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Ditadura do relativismo


Somos chamados a atingir (a plenitude do Cristo) para sermos realmente adultos na fé. Não devemos permanecer crianças na fé, em estado de menoridade. E em que é que consiste ser crianças na fé? Responde São Paulo: significa ser batidos pelas ondas e levados ao sabor de qualquer vento de doutrina... (Ef 4, 14). Uma descrição muito atual! Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantos modos de pensamento... A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi não raro agitada por estas ondas – lançada dum extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, até ao ponto de chegar à libertinagem; do coletivismo ao individualismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo e por aí adiante.

Todos os dias nascem novas seitas e cumpre-se assim o que São Paulo disse sobre o engano dos homens, sobre a astúcia que tende a induzir ao erro (cf. Ef 4, 14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é freqüentemente catalogado como fundamentalismo, ao passo que o relativismo, isto é, o deixar-se levar ao sabor de qualquer vento de doutrina, aparece como a única atitude à altura dos tempos atuais. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que usa como critério último apenas o próprio “eu” e os seus apetites.

Nós, pelo contrário, temos um outro critério: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. É Ele a medida do verdadeiro humanismo. Não é “adulta” uma fé que segue as ondas da moda e a última novidade; adulta e madura é antes uma fé profundamente enraizada na amizade com Cristo. É essa amizade que se abre a tudo aquilo que é bom e que nos dá o critério para discernir entre o que é verdadeiro e o que é falso, entre engano e verdade.

Devemos amadurecer essa fé adulta. A essa fé devemos guiar o rebanho de Cristo. E é esta fé – e somente a fé – que cria unidade e se realiza na caridade. Em contraste com as contínuas peripécias daqueles que são como crianças batidas pelas ondas, São Paulo oferece-nos a este propósito uma bela palavra: praticar a verdade na caridade, como fórmula fundamental da existência cristã. Em Cristo, verdade e caridade coincidem. Na medida em que nos aproximamos de Cristo, assim também na nossa vida, verdade e caridade se fundem. A caridade sem a verdade seria cega; a verdade sem a caridade seria como um címbalo que tine (1 Cor 13, 1).

Cardeal Joseph Ratzinger
Parte do texto da homilia do então Cardeal Joseph Ratzinger, futuro Bento XVI, pronunciada na Missa Pro Eligendo Pontífice, celebrada no dia 18 de abril de 2005.

Fonte: www.quadrante.com.br

Votos de Feliz Natal


Meus queridos amigos, quero aproveitar também este espaço para expressar meus sinceros desejos de um santo e feliz natal a todos os amigos e leitores deste humilde blog.

Que neste tempo tão profundo, a nossa alma possa imitar os pastores e os reis magos que, prostrando-se, adoraram o menino Deus, o Verbo Eterno que se havia encarnado.

Que a nossa alegria seja santa e pura, e que nesta santa ocasião, nós não nos dispersemos, mas permaneçamos na doce e suave contemplação do terno e divino infante que dorme no colo da Virgem. Lembremos que hoje é o Seu aniversário. Para ele, o melhor presente: o nosso coração vazio dos desejos mundanos e movido somente por amor e gratidão a um Deus que visita a nossa miséria e faz-se um de nós para nos resgatar e unir-nos a Ele.

A Jesus Cristo, glória eterna! Que todo joelho se dobre, que toda língua professe, que todo coração se renda, que toda alma adore o menino Deus, Jesus Cristo, o Amor feito carne.

E que, enfim, a nossa alma seja também um presépio, onde Sua Majestade se digne limpar e habitar. Mas, para tal, sejamos pobres, pobres de espírito, como era pobre a gruta onde quis nascer nosso divino Salvador.

Oh Pobreza, esposa de Francisco, sede também a minha para que, ornado de vossa beleza, eu possa atrair os divinos olhares de meu eterno Mestre, por quem morro de amor! Amém!

Virgem Santíssima, ensina-me teu segredo... e recebe também, Santíssima Pastora, o meu profundo amor, Senhora Minha e Dona de todo o meu ser. Amém!
Fábio Luciano

O Natal do católico


Dom Lourenço Fleichman OSB

Para nós, católicos, que procuramos viver neste mundo sem desmerecer o nome de Cristo, que procuramos guardar um mínimo de coerência e de fidelidade, quando não um sincero desejo de santidade, chegamos neste final de 2008 a mais um Natal. Para eles não.

