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Dia de Corpus Christi - Mistério insondável


Dia desses, fui à Missa e, olhando a Eucaristia, me pus a meditar..

A Eucaristia é Deus. Às vezes, a gente acha que entende o que é isso, mas não entende. Qualquer conceito que possamos ter de Deus, por mais elevado que seja, é sempre analógico e nunca literal. O que Ele é nos escapa. Por isso dizemos apenas que Ele é.

Neste sentido, escreveu S. Gregório de Nissa, na sua Vida de Moisés:

"Todo conceito formado pelo entendimento para tentar atingir e abranger a natureza divina não consegue mais do que forjar um ídolo de Deus, em vez de fazer conhecê-Lo."

Qualquer teologia que suponha poder dizer estritamente quem é Deus torna-se herética no ato mesmo de pretendê-lo. Quem é Deus? Não sabemos. As nossas afirmações d'Ele são sempre comparativas.

Se não sabemos isto, como pretendemos entender o fenômeno da Eucaristia? Simplesmente, não dá.. Podemos ter uma Fé profunda de que Deus está ali, mas a Fé é justamente a "visão obscura", o "ver confusamente" de que fala S. Paulo. Por isso, a Sta Edith Stein costumava dizer que a Eucaristia é "o pão seco dos fortes", pois é preciso ser forte, no sentido de vencer a nossa tendência natural de exigir comprovações e gostos sensíveis, como fazem as crianças com os alimentos, para encontrar ali o Cristo. Sta Faustina Kowalska dizia o mesmo: "A fé firme rasga este véu". E é assim mesmo que Deus o quer, pois diz São Paulo: "O justo vive pela fé" e "sem fé é impossível agradar a Deus." Jesus o exprime de modo claro: "Felizes os que crêem sem ter visto", e Tomás de Aquino, o doutor angélico, por sua vez, escreve em que consiste esta força: "Se não vês nem compreendes, gosto e vista tu transcendes, elevado pela Fé." (Lauda Sion)

A Fé, portanto, não indica um bloqueio no sentido de nos deixar aquém daquilo que é percebido pelos sentidos. Pelo contrário, a Fé nos leva além deles, a um tipo de conhecimento que é tão intenso e se aproxima tanto da luz que, antes, nos ofusca. Mas, ao nos ofuscar, nos ilumina e nos prepara, gradativamente, para a visão. Os olhos incandescidos tendem a adaptar-se aos poucos à luz. A Eucaristia, exigindo-nos a Fé, nos prepara para a visão beatífica.

A Eucaristia é Deus. Ao dizê-lo, abre-se diante de nós um abismo de horizontes infinitos. Como esgotá-lo com o entendimento? Não dá. Os sentidos não o apreendem. A razão apenas assente. E, no entanto, Deus verdadeiramente Se dá, e nós O recebemos, e O comemos.

Deus é a raiz mesma da realidade. É a realidade por si mesma subsistente. É a realidade real por excelência. Duvidar da Eucaristia, portanto, é um contrassenso, pois é duvidar daquilo que é mais verdadeiro que qualquer verdade que conhecemos. Sob as espécies do Pão e do Vinho está aquele que disse: "Eu sou a Verdade" (Ego Sum Veritas).

Nós, que vivemos num mundo efêmero e frágil, que passa como um piscar de olhos, que é um momento entre duas eternidades, como bem o disse Sta Teresinha de Lisieux, ao receber a Eucaristia, recebemos Aquele que É, que não é suscetível de mudanças, que criou e sustenta todas as criaturas; Aquele ao qual tudo o que existe deve sua existência. Comemo-Lo e, ao fazê-Lo, sofremos uma espécie de adensamento da realidade. Nos tornamos mais nós mesmos, pois estamos comendo a própria Verdade. A Eucaristia, portanto, reforça o nosso ser, e tenderá necessariamente a iluminar a inteligência, permitindo-nos conhecê-Lo e conhecer-nos. Conhecer-nos é a raiz da humildade, que é início de qualquer virtude. A Eucaristia, assim, é causa eficiente de uma profunda dinâmica interior que culminará na santidade ou perfeita identificação com o Cristo, se o permitirmos. Não é outra coisa o que Ele mesmo diz a Sto. Agostinho:

"Ao comer-Me, não és tu que Me transformas em ti, mas Eu que te transformo em Mim."

Que mistério.. Uma criatura, abismo de nada, recebe em si mesma Aquele que é o tudo. Como pode um buraco na areia receber o oceano? Deus não pode, depois de recebido, não abrir a amplitude interior da alma, não torná-la grande, não estendê-la ao infinito, não dispô-la a Si. Se o recipiente torna o recebido semelhante a si, aqui se dá o inverso: é o recebido que adapta o recipiente. 

Neste dia de Corpus Christi, nós possamos contemplar o mistério absolutamente inefável da Eucaristia, o amor e a humildade vertiginosos que se comprimem ali, naquelas aparências tão vizinhas do nada, como dizia Sta Teresa D'Avila, e aceitar o fato de que não O vemos nem O entendemos. Não desejemos vê-Lo nem compreender tal mistério. Desejemos apenas amá-Lo e acreditar na Fé que nos diz que, naquele pequeno objeto frágil, magra hóstia branca, há um sobre-excesso de ser, uma raiz de eternidade, ou, como diziam os antigos, o remédio de imortalidade, pois, "quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna." (Jo 6,54)

Fábio

O Panteísmo e a Gnose, fundadores da Modernidade, contra a Igreja


Prof. Orlando Fedeli

"Com a morte de Cristo no Calvário, o homem foi redimido e o Reino de Deus começou de novo a existir, por meio da Igreja. Com a morte de Jesus na Cruz, o demônio foi vencido e começava a ser construída solidamente a Civitas Dei. 

