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Ano Novo...

E chegamos, enfim, ao último dia do ano, e o mundo ainda tá aí, provando que as suposições, por mais numerosas que sejam, não são capazes de criar a realidade. A realidade é o que é e viveremos bem se nos adequarmos a ela, isto é, se vivermos segundo a verdade. O que acontece, porém, é que uma vez que haja discrepância entre os nossos desejos ou medos e aquilo que existe objetivamente, tendemos a reforçar a tensão pelo apego às nossas próprias vontades e caprichos do nosso ego. Esta é a própria definição da soberba e é isto o que nos fecha para qualquer processo de maturação. É por isso que Jesus põe como pressuposto do seu seguimento a atitude de auto-negação, isto é, de aceitar e amar a realidade tal qual ela é, esvaziando-nos da pretensão de querer moldá-la segundo nossos próprios desejos.

Quando nós não fazemos este ato de conversão e de amor à verdade, cultivamos em nós a neurose de nos pretendermos deuses ou, quando fica-nos evidente a modéstia da nossa força, procuramos vias alternativas para levar a termo as nossas pretensões: é a superstição. E isto nos é muito presente. Hoje à noite, quando formos à Santa Missa, poderemos observar que a imensa maioria das pessoas vestirá branco. Não que haja mal algum em fazê-lo, mas isto no mais das vezes é também uma tentativa de burlar a realidade, acreditando que, por não sei quais forças da cor branca, e por coincidir com um momento específico do movimento de translação da terra, conseguiremos provocar alguma mudança efetiva e mágica no ano vindouro. Pobres de nós...

Mas não queria falar disso. Quero, antes, agradecer a Deus por mais um ano que passa nessa nossa pequena história de vida mortal... Como dizia Sta Teresinha, esta vida é um instante entre duas eternidades, e, como dizia a Teresona, a vida é uma má noite numa má pousada. Agradecemos, mesmo assim, pelo ano que passa e pelo outro que se aproxima e que nos deixa mais próximos daquele grande dia eterno. Agradeço também aos nossos amigos e leitores que têm convivido conosco, pelo menos de modo virtual, já há algum tempo. Unamo-nos todos diante de Nosso Senhor, sem cair nas superstições fúteis nem nas neuroses tão comuns, mas acreditando que se há algo de bom, Ele é a fonte disto, pois só Deus é bom. Saibamos também que até conseguiremos produzir mudanças na nossa vida, mas isto não se fará pela cor das roupas, e sim pelo que o cristianismo chama de "metanóia", isto é, pela completa mudança interior - que não se dá senão em união com Ele - e que, obviamente, provoca uma mudança no campo das ações. Depois de passar tanto tempo buscando vias alternativas e de fazer a experiência da fatuidade dos nossos esforços, por que não passamos a crer, sem reservas, em Deus e a nos abandonar aos Seus cuidados?

Se nos unirmos a Ele, então se dará aquilo de que mais necessitamos: converteremos o nosso coração, amadureceremos e Ele nos dará a clareza e a força necessárias para ver a verdade, fazer o que devemos e enfrentar o que vier. Estes são os meus votos de ano novo. É o que desejo para todos os meus amigos, familiares e conhecidos.

Que a Virgem Maria nos ensine a festejar esta noite de modo cristão, sem excessos e que, estando nós unidos a Ele na Santa Missa, a Sua alegria esteja em nós e a nossa alegria seja plena.

Feliz Natal - não acabou! - e Feliz Ano Novo!

Ad Iesum Per Mariam

Fábio.

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E aí vai uma musiquinha boa, densa e bela pra saudar o ano que chega... Pax.

Respondendo: Uma pessoa pode estar salva e feliz sabendo que outra da sua família condenou-se?


Caro Fábio, conheci a pouco seu blog e achei muito bom. Sei que é difícil falar sobre escatologia já que é algo que o homem não vivenciou. Uma pessoa pode estar salva e ser feliz sabendo que outra da sua família condenou-se ao inferno?

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Olá, caríssimo. É uma excelente pergunta. Para respondê-la, transcrevo o que o próprio Deus Pai, sobre isto, falou a Sta Catarina de Sena. É uma resposta grave. Vejamos:

"Os bem-aventurados continuam no céu, eternamente, aquele mesmo amor com que encerraram a vida terrena. Conformam-se inteiramente à minha vontade, só desejam o que eu desejo. Chegando ao momento da morte em estado de graça, seu livre arbítrio fixa-se no amor e eles não pecam mais. Suas vontades identificam-se com a minha. Se um pai, uma mãe vêem ou, em sentido contrário, se um filho vê os pais no inferno, não se perturbam. Até se alegram por ver tal pessoa punida, como se fosse inimigo seu. Os bem-aventurados em nada se distanciam de mim. Seus desejos estão saciados. Anseiam em ver-me glorificado por vós, viandantes e peregrinos que sois em direção à morte. Aspirando por minha honra, querem vossa salvação e sempre rogam por vós. De minha parte, escuto seus pedidos naquilo em que vós, por maldade, não opondes resistência à minha bondade."
Santa Catarina de Sena, O Diálogo. São Paulo: Paulus, 2005. pp. 97-98.

A santidade consiste basicamente na união de vontades com Deus. No Céu, esta união de vontades se realiza plenamente. Ter união de vontades com Deus significa amar o que Deus ama e detestar o que Ele detesta. Significa, ainda, ter por inimigos todos os que se opõem a Deus. Quando morremos, se estamos em Graça, a nossa vontade se fixa para sempre no bem. Se, no entanto, morremos em pecado mortal, a nossa vontade perpetua-se na inimizade com Deus. A possibilidade de conversão ou queda é própria desta vida. Deste modo, os santos são para sempre amigos de Deus. Os condenados, por sua vez, são para sempre inimigos de Deus. Ora, Deus é o bem e a fonte mesma do amor, de modo que os que amam a Deus e foram perpetuados na sua amizade não têm como amar ao mal nem àqueles que detestam a Deus, ainda que estes últimos tenham partilhado relações sanguíneas ou afetivas com os primeiros durante a sua vida mortal.

Se ainda assim ficar qualquer dúvida, torne a perguntar. Abraço.

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Curso "Passos para uma reforma litúrgica local"


Um dos pontos fortes do pontificado do Papa Bento XVI é promover o que vem sendo chamado de “reforma da reforma”: retomar o caminho do Concílio Vaticano II e purificar a Igreja e a liturgia das interpretações equivocadas. 

Este curso objetiva ajudar as comunidades a melhorar a sua liturgia, segundo as normas litúrgicas.

Indicado para sacerdotes, religiosos, seminaristas, grupos de liturgia, ministros leigos e interessados na arte da celebração litúrgica.O Concílio Vaticano II, responsável pela maior reforma litúrgica da história da Igreja, sofreu de uma má aplicação, não só na liturgia, mas principalmente neste campo. O principal motivo apontado é um falso conceito de liberdade e a ignorância. Formou-se uma mentalidade de que a adaptação é mais importante que a norma, chegando a suprimi-la. O Papa Bento XVI tem provocado um novo movimento litúrgico e realizando a reforma da reforma não a toque de decretos, como poderia fazer, mas através do trabalho prudente e do exemplo.

Propomos uma série de passos, das mais simples e mais urgentes ações até as mais trabalhosas, para revalorizar a sacralidade e a beleza da liturgia, colocando Deus de volta ao centro da celebração do mistério cristão.

Conteúdo do curso:

Textos, vídeos e fóruns de discussão sobre a situação e a reforma litúrgica;
Passos para uma reforma litúrgica local;
Identificar e eliminar erros (em 3 pontos);
Melhorar a liturgia pacientemente (em 13 pontos);
A Missa parte por parte;
Material para download;
entre outras discussões.- Fóruns de dúvidas e interação entre os participantes e o professor.
- Ebook com todo o conteúdo do curso (83 páginas). 

Conteúdo totalmente online, acesso 24h a qualquer dia. 

Carga horária: equivalente a 60h/aula 

Início imediato.

Será conferido certificado a quem acessar todos os tópicos e participar das atividades.
O prazo para acesso ao curso é de 90 dias e o aluno pode estudar nos dias e horários de sua preferência. Recomendamos 3 horas semanais de estudo.Investimento: R$25,00

Maiores informações: Cursos Católicos

Papa convoca católicos à 'luta' contra o casamento gay


Sem citar a palavra homossexual e sem fazer julgamento sobre a homossexualidade, ele atacou claramente a legalização do casamento gay

O papa Bento XVI se mostrou combativo nesta sexta-feira ao convocar os católicos para "lutar" contra o casamento gay, em um contexto de mobilização da Igreja em todos os grandes debates da sociedade. Em seu discurso de fim de ano à Cúria Romana, o Papa criticou duramente as novas concepções da família que não se baseiam na união entre um homem e uma mulher e afirmou que "na luta pela família está em jogo a essência do ser humano".

Sem citar a palavra homossexual e sem fazer julgamento sobre a homossexualidade, ele atacou claramente a legalização do casamento gay e a adoção por esses casais na França, Estados Unidos e em outros países. A posição do Vaticano sobre o casamento homossexual não mudou, mas o tom endureceu.

No momento em que os países ocidentais adotam reformas sobre o casamento homossexual, o "Ano da Fé", lançado em outubro pelo Papa, parece ser a ocasião de combate sobre essas questões morais. Alguns movimentos católicos organizaram uma grande manifestação contra o casamento gay na França em 18 de novembro. Uma outra manifestação nacional está prevista para 13 de janeiro.

Os representantes das grandes religiões da França (católica, islâmica, protestante, judaica), criticaram o projeto do governo socialista, mas insistiram na natureza específica de seus argumentos.