Nós, católicos, que, ao levantar pela manhã, dobramos os joelhos e piedosamente fazemos o Sinal da Cruz e a oração da manhã; que durante o dia, entre conduções e cachações, tentamos rezar uma dezena do Terço ou, quem sabe, o Terço inteiro; nós que, ao regressar ao lar, antes de deitar, agradecemos por termos sobrevivido, por termos correspondido a alguma graça, e mesmo amado, de amor canhestro e sem jeito, nesses dias de Natal poderemos cantar com júbilo nosso Adeste Fidelis e nossa felicidade será pura e verdadeira. A deles não!

Para nós é mais um Natal, sempre novo porque a graça é a única novidade neste mundo; para eles tudo é velho, pior! velhaco, corrompido, ultrapassado, pois não há nada de novo sob o sol. Por que festejam, então? Porque trocam presentes, se não buscam a santidade, se não rezam, se não crêem nesta Criança, nesse Deus, "que hoje nasceu para nós"? Ah!, se ao menos eles fossem coerentes com sua soberba, se soubessem rechaçar de todo o Cristo, não tentando desejar uma Felicidade que não lhes pertence e que, no fundo, desprezam. Permitam-me dizer: eu odeio a tal Solidariedade. Nada mais falso do que a falsa bondade dessa gente que sai por aí dando abraços em todos que encontram, os mesmos que na véspera desprezavam e de quem se riam. Que paz é essa? Que mundo é esse?

Esse mundo ainda treme de um estremecimento profundo. Seus alicerces ainda vibram enquanto telhas e janelas racham em pedaços; esse mundo ainda teme ver desabar toda a sua estrutura. Evacuar! é o grito que seguram na garganta e que deverá ser gritado quando a coisa toda desabar. "E não ficará pedra sobre pedra". O problema é que o mundo não é um edifício. O mundo globalizado que sonhou com o governo mundial, que pregou a religião única da Liberdade Religiosa a todo preço, criou essa situação: evacuar para onde? O que acontece com as pessoas quando, presas no alto de um edifício que desaba ou pega fogo, não encontram mais saída? Num ato de desespero, de medo, de terror, lançam-se no abismo porque têm medo de sofrer. Assim acontecerá com esses homens das finanças, com os governantes falsos de um mundo de mentirinha. Porém, eles não têm para onde correr. Descobriram a grande mentira. O mundo financeiro já ruiu, e os governantes foram obrigados a mexer suas peças no tabuleiro, mudar sua estratégia e fingir que oferecem muita segurança às empresas quebradas e aos cidadãos assustados. Parece fácil e parece um alívio: alguns bilhões disso para você, outros bilhões daquilo para o outro... e não esqueçam de produzir novelas para as 6, para as 7, para as 8 horas, porque o povo tem direito a se divertir. E no meio do caminho, tem o Natal, para aliviar todas as tensões. Ora, creio que a tsunami de 2008 é bem pior do que a do Natal de 2004. Naquela, morreram alguns milhares e partiram para o juizo diante de Deus. Nessa, é toda a humanidade que se atola na mentira para esconder a sem vergonhice e a falsa moral dos grandes desse mundo. Você acredita em Barack Obama? Você acredita no livre mercado da China, ou na "conversão" de Cuba? Pois continuem, sigam em frente. Não há Natal para vocês, pois o que vocês festejam é falso como o mundo em que vivemos.

Só existe um Natal verdadeiro, mas este está escondido aos olhos do mundo. Só existe o Natal onde a fé nos transporta, nos ilumina a inteligência e nos revela um mundo maravilhoso que só podemos conhecer em Deus. E este mundo da fé, este mundo do Paraíso, existe de verdade, existe de modo mais verdadeiro do que o dinheiro que você usa e o crédito que eles lhe dão a peso de ouro e que lhe dá a ilusão de que você sobrevive. O mundo da fé é a única realidade que ainda subsiste e é por isso que só os católicos podem viver o Natal. A diferença entre a felicidade mundana e a felicidade católica é que a primeira só existe por três coisas: dinheiro, prazeres e liberdades totais. Já a verdadeira felicidade prescinde do dinheiro, dando ao pobre a capacidade de se alegrar, apesar do pouco. Ela despreza os prazeres sensuais da gula, do álcool ou da carne; ao contrário, ela clama os católicos a se privarem dessas coisas para melhor se prepararem para o Natal. E, por fim, a felicidade cristã torna ridícula a falsa liberdade desse mundo nos fazendo dobrar os joelhos diante de uma Criança, de um Deus Menino, deitado numa manjedoura, "porque não tinha lugar para eles na estalagem".

