Interior.

Sobre a oração - Sta Teresa D'Ávila


Dizia-me há pouco um grande letrado, que as almas que não têm oração são como um corpo paralítico ou tolhido que, embora tenha pés e mãos, não os podem mexer; e são assim: há almas tão enfermas e tão habituadas às coisas exteriores, que não há remédio nem parece que possam entrar dentro de si mesmas; porque é tal o costume de tratarem sempre com as sevandijas e alimárias que estão à roda do castelo (que é a alma), que já quase se tornaram como elas e, sendo de natureza tão rica e podendo ter a sua conversação nada menos do que com Deus, não têm remédio. E se estas almas não procuram entender e remediar sua grande miséria, ficarão feitas em estátuas de sal por não voltarem a cabeça para si mesmas, assim como ficou a mulher de Lot por voltar a cabeça para trás.

Porque, tanto quanto eu posso entender, a porta para entrar neste castelo é a oração e reflexão, não digo mais mental que vocal; logo que seja oração, há de ser com consideração; porque naquela em que não se adverte com Quem fala e o que se pede e quem é que pede e a Quem, não lhe chamo eu oração, embora muito meneie os lábios. E, se algumas vezes o for, mesmo sem este cuidado, será porque se teve em outras; mas, quem tivesse por costume falar com a Majestade de Deus como falaria a um seu escravo, que nem repara se diz mal, mas o que lhe vem à boca ou decorou, porque já o fez outras vezes, não o tenho por oração e preza a Deus nenhum cristão a tenha desta sorte. Que entre vós, irmãs, espero em Sua Majestade, não haverá tal oração, pelo costume que há de tratardes de coisas interiores, e que é muito bom para não cairdes em semelhante bruteza.

Não falemos, pois, com estas almas tolhidas, que, se não vem o mesmo Senhor mandar-lhes que se levantem - como aquele que havia 30 anos que estava junto à piscina -, têm muito má ventura e correm grande perigo; mas sim com outras almas que, por fim, entram no castelo; porque, ainda que estejam muito metidas no mundo, têm bons desejos e algumas vezes, ainda que de longe em longe, encomendam-se a Nosso Senhor e consideram quem são, ainda que sem muita demora. Algumas vez ou outra, num mês, rezam cheias de mil negócios, o pensamento quase de ordinário nisso, porque, como estão tão apegadas a eles, o coração se lhes vai para onde está o seu tesouro. Propõem algumas vezes, para consigo mesmos, desocuparem-se, e já é grande coisa o próprio conhecimento e o ver que não vão bem encaminhadas para atinar com a porta. Enfim, entram nas primeiras dependências do rés-do-chão; mas entram com elas tantas sevandijas, que não lhes deixam ver a formosura do castelo nem sossegar: muito fazem já em ter entrado.

Sta Teresa D'Avila, Castelo Interior.

Voltando

Meus caros, eu estive adoentado, motivo pelo qual não atualizei o blog nestes últimos dias. Com a graça de Deus, estou voltando...

Pax.
Fábio Luciano
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