Bento XVI, em uma rara mensagem publicada quinta-feira no Financial Times, convidou os cristãos a se engajarem nas áreas da justiça, da paz, da vida e da família. Segundo o Papa, os cristãos devem ser coerentes com a fé católica, disse, citando os políticos que são encarregados de votar a favor ou contra os projetos de lei de um governo.

Ele propôs uma "aliança" entre fiéis de diversas religiões e ateus sobre os temas essenciais de defesa da justiça, da paz, da família e da vida, que seria possível em razão de serem "leis naturais" as quais todos podem aderir. Em virtude desta lógica, ele citou longamente, e de maneira inédita, o grande rabino da França, Gilles Bernheim, muito crítico ao projeto de legalizar o casamento e a adoção para os homossexuais.

O Papa elogiou o trabalho do rabino Bernheim, que demonstra que "atentar contra a autêntica forma da família, constituída por um pai, uma mãe e uma criança (...) coloca em jogo a própria visão do ser humano". "Se até o momento percebíamos como a causa da crise da família a incompreensão sobre a essência da liberdade humana, agora está claro que o que está em jogo é a própria visão do ser humano, o que significa em realidade o fato de ser uma pessoa humana", observou Bento XVI.

"A criança perdeu a posição a que pertencia até o momento e a dignidade particular que lhe é própria", prosseguiu o Papa. "Bernheim mostra como, de sujeito jurídico independente em si mesmo, ele se transforma necessariamente em um objeto, que é e tem o direito, e como um objeto de direito, pode ser obtido".

Com a rejeição do casamento tradicional, acrescentou, "desaparecem as figuras fundamentais da existência humana: o pai, a mãe, o filho: as dimensões essenciais da experiência de ser uma pessoa humana estão desabando". Neste discurso, no qual costuma explicar as principais preocupações da Igreja, o Papa lamentou a "profunda falsidade" dos estudos de gênero, que consideram que o sexo de uma pessoa é determinado, na realidade, pela sociedade e educação.

O Papa insistiu ao Financial Times que a "luta" pacífica que ele convocou ultrapassa as fronteiras da Igreja: os princípios que ela defende "não são verdades de fé, estão inscritas na própria natureza humana, identificável pela razão, e, portanto, comum a toda a humanidade", seja no casamento, no começo e fim da vida, e na bioética, afirmou o Papa. Sua transformação causará "prejuízo grave para a justiça e a paz", acrescentou.


Ensinamentos de Anselm Grün vão contra a doutrina da Igreja


REDAÇÃO CENTRAL, 23 Mai. 12 / 12:50 pm (ACI).- O diretor do grupo ACI, o jornalista Alejandro Bermúdez Rosell, afirmou que os ensinamentos difundidos pelo monge beneditino Anselm Grün são heréticos, pois vão contra a doutrina da Igreja, a qual não [é] "uma coisa menor ou opinável".

Em seu podcast em espanhol chamado “Punto de vista” de 23 de maio, Bermúdez criticou que em suas conferências e livros, alguns deles traduzidos também ao português, Grün tenha reduzido as Sagradas Escrituras a "um manual de terapia psicológica".

"O Pe. Grün, em vez de oferecer uma alternativa à auto-ajuda New Age, se incorpora a ela", indicou.

Bermúdez explicou que o problema não são as boas intenções ou a pessoa mesma de Anselm Grün, mas sim o monge que, através de seu ensino, está "empurrando a todos seus leitores por um caminho que, apresentado como se fosse doutrina da Igreja, [é] completamente o contrário".

O diretor do grupo ACI assinalou que, em sua interpretação de diversas passagens bíblicas do Antigo e do Novo testamento, o monge beneditino retira "todo sentido sobrenatural e religioso, pretendendo que estas sejam simplesmente metáforas psicológicas".

O sacerdote jesuíta Gabino Tabossi também criticou a aproximação de Grün a diversas heresias e a teorias psicológicas contrárias ao ensino da Igreja.

Como exemplo, o Pe. Tabossi “assinalou que, em uma de suas obras, Grün considera a relação entre Abraão e Isaac como "despótica e a que tem com Deus, neurótica e fictícia".

"Tal interpretação, além de psicologista, é pouco ecumênica: que não saibam nossos irmãos maiores que um católico tratou como doente e desequilibrado ao progenitor do judaísmo!".

O Pe. Tabossi denunciou que o monge beneditino, em seus textos, "relativiza o catolicismo quando augura que a fidelidade à própria consciência, acima de qualquer religião, é caminho seguro para a salvação".

O jesuíta também destacou que enquanto a Igreja ensina que Jesus sempre foi Deus, "a teologia do Grün ensina ao parecer [de] que Jesus foi se fazendo Deus sobretudo a partir da iluminação que recebeu no dia de seu batismo".

De acordo ao Pe. Tabossi, a ética do Pe. Grün ensina que "para salvar-se e ser feliz é preciso pecar, ou ao menos, fugir do desejo de erradicação daquilo que nossos preconceitos culturais consideram como condutas ‘anormais’".

"Nosso autor acredita que o pecado original foi uma coisa necessária e louvável; assim, depois dele, os primeiros pais puderam ‘conhecer o bem e o mal’, ganhar em consciência, aumentar a própria ciência moral".

Por sua parte, o Arcebispo de La Plata, na Argentina, Dom Héctor Aguer, qualificou de "muito pernicioso" o ensinamento de Anselm Grün, por ser um eco da cultura New Age.

Dom Aguer indicou que toda a espiritualidade difundida por Grün está apoiada nas teorias da psicanálise de Carl Jung, abundantes em gnosticismo.

Para o Prelado argentino, o trabalho do monge beneditino [é] "uma espécie de transcrição pseudoespiritual da simbologia de Jung. Isso vai acabar mal".

Fonte: ACI Digital

Respondendo: O que Maria Santíssima representa na vida dos Católicos?


Maria Santíssima é a mãe de Deus, já que Jesus é Deus. É importante frisar que ela é legitimamente mãe de Deus, embora Deus exista desde a eternidade. O ponto é que, embora Jesus tenha duas naturezas, e só a natureza humana tenha uma origem, elas estão unidas numa só Pessoa. É o que se chama "União Hipostática". Logo, Maria gerou a Nosso Senhor em seu ventre e se tornou mãe d'Ele.

Nossa Senhora foi declarada pelo Arcanjo Gabriel plena de graça, e isto numa época em que todos nós, seres humanos, éramos ainda inimigos de Deus, isentos da Graça. Isto nos mostra como ela foi preservada, desde a sua concepção, da mancha do Pecado Original. Claro que isto foi feito já em função dos Méritos de Cristo. Nossa Senhora é comparada à aurora que chega antes do Sol, mas que só existe por causa do Sol.. Quando vemos a aurora, mesmo que não tenhamos visto ainda o Sol, sabemos que ele está a chegar. Assim foi Maria Santíssima.

Ela desempenha o papel oposto ao de Eva. Eva, tentada por um anjo, Lúcifer, encheu-se de soberba e deu ao mundo o fruto da perdição, de onde nos veio toda a miséria e morte. Maria, anunciada por um Arcanjo, Gabriel, confirmou sua humildade submetendo-se inteiramente ao projeto divino e concebeu e gerou e deu à luz Nosso Senhor, Jesus Cristo, fruto da vida para a Salvação do Mundo. Ora, de todas as graças, a maior delas é o próprio autor da Graça, Jesus Cristo, Deus Conosco. Se a maior das graças nos veio por meio de Maria, todas as demais devem vir, obviamente, também por meio dela.

A Virgem é o caminho que Deus escolheu para vir a nós; é, portanto, o caminho pelo qual nós devemos ir a Ele.
Ela gerou a Cabeça da Igreja, que é o Cristo. Deve, portanto, gerar todos os membros que somos nós.

Neste sentido, não há, estritamente falando, santidade sem ser por ela. E isto não porque a Virgem Maria tenha qualquer poder autônomo, paralelo ao de Deus, mas porque, em virtude de sua abismal humildade, o próprio Deus quis que assim fosse.

Para o católico, portanto, ser mariano não é questão de escolha, como acontece com a devoção aos demais santos. Para nós, a devoção à Virgem Maria é obrigatória. Devemos tê-la por Mãe, pois o próprio Jesus - o Novo Adão -, do alto da Cruz - a Árvore da Vida - nos deu Maria - A Nova Eva - como Mãe. Depois, ela foi consagrada, quando da sua Assunção, Senhora e Rainha nossa. E, mesmo depois de tudo isso, Maria ainda permanece sendo um grande mistério para nós. Não alcançamos a profundidade deste mistério nem a altura da sua grandeza, bem como não conseguimos sondar a imensidão da sua humildade.

Nos recomendemos, então, sempre a ela, pois não houve ser humano que mais tenha amado a Jesus e que O conheça mais profundamente e que, portanto, mais saiba o que fazer para Lhe agradar. Que ela nos ensine a seguir seu Filho e produza em nossas almas as mesmas disposições e virtudes da sua. Que assim seja.

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Poema do Pe. José de Anchieta sobre Jesus na Manjedoura


- Que fazeis, menino Deus,
Nestas palhas encostado?
- Jazo aqui por teu pecado.

- Ó menino mui formoso,
Pois que sois suma riqueza,
Como estais em tal pobreza?

- Por fazer-te glorioso
E de graça mui colmado,
Jazo aqui por teu pecado.

- Pois que não cabeis no céu,
Dizei-me, santo Menino,
Que vos fez tão pequenino?

- O amor me deu este véu,
Em que jazo embrulhado,
Por despir-te do pecado.

