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Feliz Natal e Feliz Ano Novo - Que 2012 seja um ano santo!

É Ele quem faz a terra girar e quem a sustenta...

E chegamos ao último dia do ano. Só mais um pouco e estaremos em 2012, o ano do fim do mundo (hahaha)... Alguns já lerão esta postagem depois da transição.

Muitas pessoas na blogosfera têm feito os seus tradicionais votos de um ano feliz e próspero e tal. Eu, particularmente, não me comovo muito com estes festejos de fim de ano. Reconheço, no entanto, a sua legitimidade. Mas, a princípio, parece-me estranho que, embora estejamos ainda na oitava de Natal, ninguém mais pareça lembrar. Mas isto é muito ilustrativo.

Como se sabe, nós, católicos, costumamos lutar contra o pecado, contra os erros, contra as falsas filosofias, etc. Todos estes inimigos têm em comum o fato de serem produzidos a partir da nossa soberba, do nosso egoísmo, da satisfação de nós mesmos. O que é o pecado senão isso? O que são as falsas filosofias imanentistas senão a renúncia à transcendência para que o indivíduo assuma o centro da existência e se explique a partir de si mesmo?

Nós só chegamos a um nível tão profundo de decadência quando excluímos do nosso horizonte o campo da metafísica ou das realidades transcendentes. Cortamos da nossa vida a dimensão do mistério e do absoluto. Tendo-o feito, não nos resta mais senão absolutizar o efêmero, o curso da história, o processo do devir. Trocamos Deus pelo tempo. Eis Marx, eis Freud, eis Darwin.

E eis o ano novo... Esquecemos o menino de Belém e celebramos a mera transição cronológica impessoal. Na nossa superstição de divinizarmos o que não é divino, até chegamos a vestir branco como se isto fosse resultar em qualquer efeito mágico no futuro curso dos eventos. Deus, se não é absolutamente posto de lado, torna-se algo acidental, secundário, ritual, de tradição, reduzido ao costume, isto é, submetido ao tempo. A Missa de ano novo é assistida por costume, porque todo ano tem...

"Não terás outros deuses diante de Mim", disse uma vez o Deus ciumento. E na substituição do Absoluto pelo tempo, terminamos por aviltar a nossa própria condição, que é a de sermos indivíduos eternos, altas imortais.

Feitas estas precauções, desejo, eu também, um feliz Ano Novo a todos, desde que fique entendido que esta felicidade não provém da novidade do ano, mas somente pode ser dada por Nosso Senhor, o Deus Verdadeiro, Aquele que transcende o Tempo, sendo este apenas uma criatura Sua. 

Que neste novo ano, Deus possa nos dar forças para renovar também a nossa vida, pondo-a sob a sombra da eternidade. Consideremos que um novo ano, ou um novo tempo, é sempre uma nova oportunidade para que nos emendemos e nos tornemos melhores, mais puros, mais bondosos, mais santos.

Sobre isto, meditava o Gustavo Corção: 

"A vida é longa de mais. Ou será o tempo uma frase e a repetição dos dias e dos anos um sinal de divina paciência, duma paciência que espera resposta e não cansa de chamar? Mas ninguém ouve e cá estamos..."

Escutemos o apelo que Deus nos faz neste passar dos anos, nesta Santa Missa de hoje, e no decorrer dos dias. Busquemos, caríssimos, primeiramente e até unicamente o agrado divino; conformar a nossa vida com Ele é o mais importante. Se o fizermos, como Ele mesmo disse, tudo o mais virá por acréscimo.

Deixemos, enfim, as superstições, quaisquer que sejam. Que a Virgem Santíssima nos ensine a ter um coração que adore somente ao Verbo divino. Eis a vida nova que devemos ter. Que Nosso Senhor, pela intercessão de Maria Santíssima, no-la conceda.

"Quem perseverar até o fim será salvo", isto é, quem não se curvar ao tempo.

Feliz Natal. Feliz Ano Novo.

Que Deus nos abençoe e guarde a todos. 

Ad Iesum Per Mariam

Fábio

A dor humana após a Cruz


"Desde então (desde a Cruz), toda dor sofrida por um cristão está liberada desse terrificante Indefinido, desse insondável vinco do sofrimento que devia, antes, torná-la tão terrível, e que a torna ainda tal aos olhos dos descrentes que, para não vê-la, precipitam-se na morte. A doutrina católica circunscreve toda a possibilidade da dor humana nos intransponíveis limites de uma Dor divina, absoluta e sinteticamente perfeita. E, como essa Dor é o contrário de uma prodigiosa prevaricação - posto que se tratava de remediar, sem destruir a liberdade do homem -, torna-se evidente que ela não podia realmente se produzir senão com o acompanhamento do perpétuo entusiasmo de um amor sem limites. É o que a linguagem católica chama, energicamente, de a Loucura da Cruz."

Léon Bloy

A terrível experiência de Comungar


"Vou comungar. O padre pronunciou as terríveis palavras que a piedade carnal chama de consolantes: DOMINE, NON SUM DIGNUS... Jesus vai chegar e não tenho senão um minuto para me preparar para recebê-Lo... Em um minuto, Ele estará sob o meu teto.

Não me recordo de ter varrido essa morada em que Ele vai penetrar como um rei e como um ladrão, pois não sei o que pensar dessa visita. Tê-la-ei mesmo varrido, essa minha morada de impudicícia e carnificina? Lanço um olhar, um pobre olhar apavorado, e vejo-a cheia de poeira e de porcarias. Por toda a parte há como que um cheiro de putrefação e de imundícies. Não ouso olhar nos cantos sombrios. Em lugares menos obscuros, percebo nódoas horríveis, antigas ou recentes, que me recordam de que massacrei inocentes. E quantos! E com que crueldade!

Meus muros estão cheios de bichinhos nojentos e neles escorrem gotas frias que me fazem pensar nas lágrimas de muitos desgraçados que me imploraram em vão, ontem, anteontem, há dez anos, há vinte, há quarenta anos... E eis! Ali, diante daquela pobre porta, quem é aquele monstro acocorado, que até agora não tinha notado, e que se assemelha a alguém que algumas vezes entrevi em meu espelho? Parece dormir na placa de bronze que tranquei e aferrolhei com tanto cuidado de modo a não ouvir o clamor dos mortos e seu lamentável Miserere. Ah, é preciso realmente ser Deus para não temer entrar numa tal casa! E ei-Lo aqui! Qual será a minha atitude? E que vou dizer ou fazer?

Absolutamente nada. Antes mesmo que tenha transposto meu limiar, terei cessado de pensar n'Ele, não estarei mais presente, terei desaparecido. Não sei como, mas estarei infinitamente longe, entre as imagens das criaturas. Ficará só. E Ele mesmo limpará a morada, ajudado por Sua Mãe, de que pretendo ser o escravo, e que é, na verdade, minha humilde serva. Quando tiverem ido embora, Um e Outra, para visitar outras cavernas, voltarei. E trarei comigo outras imundíceis."

Léon Bloy

Jesus não veio disputar os reinos do mundo pelas armas, mas para reinar nos corações pela Cruz



Dize-me, cruel Herodes: por que mandas matar e sacrificar à tua ambição de reinar tantas criançsa inocentes? Dize-me: por que te perturbas? Que temes? Temes que o Messias que acaba de nascer te roube a coroa? Assim fala S. Fulgêncio. Depois acrescenta: Esse Rei que temes, não veio combater e vencer os poderes da terra pelas armas, mas veio reinar nos corações dos homens padecendo e morrendo por seu amor.

Esse amável Redentor de nossas almas veio não para fazer guerra durante a vida, mas para triunfar do amor dos homens, depois de sacrificar sua vida sobre a cruz; Ele mesmo o declara: Quando eu for elevado da terra, atrairei a mim todas as coisas.

Sto Afonso de Ligório, Nascimento e Infância de Jesus Cristo

Léon Bloy sobre os santos inocentes


"É o rebanho dos pequenos de Deus. "Quem quer que receba em meu nome um desses pequenos" disse Jesus, "é a mim mesmo que recebe". O que pensar daquele que os degola, que os mutila, ou que inflige às suas almas puras uma tristeza mais negra do que a morte? (...) A maldição de uma multidão de crianças, é um cataclisma, um prodígio de terror, uma cadeia de montanhas sombrias no céu, com uma cavalgada de raios e trovões em seus cimos. É o infinito dos gritos de todos os abismos, é um não sei o que de altamente poderoso que não perdoa e que extingue a esperança de qualquer perdão."

Léon Bloy In FARIA, Octávio. Léon Bloy.

Depois de ler este relato visceral do Léon Bloy, como não pensar na terrível situação que vivenciamos hoje em que milhares são os infantes que morrem por dia, por hora, por minutos... no mundo? A estes sequer é dado o direito de nascer e, novamente, pelo seu grito impedido eles clamam justiça Àquele que já havia dito: "É a Mim que o fazeis..." Que terrível, que terrível!