É por isso que eu queria dizer para vocês, quer sejam meus paroquianos ou leitores e amigos que nos lêem aqui, preparem-se neste Natal para uma festa sobrenatural, para as alegrias vividas na fé, no conhecimento das realidades misteriosas e fantásticas que Deus nos reserva lá no céu e das quais Ele vai nos falando aqui na terra, em cada festa litúrgica, em cada Natal. Abram seus missais e leiam estas missas com suas antífonas, seus textos maravilhosos que nos ensinam tanto, que nos fazem conhecer Jesus como ele é, como ele vive hoje no céu. Na sua segunda vinda Ele virá nas nuvens (eu creio, porque assim está escrito). Caberá, então, reconhecermos este Rosto adorável que um dia vimos no sorriso de uma Criança, nas nossas orações diante do Presépio.

Dom Lourenço Fleichman OSB
Fonte: www.permanencia.org.br

Salve Virgem Mãe de Deus!!!


"Aqueles que dizem ter a Deus por Pai, e não têm Maria por Mãe, na verdade têm por pai o próprio demônio"
S. Luís Maria Grignion de Montfort

Proibição da palavra "Natal" em Oxford

Autoridade vaticana rechaça energicamente proibição do "Christmas" em OxfordROMA, 04/11/2008 (ACI).- O Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Dom Gianfranco Ravasi, deplorou a decisão da prefeitura da cidade inglesa de Oxford de proibir a palavra "Christmas" (Natal) das celebrações de fim de ano, e descreveu a medida como "sintoma do ateísmo e indiferença religiosa que hoje se promove".

Conforme informa L'Osservatore Romano, o Arcebispo assinalou que "o que se busca com esta iniciativa em Oxford não é tanto estabelecer um diálogo de modo que não existam prevaricações, senão extingui-lo até o ponto de restringir toda identidade própria, toda história que está nas bases e não estabelecer um verdadeiro diálogo"."

O verdadeiro diálogo –precisou– se constrói através da identidade. Então neste caso, não é somente uma excentricidade, mas uma negação consciente, não sei até que ponto, de uma grandeza que está nos alicerces".

Deste modo manifestou que "enquanto no passado quando se combatia a presença dos símbolos religiosos, se fazia com argumentações, ou com o desejo de opor um sistema alternativo, agora em vez disso se realiza esta avançada de negação como uma especiaria de névoa, quer introduzir um componente sem consistência que é a característica da secularização atual", em referência ao título que as autoridades deram às celebrações de fim de ano: "Festival das luzes de inverno".

Depois de afirmar que com esta decisão "Deus é negado, ignorado totalmente e o esforço pastoral deve ser agora mais complexo", Dom Ravasi denunciou esta medida como "uma sorte de 'jogo da sociedade' incolor, inodora, insípida" que gera "maior ateísmo, mas com a indiferença religiosa talvez impede ao homem interrogar-se, como fazem todas as grandes religiões, sobre temas fundamentais, temas básicos que são disolvidos ao interior de uma atmosfera assim de inconsistente".

De outro lado, o jornal inglês The Telegraph recolheu as declarações do Bispo de Portsmouth, Dom Roger Francis Crispin Hollis, quem assinalou que esta decisão "ofende à comunidade cristã da cidade (Oxford), não faz nada por promover a harmonia racial e, em nome da inclusão, exclui as tradições de uma significativa população da cidade. Deploro esta decisão e espero que o conselho o volte a pensar".

Por sua parte, Sabir Hussain Mirza, Chefe do Conselho Muçulmano de Oxford, expressou estar "muito zangado por isso. Os cristãos, muçulmanos e outras religiões esperamos todos a chegada do Natal"

De maneira similar se expressou o rabino Eli Bracknell, quem indicou que "é importante manter o Natal tradicional britânico. Algo que afete a cultura tradicional e o Cristianismo no Reino Unido não é positivo para a identidade britânica".