- Ó menino de Belém,
Pois sois Deus de eternidade,
Quem vos fez de tal idade?

- Por querer-te todo o bem
E te dar eterno estado,
Tal me fez o teu pecado.

Padre José de Anchieta.

Fonte: Montfort

Exultai todos os cristãos: é o Natal de Cristo!


Sto Agostinho

Celebremos o Natal de Cristo com afluência e solenidade devida. Rejubilem-se os homens, rejubilem-se as mulheres: nasceu Cristo homem, nasceu de uma mulher e ambos os sexos são honrados. Passe, pois, já para o segundo homem, o que no primeiro foi condenado. Inoculara-nos a mulher a morte; nova mulher os deu à luz a vida. Nasceu em semelhança da carne do pecado pela qual seria purificada a carne do pecado.

Rejubilai-vos, jovens clérigos, que escolhestes em seguir de modo particular a Cristo, que não procurastes matrimônio: não veio a vós pelo matrimônio aquele a quem, segundo, encontrastes.

Exultai, virgens consagradas; para vós, a Virgem deu à luz aquele que desposastes sem alteração da virgindade, e que não podeis perder o vosso amado nem concebendo nem dando à luz. Exultai, justos, é o Natal do justificador. Exultai, enfermos, e doentes: é o natal do que dá saúde. Exultai, cativos, servos, é o Natal do Senhor. Exultai, livres: é o Natal do libertador. Exultai, todos os cristãos, é o Natal de Cristo.

Cristo, nascido de mãe, preparou este dia, desde séculos, e foi quem, nascido do Pai, criou todos os séculos. Em seu Natal divino, não pôde ter mãe alguma, nem no natal humano, pai algum. Enfim, nasceu Cristo tanto de pai quanto de mãe, e sem pai nem mãe: Deus, por parte de Pai; homem, por parte de Mãe; Deus, sem mãe; homem, sem pai. Quem, pois, narrará sua geração? (Is 53,8) ou aquela, sem o tempo, ou esta, sem sêmen; aquela, sem início, esta, sem exemplo; aquela, que nunca deixou de ser; esta, que nem antes nem depois existiu; aquela que não tem fim; esta que tem seu início onde tem seu fim. Justo, pois, que os profetas pressagiassem e que os céus e os anjos anunciassem tão grande nascimento.

Foi posto em manjedoura quem encerrava o mundo; e era criancinha e o Verbo. Aquele que os céus não encerram, o ventre de uma mulher levava. Ela governava nosso Rei; levava ela aquele em quem existimos, aleitava nosso pão. Ó manifesta fraqueza e admirável humildade em que assim se ocultou toda a divindade! O poder governava a Mãe, a quem se achava submetido; e aquele que se alimentava aos peitos dela, a alimentava da verdade.

Complete em nós seus dons aquele que não desprezou nossos primórdios; e faça-nos ele próprio filhos de Deus, que por nós quis tornar-se filho do homem.

Sto Agostinho, Sermão CLXXXIV, 2-4, Ofício Marial.

Vigília da Natividade


S. Boaventura, Bispo

O que nela foi concebido é do Espírito Santo (Mt 1,20).

Embora não se possa encontrar na natureza exemplo adequado para o que é acima da natureza, contudo vemos de modo diverso originar-se o esplendor da luz, o broto da vide, a flor da haste da árvore.

O raio se origina da luz, que é da mesma natureza, mas não dizemos que a luz sejam raios e vice-versa; assim, é o Filho, do Pai, dado que é substancial ao Pai, mas nem o Filho é o Pai, nem o Pai é o Filho. Por isso é que, relembrando a Igreja essa gloriosa natividade, canta: Ó Oriente, esplendor da luz eterna. (Antífona do Advento).

Nasce o broto na vide por isso que a fecunda e vitaliza, mas não a abre nem a viola, nem lhe altera a integridade. Assim nasce Deus na virgem a ponto de a cumular, fecundar, santificar, mas sem a dilacerar, sem a violar, sem a macular. Por isso, ao comparar o que dela nasceu ao broto, diz o Senhor pelo Profeta: "A Davi suscitarei rebento justo; (Jer 23,5) e, vós, ó céus, lá do alto orvalhai, e chovam as nuvens o justo; abra-se a terra e brote o Salvador. (Is 45,8).

Origina-se a flor do ramo ou da árvore, de modo que nem altera o ramo mas o melhora: nem o dilacera, senão que o adorna. Assim nasceu da Virgem, não abrindo nem alterando, pois essa porta será fechada para sempre, não se abrirá e varão não passará por ela (Ez 44,2), diz Ezequiel, mas fecundando e ornando. Por isso se compara seu nascimento ao desabrochar da flor: Sairá haste da raiz de Jessé e uma flor se desprenderá dela. (Is 11,1).

Assim, pois, o dela nascido, nasceu de Deus Pai, antes de estar no ventre, assim como o esplendor, da luz; nascido do ventre da Virgem Mãe, assim como o broto, da videira; nascido também do ventre, assim como a flor nasce do ramo, da haste ou da árvore.

No primeiro nascimento, nasceu e sempre nasce de seu Pai, segundo a natureza divina; no segundo e no terceiro, nasceu da Virgem Mãe, segundo a natureza humana; no segundo e no terceiro, se nos mostrou na terra para remédio; o primeiro se nos reserva no céu, como prêmio. O segundo nascimento se refere ao dia da presente solenidade, em que lemos acerca de seu nascimento; o terceiro diz respeito ao da solenidade de amanhã, em que cantamos: Nasceu-nos um menino; o primeiro se refere ao dia da eterna solenidade.

S. Boaventura, Vigília da Natividade, Ofício Marial.

Respondendo: A mística está acessível aos leigos?

Esquema feito por S. João da Cruz sobre a vida espiritual

Caro Fábio, primeiro gostaria de parabenizá-lo pelo excelente blog, principalmente pelos seus textos sobre mística. Lendo seu texto sobre a mística de São João da Cruz, surgiu-me uma dúvida, é possível viver esse caminho mesmo sendo leigo? Grato

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É uma ótima pergunta. Primeiramente agradeço os elogios ao nosso apostolado. Reze sempre por nós para que o façamos segundo a vontade de Deus.

Vamos lá.

De fato, isso tudo é mais "fácil" e mais comum para os religiosos e monges. E por quê? Porque eles podem se dedicar integralmente a todo esse mundo. Já dizia S. Paulo que os que vivem no século precisam se preocupar com os que estão à sua volta, como família, trabalho, etc. E isto tudo, embora justo e digno, pode e tende a distrair. No livro "O Diálogo", Deus Pai fala a Sta Catarina de Sena que o amor de um leigo, comparado ao de um religioso, deveria ser como um pedaço de gelo comparado a uma chama ardente. Isto nos mostra a diferença ideal entre a dedicação de um e a do outro. Porém, embora a gente possa falar de uma maior incidência de religiosos à vida mística, isto não é determinante.

Sta Teresa D'Avila diz que Deus pode levar a quem Ele bem queira ao cume da vida mística de um modo até rápido, embora não seja comum que Ele o faça. Neste ponto, S. João da Cruz se diferencia dela, pois para o Doutor da Noite, aquela gradação de que tratamos no outro post é uma regra da vida espiritual. Deus pode acelerar o processo, mas não "saltaria" os degraus. O ponto a que quero chegar aqui é este: se agradar a Deus que um leigo alcance tais alturas e, ao mesmo tempo, se o leigo se dispuser, de fato, ele o alcançará.

A vida mística, antes de estar destinada a religiosos, está ordenada à vida humana. Os estágios pelos quais alguém passa dizem respeito às nossas necessidades interiores. O que pode acontecer, porém, é que as purgações necessárias sejam dadas de um ou de outro modo, a depender do modo de vida da pessoa. Um contemplativo estrito terá muitas purgações interiores, por exemplo. Já alguém de vida ativa provavelmente sofrerá doloridas perseguições e abandonos. Mas tudo isto visa contribuir para que a alma se despoje da sua soberba e dos seus apegos. S. João da Cruz avisa, por exemplo, desde o momento em que um novo religioso adentra no convento: "considera que todas estas pessoas não foram postas aqui por Deus senão para te aperfeiçoar", e assim as dificuldades da vida comum também servirão de purgações, se forem vividas de um modo correto, com olhar sobrenatural.

Esta perspectiva se aproxima das afirmações de S. Josemaria Escrivá que pregava a possibilidade de sacralização de toda a vida ordinária, desde que vida digna. Veja só: aqui temos uma coisa interessante. Costumamos ver o convento ou mosteiro como o lugar estrito do Sagrado e o separamos do nosso cotidiano de leigos. No entanto, estes santos estão dizendo que, se tivermos um bom olhar, toda a nossa vida se torna chão consagrado de onde podemos, para usar a expressão de S. Josemaria, fazer transbordar a transcendência divina.

Então, sim! É possível atingir os auges da mística também na vida leiga embora, repito, isto seja menos comum, por causa das distrações e do comodismo geralmente não trabalhado. Veja sobre isso o que escreve S. João da Cruz:

"Se há tão poucos que chegam a tão alto estado, de perfeita união com Deus... não é porque Deus queira haja poucos desses espíritos elevados... mas é que acha poucos... que se disponham a operação tão alta e sublime". A maioria "foge ao trabalho, não querendo sujeitar-se ao menor desconsolo e mortificação", nem trabalhar com paciência perseverante. "Assim, (Deus) já não prossegue a obra de purificá-los pela abnegação e renúncia e levantá-los do pó da terra... Ó almas que quereis andar seguras e consoladas nas coisas do espírito! Se soubésseis quantos sofrimentos convém padecerdes para alcançar tal segurança e consolo... tomaríeis a cruz e, nela cravados, haveríeis de querer beber fel e vinagre puro, considerando-o grande ventura, ao verdes que, assim morrendo para o mundo e para vós mesmos, viveríeis para Deus, em deleites do espírito..."