"Até quando, ó Senhor santo e verdadeiro,
tardarás a fazer justiça,
vingando nosso sangue
contra os habitantes da terra?"
(Ap 6,10)

Sobre os inocentes de Belém


Ignoramos o número dos inocentes mas, segundo Macróbio, entre eles estava um filho de Herodes amamentado em Belém. E quem nos diz se o monarca assassino ainda sofreu quando soube da desgraça? Pouco depois devia ele deixar por sua vez a vida, acabrunhado de males vergonhosos; a vérmina roía-lhe os testículos, tinha os pés inchados, a respiração curta e um hálito insuportável. Sentindo-se repugnante a si próprio, tentou matar-se à mesa com uma faca. Morreu enfim ordenando a Salomé que desse a morte a numerosos jovens encerrados nas prisões.

A matança dos inocentes foi o último feito de Herodes. Este assassínio em massa ao redor de um berço inocente, o sangue derramado pelo recém-nascido que devia comprar com seu sangue o perdão dos culpados, este sacrifício humano em honra daquele que será crucificado, tem um sentido profético. Milhares de inocentes deverão morrer depois da sua morte, só pelo crime de terem crido na sua ressurreição; nascia destinado a sacrificar-se pelos outros, mas eis milhares de recém-nascidos a morrerem por ele como que para expiarem o seu nascimento. Há nesta oblação sangrenta, neste morticínio de puros, um tremendo mistério. Pertenciam à geração que devia trair e crucificar a Jesus. Morrendo nesse dia, aos golpes de Herodes, não viram morrer o seu Senhor. Sua morte os salvou e os salvou para sempre. Eram inocentes e permaneceram inocentes. Seus pais e seus irmãos vivos os vingarão um dia - mas serão perdoados "porque não sabem o que fazem".

Giovanni Papini, História de Cristo

Sobre Vocação


Uma das maiores aventuras da vida do católico, a meu ver, é a escolha da vocação. Com algumas exceções, este é um negócio difícil e que exige, além de uma vida realmente devota, a coragem de arriscar-se, pois a absoluta certeza do próprio chamado exigiria um esgotamento da dimensão do mistério ou a comunicação inequívoca do próprio Deus a respeito do chamado pessoal. E isto, de ordinário, não acontece. O que temos são indícios. Mas, mesmo estes, podem enganar um pouco. Às vezes, a mera admiração é má interpretada. Outras vezes, é somente o próprio senso de grandeza e heroísmo querendo optar por algo que lhe seja adequado. Neste caso, a vaidade vincula-se ao ideal de perfeição.

Além destas dificuldades que são comuns a toda época - se bem que particularmente à nossa, visto que mais que nunca a nossa soberba é mostrada como um bem e os egos são a toda hora estimulados à auto-promoção - há, ainda, um fenômeno que é muito peculiar da contemporaneidade: quem quiser seguir a vida religiosa, terá de pesquisar muito bem se quiser encontrar uma boa Ordem, Congregação, Instituto ou Fraternidade. Isto se dá porque, em muitos lugares, o carisma original se perdeu, foi abandonado, foi submetido a uma "releitura", foi misturado a ideologias modernas, ou já nasceu viciado. E isto é muito sério. Antes ficar em casa, vivendo uma vida secular, do que ir a um lugar onde aprenderás heresias, onde te será incutido a desconfiança com relação a Roma, onde escutarás que a Tradição da Igreja é somente um modo de manipular o povo inculto, onde aprenderás que a História da Salvação só pode ser entendida corretamente e sem alienação se utilizas a chave hermenêutica da luta de classes, entre outros disparates.

Isto, no entanto, não deve ser motivo de desistência da própria vocação. Em se tratando do assunto, nunca se deve parar na alternativa mais cômoda. Este tipo de medo que faz desistir na primeira dificuldade é absolutamente inadequado e indigno diante de um chamado de Deus. S. Bernardo de Claraval dizia que o chamado ao claustro é o maior bem que Deus pode fazer a uma alma. O que se sentem chamados à vida religiosa ou desconfiam de sê-lo devem examinar isto detidamente e encontrar, para auxílio, um bom diretor espiritual que o acompanhe.

Naturalmente, a vocação não é mera escolha, mas, antes, descoberta. Isto, então, exige todo um processo de aprofundamento de si mesmo e daí é que decorre a necessidade de um outro, mais experimentado que nós, que possa nos ajudar neste trabalho. Embora tal empresa tenha a sua dificuldade, não deixa de ser, no entanto, uma aventura amorosa, muito mais bela e verdadeira do que aquelas que costumamos ver nos filmes e contos e das quais costumávamos desejar participar.

Se, como eu disse, há muitos conventos e institutos que, infelizmente, debandaram para ideologias como a famigerada Teologia da Libertação - há muitas casas franciscanas, carmelitas e dominicanas que se deixaram seduzir por este canto de sereia - ou para visões equivocadas da espiritualidade, como as de matiz pentecostalista, nem por isso o candidato à vida consagrada deixará de encontrar, se procurar direito, várias outras casas que se mantêm fiéis ao ensino de sempre da Santa Igreja e que se destacam por sua sobriedade e maturidade. Como eu disse, basta procurar.

E agora, só pra dar o gostinho, coloco um video vocacional dos Cônegos Regulares Premonstratenses. Embora seja a divulgação do carisma de uma Ordem específica, nela há o cerne de todo chamado à vida consagrada. Pax.


O melhor modo de servir - S. Josemaria Escrivá

"Chegou a hora", pelo "retorno da verdadeira Liturgia da Igreja"


Desejo expressar, primeiramente, minha gratidão a todos vós pelo zelo e entusiasmo com que promoveis a causa da restauração das verdadeiras tradições litúrgicas da Igreja.

Como sabeis, é a liturgia que aperfeiçoa a fé e sua heróica realização na vida. Ela é o meio com que os seres humanos são elevados ao nível do transcendente e do eterno: o lugar de um profundo encontro entre Deus e o homem.

A liturgia, por esta razão, nunca pode ser criada pelo homem. Pois se rezamos da forma como queremos e ajustamos as normas a nós mesmos, corremos, então, o risco de recriar o bezerro de ouro de Aarão. Devemos constantemente insistir na liturgia enquanto participação naquilo que o próprio Deus faz, correndo o risco, de outra forma, de cair na idolatria. O simbolismo litúrgico nos ajuda a nos elevarmos acima do que é humano, em direção ao divino. A esse respeito, é minha firme convicção de que o Vetus Ordo representa em grande extensão e de maneira mais satisfatória aquele chamado místico e transcendente a um encontro com Deus na liturgia. Portanto, chegou para nós a hora de não só renovarmos, por mudanças radicais, o conteúdo da nova Liturgia, mas de também encorajarmos mais e mais o retorno do Vetus Ordo, como um caminho para uma verdadeira renovação da Igreja, que foi o que os Padres da Igreja assentados no Concílio Vaticano II tanto desejaram.

A cuidadosa leitura da Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia, Sacrosanctum Concilium, demonstra que as imprudentes mudanças introduzidas posteriormente na Liturgia nunca estiveram nas mentes dos Padres do Concílio.

Assim, chegou a hora de sermos corajosos no trabalho por uma verdadeira reforma da reforma e também pelo retorno da verdadeira liturgia da Igreja, que se desenvolveu por sua história bimilenar em um contínuo fluxo. Desejo e rezo para que isso ocorra.

Possa Deus abençoar os vossos esforços com sucesso.

+Malcolm Cardeal Ranjith
Arcebispo de Colombo
24/8/2011

Fim de ano e o costume de Indispor-se com os outros


No Natal e Fim de Ano, mesmo para quem não é cristão, parece haver qualquer coisa de terno a invadir o mundo. Quem ficar sóbrio há de perceber.

E um dos temas mais frequentes que nessa época surgem nas conversações é o da reconciliação, do perdão e da paz que muitos tentam evocar e até supersticiosamente produzir pelo simples fato de vestir branco.

Pois bem. Acontece que nós vivemos numa sociedade que é profundamente egocêntrica. Não é de nenhum modo difícil encontrarmos livros e teorias que, não obstante sejam as mais variadas, trazem o traço comum de estarem fundamentadas sobre o umbigo dos seus autores. Basta acompanhar minimamente as intensas manifestações nas redes sociais para toparmos com todo tipo de filosofia pessoal onde o sujeito se coloca como o centro do universo, o ser mais importante de todos, como se todos os demais indivíduos estivessem contra ele e fosse seu dever defender-se e auto-promover-se. Temos, então, uma sociedade formada por pessoas preocupadas antes de tudo consigo mesmas.

Num ambiente assim, surge um costume a meu ver profundamente infantil e que consiste em facilmente se indispor com outras pessoas. Qualquer discordância ou qualquer atrito resulta em intriga e aquela amizade, talvez já de longa data, desfaz-se por capricho, por vaidade, por um ego ferido que, para restabelecer-se, recorre ao término da relação. Isto é muito revelador... A amizade, em todos os tempos, sempre foi muito exaltada e tida como algo de grande valor. "Encontrar um amigo é encontrar um tesouro", dizemos. No entanto, ela costuma ser abandonada por motivos fúteis. Tal fenômeno é sintomático da mediocridade que invadiu as almas e que termina por banalizar tudo. Os amigos são mantidos somente enquanto nos proporcionam prazer e bem-estar. Tão logo nos espetem, acabarão por ser abandonados. Uma sociedade assim, obviamente, não terá da amizade qualquer dimensão.