A idéia de renomear o Natal como "Festival das luzes de inverno" proveio da organização "Oxford Inspire" (Oxford Inspira), que são os encarregados deste evento.

Fonte: http://www.cleofas.com.br/

Natal sem Fome


Colabore com o projeto Natal sem Fome, doando alimentos não perecíveis para as famílias carentes.


Entregue na Igreja Matriz de Santa Maria Madalena, União dos Palmares - AL.
Agradecemos a sua ajuda. Deus o abençoe e retribua, Amém.

S. João da Cruz - Doutrina da mortificação dos apetites


Neste dia de S. João da Cruz, a quem tenho como pai e mestre espiritual, disponibilizo para os ainda poucos leitores deste blog, esta preciosidade que são algumas linhas escritas pelo próprio santo. Aproveitem a santa leitura.


Para atingir este estado sublime de união com Deus, é indispensável à alma atravessar a noite escura da mortificação dos apetites, e da renúncia a todos os prazeres deste mundo. As afeições às criaturas são diante de Deus como profundas trevas, de tal modo que a alma, quando aí fica mergulhada, torna-se incapaz de ser iluminada e revestida da pura e singela claridade divina. A luz é incompatível com as trevas, como no-lo afirma São João ao dizer que as trevas não puderam compreender a luz (Jo 1,5).

A razão está em que dois contrários, segundo o ensinamento da filosofia, não podem subsistir ao mesmo tempo num só sujeito. Ora, as trevas, que consistem no apego às criaturas, e a luz, que é Deus, são opostas e dessemelhantes. É o pensamento de S. Paulo escrevendo aos coríntios: “Que pode haver de comum entre a luz e as trevas?” (2Cor 6,14). Portanto, se a alma não rejeita todas as afeições às criaturas, não está apta a receber a luz da união divina.

Para dar mais evidência a esta doutrina, observemos que o afeto e o apego da alma à criatura a torna semelhante a este mesma criatura. Quanto maior a afeição, maior a identidade e a semelhança, porque é próprio do amor fazer o que ama semelhante ao amado. Davi, falando dos que colocavam o amor nos ídolos, disse: “Sejam semelhantes a eles os que os fazem; e todos os que confiam neles” (Sl 113,8). Assim, o que ama a criatura desce ao mesmo nível que ela, e desce, de algum modo, ainda mais baixo, porque o amor não somente iguala, mas ainda submete o amante ao objeto do seu amor. Deste modo, quando a alma ama alguma coisa fora de Deus, torna-se incapaz de se transformar nele e de se unir a ele. A baixeza da criatura é infinitamente mais afastada da soberania do Criador do que as trevas o são da luz. Todas as coisas da terra e do céu, comparadas com Deus, nada são, como disse Jeremias: “olhei para a terra, e eis que estava vazia, e era nada; e para os céus, e não havia neles luz” (Jr 4,23). Dizendo ter visto a terra vazia, dá a entender todas as criaturas e a própria terra serem nada. Acrescentando: Contemplei o céu e não vi luz – quer significar que todos os astros do céu comparados com Deus são puras trevas. Daí se conclui que todas as criaturas nada são, e as inclinações que nos fazem pender para elas, menos que nada, pois são um entrave para a alma e a privam da mercê da transformação em Deus; assim como as trevas, igualmente, por serem a privação da luz, são nada e menos que nada. Quem está nas trevas não compreende a luz; da mesma forma, a alma colocando sua afeição na criatura não compreenderá as coisas divinas; porque até que se purifique completamente não poderá possuir Deus neste mundo pela pura transformação do amor, nem no outro pela clara visão. Para esclarecer ainda mais esta doutrina, vejamos algumas particularidades.