Portanto, se Deus encontra generosidade por parte da alma, ela será por Ele lapidada e se tornará santa. Isto, porém, exige um grau cada vez maior de renúncia até o abandono total de si mesma. Por qualquer que seja a via, é algo bastante doloroso e exige uma Fé total. Faz parte do processo que a alma seja "cegada", isto é, que não veja para onde vai nem como vai. Diz o santo, porém, que é neste estágio que ela caminha mais ligeira, pois a sua cegueira é efeito da grande luminosidade na qual está inserida. O grande ponto da vida mística é a Fé. "O justo viverá por Fé", diz S. Paulo.

Agora, outra coisa: alguém que queira empreender este caminho, deve fazê-lo por amor a Deus. Se estiver movido de outros interesses, ou será purificado no meio do caminho, ou não encontrará o caminho. É como Moisés diante da Sarça Ardente a quem Deus ordena tirar as sandálias. A alma que quiser se achegar a Deus deve despojar-se de todas as intenções curvas. Já diz a Imitação que o coração puro abraça a Deus e a intenção reta o alcança. E diz Jesus: se os teus olhos forem puros - os olhos aqui simbolizam a intenção -, todo o teu ser estará na luz.

No que se refere à vida leiga, é preciso adquirir um profundo senso espiritual. Para isto, ajudam as práticas espirituais como a recitação constante de jaculatórias, sinais de devoção e a prática da presença de Deus, além de um devotado amor à Virgem Santíssima - sem Ela ninguém chega lá. O objetivo é dar-se conta de que a vida ordinária não está fora, mas dentro da vida espiritual que a abarca e a transcende.

Abraço.
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Respondendo: Gostaria de saber onde encontrar na internet um bom subsídio para ministérios de música: Áudio de músicas litúrgicas (em latim ou vernáculo), letras e partituras.


Bem, eu conheço pouca coisa por aqui. Mas eu te recomendaria os cds do Mons. Marco Frisina, alguns dos quais você encontra no 4shared. Sugiro também o Cd Verbum Panis, do grupo Mite Balduzzi, encontrável no mesmo site. Talvez possas aproveitar também algo do Grupo Libera, ou do trio The Priests. Há também um grupo do qual gosto muito e no qual talvez encontres algo aproveitável, que é o University of Utah Singers. Tem também o pessoal do Oregon Catholic Press (OCP). Por fim, dá uma olhada nesse blog: O Canto na Liturgia.

É pouca coisa, mas espero que ajude de algum modo. Abraço.
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Dia de S. João da Cruz - A Mística Sanjuanista


Hoje a Santa Igreja celebra a festa de S. João da Cruz. Graças a Deus este santo começa a ser um pouco melhor conhecido, mas, ainda, somente por algumas frases soltas. Toda a pujança da sua mística infelizmente ainda é ignorada pela maioria das pessoas. Não é ocioso dizer que S. João da Cruz é a maior autoridade mística da Igreja. Se, portanto, queremos entender corretamente a espiritualidade católica, faremos muito bem se recorrermos a ele, como dizia Sta Edith Stein. Quero tentar fazer uma sucinta exposição, muito geral, sobre a mística de S. João.

No início da vida espiritual, está o batismo. Sem batismo não há, rigorosamente falando, vida espiritual. É preciso nascer de novo, como diz Jesus a Nicodemos. E isto se efetua no batismo. É aí onde recebemos a Graça Santificante que apagará de nós o Pecado Original e nos restabelecerá na amizade divina. Devemos entender que isto não é apenas uma teoria, mas a mais absoluta e rigorosa verdade. Em seguida, devemos, a partir de uma boa educação religiosa, passar a uma contínua e gradativa generosidade aos apelos interiores da Graça, sempre recorrendo ao Sacramento da Confissão quando acontecer de cairmos em pecado mortal.

A imensa maioria dos ditos católicos caminha totalmente desavisada da importância da Graça e comete disparates inconscientes, como a sacrílega comunhão no estado de pecado mortal. Uma minoria, porém, conhece este ponto e se preserva desses erros; caminha em Graça e se confessa regularmente. Além destas duas classes de católicos, pouca gente sobra. Para que entendamos a mística de S. João da Cruz, é preciso compreender que ser batizado, ser católico e estar em graça são os grandes pressupostos da autêntica vida em Deus.

Não é à toa que S. João da Cruz é tão desconhecido da nossa época. Um mundo que reputa a cruz às paredes e que, na prática, vive a ansiar por recursos financeiros e benefícios físicos e afetivos, não entenderá e sequer se interessará por seu caminho. Ele mesmo já o afirmara desde o início, dizendo que sua doutrina seria seguida por poucos, pois a maioria de nós está a desejar caminhos suaves e recompensas antecipadas. Queiramos ou não, muitos católicos vivemos ainda numa certa lei da barganha, no que Deus Pai, nos diálogos de Sta Catarina de Sena, chamava de "amor mercenário".

O caminho do nosso santo é o da nudez do espírito, da vitória sobre todo egoísmo e do abraço apaixonado na Cruz de Nosso Senhor. E isto somente se faz por um contínuo e desconfortável esvaziamento de nós mesmos, que ele descreve pormenorizada e sistematicamente.

Primeiramente, é preciso que nos decidamos por uma mortificação contínua e metódica. Porque vivemos presos aos confortos dos sentidos, a nossa alma caminha sonolenta e doente. Para despertá-la e dar-lhe a conhecer as belezas da vida espiritual, é preciso iniciar o ataque à soberba, que se manifesta de mil modos, a fim de que a alma recobre saúde. Isto se faz pela mortificação séria e firme, o que S. João da Cruz chamará de "Noite dos Sentidos". É chamada de "noite" porque é uma via ativa de privação das luzes dos sentidos. É "ativa" porque é produto da vontade firme e resoluta. Deste modo, ele recomenda ir tirando impiedosamente todos os atrativos sensíveis com os quais desejamos nos distrair. E isto referente aos cinco sentidos: não querer ver novidades nem atrativos; não querer ouvir conversas nem músicas agradáveis; não querer tocar doces texturas nem buscar o conforto do corpo; não querer comer coisas saborosas nem rejeitar o que não agrada ao paladar; não desejar sentir doces fragrâncias e evitar quaisquer outras delícias sensíveis. Quando isto é observado com rigor por algum tempo, a alma adquire uma vivacidade já bastante considerável.

Inicia-se, então, a famosa "Noite do Espírito" que é mais densa e mais dolorosa. Porém, tendo passado pela dos sentidos, a alma de algum modo saberá como agir nesta outra, ainda que o senso de desorientação seja muito típico deste estágio. Em que consiste a Noite do Espírito? Mortificados os apetites físicos, agora é a vez de fazer o mesmo com os apetites interiores. Esta noite possui uma parte ativa, isto é, que é produto dos esforços do sujeito; e uma passiva, onde Deus a leva por caminhos sensivelmente dolorosos a fim de purificá-la de si mesma. O ponto aqui é renunciar os desejos de satisfação espiritual, sejam os de natureza intelectual, sejam os referentes aos gostos e luzes provenientes das orações. Deus quer a alma totalmente vazia de si mesma. Isto é absolutamente fundamental para que seja levado a termo o processo de santificação que ele quer operar em nós. Do ponto de vista da sensibilidade, porém, é algo extremamente doloroso e difícil. Quando Deus vê que já nos renunciamos suficientemente, Ele mesmo passa a trabalhar na alma que, então, se torna totalmente passiva nas Suas mãos. A alma, no entanto, nada percebe da ação divina. Sente-se cega, perdida, desorientada, sem saber o que fazer e sem ter quem lhe entenda. Somente pode esperar em Deus, mas, mesmo aí ela não encontra sequer um vislumbre de luz. É a parte mais escura da noite. Ao mesmo tempo em que se vê totalmente isenta de qualquer prazer interior e desamparada, Deus ainda lhe concede um conhecimento muito profundo de si mesma, o que lhe causa imensa dor. Vê que nada sabe, que nada pode fazer por si só e, pior, que é ruim, mesquinha e que, até aquele momento, tudo quanto tinha feito de nada valeu, pois estava tudo profundamente eivado de orgulho e vaidade.

A coisa chega a tal extremo que a alma se vê a um passo do inferno e entende que o fato de Deus esquecê-la e jogá-la lá seria algo de muito justo. Se ela tenta rezar, não consegue. Se lê livros espirituais, de nada lhe servem. Neste processo, que Sta Teresa D'Avila afirma ser somente comparado às penas do inferno, a soberba vai sendo expulsa e a alma vai se tornando generosa e delicada para que, então, possa suportar os toques suaves do amor divino. Por enquanto, ela não os aguentaria. Isso tudo chega, então, a um ápice de dor e de trevas, onde o sujeito se vê abandonado por Deus e por todas as criaturas; a verdade é que ele está a passar pelo que Jesus passou na Cruz. Tal dor, dirão os santos, está reservada para os amigos íntimos do Cristo. Por esta dor, acontece o que se costuma chamar de "morte mística". As potências da alma passam por um processo doloroso de destruição, ressurreição e divinização. Quando se dá a morte mística, logo em seguida ocorre a "ressurreição mística". "Se a semente não morrer, não produz fruto", diz Jesus. E ainda: "Quem quiser me seguir, negue-se a si mesmo". Dizia Bernanos que Jesus está a esperar por cada um de nós depois da linha da negação total de nós mesmos. Esta negação total acontece neste momento. E, de repente, um raio de luz incide sobre as trevas da alma e as dissipa, revelando aos seus olhos os imensos tesouros que lhe foram colocados no doloroso caminho purgativo que ela traçou. Agora não há mais risco em mostrar-lhe isto, pois a vaidade, como um pus, foi espremida dela e já não a contamina.