É mais ou menos o que aconteceu com a alegria. Hoje ela se encontra profundamente escassa. É difícil vê-la por aí, pois, em seu lugar, os homens puseram o prazer e este manipulado de todas as formas para que possa ser prolongado e intensificado. Deste modo, as pessoas perderam o senso da alegria gratuita. E, para disfarçar a angústia e a tristeza, recorrem novamente a altas doses de prazer. Os vícios não são outra coisa. Thomas Merton escreve a este respeito: "se não sabes a diferença entre prazer e alegria, sequer começaste a viver".

Pois bem. E falamos em reconciliação no fim do ano. Difícil, não? Talvez o que precisemos seja mudar a nossa compreensão sobre a natureza da amizade. Para isto, temos de abandonar esta imatura e torpe "filosofia do ego". Nós precisamos descobrir urgentemente que não somos o que de mais importante há no universo. Uma ofensa contra nós não é um sacrilégio. Por diversas vezes estaremos errados e um amigo que se preze será sincero em nos mostrar o nosso erro, se necessário.  Nós não devemos abandonar esses tesouros. Não importa o quanto nosso ego reclame; mandemos ele - o ego - plantar batatas. O que importa é a verdade e o bem.

Se amarmos a verdade e o bem, poderemos construir relações sólidas e duradouras, pois a verdade e o bem são universais, isto é, existem em todo lugar e a todo o tempo; são absolutamente estáveis. Poderemos intervir na vida de nosso amigo ou permitir-lhe intervir na nossa sem que isto resulte em briga. Digo e repito: esse costume de ficar intrigado é um negócio infantil. Nós, humanos, somos sujeitos difíceis e muitos de nós somos cheios de frescuras. Mas as frescuras não somos nós; nós não somos o nosso capricho. A amizade tem de ter um fundamento mais profundo do que a epiderme das vaidades e da imagem. Se cultivarmos uma amizade tendo isto em vista, é óbvio que não abriremos mão dela na primeira incompreensão.

Se nos dizemos cristãos, então, esta obrigação se avoluma. Cristo morreu por nós quando ainda éramos seus inimigos e perdoou a enormidade dos nossos crimes. Se não perdoamos a outra pessoa e dela guardamos mágoa, ainda quando nos dá mostras de arrependimento embora não tenha tido a coragem de desculpar-se claramente, é sinal de que pouco conhecemos a nossa própria miséria. Nós somos muito tolerantes conosco mesmos. E, no entanto, nos dizemos cristãos e seguidores do Cristo. Rezamos diariamente o "perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos ofende", e escutamos com relativa frequência o que disse Nosso Senhor: "antes de levar as tuas oferendas, reconcilia-te com teu irmão".

Nem é preciso repetir esses conselhos de Jesus. Todos nós provavelmente já os conhecemos. O que, no entanto, nos impede de ver é o nosso orgulho. Eis aí o nosso inimigo, a trave no nosso olho. Detectado o alvo que precisamos combater, mãos à obra. Não é o outro que eu devo pisar, mas o meu próprio egoísmo, a minha própria soberba. Ser cristão é assumir a disposição de colocar-se em último lugar e de oferecer a outra face, de abrir mão das próprias vontades e caprichos, de crucificar-se, como dizia S. Paulo, com as próprias paixões e concupiscências.

Para terminar, eu quero contar um breve acontecido que se deu num dos primeiros conventos do Carmelo Descalço, onde residiam S. João da Cruz e um outro irmão já de idade. Indo visitar o mosteiro, Sta Teresa D'Avila avistou ao longe este outro irmão a varrer a frente do convento com uma vassourinha bem humilde. Aproximando-se do tal monge idoso, a santa perguntou: "Oh irmão, onde está a vossa honra?", ao que ele respondeu: "Maldito o dia em que a tive".

Pensemos nisto. Este tipo de "honra", referente à preocupação que temos com a nossa imagem, em não passar por baixo, é o que nos tem afastado por vezes de um bem mais profundo; é o que nos tem tirado talvez pessoas amadas do nosso convívio.

Bem, isto tudo se aplica quando somos nós os ofendidos. Diferente é o caso quando o ofendido é Deus. Nestas situações e em caso de obstinação, por vezes o afastamento será legítimo.

O orgulho tem me tirado
O que o amor me tinha deixado
Vou aprender ao meu ego abaixar
Pra que a alma se possa elevar
Só saberei o que é ter Jesus Cristo
Se compreender o que é ser um amigo.

Fábio

Família e Facebook

Talvez muitos tenham visto transitar no facebook esta imagem que tenta alargar o conceito de família para incluir as tais uniões homoafetivas. Além disto, ela traz o exemplo da profunda retórica dos defensores da laxidão moral ao referir-se ao Silas Malafaia com o apodo de "Babaca".


Vejam só, que profundo! Esse pessoal pensa que o mero fato de afirmar é o mesmo que argumentar. O que mais me estranha, porém, não é que existam pessoas que defendem esse tipo de coisa, mas que, dentre as que o fazem, alguns se digam católicos.

Expliquemos. Para um católico sê-lo de fato, é necessário que aceite todos os dogmas ou verdades de Fé. Ora, é dogma ser a Igreja infalível em termos de Fé e Moral. A família é, naturalmente, do âmbito da moral. Logo, para um católico, o que a Igreja diz sobre a família, isto é, que deve constituir-se de homem e mulher, é a verdade.

Contudo, como hoje em dia dizer-se católico parece ser qualquer coisa indefinida e que não compromete, há muitos por aí que, embora realmente não tenham a Fé, gostam de afirmá-lo somente porque vão à Missa vez ou outra ou têm alguma devoção a algum santo ou até crêem vagamente em Deus.

Essas pessoas costumam pensar que a defesa da família nos moldes tradicionais é uma atitude preconceituosa. Esquecem-se, porém, que tal é a visão cristã e os cristãos têm o dever da coerência. Mas já que não aceitam o que a Igreja "intolerante" ensina, poderiam pelo menos informar-se do que a este respeito fala a Sagrada Escritura. E esta é veemente ao referir-se às relações homossexuais como "paixões infames" e ensinar que os sodomitas não herdarão o reino dos céus.

Que um ateu não esteja nem aí pra Escritura ou para o que a Igreja ensina, entende-se; mas um católico? Será que não percebem a contradição disto?

O ponto, porém, é que estas pessoas se consideram as esclarecidas! A Igreja mantém a sua estrutura medieval e, no vocabulário desses indivíduos, medieval é o mesmo que obscuro e ignorante. Já o termo "moderno" passa a significar algo luminoso, inteligente, superior... Em pleno século XXI, aferrar-se à posição tradicional é inaceitável, esbravejam. E, de novo, não percebem a contradição disto. Como dizia o Chesterton, os antigos foram realmente muito tolos se conseguiram ser mais tolos que nós.

Convém perguntar: se a Igreja é assim tão ignorante, por que raios esse povo se define católico? Será a verdade mutável? Se a verdade evolui, nada é certo! A Bíblia não é certa, nem tampouco a Igreja. Logo, não sabemos nada sobre Deus hoje; somente sabemos d'Ele o que Ele era há dois mil anos atrás. E, convenhamos, parece que Ele era "preconceituoso" naquela época. Agora, porém, Ele certamente mudou, evoluiu, tornou-se mais "tolerante". Mas, com base em que o afirmam? Respondo: com base nas próprias preferências pessoais e em suposições românticas. Não há nenhuma motivação mais profunda que isso.

Pensam que o que importa é o que se sente. "Se um homem ama outro homem, ótimo! Que vivam juntos!" Ora,  mas se é assim, porque razão condenam um pedófilo, por exemplo? Seguindo a sua lógica, deixemos que o pedófilo seja fiel às suas paixões e alcance a felicidade envolvendo-se com crianças! Além disto, cedamos os cadáveres aos necrófilos, ou elogiemos os zoófilos e todo tipo de peculiaridade sexual, porque as paixões agora são lei. Propiciemos todo o conforto e isenção a estes sujeitos! Não atentemos contra a sua realização! Não sejamos intolerantes! Afinal, estamos no século XXI!

Em geral, essas pessoas não defenderão tais comportamentos, mas, ao diferenciarem uma coisa da outra, estarão usando algum tipo de critério. Perguntemos: qual é este critério? Com base em que essas pessoas reconhecem o que é legítimo e o que não é legítimo? 

Em geral, a tomada de posição em favor da sodomia se deve ou à inclinação pessoal a este ato, ou a qualquer vago sentimento de compaixão para com esta classe supostamente vítima do preconceito de intolerantes e fanáticos religiosos. E a maioria dessas pessoas, partindo do pressuposto de que os defensores da família são preconceituosos ou homofóbicos, se isenta de pensar a respeito do assunto com vagar e de considerar os argumentos da parte oposta. Todo o seu discurso é muito confortável: eles têm a maioria do seu lado, ganham a admiração de outros vários grupos que extasiam diante de tal demonstração de clareza e maturidade e recebem a confirmação midiática contínua de que não fazem parte da tosca classe dos religiosos bitolados. Ainda que sejam religiosos, agora eles são esclarecidos!