Todo o ser das criaturas comparado ao ser infinito de Deus nada é. Resulta daí que a alma, dirigindo suas afeições para o criado, nada é para Deus, e até menos que nada, pois, conforme já dissemos, o amor a assemelha e torna igual ao objeto amado e a faz descer ainda mais baixo. Esta alma tão apegada às criaturas não poderá de forma alguma unir-se ao ser infinito de Deus, porque não pode existir conveniência entre o que é e o que não é. Descendo a alguns exemplos particulares, vemos que toda a beleza das criaturas, comparada à infinita beleza de Deus não passa de suma fealdade, segundo diz Salomão nos Provérbios: “A graça é enganadora e vã a formosura” (Pr 31,30). A alma, presa pelos encantos de qualquer criatura, é sumamente feia diante de Deus, e não pode de forma alguma transformar-se na verdadeira beleza, que é Deus, pois a fealdade é de todo incompatível com a beleza. Todas as graças e todos os encantos das criaturas, comparados às perfeições de Deus, são disformes e insípidos. A alma, subjugada por seus encantos e agrados, torna-se, por si mesma, desgraciosa e desagradável aos olhos de Deus, sendo, deste modo, incapaz de unir-se à sua infinita graça e beleza. Porque o feio está separado do infinitamente belo, por imensa distância. E toda a bondade das criaturas posta em paralelo com a bondade infinita de Deus mais parece malícia. Ninguém é bom, senão só Deus (Lc 18,19). A alma, prendendo seu coração aos bens deste mundo, torna-se viciosa aos olhos de Deus; e assim como a malícia não pode entrar em comunhão com a bondade, também esta alma não se poderá unir perfeitamente ao Senhor, que é a bondade por essência. Toda a sabedoria do mundo, toda a habilidade humana comparadas à sabedoria infinita de Deus são pura e suprema ignorância. S. Paulo o ensina aos Coríntios: “a sabedoria deste mundo é estultícia diante de Deus” (1COR 3,19).

A alma, apoiando-se em seu saber e habilidade para alcançar a união com a sabedoria divina, jamais a alcançará, permanecendo muito afastada, pois a ignorância não sabe o que seja a sabedoria, ensinando S. Paulo que tal sabedoria parece a Deus estultícia. Aos olhos de Deus, os que crêem algo saber são os mais ignorantes. O Apóstolo, falando desses homens, teve razão em dizer aos romanos: “Porque atribuindo-se o nome de sábios se tornaram estultos” (Rm 1,22). Só chegam a adquirir a sabedoria divina aqueles que, assemelhando-se aos pequeninos e ignorantes, renunciam ao próprio saber para caminhar com amor no serviço de Deus. S. Paulo nos ensina esta espécie de sabedoria quando diz: “Se algum entre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se insensato para ser sábio; porque a sabedoria deste mundo é uma estultícia diante de Deus” (1Cor 3,18-19). Em consequência, a alma se unirá à sabedoria divina antes pelo não saber que pelo saber. Todo o poder e toda a liberdade do mundo, comparados com a soberania e a independência do espírito de Deus, são completa servidão, angústia e cativeiro.

A alma enamorada das grandezas e dignidades ou muito ciosa da liberdade de seus apetites está diante de Deus como escrava e prisioneira e como tal – e não como filha – é tratada por ele, porque não quis seguir os preceitos de sua doutrina sagrada que nos ensina: Quem quer ser o maior deve fazer-se o menor, e o que quiser ser o menor seja o maior. A alma não poderá, portanto, chegar à verdadeira liberdade de espírito que se alcança na união divina; porque sendo a escravidão imcompatível com a liberdade, não pode esta permanecer num coração de escravo, sujeito a seus próprios caprichos; mas somente no que é livre, isto é, num coração de filho. Neste sentido Sara diz a Abraão, seu esposo, que expulse de casa a escrava e seu filho: “Expulsa esta escrava e seu filho, porque o filho da escrava não será herdeiro com meu filho Isaac” (Gn 21,10).

Todas as delícias e doçuras que a vontade saboreia nas coisas terrenas, comparadas aos gozos e às delícias da união divina, são suma aflição, tormento e amargura. Assim todo aquele que prende o coração aos prazeres terrenos é digno do Senhor de suma pena, tormento e amargura, e jamais poderá gozar os suaves abraços da união de Deus. Toda a glória e todas as riquezas das criaturas, comparadas à infinita riqueza que é Deus, são suma pobreza e miséria. Logo a alma afeiçoada à posse das coisas terrenas é profundamente pobre e miserável aos olhos do Senhor, e por isto jamais alcançará o bem-aventurado estado da glória e riqueza, isto é, a transformação em Deus; porque há infinita distância entre o pobre e indigente, e o sumamente rico e glorioso.