A alma vê-se em posse de um amor extremamente violento por Deus, um amor que lhe levaria a fazer qualquer coisa por Ele e, neste estado, o que lhe causa sofrimento é ver que todas as dores do mundo são pequenas diante da sua disposição de sofrer pelo Amado. Agora, ela chama a Jesus de Amado com propriedade e aguda consciência do que isto significa, pois, de fato, ela O ama. Acabou-se a via purgativa e tem início a vida mística.

Esta vida mística se divide em mais três partes. A primeira, é esta que sucede exatamente a ressurreição espiritual. Aquela que sofreu tanto, agora se vê libertada e solta a recrear-se. 

Escreve o santo: "livre de todas as perturbações e inconstâncias temporais, despida e purificada das imperfeições das penas e da escuridão, tanto nos sentidos como no espírito, ela sente uma nova primavera com liberdade, amplidão e alegria de espírito."

Sem saber exatamente como, ela se vê profundamente configurada com o Cristo. Neste sentido, escreveu S. João: "oh noite mais feliz que a alvorada; oh noite que juntaste Amado com amada, amada já no Amado transformada"; e ainda: "Tu, ó vida divina, nunca matas senão para dar vida... quando castigas, tocas levemente, e isto basta para consumir o mundo inteiro; mas quando regalas, tu o fazes com toda a atenção e assim os regalos de tua doçura são inumeráveis. Feriste-me para curar-me, ó divina mão! Mataste em mim o que me deixava longe, debaixo da árvore da morte, sem a vida de Deus na qual agora vivo. Foi o que realizaste com a liberalidade de tua generosa graça, que me comunicaste ao tocar-me com o toque do resplendor de tua glória e figura de tua substância, que é teu Filho Unigênito."

Neste estado, a alma já é bastante santa e Deus passa a dar-lhe formações infusas, isto é, interiores, de modo que ela aprende muito em pouquíssimo tempo. Apenas alguns pouco segundos e ela entende profundamente algo que, em anos de intensa teologia, ela compreenderia somente de modo superficial. Os conteúdos nos quais Deus lha ensina são os da Sua Incarnação e Redenção, isto é, o mistério da Kenose, do rebaixamento divino e a Sua assunção da natureza humana, e o profundíssimo mistério da Cruz.

Daí a pouco, ocorre o segundo estágio: o do noivado espiritual. Jesus se mostra à alma, mas ainda não inteiramente. Ela O vê, mas, em seguida, Ele volta a esconder-Se. Isto faz com que o amor da alma cresça tanto a ponto de tornar-se um tormento para ela. Em alguns momentos, ela anseia tanto por Ele que, se Ele não cede à sua vontade, ela de certo morrerá literalmente. Jesus aí se comporta como um cervozinho que, na floresta, com notável agilidade, aparece aos olhos do caçador para, logo em seguida, sumir-lhe da mira.

Se isto perdura e a alma mantém sua fidelidade - o que é um tanto difícil de não se dar, visto que ela tenderá a sentir profundo desprezo e asco pelo que desagrade ao Seu Amado -, chegará o felicíssimo estado do "Matrimônio Místico", o último grau de santidade possível neste mundo. Jesus aparece para a alma e, então, se une inteiramente a ela, com comunhão total de bens. Notável é a descrição que deste momento faz Sta Teresa D'Avila. Escreve ela, mais ou menos o seguinte (escrevo com minhas palavras): "Apareceu-me Jesus, enquanto eu estava na fila da comunhão, e a mim se dirigiu: 'até hoje não o tinhas recebido por não seres digna. Hoje, porém, tomo tua mão e te desposo. És minha esposa e tudo o que é teu, é meu; igualmente, tudo quanto é meu, é teu. De hoje em diante, podes pedir a meu Pai todas as minhas dores e Ele tas dará como se fossem coisa tua."

Matrimônio Místico de Sta Catarina de Sena


Ocorre ainda o que se chama de "inocência readquirida", isto é, a inocência do Adão anterior à queda é devolvida à alma e isto significa um certo desconhecimento do mal, de modo que, ainda que ela veja algo ruim, não o entenderá. A esta altura, tudo o que separa esta vida da outra se assemelha a uma frágil tela e o que a alma mais anseia é que seja rasgada impetuosamente. Escreve S. João: "Já não és mais esquiva; acaba já, se queres. Rompe a tela deste doce abraço". Neste desposório, a alma entende como a Árvore da Cruz é, na verdade, a árvore da vida. Se diante da árvore do Bem e do Mal, o homem separou-se de Deus, agora, na árvore da Cruz, ocorre este matrimônio. Sobre isto, escreve ainda S. João da Cruz: "Sob o pé da macieira, ali, comigo foste desposada; ali te dei a mão, e foste renovada, onde a primeira mãe foi violada" e explica: [isto acontece] "Sob a graça da árvore da cruz, simbolizada aqui pela macieira, onde o Filho de Deus remiu, e, consequentemente, desposou consigo a natureza humana, e, portanto, cada alma, concedendo-lhe sua graça e penhores, para este fim, na cruz."

Paro por aqui. Desejo apenas dar um gostinho para despertar maior interesse por este colosso da espiritualidade e da mística. Os estágios estão aqui descritos de maneira muito rápida e superficial. Eles são muito mais detalhados, ricos e cheios de sutilezas. Diferente de toda enganação e pura retórica, o que se vê em S. João da Cruz é uma profundíssima doutrina mística, secundada na própria vida do santo, seguida com rigor e que, não obstante sua incomparável riqueza, apenas plana pelo caminho, visto que a vida mística é irredutível a qualquer descrição.

Neste dia de nosso pai, S. João da Cruz, peçamos que ele interceda por nós, que andamos tão desorientados ao sabor de tantas doutrinas, para que Jesus nos conduza de volta à via única da Santa Cruz.

S. João da Cruz, rogai por nós.

Justificativa

Corrigindo Redação

Pessoal, venho aqui para dar uma breve explicação de eu ter postado tão pouco estes últimos dias. É que estou absolutamente sem tempo. Comecei a trabalhar recentemente, graças a Deus, como professor da rede estadual. Dou aula em dois colégios, cada um em uma cidade diferente da minha, e estou ainda atulhado com tudo isso. Sequer dos textos da faculdade eu estou dando conta. Mas isto é somente uma fase de adaptação e a correria também se deve muito ao fato de eu ter pego as turmas já pertinho do final do semestre. Mas, já já eu to mais acostumado e volto a postar com maior regularidade.

Fiquem todos com o bom Deus.

Autocomplacência - Sinal de Estagnação Espiritual


"Quantas vezes o guia espiritual, ouvindo almas religiosas aparentemente admiráveis, se entristece e fica atônito pelo sentimento de que diante dele se encontra um muro de auto-suficiência, vaidade e inconsciente auto-satisfação, reforçado de "frases feitas" banais, plagiadas de piedosos autores, muro inteiramente preparado a resistir a toda e qualquer penetração da humildade e da verdade. Seu coração se contrai, é tomado por um sentimento de inutilidade da coisa, de que não há jeito de destruir essa armadura e libertar a verdadeira pessoa enterrada e presa debaixo dessa falsa fachada. A autocomplacência habitual é quase sempre um sinal de estagnação espiritual. Os complacentes não experimentam nenhuma necessidade urgente do auxílio de Deus, não têm consciência real da sua indigência. A meditação desses é confortável, reconfortante e inconcludente. Sua oração mental degenera rapidamente em distrações, castelos no ar ou sono indisfarçado. Por essa razão, as provações e tentações podem ser uma verdadeira bênção na vida de oração. Simplesmente porque nos forçam a orar. Quando começamos a descobrir a necessidade que temos de Deus, é que aprendemos pela primeira vez como, realmente, meditar."

Thomas Merton, Direção Espiritual e Meditação

Meditação: Do pecado mortal


Sto Afonso Maria de Ligório

Considera como, sendo tu criado por Deus para amar, com ingratidão infernal te rebelastes contra ele, trataste-o como inimigo, desprezastes a sua graça e a sua amizade. Sabias que lhe davas um grande desgosto com a aquele pecado, e ainda assim o cometestes. Quem peca, que faz? Volta as costas a Deus, perde-lhe o respeito, levanta a mão para dar-lhe uma bofetada, aflige o coração de Deus: Et afflixerunt Spiritum Sanctum eius. Quem peca diz a Deus com suas obras: afasta-te de mim, não quero obedecer, não quero servir-te, não quero reconhecer-te por meu Senhor, não quero ter-te por meu Deus: o meu deus é este prazer, este interesse, esta vingança.

Assim o disssestes no teu coração, quando preferistes a criatura ao teu Deus. Santa Maria Madalena Pazzi não podia compreender como um cristão, a olhos abertos, pudesse cometer um pecado mortal. E tu, que nisto meditas, que dizes…? Quantos pecados, tens tu cometido…? Meu Deus perdoai-me, tende piedade de mim. Ofendi-vos, Bondade Infinita: agora odeio os meus pecados, amo-vos, e arrependo-me de vos ter ofendido tanto, ó meu Deus, que sois digno de infinito amor.