A verdade, então, cede ao consenso e ao conforto. É questão de maioria e de interesse pessoal. Ora, mas se é de maioria, pensemos que os 20 séculos anteriores de cristianismo somam, por certo, muito mais pessoas do que a época atual e que nesses tais vinte séculos a sodomia nunca foi bem vista. Somos então a legítima maioria! É a democracia chestertoniana. No entanto, nós não costumamos apelar para isso porque sabemos que a verdade não depende da quantidade de adeptos. Ela existe objetivamente e podemos conhecê-la.

Mesmo se abrirmos mão da religião, a própria estrutura do corpo humano testemunha a nosso favor, pois, fisiologicamente, o pênis ordena-se à vagina e vice-versa. Na relação heterossexual, tudo acontece com harmonia, o que culmina na formação de uma vida. É o corpo humano reconhecendo a sua ordem. O ânus, porém, não é um órgão sexual. A relação sexual homoerótica está para sempre fadada à esterilidade pois opõe-se à natureza.

Quem vive, portanto, no mundo da fantasia, querendo mudar a estrutura da realidade são os defensores da imoralidade que intentam destruir o conceito cristão de família e pôr em seu lugar qualquer coisa, qualquer tipo de união. Se um homem quer copular com outro homem, isto é lá com eles. Porém, que queiram legitimar este tipo de coisa, inclusive utilizando, para tal empresa, o nome de Deus, aí já é demais. Igualar a família a este tipo de união é obviamente uma ofensa.

Portanto, o cartaz acima não tem qualquer verdade. Como os gayzistas não conseguem refutar o que o Silas, com coragem exemplar, tem dito a este respeito, então apelam para as pechas e ofensas já tão típicos desses sujeitos e que antes honram que envergonham as suas vítimas.

Na verdade, o cartaz verdadeiro deve ser esse:


Se você é católico, não se isente de defender a verdade. Não saia partilhando porcarias por aí; não caia nesse romantismo mole e covarde visando o teu conforto pessoal e o aplauso dos outros. Jesus disse: "não vos conformeis com este mundo". Respeitemos todas as pessoas, inclusos os homossexuais. No entanto, daí não decorre que tenhamos de respeitar a prática homossexual. Isto é outra coisa e não nos é permitido.

Quer se abster de argumentar? Chame o outro de preconceituoso.


Não esquecer que, nos dias que correm, a simples adesão a um novo preconceito faz um sujeito se sentir livre de preconceitos. O uso corrente da palavra "preconceito" é de teor nitidamente preconceituoso, pois cria uma prevenção irracional contra uma opinião que, em geral, só se conhece por alto. A acusação de "preconceito" é hoje um dos estratagemas de uso mais freqüente: ela dispensa o exame dos argumentos da parte contrária. Nos meios acadêmicos, fortemente influenciados pela mentalidade "politicamente correta", ampliar desmesuradamente o sentido da palavra "preconceito" tornou-se até um método de investigação e prova em História e Ciências Sociais: se um sujeito fez uma piada sobre judeus, é prova de que tem preconceito anti-semita. A suscetibilidade neurótica que espuma de raiva ante gracejos, por seu lado, não é preconceito: é exemplo de superior neutralidade científica.

Nota do Olavo de Carvalho no livro "Como Vencer Um Debate Sem Precisar Ter Razão" de Arthur Schopenhauer.

Feliz Natal - Algumas Meditações


E estamos, novamente, às portas do Natal. O menino Deus, o Rei de Israel, o desejado das nações, virá. A estrela já lhe anuncia a chegada. Os reis já rumam ao seu encontro e os pastores daqui a pouco ouvirão o canto dos anjos.

Aquele de quem se falou que iria reger com cetro de ferro e que iria restaurar o reino de Israel vem ao mundo como uma criança indefesa, inofensiva, pobre. Buscarão um lugar para que ele nasça com algum conforto e dignidade, mas não encontrarão sequer o mais modesto quartinho. Quem imaginaria que o aparente caos do improviso seria, antes, uma escolha d'Ele?

"Não há lugar aqui para vós", foi o que escutou dos homens ocupados com suas coisas. Encontrará abrigo sob a vigília dos animais, do boi e do burro que, diferentemente dos homens, conhecem o presépio do seu Senhor. (Isa 1,3)

Ei-Lo exposto ao frio, na nudez de Sua pobreza, sem um berço ou uma cama Aquele que não terá onde reclinar a cabeça e cujo trono será uma cruz. Eis Aquele de Quem Francisco chorava: "o Amor não é amado".

Nós somos, nesta festa misteriosa, chamados a acercar-nos da sua manjedoura. Mas para fazê-lo, espera-se que encaremos com profundidade o que aqui acontece. Costumamos dizer que o Natal é um tempo de festa - e o é - mas isto parece legitimar o nosso riso fácil, a nossa dispersão, o nosso superficialismo.

Porém, a alegria de que aqui se fala surge dentro da alma, da contemplação detida da presença dAquele que veio para nos salvar. Deveria ser uma alegria extasiante, mas a maioria de nós compreende muito pouco a sublimidade deste evento.

Devemos nos ater a algumas coisas:

Quando Ele vier, nós não O reconheceremos se, antes, não nos tivermos esvaziado das nossas suposições a Seu respeito. Tampouco lhe daremos abrigo se não aprendermos a parar o fluxo frenético das nossas preocupações e da satisfação dos nossos interesses. "Cessai e vede que eu sou Deus"  (Sl 45,11)

Assim como os reis magos, é preciso que saiamos de nossa própria terra, isto é, dos nossos interesses pessoais, do nosso "mundinho", e viajemos e trabalhemos e tenhamos algum cansaço em procurá-Lo. "Sofrer pelo Amado é melhor que fazer milagres", escrevia S. João da Cruz. Neste percurso, o que nos guiará é a luz obscura da Fé e a sede da fonte que o deserto desperta. Ao encontrá-Lo, deveremos também Lhe entregar os três presentes: o incenso, reconhecendo que aquele menininho frágil é Deus Soberano; o ouro, testemunhando que o pequeno ser é Rei verdadeiro e absoluto ao qual nos submetemos inteiramente; e a mirra, compreendendo o mistério da Sua vida à luz da Cruz e oferecendo a Ele os nossos trabalhos e fadigas para sermos menos indignos de Sua Majestade.

Assim como os pastores, devemos acorrer a Ele na nossa pobreza, na nossa humilde condição e compreender que Ele é, na verdade, o verdadeiro Pastor, Aquele que veio para nos atrair a Si, nós que andávamos desgarrados e perdidos, cada um em seu próprio caminho. (Isa 53,6)

E há aqui uma questão fundamental: muitos de nós nos aproximamos d'Ele como se fosse um ser inerte, uma imagem de gesso ou somente um infante que nada sabe. E, no entanto, estaremos diante de Deus. Isto é algo aterrador! Jacó, ao acordar do seu sonho, afirmou abismado: "que terrível é este lugar; é nada menos que a casa de Deus!". Com muito maior razão deveríamos repetir exclamação semelhante: "Que terrível é este menino; é nada menos que Deus Onipotente!" Triste é saber que muitas das nossas visitas ao Presépio são marcadas pela banalidade.

Jesus menino, ainda que não saiba falar, é Aquele que tudo sabe. S. Josemaría Escrivá, sobre isto, dizia: 

"Diante do Presépio, sempre procurei ver Cristo Nosso Senhor desta maneira, envolto em paninhos, sobre a palha de uma manjedoura; e, enquanto ainda é Menino e não diz nada, vê-lo já como Doutor, como Mestre. Preciso considerá-lo assim, porque tenho que aprender dEle."

Vê-Lo é deixar-se ver. Contemplar a nudez do pequeno Deus é expor a nossa própria nudez. O olhar de Cristo nos transpassa e penetra até o fundo. Aqui está um dos pontos que mais me tocam: não sei como não ficar constrangido diante d'Ele. Vê-Lo significa contrastar com Ele, a Humildade Encarnada, a minha vida marcada pela soberba e os meus caprichos egoístas. É contemplar o mistério da sua Kenose, do seu rebaixamento, a partir do falso alto da minha presunção. E Ele me vê a fundo. Como não ficar constrangido? "O amor de Cristo me constrange" (II Cor 5,14)

Este mesmo olhar, anos depois, incidirá sobre Pedro quando da sua negação. Jesus o olhará nos olhos e Pedro, sem poder recorrer a subtefúrgios, sem quaisquer outras máscaras sob as quais pudesse defender-se, absolutamente nu diante dEle, só pôde romper em choro por ter abandonado o seu Mestre. Quisera que o olhar do divino Infante produzisse efeito semelhante em nós que O contemplaremos. Quisera antes as lágrimas de amor do que o sorriso forçado de uma convenção.

Muito comovente, porém, é ver que, mesmo diante dos meus crimes, Ele não hesitou. Veio a mim e expôs-se. Conhecendo-me até a medula dos ossos, parecia antecipar-se ao meu constrangimento e dizer-me nos seus vagidos: "não temas". Foi o amor que O trouxe a uma terra estranha, onde experimentará a dor e a morte. Foi o amor que O levou à total entrega de Si mesmo para que, por fim, Ele pudesse garantir-me um lugar ao Seu lado. "Onde eu estou, quero que eles também estejam", dirá Ele em súplica ardente ao Seu Pai. 