A Sabedoria divina, ao se queixar das almas que caem na vileza, miséria e pobreza, em conseqüência da afeição que dedicam ao que é elevado, grande e belo segundo a apreciação do mundo, fala assim nos Provérbios: “A vós, ó homens, é que eu estou continuamente clamando, aos filhos dos homens é que se dirige a minha voz. Aprendei, ó pequeninos, a astúcia e vós, insensatos, prestai-me atenção. Ouvi, porque tenho de vos falar acerca de grandes coisas. Comigo estão as riquezas e a glória, a magnífica opulência, e a justiça. Porque é melhor o meu fruto que o ouro e que a pedra preciosa, e as minhas produções, melhores que a prata escolhida. Eu ando nos caminhos da justiça, no meio das veredas do juízo, para enriquecer aos que me amam e para encher os seus tesouros” (Pr 8,4-6; 18-21). A divina sabedoria se dirige aqui a todos os que põem o coração e a afeição nas criaturas. Chama-os de “pequeninos” porque se tornam semelhantes ao objeto de seu amor, que é pequeno. Convida-os a ter prudência e a observar que ela trata de grandes coisas e não de pequenas como eles. Com ela e nela se encontram a glória e as verdadeiras riquezas desejadas, e não onde eles supõem. A magnificência e justiça lhe são inerentes; e exorta os homens a refletir sobre a superioridade de seus bens em relação aos do mundo. Ensina-lhes que o fruto nela encontrado é preferível ao ouro e às pedras preciosas; afinal, mostra que sua obra na alma está acima da prata mais pura que eles amam. Nestas palavras se compreende todo gênero de apego existente nesta vida.
S. João da Cruz.

14 de Dezembro - Dia de S. João da Cruz


Noite Escura


Em uma noite escura,
De amor em vivas ânsias inflamada,
Oh! ditosa ventura!
Saí sem ser notada,
Já minha casa estando sossegada.

Na escurudão, segura,
Pela secreta escada, disfarçada,
Oh! ditosa ventura!
Na escuridão, velada,
Já minha casa estando sossegada.

Em noite tão ditosa,
E num segredo em que ninguém me via,
nem eu olhava coisa,
Sem outra luz nem guia
Além da que no coração me ardia.

Essa luz me guiava,
Com mais clareza que a do meio-dia
Aonde me esperava
Quem eu bem conhecia,
Em sítio onde ninguém aparecia.

Oh! noite que me guiaste,
Oh! noite mais amável que a alvorada;
Oh! noite que juntaste
Amado com amada,
Amada já no Amado transformada!

Em meu peito florido
Que, inteiro, para ele só guardava,
Quedou-se adormecido,
E eu, terna, o regalava,
E dos cedros o leque o refrescava.

Da ameia a brisa amena,
Quando eu os seus cabelos afagava,
Com sua mão serena
Em meu colo soprava,
E meus sentidos todos transportava.

Esquecida, quedei-me,
O rosto reclinado sobre o Amado;
Tudo cessou. Deixei-me,
Largando meu cuidado
Por entre as açucenas olvidado.

S. João da Cruz

S. João da Cruz, rogai por nós.

Assista esta poesia musicada no original espanhol.

Santa Edith Stein e o Mistério do Natal


"Diante da criança no presépio, os espíritos se dividem. Ele é o rei dos reis e o Senhor da vida e da morte. Ele fala o seu: “Siga-me”, e quem não for a seu favor, é contra Ele. Ele o diz também para nós e nos coloca diante da decisão entre luz e trevas." (STEIN, Edith. O mistério do natal.[tradução Hermano José Cürten]. -- Bauru, SP: EDUSC, 1999, p. 17)