Considera como Deus te dizia, quando pecavas: Filho, eu sou o Deus que te criei do nada e que te resgatei com o meu sangue; proíbo-te de cometeres este pecado sob pena de te separares da minha graça. Porém tu, pecando, dissestes a Deus, Senhor quero satisfazer este gosto e não me importa desagradar-vos e perder a vossa graça. Dixisti: non serviam. Ah, meu Deus, e eu tenho feito isto tantas vezes! Como me tendes suportado? Quem me dera ter antes morrido do que vos ter ofendido! Eu não quero mais desgostar-vos; quero amar-vos, ó Bondade infinita. Concedei-me o dom da perseverança e vosso santo amor.

Considera como Deus, segundo os seus imperscrutáveis decretos, não costuma suportar em todos um igual número de pecados, nas a uns tolera mais, a outros menos, e quando está cheia aquela medida, lança mão de terribilíssimos castigos. E, com efeito, tantas vezes sucede vir a morte tão improvisamente, que o pecador não tem tempo de se preparar! Quantos morrem na própria ocasião de pecado! Quantas vezes uma pessoa se deitou no leito com boa saúde, e de manhã apareceu um frio cadáver! Quantos outros, à força de cometerem pecados sobre pecados, de tal modo se cegaram e endureceram, que, tendo todos os meios para se prepararem para uma boa morte, não querem se aproveitar deles, e morrem impenitentes! Enquanto o pecador vive, pode, se o quer deveras, converter-se com o divino auxílio; porém muitas vezes os pecados o tornam tão obstinados, que não desperta nem sequer na hora da morte. E assim se têm perdido tantos… E estes também esperavam que Deus lhes perdoasse, mas veio a morte, e condenaram-se… Teme que te aconteça o mesmo. Não merece misericórdia aquele que quer servir-se da bondade de Deus para ofendê-lo. Depois de tantos e tão graves pecados que Deus te perdoou, deves ter bem fundado temor de que te não perdoe qualquer outro pecado mortal que cometas.

Dá-lhe graças de te ter esperado até agora, e toma neste ponto uma resolução de antes morrer do que cometer outro pecado. De hoje em diante repetirás sempre: Senhor, bastam as ofensas que tenho cometido até agora. A vida que me resta não quero passá-la a ofender-vos; não, que vós não o mereceis; quero passá-la só a amar-vos e a chorar as ofensas que tenho feito. Arrependo-me de todo o meu coração. Meu Jesus, quero amar-vos, daí-me força; Maria, minha Mãe, ajudai-me.

Fruto:

Medita sobre estas palavras: sempre, nunca, eternidade.

O inferno dura sempre, a eternidade não acaba nunca. Toma um punhado de cinzas ou de areia lá contigo: Quando tiveres passado tantos milhões de séculos quantos são estes pequeninos grãos, não terá passado da eternidade um só momento. Quando puderes, considera, que grande mal seria este ou aquele trabalho, se não acabasse nunca, e não há dúvida que as penas do inferno nunca acabarão. Considera bem isto.

Fonte: Deus Lo Vult

Adventista nos interroga - Respondemos.


A pergunta abaixo foi feita na seguinte postagem do blog: "Desafio Bíblico" dos Adventistas e questões referentes ao Sábado. Pergunta-nos o Rafael Lopes:

***

Irmão Fábio, gostaria que nos explicasse o que representam os textos abaixo:


Deus não muda.



Salmos 

102:27 Mas tu és o mesmo e os teus anos nunca terão fim.


Isaías 

48:12 Dá-me ouvidos, ó Jacob, e tu, ó Israel, a quem chamei; eu sou o mesmo, eu o primeiro, eu, também, o último.


Malaquias 

3:6 Porque eu, o Senhor, não mudo; ...


Hebreus 

1:12 E como um manto os enrolarás, e como um vestido se mudarão, mas tu és o mesmo, e os teus anos não acabarão.
13:8 Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente.


Tiago 

1:17 Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.


E Jesus?



Em Mateus 5:17-18, Jesus disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas, não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo, até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.”



E o que revela o Espírito de Deus a João?



"Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro;

E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro."
Apocalipse 22:18-19


A partir dessas passagens, quem somos nós para:



-> Mudar o dia que Deus institui na criação.

-> Mudar a lei perfeita.
-> Acrescentar, ou modificar, ou retirar qualquer parte da Bíblia?


Jesus nos alertou:



"Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus."

Mateus 22:29


Deixe que a Bíblia responda as questões quanto ao que foi dito nos textos acima. Vigiai e orai!



Abraço caros irmãos. 

Rafael Lopes

***

Olá, Rafael. Agradeço a sua pergunta. Respondo-a com prazer.

As seis primeiras citações da Escritura que fazes referem-se à imutabilidade de Deus. Sim, Deus é imutável. Isso é doutrina católica também. E, antes de tudo, é uma necessidade lógica que Ele assim o seja, pois tudo o que muda ou é perfectível - pode vir a ser mais perfeito e, então, não era perfeito - ou defectível - pode vir a perder alguma perfeição e, portanto, não é nem será perfeito. Mesmo uma mudança de local implica numa certa perfectibilidade - a assunção de uma posição que, antes, não se ocupava - e defectibilidade - o ausentar-se ou perder de uma posição que se ocupava. Deus é perfeito e, portanto, é imutável. Neste ponto, concordamos. Discordaremos no seguinte. 

Transcrevo:

"Em Mateus 5:17-18, Jesus disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas, não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo, até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.”

O problema reside aqui: você está supondo que a imutabilidade de Deus exige a imutabilidade da conduta no cumprimento da Lei. Porém, este é um equívoco. Sabemos que no Antigo Testamento, a revelação foi dada aos poucos, de modo fragmentário. O próprio Paulo nos diz isto: "Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas. (Hb 1,1-2) Observe o seguinte: não há uma plena identidade entre Deus e a Lei, já que esta última se dá progressivamente, isto é, se dá de modo sucessivo. Ora, isto significa que quando um artigo novo da Lei é acrescentado, ele provocará duas coisas: 1) exigirá que a conduta dos judeus se modifique a fim de incluir este novo preceito nas suas observâncias. Então, haverá algum tipo de mudança na atitude religiosa do povo de Deus. 2) O novo artigo contribuirá para lançar luz aos artigos precedentes, de modo que, pela percepção do conjunto, o povo de Deus vá se dando conta da maravilhosa ordem interna presente na Lei e vá amadurecendo espiritualmente. Porém, há sempre o risco de que a Lei seja distorcida. E de que modo ela o será? Quando houver um apego desmesurado pela superfície da Lei, pela mera prática exterior, erro caracterizado como rigorismo. Incapazes de penetrar no espírito da Lei, os fariseus se contentarão com os arremedos exteriores, motivo pelo que serão fortemente criticados por Jesus. Paulo escreve: "a letra mata, é o espírito que vivifica" (2Cor 3,6) Quando Nosso Senhor pregava aos Apóstolos, lhes dizia: "Se a vossa justiça não for maior que a dos fariseus, não entrareis no Reino". (Mt 5,20)

Desse modo, a Lei foi-se completando e formando uma unidade. A Lei também tinha um caráter fortemente didático e, em geral, servia de prelúdio para o que aconteceria futuramente, isto é, para a Redenção operada por Nosso Senhor. Quando, por exemplo, foi ordenado aos judeus construírem a serpente de bronze a fim de que não morressem pelas picadas das serpentes, não lhes passava pela cabeça que aquela serpente serviria de símbolo do Crucificado. Somente mais tarde é que isto ficará claro (cf Jo 3,14). Também a idéia que os judeus tinham da terra prometida era a de que Deus lhes daria uma terra aqui mesmo, neste mundo material - o que, por sinal, continua sendo, surpreendentemente, a idéia adventista-. Somente depois do cristianismo é que saberemos que tudo não era mais que uma prefiguração do Céu, a verdadeira Pátria dos Cristãos. Portanto, a Lei tinha um caráter pedagógico e apontava para realidades futuras que, no momento, não poderiam ser devidamente apreciadas. O serão, quando chegar a hora. Isto responde, também, porque a revelação não foi simultânea já que Deus é sumamente perfeito e poderia fazê-lo. É que o Seu povo não estava preparado, motivo pelo qual Deus precisava falar, primeiramente, de coisas rasteiras mui humanas a fim de que o Seu povo, gradativamente educado, chegasse a um estado minimamente conveniente para receber, não mais os símbolos, mas a realidade simbolizada por tantos preceitos. É o que Jesus diz a Nicodemos: "Se tu não entendes as coisas da terra, como queres entender as celestes?" (Jo3,12).

É justamente por isso que S. Paulo nos diz que Jesus nos vem na "plenitude dos tempos". Por que plenitude dos tempos? Porque já havia uma certa maturidade nos homens ao ponto de poderem acolher, ainda que rudemente, a Verdade em si mesma: Jesus Cristo, Nosso Senhor.

É por isso que Jesus diz, na passagem que você nos traz: "não vim revogar, mas cumprir". Ora, aquele que revoga, desfaz. Porém, aquele que cumpre, realiza. Jesus realiza em Si mesmo a Lei, já que esta Lhe era preparação. O cumprimento é superior à preparação, assim como a posse e presença são superiores à espera. Em Cristo fica claro qual era a natureza da Lei. Já que Nosso Senhor é a luz do mundo, sua luz nos permite agora compreender de modo muito mais completo e profundo os desígnios de Deus, desde o início do Seu plano de redenção. Diante do Cristo - a Revelação completa de Deus - o estado anterior torna-se obsoleto. É o mesmo que diz São Paulo: "Se Deus fala de uma aliança nova é que ele declara antiquada a precedente. Ora, o que é antiquado e envelhecido está certamente fadado a desaparecer." (Hb 8,13). Se pararmos para pensar, veremos que isto é extremamente lógico. Porém, aparentemente - e é só aparentemente mesmo -, Paulo está se opondo ao que Cristo diz no outro trecho. Como se resolve isso? Como você resolveria, Rafael? Não tens como chamar Paulo de herege, já que ele é um escritor bíblico. Pode deixar que eu resolvo este problema pra ti.