Por fim, temos de amar o infinito amor humilhado. O amor implica imitação do amante com relação ao amado. Se amamos ao menino Jesus que é, nos termos de Sto Afonso, "excessivamente amável" no presépio, teremos de imitá-Lo. Se Ele se esvaziou, devemos nos esvaziar de nós mesmos. Se Ele se fez pequeno, devemos nos rebaixar para adorá-Lo. Se Ele, que repousava no Seio do Pai, humilhou-se até o ponto de chorar numa noite ao relento, não devemos ficar presos aos limites do nosso conforto. É preciso sair, enfrentar o frio da vigília ao relento e estar com Ele.

Imitá-Lo é abraçar a Sua pobreza, é querer unir-Se a Ele em amor perfeito. Se compreendêssemos bem estas coisas, a alegria do Natal brotaria naturalmente no íntimo da nossa alma e os nossos sorrisos denunciariam aquilo que S. Francisco definiu tão bem: "o cristão é alguém que não consegue esconder a sua alegria por ter descoberto tão precioso tesouro".

É esta alegria que eu desejo a todos os amigos do GRAA, a todos os leitores deste blog e a todos os seus familiares. Que a Virgem Santíssima nos conduza à contemplação deste adorável mistério e que, por suas mãos, o Cristo infante infunda nas nossas almas o fogo do amor cujo ateamento foi sempre o Seu único desejo.

Feliz Natal.

Fábio Graa.

A falsa paz da traição é desejada por soldados covardes


“Estão muito equivocados os que acreditam possível e esperam para a Igreja um estado permanente de plena tranquilidade; porém, é pior, e mais grave, o erro daqueles que se iludem pensando que alcançarão essa paz efêmera mediante a dissimulação dos direitos e interesses da Igreja, sacrificando-os aos interesses privados, diminuindo-os injustamente, comprazendo ao mundo, ‘no qual domina inteiramente o demônio’ (I Jo V,19), com o pretexto de captar a simpatia dos fautores de novidade e atraí-los à Igreja, como se fora possível a harmonia entre a luz e as trevas, entre Cristo e o demônio. Trata-se de sonhos doentios, de alucinações que sempre ocorreram e ocorrerão enquanto houver soldados covardes que deponham as armas à simples presença do inimigo, ou traidores que pretendam a todo custo fazer as pazes com os opositores, a saber, com o inimigo irreconciliável de Deus e dos homens”. 

S. Pio X, Encíclica Communium Rerum, de 21 de abril de 1909

Fonte: IPCO

Carol of Joy


CAROL OF JOY
by Dan Forrest

Green leaves all fallen, withered and dry;
Brief sunset fading, dim winter sky.
Lengthening shadows,
Dark closing in...

Then, through the stillness, carols begin!
Oh fallen world, to you is the song--
Death holds you fast and night tarries long.

Jesus is born, your curse to destroy!
Sweet to your ears, a carol of Joy!

Pale moon ascending, solemn and slow;
Cold barren hillside, shrouded in snow;
Deep, empty valley veiled by the night;
Hear angel music--hopeful and bright!

Oh fearful world, to you is the song--
Peace with your God, and pardon for wrong!
Tidings for sinners, burdened and bound--

A carol of joy!
A Saviour is found!

Earth wrapped in sorrow, lift up your eyes!
Thrill to the chorus filling the skies!
Look up sad hearted--witness God's love!
Join in the carol swelling above!

Oh friendless world, to you is the song!
All Heaven's joy to you may belong!
You who are lonely, laden, forlorn
Oh fallen world!
Oh friendless world!

To you,
A Saviour is born!

O Verbo eterno de grande se fez pequeno - queria ser amado, não temido - Sto Afonso



Parvulus natus est nobis et Filius datos est nobis.
Nasceu-nos um Menino e foi-nos dado um filho (Is 9,6)

Platão dizia que o amor atrai amor: Magnes amoris, amor. Daí o provérbio citado por S. João Crisóstomo: Se queres ser amado, ama. De fato, o mais seguro de cativar-se o afeto duma pessoa, é amá-la e dar-lhe a entender que é amada.

Mas, Jesus meu, essa regra, esse provérbio é para os outros, para todos os outros e não para vós. Os homens são gratos para com todos, menos para convosco. Não sabeis o que mais fazer para testemunhar aos homens o amor que lhes tendes; nada mais vos resta a fazer para conquistardes o coração dos homens. E quantos são os que vos amam? Ah! a maior parte, digamos melhor, quase todos não só não vos amam, mas nem sequer vos querem amar. Ainda mais: vos ofendem e desprezam.

Queremos também nós ser do número desses ingratos? Oh! não, que não o merece esse Deus tão bom, tão amante que, sendo grande, e duma grandeza infinita, quis fazer-se pequeno para ser amado por nós. - Peçamos a Jesus e Maria nos esclareçam.

Para se compreender qual foi o amor que determinou a um deus fazer-se homem e criancinha em favor dos homens, seria preciso ter uma idéia da grandeza de Deus. Mas que homem ou que anjo poderia compreender a grandeza divina que é infinita?

Segundo S. Ambrósio, dizer de Deus que ele é maior que os céus, que todos os reis da terra, que todos os santos é fazer-lhe injúria, como seria injuriar a um príncipe o dizer que ele é maior do que um calamo de erva ou uma mosca. Deus é a grandeza mesma, e toda a grandeza é apenas uma mínima parcela da grandeza de Deus.

Considerando essa divina grandeza, convencido de sua absoluta incapacidade para compreendê-la, Davi exclamou: "Senhor, onde encontrar uma grandeza comparável à vossa?" De fato, como poderia uma criatura, cuja inteligência é finita, compreender a grandeza de Deus, a qual não tem limites?: Grande é o Senhor, cantava o mesmo profeta; ele é digno de todo o louvor, e sua grandeza é infinita. - Não sabeis, disse Deus aos judeus, que eu encho o céu e a terra? De sorte que para falarmos segundo o nosso modo de entender, não passamos de atomozinhos imperceptíveis nesse imenso oceano da essência divina. Dizia o apóstolo: "Nele temos a vida, o movimento e o ser".

Que somos nós em relação a Deus? Que são todos os homens, todos os monarcas da terra, e mesmo todos os santos e todos os anjos do céu diante da infinita grandeza de Deus? Somos menos que um átomo relativamente ao mundo inteiro; e para falarmos como Isaías, todas as nações são na presença de Deus como a gota d'água suspensa no bordo do vaso, como o peso que faz pender apenas a balança; e todas as ilhas não são senão um pouco de pó; numa palavra, todo o universo é diante dele como se não existisse.


Ora esse Deus tão grande se fez criança, e para quem? Por nós: Nasceu-nos um Menino, disse ainda Isaías. Mas para que fim? S. Ambrósio responde: "Fez-se pequeno para nos tornar grandes: quis ser envolvido em paninhos para nos livrar das cadeias da morte; desceu à terra a fim de que pudéssemos subir ao céu".

Eis pois o Ser imenso feito criança; Aquele que os céus não podem conter, ei-lo enfeixado em pobres paninhos, e deitado num presépio estreito e grosseiro, sobre um pouco de palhas que lhe servem de leito e de travesseiro! S. Bernardo exclama: vinde ver um Deus que pode tudo, preso em paninhos de sorte a não poder mover-se; um Deus que sabe tudo, privado da palavra; um Deus que governa o céu e a terra, necessitando ser carregado nos braços: um Deus que nutre todos os homens e todos os animais, precisando dum pouco de leite para viver; um Deus que consola os aflitos, que é a alegria do paraíso, e que chora, que geme e que procura quem o console!

Em suma, diz S.Paulo que o Filho de Deus vindo à terra se aniquilou a si próprio. E por que? Para salvar o homem e para ser por ele amado. "Meu divino Redentor, exclama S. Bernardo, na medida que vos abaixastes fazendo-vos homem e criança brilharam a misericórdia e o amor que nos mostrastes a fim de ganhar os nossos corações."

Embora os Hebreus tivessem claro conhecimento do verdadeiro Deus que se lhes manifestara por tantos milagres, não estavam satisfeitos. Queriam vê-lo face a face. Deus achou o meio de contentar também esse desejo dos homens. Tomou a natureza humana e tornou-se visível a seus olhos, diz S. Pedro Crisólogo. E para melhor se insinuar aos nossos corações, continua o mesmo Santo, quis mostrar-se primeiro como uma criancinha, porque nesse estado ele devia parecer-nos mais grato aos nossos afetos. Sim, acrescenta S. Cirilo de Alexandria, ele se abaixou à humilde condição duma criancinha a fim de se tornar mais agradável aos nossos corações. Era esse, com efeito, o meio mais próprio para se fazer amar.

O profeta Ezequiel tinha pois razão de dizer, ó Verbo encarnado, que a época da vossa vinda à terra devia ser o tempo do amor, o tempo dos que amam. E com efeito por que outro motivo Deus nos amou tanto e nos deu tantas provas de seu amor, se não para ser amado por nós? Deus só ama para ser amado, diz S. Bernardo. Aliás o Senhor mesmo o declarou desde o início: E agora, ó Israel, que é o que o Senhor teu Deus pede de ti se não que o temas... e o ames? (Dt 10,12).