"Ó troca maravilhosa! O criador do gênero humano encarnando-se, concede-nos a sua divindade. Por causa desta obra maravilhosa o Redentor veio ao mundo. Deus se tornou Filho do homem, para que os homens se tornassem filhos de Deus. Um de nós rompeu o laço da filiação divina, e um de nós devia reatar o laço, pagando pelo pecado. Nenhum da antiga e enferma raça podia fazê-lo. Devia ser um rebento novo, sadio e nobre. Tornou-se um de nós e, mais do que isto: unido conosco. O maravilhoso no gênero humano é que todos somos um. Se fosse diferente, estaríamos lado a lado, como indivíduos autônomos e separados, e a queda de um não poderia ter se tornado a queda de todos. Podia ter sido pago e atribuído a nós o preço da expiação, mas não teria passado a sua justiça para os pecadores, e não teria sido possível nenhuma justificação.Mas Ele veio, para tornar-se conosco um corpo místico. Ele, nossa cabeça, nós, os seus membros. Ponhamos nossas mãos nas mãos do Menino-Deus, pronunciando o nosso “Sim” ao seu “Siga-me”. Então, nos tornamos Seus, e o caminho está livre, para que a sua vida divina possa passar para a nossa. Isto é o começo da vida eterna em nós. Não é ainda a visão beatífica de Deus na luz da glória, é ainda escuridão da fé, mas não é mais deste mundo, já é estar no Reino de Deus." (STEIN, Edith. O mistério do natal.[tradução Hermano José Cürten]. -- Bauru, SP: EDUSC, 1999, p. 19- 20)

"E o Verbo se fez carne”. Isto se tornou realidade no estábulo de Belém. Mas cumpriu-se ainda de outra maneira. “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue, este terá a vida eterna”. O Salvador que sabe que somos e permanecemos humanos, tendo que lutar dia após dia, com fraquezas, vem em auxílio da nossa humanidade de maneira verdadeiramente divina. Assim como o corpo terrestre precisa do pão cotidiano, assim também a vida divina em nós precisa ser alimentada constantemente. “Este é o pão vivo que desceu do céu”. Quem come deste pão todos os dias, neste se realizará, diariamente, o mistério do Natal, a Encarnação do Verbo. E este, certamente, é o caminho mais seguro, para se tornar “um com Deus” e de penetrar dia a dia de maneira mais firme e mais profunda no Corpo Místico de Cristo." (STEIN, Edith. O mistério do natal.[tradução Hermano José Cürten]. -- Bauru, SP: EDUSC, 1999, p.28.)

O Pastorinho - S. João da Cruz


Um pastorinho só está penando
Privado de prazer e de contento
Posto na pastorinha o pensamento
Seu peito de amor ferido, pranteando.

Não chora por tê-lo o amor chagado
Que não lhe dói o ver-se assim dorido
Embora o coração esteja ferido
Mas chora por pensar que é olvidado.


Que só o pensar que está esquecido
Por sua bela pastora é dor tamanha
Que se deixa maltratar em terra estranha
Seu peito por amor mui dolorido.


E disse o Pastorinho: ai desditado
De quem do meu amor se faz ausente!
E não quer gozar de mim presente...
Seu peito por amor tão magoado

Passado o tempo em árvore subido
Ali seus belos braços alargou
E preso a eles o Pastor ali ficou
Seu peito por amor mui dolorido.


S. João da Cruz


Obs...
Por "Pastorinho", S. João quer significar Jesus.
Por "pastorinha", a alma, ou, nós.
Olvidado significa esquecido no sentido de "ignorado"
Por "se deixa maltratar em terra estranha", S. João quer referir-se à Encarnação do Verbo que faz morada em nosso meio e morre na Cruz por amor de nós.
Por "árvore", ele quer significar a Cruz.


Enfim, uma poesia profundíssima e muito própria para o Natal, afinal Jesus é esquecido em seu próprio aniversário e toda a profundidade da Cruz já se faz presente naquele Presépio.

Meditemos nisso...

Algumas coisas que precisam ser ditas

AS CHAVES DO ENIGMA

...
O mal no mundo provém da sua impureza. Ser puro é renunciar aos prazeres ilícitos, os inconvenientes, e muitas vezes até mesmo aos lícitos e inofensivos. Habituar-se ao domínio de si mesmo é preparar-se para o exercício da caridade, a qual consiste, noventa e nove por cento, em renunciar. Quem não mortifica os sentidos, quem não contraria a sua ambição, a sua vingança, a sua vaidade, nunca poderá estabelecer a verdadeira paz dentro e em torno de si.