Se a Lei apontava para um porvir - no caso, para o próprio Cristo - isto significa que a Lei cumpria em grande parte uma função simbólica, pois o símbolo é justamente isto: aquilo que liga a um outro. Ora, o símbolo precisa ter alguma relação com a realidade simbolizada. Porém, o símbolo não se identifica com a realidade simbolizada. Nessa relação, a realidade simbolizada é mais importante que o símbolo. A realidade é como o coração e razão de ser do símbolo. Quando vem a realidade, fica claro o caráter simbólico do símbolo, isto é, o símbolo passa a ser compreendido como tal. Diante da realidade simbolizada, o símbolo não é tão necessário. É esta a posição de S. Paulo naquele trecho. Portanto, o símbolo não vive para si mesmo. Porém, em se estabelecendo a realidade, a razão de ser do símbolo é perpetuada e isto representa como que uma certa sobrevivência do intento simbólico. Este é o motivo pelo qual Jesus diz que não revoga a Lei, mas a cumpre. 

Mas é óbvio que a Lei, uma vez cumprida, deverá ser vista e vivida de um modo diverso, pois Cristo inaugura a dinâmica da Graça, isto é, Ele traz a nós não mais somente símbolos, mas já a realidade. Neste sentido, diz S. Paulo: "Tudo isto não é mais que sombra do que devia vir. A realidade é Cristo." (Cl 2,17).

Antes, porém, de prosseguir tratando do símbolo do sétimo dia, faço uma pergunta a você Rafael. Considerando que tu entendes que Jesus manteve estritamente o modo de praticar a Lei, pergunto: tu observas todos os 613 mandamentos da Lei Mosaica? Desculpe-me a pretensão, mas eu suponho que você sequer os conheça. E aí? Como resolves essa tua contradição? Gostaria muito de ouvir a tua posição quanto a isso: afinal, se Jesus não mudou a Lei em nada, surge daí a necessidade de se observar a totalidade da Lei, isto é, os 613 mandamentos. Se tu não os cumpres, tu tampouco serás salvo, pois Jesus diz: "Aquele que me ama, cumpre os meus mandamentos" (Mt 22,38). Por falar nisso, você foi circuncidado? ... Bem, continuemos.

Há outro ponto curioso nesta passagem: Jesus diz que veio cumprir a Lei. Depois, diz que nem um i ou j passarão da lei até que tudo se cumpra. A expressão "até que", neste caso, faz referência a um certo ponto a partir do qual ela cessaria de existir. E qual é esse ponto? O seu cumprimento. Ora, se Jesus veio dar cumprimento à Lei, pode-se entender porque, depois d'Ele, a Lei cede lugar. Bem.. essa é a legítima lógica do Evangelho.

Em seguida, você me traz uns trechos do Apocalipse e que transcrevo abaixo:

"Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; e, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro."
Apocalipse 22:18-19

Aqui, basta dizer que por "este livro", João está se referindo ao livro do Apocalipse, e não à Sagrada Escritura como um todo. E, ainda que fosse, vimos que não teria nenhum problema, pois as palavras são símbolos de realidades e que o mais importante é a realidade. A advertência que João faz para que ninguém tire ou acrescente palavras é porque, se o fizesse, estaria prejudicando a compreensão correta da realidade. Não é o caso do catolicismo, que preservou tudo de modo intacto. Mas é o caso do protestantismo e adventismo, como veremos depois.

Em seguida, você faz três perguntas. E passo a responder uma a uma.

A partir dessas passagens, quem somos nós para 

1- Mudar o dia que Deus institui na criação?

O Sábado ou Shabat, o sétimo dia, não era um "dia" propriamente dito, tal qual o entendemos. Os seis dias nos quais Deus criou o mundo não eram períodos de 24 horas. O que permite a nós, humanos, fazer a divisão dos dias é precisamente o movimento de rotação da terra. Neste processo, haverá momento em que a parte em que habitamos será iluminada pelo sol - manhã - e haverá momento em que ela se encontrará no lado oposto ao que está sendo iluminado - noite. Portanto, a idéia de dia está condicionada ao sol. No relato da criação, porém, o sol só vai surgir no 4º dia. E ainda que assim não fosse, não precisaríamos entender os dias ali descritos como dias nossos. É óbvio que se trata de uma analogia, tanto como o fato de que Deus "descansou". Ora, Deus não se cansa.

Mas, considerando a analogia, Deus cria o mundo em seis dias e descansa no sétimo. Justamente em função deste descanso é que este sétimo dia se chamará "Shabat", ou dia do descanso. É por causa deste Seu descanso que Ele abençoa este dia e o consagra, isto é, o separa dos demais. Seria, obviamente, um dia especial em que o homem deveria descansar e, neste descanso do homem, estavam duas coisas importantes: por causa do pecado original, o homem teve o alcance de sua inteligência reduzido e tendia a se distrair com as criaturas tomando-as como fim. A observância do sábado mantinha, pois, no homem a absoluta centralidade e primazia de Deus, pois, neste dia, os homens deveriam esquecer qualquer outra ocupação e voltar-se para Ele. Ao fazer tal sacrifício, o homem agia como sacerdote, pois a função do sacerdote é justamente a de sacrificar. Deste modo preparava-se o que futuramente se dirá: "fizestes para vós uma nação de sacerdotes" (Ap 1,9). Além disto, o fato de descansar num dia justamente porque, antes do homem, Deus havia descansado, indica um modo de imitação de Deus. E a imitação é a expressão do amor. O amante quer imitar o amado e é por isto que a sua vida se configura à dele. É a razão pela qual João nos diz que quem ama a Cristo deve viver como Ele viveu. (cf. 1Jo 2,6) Deus quer educar o homem a imitá-Lo a fim de que o homem não se perca na devassidão da concupiscência e sempre preserve sua dignidade. Esta dignidade só é mantida quando Deus é a prioridade da vida humana. É também por isto que o grande mandamento é "amar a Deus sobre todas as coisas". É um modo de se manter no homem a clareza e a objetividade sobre a realidade.

Porém, o mandamento estrito da observância do sábado - cuja transgressão deverá ser punida com a morte (cf. Ex 31,15b) - somente vai ser dado após o evento do Êxodo, isto é, da libertação do povo de Israel das mãos do Egito. Portanto, o sétimo dia terá uma relação íntima com esta libertação. "Lembra-te de que foste escravo no Egito, de onde a mão forte e o braço poderoso do teu Senhor te tirou. É por isso que o Senhor, teu Deus, te ordenou observasses o dia do Sábado". (Dt 5,15) Mais uma vez, é possível ver o significado do descanso aí... Descanso da escravidão. Descanso e Libertação assumem, agora, uma relação estreita.

Ora, sabemos que a libertação de Israel da escravidão, embora tenha sido um evento literal, era, também, prelúdio de uma libertação muito mais verdadeira e profunda: a libertação de todo o povo de Deus das garras do pecado. O Êxodo prefigura a Cruz. A passagem pelo mar vermelho prefigura a passagem pelo mar de sangue da Cruz. Jesus é o verdadeiro libertador. Assim como o sábado estava associado à primeira libertação, figura da segunda, a nova e definitiva libertação deverá, também, ter um dia particular a ser celebrado pelos cristãos. Como veremos, tal dia será o domingo.

Neste sentido, se o sábado foi instituído por Deus, ninguém menos que Deus poderia estabelecer um segundo dia. E o novo dia foi feito justamente pelo Deus feito homem, Jesus Cristo. A observância sabática não é apenas cumprida se for no sábado. Muito mais importante do que o dia era o seu significado pois, mais importante que o símbolo, é a realidade. Esta realidade simbolizada pelo sábado da Antiga Lei o será de modo muito mais perfeito na Nova Lei. Observemos o seguinte:

Jesus se diz senhor também do Sábado, motivo pelo qual os judeus se indispunham com Ele. Ele diz também que o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado, criticando o rigorismo com que os judeus viviam este dia. Até hoje, uma das críticas que os judeus fazem a Jesus é a de que Ele não respeitou o preceito sabático. Basta entrar num site judeu e constatar. Jesus se afirma não apenas como um cumpridor da Lei, mas como o centro e Senhor dela. "Foi-vos dito.. Eu, porém, vos digo"... Portanto, estava em seu alcance manter o sábado ou instituir um novo dia, desde que cumprisse todos os requisitos sabáticos. O judeu Jacob Neusner faz uma grande crítica a Jesus justamente afirmando que Ele agora se coloca como sendo o próprio Shabat. Se o Sábado era um dia de descanso, Jesus agora é nosso próprio descanso: "Vinde a mim todos vós que estais cansados..." Se o Sábado era um modo de imitação de Deus, com Jesus, que veio a nós e nos falou e se permitiu ver e ouvir, nós podemos imitá-Lo de um modo infinitamente mais perfeito, pois Jesus é o próprio Deus"O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que temos contemplado e as nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da vida - porque a vida se manifestou e nós a temos visto" (1Jo 1,2).

Se o Sábado era ainda um modo de sacrifício e total dedicação a Deus pelo espaço de um dia, com Cristo isto se radicaliza e, agora, o homem é chamado a "perder a vida" por Ele como condição de encontrar a própria vida. Eis como Nosso Senhor aperfeiçoa a Lei! Antes, os judeus poderiam cair numa mera observância externa e o pecado, como o adultério, só se efetivava com a ação prática, isto é, com a exteriorização. Com Cristo, a coisa toda fica bem séria: "se alguém olhar com desejo para uma mulher, eu vos digo que ele já é réu de adultério." 