Para obrigar-nos a amá-lo, Deus não quis confiar a outrem o negócio de nossa salvação, mas quis fazer-se homem e vir resgatar-nos em pessoa. S. João Crisóstomo faz uma bela observação sobre a expressão de que se serve S. Paulo ao falar desse mistério; Ele nunca tomou a natureza dos anjos, mas tomou a carne dos filhos de Abraão. Por que, pergunta ele, não diz o apóstolo simplesmente que Deus se revestiu da carne humana, mas que a tomou como que à força, segundo a significação própria do vocábulo Apprehendit? E responde: disse assim por metáfora, para explicar que Deus desejava ser amado pelo homem, mas o homem lhe voltara as cotas e não queria reconhecer o amor que Deus lhe tinha.

Eis porque desceu do céu e tomou um corpo humano para se fazer conhecer e amar, como que à força, pelo homem ingrato que dele fugia.

É por isso que o Verbo Eterno se fez homem, e é também por isso que Ele se fez criança. Ele poderia apresentar-se sobre a terra como homem feito à semelhança do nosso primeiro pai Adão, mas o Filho de Deus preferiu mostrar-se ao homem sob a forma duma graciosa criança, a fim de ganhar mais depressa e com mais força o seu coração. As crianças são amáveis por si mesmas e atraem o amor de quem as vê. o Verbo divino fez-se menino, diz S. Francisco de Sales, a fim de conciliar o amor de todos os homens.


Ouçamos S. Pedro Crisólogo: "Não é por ventura desse modo que deveria vir a nós Aquele que queria banir o temor e fazer reinar o amor? Que alma haverá tão feroz que se não deixe vencer pelos encantos dessa criança? Que coração tão duro que não se enterneça à sua vista? E que amor não exige Ele de nós? Assim pois quis nascer Aquele que queria ser amado e não temido". O Santo Doutor nos faz compreender que, se o divino Salvador quisesse, vindo ao mundo, fazer-se temer e respeitar pelos homens, ter-se-ia apresentado sob a forma dum homem perfeito e cercado da dignidade régia. Mas, como procurava apenas ganhar os nossos corações, quis aparecer no meio de nós como uma criança e como a criança mais pobre e humilde, nascida numa fria gruta entre dois animais, colocado sobre a palha num presépio, sem lume e envolta em paninhos insuficientes para defendê-la do frio: Assim quis nascer Aquele que queria ser amado e não temido! Ah! Meu Senhor e meu Deus, quem pois vos obrigou a descer do trono dos céus, para nascerdes num estábulo? Foi o amor que tendes aos homens! Quem vos arrancou da destra do Pai Eterno, onde estais assentado, e vos deixou numa vil manjedoura? Vós que reinais sobre a abóbada estrelada, quem vos estendeu sobre a palha? Quem do meio dos anjos vos fez residir entre dois animais? Foi o amor. Vós abrasais os serafins, e tremeis de frio! Vós sustendes o céu, e é preciso que vos levem nos braços! Vós nutris homens e animais, e tendes necessidade dum pouco de leite para vos sustentar! Vós sois a felicidade dos Santos, e eu vos ouço chorar e gemer! Quem pois vos reduziu a tão grande miséria? Foi o amor: Assim quis nascer Aquele que queria ser amado, e não temido!

Amai, pois, almas cristãs, exclama S. Bernardo, amai essa criança que é tão amável! "Grande é o Senhor, merece louvores infinitos; pequeno é o Senhor, merece infinitamente nosso amor." Sim, diz-nos ele, esse Deus era desde toda a eternidade, como o é ainda agora e sempre, digno de todo o louvor e respeito por sua grandeza, como já cantou Davi: grande é o Senhor, e muito digno de louvor. Hoje porém que o vemos feito menino, necessitado de leite, sem se poder mover, tremendo de frio, vagindo, chorando, procurando quem o pegue, aqueça e console; ah! como é amável e caro aos nossos corações. O Senhor é pequeno e excessivamente amável!

Devemos adorá-lo como Deus, mas o nosso amor deve igualar à nossa veneração para com um Deus tão amável e tão amante.

"Uma criança, observa S. Boaventura, gosta de achar-se entre crianças, no meio de flores e nos braços dos que a amam". Se quisermos comprazer ao divino Infante, quer dizer o Santo, devemos tornar-nos crianças com ele, isto é, simples e humildes; levar-lhes flores das virtudes, mormente as da mansidão, da mortificação, da caridade; tomá-lo em nossos braços com amor.

"Que queres mais, ó homem, acrescenta S. Bernardino de Sena, que esperas ainda para te dares sem reserva a teu Deus? Considera as penas que Jesus sofre por ti; vê com que amor esse terno Salvador desceu do céu para te procurar. Não ouves os seus gritos, os seus vagidos infantis? Apenas nascido, dirige-se a ti; escuta como ele te chama com seus vagidos: Ó alma a quem amo, parece dizer-te, eu te procuro; é por amor de ti, para obter o teu amor que vim do céu à terra."

Ó Deus, os próprios animais, quando lhes fazemos algum benefício, quando lhes damos alguma coisa, mostram tanto reconhecimento! Vêm a nós, obedecem-nos a seu modo como sabem, testemunham-nos alegria ao ver-nos. E nós, como podemos ser tão ingratos para com Deus, que se deu a nós, que desceu do céu à terra, se fez menino para nos salvar e ser de nós amado? Amemos pois o Menino de Belém! exclama o seráfico S. Francisco. Amemos a Jesus Cristo que com tanto empenho procurou ganhar os nossos corações!

Sto Afonso de Ligório, Nascimento e Infância de Jesus Cristo

A Sombra da Cruz sobre o Presépio: Natal, Eucaristia, Abandono em Deus, Paixão e Ressurreição


Edith Stein

"E o Verbo se fez carne". Isto se tornou realidade no estábulo de Belém. Mas cumpriu-se ainda de outra maneira. "Quem comer a minha carne e beber o meu sangue, este terá a vida eterna." O Salvador que sabe que somos e permanecemos humanos, tendo que lutar dia após dia, com fraquezas, vem em auxílio da nossa humanidade de maneira verdadeiramente divina. Assim como o corpo terrestre precisa do pão cotidiano, assim também a vida divina em nós precisa ser alimentada constantemente.

"Este é o pão vivo que desceu do céu". Quem come deste pão todos os dias, neste se realizará, diariamente, o mistério do Natal, a Encarnação do Verbo. E este, certamente, é o caminho mais seguro, para se tornar "um com Deus" e de penetrar dia a dia de maneira mais firme e mais profunda no Corpo Místico de Cristo.

Eu sei que para muitos pode parecer um desejo por demais radical. Para a maioria, isto significa começar de novo, uma reorganização de toda a vida interna e externa. Mas deve ser assim! Na nossa vida deve se criar espaço para o Cristo eucarístico, para que Ele possa transformar a nossa vida na Sua vida: será que exigir demais?

A gente tem tempo para tantas coisas fúteis, tantas coisas inúteis: ler livros, revistas, jornais, frequentar restaurantes, conversar na rua 15 ou 30 minutos, tudo isto são "dispersões", onde esbanjamos tempo e força. Não se poderá reservar uma hora pela manhã para se concentrar e ganhar força para enfrentar o resto do dia?

Mas, na verdade, é necessário mais que uma hora. Devemos viver de tal maneira, que uma hora se suceda à outra e estas preparem as que vierem. Assim, não será mais possível "deixar-se levar" mesmo temporalmente pelo afã do dia. Com quem se vive diariamente, não se pode desconsiderar o seu julgamento. Mesmo sem dizer palavras, percebemos como os outros nos consideram. Tentamos nos adaptar conforme o ambiente e, se não conseguimos, a convivência se torna um tormento. Assim também acontece na comunicação diária com o Senhor. Tornamo-nos cada vez mais sensíveis àquilo que Lhe agrada ou desagrada. Se antes, estávamos mais ou menos contentes com nós mesmos, agora isto se torna diferente. E descobriremos em nós muita coisa que precisa ser melhorada (...). Assim nos tornaremos pequenos, humildes, pacientes e condescendentes com o "cisco no olho de nosso próximo", pois a "trave" no nosso olho nos incomoda. Finalmente, aprenderemos a aceitar-nos tal qual somos à luz da presença divina e a nos entregar à divina misericórdia, que poderá vencer tudo aquilo que está além de nossas forças.

Da auto-suficiência de um "bom católico" que "cumpre com seus deveres", que "lê um bom jornal" e "vota certo", etc. - mas que, no entanto, pratica o que ele bem quer - há um longo caminho até chegar a viver na mão de Deus e da mão de Deus, na simplicidade da criança e na humildade do cobrador de impostos. Mas quem uma vez andou, não voltará atrás. Assim, filiação divina quer dizer: tornar-se pequeno e, ao mesmo tempo, tornar-se grande. Viver da eucaristia quer dizer: sair, espontaneamente, da estreiteza da própria vida e penetrar na amplitude da vida de Cristo. Quem visita o Senhor na sua casa não quer se ocupar sempre e somente com seus problemas. Vai começar a interessar-se pelas coisas do Senhor. A participação no sacrifício diário nos leva livremente à totalidade litúrgica. As orações e os ritos do culto divino nos apresentam, no correr do ano litúrgico, a história da salvação diante da nossa alma, deixando penetrar-nos sempre mais profundamente de sentido.