A luxúria gera a violência e a violência gera a luxúria. Ambas cultuam apenas o que há de físico no ser humano. Uma se utiliza da força, a outra da beleza. Sendo a força o instrumento da violência, as grandes épocas da brutalidade coincidem com a exaltação corpórea dos heróis, o louvor dos músculos nos arremessos fulmíneos, a glorificação dos ritmos plásticos. E sendo a beleza física a matéria prima da lascívia, as gerações que divinizam a força bruta são as mesmas que cantam loas a Frinéia.

Não se conclua que condenamos a força e a beleza físicas. Pelo contrário, dignas são elas da nossa admiração como obras do Criador, morada da alma e templo de Deus; e a prova é que ambas estão santificadas em santos que foram atletas e santas que foram formosas. O que devemos reprovar é o mau aproveitamento de uma e de outra, empregando-as de sorte a divorciá-las dos fins comuns do Espírito e do Corpo.

Esse foi o pensamento cristão na aurora do século I, quando os Apóstolos espalharam pelo Império dos Césares, onde predominavam degradações e violências unidas ao culto dos deuses fortes e belos, as duas soluções para as dores do Gênero Humano: a CASTIDADE E A CARIDADE, ambas tão intimamente irmanadas, que uma parece condição da outra e ambas a mesma expressão do Redentor do Mundo.

São essas duas virtudes as chaves da paz e da segurança entre os povos. Pois não andam, nestes tempos nossos, de mãos dadas, a brutalidade e a sensualidade?

Que tempos viram, como temos visto, civilização mais paganizada? Que oferecem os filmes cinematográficos senão os aspectos de uma civilização que fez do corpo e dos prazeres materiais a preocupação única da existência humana? Que outra lição, senão a do luxo, fantasiosa opulência e exibição faustosa apresentam à juventude dos nossos dias essas películas excitantes e dissolventes de todas as resistências morais?

Que espécies de livros lêem rapazes, raparigas e até mesmo esses grisalhos leões do Chiado, senão coloridas brochuras de novelas, romances e memórias copiados uns dos outros, que abarrotam os mercados internacionais sem outro valor além do que lhes empresta facciosa propaganda manobrada por agentes da dissolução social?

Que época é esta em que, nem pelos gostos, nem pelas atitudes, nem pelo vestuário, se distinguem as mães das filhas e às vezes nem as avós das netas?

Que dias vivemos em que a família foge do lar, até mesmo para celebrar as datas mais belas do calendário cristão e da intimidade doméstica?

Como poderemos chamar espiritualista a esta civilização sedenta de sensacionalismo e que zomba de tudo o que é de Deus, fazendo do próprio matrimônio precária satisfação de vaidades efêmeras?

Que nome merece uma civilização de cassinos, boites, dancings, promiscuidades escandalosas, desnudações nas praias, e concursos de beleza de sabor zoo-técnico, degradantes da majestade e dignidade da mulher?

Não é tudo isso o paganismo?

Se me disserdes que é, então defenderei o paganismo. Não o identificarei aos degradantes costumes do nosso tempo. Porque o paganismo inspirava-se num sentido religioso do cosmos. Decaído da graça, o Homem procurava na interpretação politeísta da natureza, o segredo do seu destino além da morte.

Na dissolução dos costumes conservavam os pagãos uma crença nos deuses, qualquer coisa como reflexos do verdadeiro Deus que lhes ainda não fora revelado.
O paganismo anterior a Cristo apresenta, de mistura com suas misérias, incontestáveis traços de grandeza. Ele chegou a pressentir a vinda do Redentor, na concepção de Alcmene, no sangue de Adonis, na ressurreição de Osíris.

Mas o que hoje temos é inferior ao paganismo, porque se chama materialismo, isto é, repúdio do sobrenatural, gesto a que nunca se atreveu o paganismo.

E se essa atitude fosse anterior ao Cristo, como no caso de alguns filósofos gregos, ela seria desculpável. Mas este nosso materialismo, aceitando tudo o que havia de mau no mundo politeísta, rejeita o que nele havia de sério: a conduta do Homem relacionada com um princípio de causalidade e de finalidade.

Este materialismo de hoje recebeu a mensagem do Evangelho, mas rejeitou a Luz, pela consciência que tem de que as suas obras são más e porque "todo aquele que pratica o mal prefere viver nas trevas"

Plínio Salgado, Primeiro, CRISTO!
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