Se o Sábado possuía, ainda, uma forte função social, pois a família reunia-se durante o dia inteiro e isto contribuía para a coesão familiar, em Cristo o homem toma consciência de uma relação familiar muito mais sólida e perfeita, a comunhão dos santos, em que eles estavam encabeçados todos por um mesmo Pai, o "Pai nosso" e eram participantes da Sua filiação pelo Espírito Santo, dado aos cristãos a partir do batismo. Se o sábado, enfim, estava relacionado à criação do mundo, indicando como que o seu término, em Cristo haverá uma recapitulação, isto é, um reinício de toda a criação, pois toda ela será redimida pela morte de Cristo. É por isto que Ele é chamado de o Novo Adão, pois será o primeiro homem na ordem da Graça. Um novo dia marcará, então, o início desta nova criação. Será o primeiro dia da Semana, o Dies Domini, aquele dia que S. João define no apocalipse como "Domingo" que significa "dia do Senhor" (cf. Ap 1,10). Será também o dia em que os Apóstolos passarão a se reunir para celebrar a Páscoa do Senhor. (cf. At 20,7)

Isso tudo é ainda comprovado pelos escritos cristãos dos primeiros séculos. A Didaqué, escrita pelos Apóstolos e datando, portanto, do século I, afirma o seguinte: "Reúnam-se no dia do Senhor (dominica dies = domingo) para partir o pão e agradecer, depois de ter confessado os pecados, para que o sacrifício de vocês seja puro" (14,1 - primeiro catecismo cristão, escrito no séc. I).

Já Sto Inácio, bispo de Antioquia, discípulo de S. Pedro e ordenado por S. João, no ano 101 d.C. e, portanto, iniciozinho do século II, diz o que segue:

"Aqueles que viviam na antiga ordem de coisas chegaram à nova esperança, e não observam mais o sábado, mas o dia do Senhor, em que a nossa vida se levantou por meio dele e da sua morte. (...) É absurdo falar de Jesus Cristo e, ao mesmo tempo judaizar. Não foi o cristianismo que acreditou no judaísmo, e sim o judaísmo no cristianismo, pois nele se reuniu toda língua que acredita em Deus." (Carta de Santo Inácio de Antioquia aos Magnésios)

O próprio Paulo, ainda antes, já tinha dito: "Ninguém, pois, vos critique por causa de comida ou bebida, ou espécies de festas ou de luas novas ou de sábados. Tudo isto não é mais que sombra do que devia vir. A realidade é Cristo." (Cl 2,16)

Fica, então, respondida a primeira das três perguntas. Buscarei ser breve nas restantes.

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2- Quem somos nós para mudar a Lei perfeita?

Isto eu respondo, de novo, com S. Paulo: "Se Deus fala de uma aliança nova é que ele declara antiquada a precedente." (Hb 8,13) Como vimos, a Lei possui uma continuidade, porém se torna mais perfeita em Cristo. Ora, o que se aperfeiçoa, víamos no início, é porque não era perfeito. E no processo de aperfeiçoamento de qualquer coisa é forçoso haver alguma mudança. Isto é uma questão lógica. Porém, reiteramos: no aperfeiçoamento, não obstante a mudança, o essencial mantém uma continuidade.

E não fomos nós que mudamos. O próprio Cristo assim o quis.

3- Quem somos nós para acrescentar, ou modificar, ou retirar qualquer parte da Bíblia?

Esta é uma pergunta que eu também gostaria de fazer aos protestantes, porque é bem sabido que Lutero foi quem retirou da Bíblia os sete livros deuterocanônicos.. E nessa atitude disparatada dele, quase que saíam também os livros do Apocalipse e a carta de S Tiago. Ao primeiro, Lutero chamava de inútil. Ao segundo, chamava de "carta de palha". Até hoje são conhecidas inclusive as alterações deliberadas que Lutero aproveitou para fazer nas suas traduções. Os católicos não retiraram nada. Os protestantes é que, sob a aparência de um zelo particular pela Escritura, sequer a conhecem direito, como já tive a ocasião de constatar inúmeras vezes.

Agora, deixe-me falar mais alguma coisa sobre isso. Os protestantes pensam ser a Bíblia totalmente auto-explicativa, o que é um equívoco. A própria Escritura nos diz que isto não é verdade. Veja o caso do Eunuco que, lendo o Profeta Isaías, admitiu que não sabia interpretá-lo se não houvesse quem lhe ensinasse. Veja as advertências que S. Pedro faz aos que lêem as difíceis cartas paulinas e as distorcem "para a própria ruína". Veja as advertências do próprio Paulo contra os falsos profetas e o grave conselho que ele dá: "se alguém vos pregar um Evangelho diferente do que vos temos anunciado, ainda que seja um anjo, que seja anátema". Veja, agora, o produto da loucura de Lutero: a quantidade inumerável de seitas, cada uma mais doida que a outra e todas se auto-proclamando, por mais contraditórias que sejam, como diretamente inspiradas pelo Espírito Santo. Veja a total decadência em que caiu o cristianismo por causa desses auto-intitulados pastores de esquinas que, só porque acreditam saberem ler, se consideram os digiescolhidos da salvação, e inventam de ensinar o que nunca aprenderam. Veja essas ridicularias de teologia da prosperidade e não sei quê mais.. E isso tudo é fruto do livre exame. A bíblia, para ser bem compreendida, tem de ser lida com o mesmo espírito com que foi escrita. Este é o espírito católico, pois a Escritura foi compendiada no século IV pela Igreja que, além de escolher os livros canônicos, ainda os distribuiu em capítulos e versículos, para facilitar a leitura. Você tem uma bíblia? Agradeça à Igreja. E até o século IV, como que essas coisas eram ensinadas? Por via oral, pela pregação, razão pela qual o apóstolo diz: "a Fé vem pelo ouvir". E Nosso Senhor ordena aos Apóstolos: "Ide e ensinai" e não "ide e escrevei". A Bíblia será filha da Igreja porque, quando ela surge, a Igreja já está aí há quatro séculos pregando e fazendo santos.

Sem falar que esta doidice de Sola Scriptura é tão absurda que quem a defende sequer considera que não há qualquer fundamento pra ela na própria escritura. Ela é uma contradição em si mesma. A Bíblia, como livro que é, pode ser mal interpretada e, além disto, possui um limite. Pelo fato de ela poder ser mal interpretada, surge a necessidade de alguém que ensine o modo correto de lê-la. Considere o livro do Apocalipse, por exemplo. Foi intenção de João escrever usando tantos símbolos, a fim de que, se o livro caísse em mãos erradas, não pudesse ser compreendido. Ali estavam símbolos que a Igreja entenderia. Imagine o estrago que uma pessoa qualquer faria se, lendo e dando uma interpretação sua a tudo aquilo, quisesse então ensinar isto como sendo palavra de Deus. Ops.. foi justamente o que os adventistas fizeram, né? Por causa de umas continhas de tabuada, subiam em cima das casas e esperavam o dia inteiro pela volta de Jesus.. Que decepção vocês devem ter passado.. E isso aconteceu quantas vezes, já? ... Este erro do livre exame é precisamente o que o protestantismo como um todo faz. Cegos que guiam cegos. 

É óbvio que deve haver alguém para ensinar corretamente a ler a escritura com o mesmo espírito e doutrina dos apóstolos. E quem é que deve fazê-lo? É necessário que seja alguém que possua uma relação direta com os Apóstolos. É claro, portanto, que este alguém é a Igreja, pelo seu magistério, da qual os Apóstolos fizeram e fazem parte como seus primeiros bispos. Além disto, nem tudo está na Escritura e a própria Escritura é quem o afirma. João diz que se todas as coisas que Jesus fez e disse fossem escritas, nem todos os livros dariam conta disso. E você acha que essas coisas que não foram escritas não eram importantes? Claro que eram. E como foram passadas? Por tradição, logicamente. É por isso que Paulo manda guardar as tradições (cf 2Ts 2,15). Jesus, quando ressuscita, passa ainda quarenta dias com os apóstolos, "falando das coisas do Reino de Deus" (At 1,3). Tu achas que essas coisas, que não foram escritas, não foram ensinadas e passadas pelos apóstolos? Claro que foram. Jesus, além disto, quando se despede dos Apóstolos, pouco antes de morrer, diz que ainda tinha várias coisas a dizer, mas que eles não as podiam suportar no momento. É claro, então, que Ele as diria depois. Essas coisas, porém, também não foram escritas, embora Jesus tenha sugerido comunicá-las mais tarde. As provas são muitas, meu caro.

A Escritura sozinha, isolada, perde sentido. E, se alguma coisa pode-se aprender dela sozinha, é que é preciso fazer parte da Igreja dos Apóstolos, coluna e sustentáculo da Verdade (1Tm 3,15). É nesta Igreja que é possível ter comunhão efetiva com o Cristo, comer da Sua Carne, beber do Seu Sangue e receber do Seu Espírito. Aproveite, então, já que a vida é só uma... Seja rápido! Depois daqui, já virá o julgamento.

Esperando ter respondido às suas perguntas, e rogando à Virgem Maria, Mãe do meu Senhor (Lc 1,43), que interceda para que compreendas a verdade, me despeço.

Fábio

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Confiando na tua sinceridade, recomendamos a leitura do livro "A Igreja de Vidro" e do site "Ellen White Exposta". Abraço.
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Envie-nos também a sua pergunta: http://www.formspring.me/anjosdeadoracao
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