E a ação sacrificial nos impregna sempre de novo o mistério central da nossa fé, o ponto angular da história universal: o mistério da Encarnação e Redenção. Quem poderia com coração aberto participar do santo sacrifício  sem ser tomado pelo desejo dele mesmo e com sua pequena vida pessoal se integrar na grande obra do Salvador? Os mistérios do cristianismo são um todo indiviso. Quando nos aprofundamos num deles, somos conduzidos para todos os outros. Assim, o caminho de Belém conduz, seguramente, para o Gólgota; do presépio para a Cruz. Quando a bem-aventurada Virgem levou a criança para o templo, foi-lhe profetizado que uma espada atravessaria a sua alma, e que esta criança seria a causa da queda e do reerguimento de muitos; um sinal de contradição. É o anúncio da paixão, da luta entre a luz e treva, que já se manifesta no presépio.

Em alguns anos a apresentação do Senhor coincide com a septuagésima, a celebração da encarnação e a preparação para a paixão. Na noite do pecado brilha a estrela de Belém. No esplendor da luz, que sai do presépio, cai a sombra da cruz. A luz se apaga nas trevas da sexta-feira santa, mas se levanta com mais fulgor, como sol da graça, na manhã da ressurreição. Através da cruz e da paixão para a glória da ressurreição, foi o caminho do Filho de Deus encarnado.

Chegar com o Filho do homem, pela paixão e morte à glória da Ressurreição, é o caminho de cada um de nós, por toda a humanidade.

Sta Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), O Mistério do Natal

O Natal é Mistério; não o reduzamos à nossa medida


É preciso ver o Menino, nosso Amor, no seu berço, olhar para Ele sabendo que estamos perante um mistério. Precisamos aceitar o mistério pela fé, aprofundar no seu conteúdo. Para isso necessitamos das disposições humildes da alma cristã: não pretender reduzir a grandeza de Deus aos nossos pobres conceitos, às nossas explicações humanas, mas compreender que esse mistério, na sua obscuridade, é uma luz que guia a vida dos homens.

Vemos - diz São João Crisóstomo - que Jesus saiu de nós, da nossa substância humana, e que nasceu de Mãe virgem; mas não entendemos como pôde ter-se realizado esse prodígio. Não nos cansemos tentando descobri-lo: aceitemos antes com humildade o que Deus nos revelou, sem esquadrinhar com curiosidade o que Deus nos escondeu. (In Matthaeum homiliae 4, 3 (PG 57, 43)).

Assim, com este acatamento, saberemos compreender e amar; e o mistério será para nós um esplêndido ensinamento, mais convincente que qualquer raciocínio humano.

S. Josemaría Escrivá, É Cristo que Passa

Natal, Eucaristia, Sacramento e Sacrifício


As relações entre o nascimento do Salvador em Belém com a Eucaristia considerada como Sacramento, também se estabelecem com a Eucaristia sob o aspecto de sacrifício.

Em verdade, é um cordeirinho que nasce em Belém: Jesus nasce como o cordeiro, no estábulo, e a seu exemplo conhece unicamente sua Mãe. Seu primeiro vagido é oferecer-se desde logo ao sacrifício: "Hóstias et oblationes noluisti, corpus autem aptasti mihi" - Pai, não quiseste senão me dar um corpo, eis-me aqui (cf. Sl 39,7-9; Hb 10,5-7). Este corpo é a condição necessária para a imolação, e Jesus o oferece a seu Pai.

O cordeirinho vai crescer, ao lado de sua Mãe, e, dentro de quarenta dias, Ela conhecerá o segredo de sua imolação. Maria O alimentará com seu leite puro e virginal, guardando-O para o dia do sacrifício. Este caráter de vítima está de tal forma gravado sobre Ele que São João, ao avistá-lO no primeiro dia de sua vida pública, O designou pelo nome de Cordeiro divino: "Ecce Agnus Dei, ecce qui tollit peccata mundi" (Jo 1,29)

O sacrifício começado em Belém se consuma sobre o altar na Santa Missa.

S. Pedro Julião Eymard, Flores da Eucaristia

O que é o Progressismo


"Que é Progressismo? É o novo nome do Modernismo, objeto de severa condenação por parte de São Pio X, na Encíclica "Pascendi Dominici Gregis". Um e outro tendem a "solapar pelos alicerces o Reino de Jesus Cristo". Por isso São Pio X os chamava de "os mais perigosos inimigos da Igreja". Não atacam de frente. Disfarçam. Habitualmente usam a baldeação ideológica inadvertida, ou seja, fazem uma lavagem cerebral mudando as idéias aos poucos sem a pessoa perceber.

O Progressismo não nega frontalmente o dogma revelado. Age mais através dos ambientes que vai criando com imprecisões de linguagem e termos ambíguos. Seus caminhos são tortuosos. Há, no entanto, um critério para surpreendê-los, que não falha. Todas as suas imprecisões, ambigüidades, novos formulários, etc, obedecem à mesma direção. Operam no sentido de afastar os fiéis da Tradição, das fórmulas tradicionais, dos limites precisos entre a verdade e o erro, dos costumes elaborados lenta e seguramente pelos séculos de Cristianismo, de tudo enfim que indique, sem o menor perigo de engano, o Cristianismo autêntico, ortodoxo, a fidelidade à Revelação e ao Espirito de Nosso Senhor Jesus Cristo."

Pe. Elcio Murucci

A vaidade e a falsa argumentação


Dialética erística é a arte de discutir, mais precisamente a arte de discutir de modo a vencer, e isto per fas et per nefas (por meios lícitos e ilícitos). De fato, é possível ter razão objetivamente no que diz respeito à coisa mesma, e não tê-la aos olhos dos presentes ou inclusive aos próprios olhos. Assim ocorre, por exemplo, quando o adversário refuta minha prova e isto é tomado como uma refutação da tese mesma, em cujo favor se poderiam aduzir outras provas.

Neste caso, naturalmente, a situação do adversário é inversa àquela que mencionamos: ele parece ter razão, ainda que objetivamente não a tenha. Por conseguinte, são duas coisas distintas a verdade objetiva de uma proposição e sua validade na aprovação dos contendores e ouvintes. 

Donde provém isso? Da perversidade natural do gênero humano. Se esta não existisse, se no nosso fundo fôssemos honestos, em todo debate tentaríamos fazer a verdade aparecer, sem preocupar-nos com que ela estivesse conforme à opinião que sustentávamos no começo ou com a do outro; isto seria indiferente ou, em todo caso, de importância muito secundária. No entanto, é isto o que se torna o principal. Nossa vaidade congênita, especialmente suscetível em tudo o que diz respeito à capacidade intelectual, não quer aceitar que aquilo que num primeiro momento sustentávamos como verdadeiro se mostre falso, e verdadeiro que o adversário sustentava.

Portanto, cada um deveria preocupar-se unicamente em formular juízos verdadeiros. Para isto, deveria pensar primeiro e falar depois. Mas, na maioria das pessoas, à vaidade inata associa-se a verborragia e uma inata deslealdade. Falam antes de ter pensado, e quando, depois, se dão conta de que sua afirmativa era falsa e não tinham razão, pretendem que pareça como se fosse ao contrário. O interesse pela verdade, que na maior parte dos casos deveria ser o único motivo para sustentar o que foi afirmado como verdade, cede por completo o passo ao interesse da vaidade. O verdadeiro tem de parecer falso e o falso, verdadeiro.

Arthur Schopenhauer, Como Vencer um Debate Sem Precisar Ter Razão.

Os homens têm forjado uma máscara de Cristianismo


"Têm-se os homens rebelado contra o cristianismo, verdadeiro e fiel a Cristo e à Sua doutrina. Forjaram um cristianismo à sua maneira. Um novo ídolo que não salva, que não se opõe às paixões da concupiscência da carne, à avidez do ouro e da prata, à soberba da vida. Enfim uma nova religião sem alma, ou uma alma sem religião. Uma máscara de um cristianismo". Pio XII


Fonte: A Grande Guerra

Max Jacob e o pecado de Judas


Do escritor surrealista francês, homossexual de origem judaica, convertido ao catolicismo:

"Você se julga menos culpado do que Judas, você, que recebeu a Hóstia de manhã e não se prepara para recebê-La de novo amanhã? Nossa! Este é o crime de Judas: receber seu Senhor e ir tratar de seus próprios negócios, traindo-O."

(Max Jacob, Méditations religieuses, Paris, Gallimard, 1947, p. 51)


Forte... Muito forte...

Congresso dá palmada na democracia brasileira


Dep. Líliam Sá, dep. Teresa Surita e dep. Érika Kokay. Foto: Larissa Ponce 

Edson Carlos de Oliveira 

O projeto de lei conhecido como “Lei da Palmada” (PL 7.672) foi aprovado, nesta quarta-feira (14), na Câmara dos Deputados, em uma Comissão Especial constituída de parlamentares favoráveis ao projeto. Prova? O texto foi aprovado por unanimidade com leves alterações que tornaram ainda mais generalizado e cartilaginoso o objetivo de coibir “castigos fisicos” que resultem “em sofrimento” na educação de “crianças e adolescentes”.

Democracia leva palmada no Congresso

Em atitude contrária aos tais “princípios democráticos” – cada vez mais transformados em entes de razão -, nas audiências públicas promovidas no Congresso, a Comissão Especial teve o cuidado de não convidar nenhum orador contrário ao projeto.

A sociedade pode demonstrar seu desacordo com o objetivo do PL 7.672 em várias enquetes promovidas por diversos sites, inclusive na Agência Câmara (Cf. Agência Câmara, IG, Politika, IPCO, R7 Notícias, Diário do Nordeste, Paraná TV, ).

Mas parece mesmo que vozes contrárias falaram no vazio e a palma da mão que os deputados querem coibir para a educação dos filhos, serviu tapar seus ouvidos. No chat promovido pela Agência Câmara com a relatora do projeto, Teresa Surita (PMDB/RR), perguntei a deputada se a “Lei da Palmada” irá para votação mesmo que as pesquisas demonstrem que a opinião pública não quer a aprovação dele. Vejam a resposta dela (os negritos são meus):

“Sim. O Projeto de Lei será apreciado e votado pela Comissão Especial da Câmara especialmente criada com este objetivo. A sociedade, como sabemos, é complexa. E muda de opinião à medida em que compreende o verdadeiro alcance de iniciativas que visam criar um melhor ambiente de convivência para todos” (Cf. Blog Sou Conservador, 8/11/11)

O problema é que a sociedade viu muito bem o “verdadeiro alcance” dessa iniciativa, não mudou de opinião e mesmo assim o projeto foi votado e aprovado por unanimidade. É de se perguntar que valor tem uma democracia que se diz representativa, mas que na realidade não representa os anseios da nação, mas sim do partido no governo.

Alterações para pior

Antes de ser colocado em votação, Teresa Surita apresentou mudanças no texto da lei. Ao invés de “castigo corporal” o texto proíbe “castigo físico” para evitar, segundo exigência inócua de alguns deputados, que a interpretação vede qualquer tipo de punição ou limites aos filhos (Cf. Agência Câmara, 14/12/2011). Inócua, digo, porque, segundo outra alteração, será proibido qualquer “castigo físico” que resulte não somente em “dor”, mas em qualquer forma de "sofrimento".

A “Lei da Palmada” ainda prevê “multa de 3 (R$ 1.635,00) a 20 salários (R$ 10.900,00) para médicos, professores e agentes públicos que não denunciarem castigos físicos, maus-tratos e tratamento cruel” (Cf. Estadão.com, 15/12/2011).

O que o projeto entende por “tratamento cruel”? Trata-se de “conduta ou forma cruel de tratamento que humilhe, ameace gravemente ou ridicularize a criança ou adolescente“. Dar uma bronca em seu filho no meio da rua, por exemplo, pode se tornar tão ilegal quanto vender drogas.

“Na educação de crianças e adolescentes, nem suaves palmadinhas nem beliscões nem xingamentos nem qualquer forma de agressão, tenha ela a natureza e a intensidade que tiver, pode ser admitida“, afirmou a deputada Surita (Cf. Estadão.com, 15/12/2011).

Para Dr. Lino de Macedo, do Departamento de Psicologia Social da Aprendizagem e do Desenvolvimento Humano, da USP, embora contrário ao uso da palmada e dos castigos físicos, o PL 7.672, além de desnecessário e inócuo, gera uma desautorização da família e dos agentes educacionais – que já se sentem muito desautorizados – sobre a educação das crianças. (cf. Notícias UOL, 15/12/2011).

A “Lei da Palmada” segue agora direto para o Senado onde esperamos que rejeitem essa interferência do Estado na família e que a palma da mão dos senadores não seja utilizada, a exemplo da Comissão Especial, para tapar os ouvidos às opiniões contrárias.

Fonte: IPCO

The Christmas Story - Beautiful

Ainda sobre o Planejamento Familiar


"O filho único é uma vítima dos pais" Nelson Rodrigues

Ao ver que alguém veio neste blog procurando algo a respeito deste tema tão polêmico e tão pouco conhecido na sua inteireza, mesmo entre os católicos, lembrei-me de uma carta que a este respeito eu li há alguns dias, disponibilizada no excelente site Montfort e que transcrevo pra cá. Boa leitura.

**
Ana, Católica, 29 anos, pós-graduação concluída

PERGUNTA


Boa noite, gostaria de saber se existe algum método natural seguro   de planejamento familiar. Sei que a Igreja aprova os métodos Muco Cervical e   Temperatura Basal, porém, tais possibilidades não me foram recomendadas por   minha médica. Por isso, gostaria de saber se existe algum outro mecanismo   para que eu e meu noivo possamos planejar nossa família com   responsabilidade.
Obrigada,
--

RESPOSTA


Prezada Ana, Salve Maria!

Quis reservar para mim o prazer de responder a sua carta pois, a situação que você tem agora diante de si, foi a minha há 16 anos atrás: como formar uma família católica. Deus julgará os resultados, mas do ponto de vista da satisfação pessoal, posso dizer que sou extremamente feliz. Tenho seis filhos e ainda não perdi a esperança de ter um sétimo.

O planejamento familiar que a doutrina católica lhe recomenda é: tenha filhos.

E por que não? Você concorda comigo que o argumento "econômico" é hoje em dia universal? "Não temos condições de ter mais do que x filhos." Não pode o rico, não pode o remediado, não pode o pobre. E ai de quem acha que pode! Desperta a fúria de pessoas a quem jamais pediu qualquer ajuda... decerto serão estes os gerentes financeiros da humanidade!

Já se sabe porém que é falso o temor de que a humanidade vai morrer de fome em breve, por culpa dos procriadores inconscientes. Como evidências disto estão aí os resultados espetaculares da agricultura nas últimas décadas e o crescimento geral da riqueza em todos os países.

Mas e a superpopulação? Como imaginar o mundo apinhado com mais bilhões - talvez trilhões - de novos seres humanos? Mais do que imaginar, veja-se, ao invés disso, o drama muito real dos países europeus em queda populacional, às voltas com crises na previdência - já não há trabalhadores jovens para sustentá-la - e uma forte imigração mal digerida - e inevitável pois não há europeus para ocupar os postos de trabalho. É a taxas de fertilidade abaixo ou próximas de um filho por mulher, e ainda caindo, que a Europa Ocidental pode agradecer tais crises.

Dizem os demógrafos que a população mundial se estabilizará por volta de 2050. Porém, o processo de limitação intencional da natalidade, começado na França no fim do século XVIII, praticamente não parou de crescer em parte alguma. Um dado curioso deste problema são as estatísticas que contrapõe o número de filhos desejados por mulher com o de filhos realmente nascidos: este número permanece estável desde a década de 50, entre dois e três filhos, enquanto o número real de nascimentos despenca constantemente. Parece haver na ideologia da limitação de filhos uma força de coerção que sobrepassa inteiramente os desejos individuais.

Mas e a saúde? Pense-se na pobre mãe exaurida por um número elevado de gravidezes... Mentira que conta com a falta de memória das atuais gerações! Pense-se antes no grande aumento dos cânceres femininos que é o resultado da falta de filhos: os especialistas concordam em que a gestação é um processo extremamente benéfico para a saúde da mulher.

Em todo caso, haja paciência para ter um monte de filhos! Deve ser um caos, uma família enorme! Não. É movimentada, divertida, variada, harmoniosa - mesmo com adolescentes turbulentos que podem ser por vezes um tanto ingratos, por falta de compreensão. E a conversa à mesa substitui com vantagem a vida dos outros que as famílias modernas freqüentemente vão buscar nas novelas, por falta de conteúdo de sua própria vida familiar. Não há o tirano que os psicólogos infantis vêem no filho único, nem a preocupação excessiva com o futuro do casalzinho - "se você tiver sorte terá um casalzinho"! Há irmãos e irmãs de todas as idades, para todas as ajudas, com quem se tem que dividir o quarto, o pote de sorvete e a janelinha - sem brigar, hem?

Falei demais e não respondi à sua pergunta: não há métodos totalmente seguros para se evitar filhos?

Há só um que a Igreja sempre exaltou e que o mundo odeia: o celibato.

O mundo obtém resultados mais eficazes porque não tem tantos escrúpulos morais: esterilização cirúrgica, aborto precoce ou tardio, ingestão de hormônios e "otras cositas más" que permitem 100% de prazer e 0% de responsabilidade, além de uma desagregação social, e um apodrecimento moral nunca vistos.

Refiz a pesquisa no site de busca que você indicou e também não encontrei nada de realmente interessante sobre este assunto. Há alguns documentos pontifícios sobre a questão e alguns livros meio antigos que eu poderia procurar para lhe recomendar. Se lhe interessar, volte a nos escrever.

Antes de encerrar, permita-lhe elogiar a preocupação de ser fiel à orientação da Igreja.

Reze para ver a solução de seu problema porque Deus jamais recusa o auxílio a quem pede convenientemente. Reze também por nós, que aguardamos um novo contato como de uma nova amiga.

In corde Iesu,   
Lucia Zucchi 

Fonte: Montfort
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