Ela teve como fundamento a verdade revelada por Cristo e o sangue vertido por Cristo no Calvário. A Cidade de Deus foi combatida incessantemente na História, ora pela violência - pelo leão panteísta -, ora pela astúcia da heresia suscitada pela serpente. Violência e heresia se sucedem na História, atacando a Igreja Católica. 

Logo depois do Calvário, supremo ato de violência deicida cometida pelo fermento fariseu, começaram as perseguições na arena romana. O sangue dos mártires foi semente de cristãos. Em 313, o edito de Constantino livrou a Igreja da violência romana. Imediatamente nasceram as grandes heresias cristológicas: o arianismo (317), o nestorianismo, o eutiquismo, a iconoclastia, para citar algumas heresias orientais.

Vencida estas pelos grandes Padres da Igreja e pelos grandes Concílios, recomeçou a perseguição violenta à Igreja Católica, através do maometismo, nascido da pregação de um rabino, em Meca. As cruzadas puseram um dique à expansão islâmica. Surgiu então a gnose cátara que quase destruiu a Cristandade. Simão de Montfort e a Santa Inquisição salvaram a Igreja, a civilização, e a própria humanidade, como reconheceu o historiador protestante Lea.

A Gnose se refugiou no Trovadorismo e no Humanismo.

A Cidade de Deus alcança seu apogeu na Idade Média, no século XIII. Foi nessa época histórica que o homem alcançou o equilíbrio tetraédrico, alcançou a mais alta sabedoria com base na Metafísica escolástica de São Tomás de Aquino.

Desgraçadamente, num mesmo ano, em 1274, a Igreja perdeu São Tomás e São Boaventura.

Com Duns Scoto - declarou-o Bento XVI em sua aula magistral de Regensburg - com Duns Scoto a Catedral do Saber medieval, a Escolástica, começou a ser destruída. Esse filósofo franciscano defendeu a univocidade do ser, e destruiu a analogia escolástica. Ele fez triunfar o voluntarismo independente do intelecto.

De Duns Scoto nasceram a Gnose do dominicano Mestre Eckhart, e o Panteísmo do franciscano Frei Guilherme de Ockham, dos quais vai nascer a Modernidade.

Esses dois naturalistas perverteram a Verdade católica.

Perverteram... Isto é, colocaram a verdade em seu versum, em seu avesso.

Desde então, como confessou Hegel, nasceu a Filosofia como a "ciência que coloca o mundo às avessas".

Colocar o Mundo às avessas. Fazer da Verdade, mentira. Do bem, mal. Fazer a criatura ser Deus. Identificar Deus, o Eu e o Mundo. Inverter o tetraedro. Negar o intelecto e o conhecimento racional. Instaurar a dialética gnóstica, que afirma a identidade dos contrários. A mentira como verdade. O diabo como Deus.

Repetiu-se o pecado de Adão.

Repetiu-se o pecado antimetafísico.

E foi desse pecado antimetafísico que nasceu a Modernidade.

O Pecado de Adão.

A salvação pelas obras ou pelagianismo


Quando Lutero e os primeiros reformadores protestantes assinaram a Confissão de Augbsburgo, um dos pontos levantados contra os católicos era a suposta fé destes na salvação pelas obras, o que parecia significar a crença numa espécie de "compra" do céu, ou de barganha com Deus, ou, pelo menos, sugeria que o céu estava ao alcance natural do esforço humano.

Mas e qual é a fé da Igreja? É esta?

Não, nunca foi. Mas, ainda que assim não seja, é fato que muitos dos católicos hodiernos, sobretudo alguns dos que assumiram o grave cargo de pastores de alma, crêem nessa tese, o que se reflete, seja nas suas pregações, seja nas suas ações. Analisemos os pressupostos e as consequências de uma tal posição.

Primeiramente, esta idéia já foi condenada pela Igreja, no Conc. de Éfeso, em 431 d.C. Havia, então, um bispo chamado Pelágio - daí o nome pelagianismo - e que negava algumas verdades fundamentais da Fé. Segundo ele, primeiramente não existia nenhuma repercussão do pecado original nos homens. O nosso livre arbítrio permanecia intacto. Logo, não havia nenhuma necessidade da graça de Deus para que uma pessoa pudesse alcançar uma vida em conformidade com o Evangelho. Então, é falso que Jesus morreu para redimir os homens. Como se vê, esta heresia tocava no centro mesmo da teologia católica. Pelágio foi combatido por Sto Agostinho, que não à toa foi chamado de o "Doutor da Graça". 



Nota-se que o pelagianismo possui um acento naturalista: o homem possui a capacidade natural de salvar-se. A vinda de Cristo teria nos servido apenas de exemplo. Dispensa-se qualquer trabalho efetivo d'Ele em nós. Isto poderia levar, também, a uma espécie de ateísmo prático. Seja como for, o pelagianismo não pode ser cultivado senão por alguém com uma ignorância monumental das próprias bases da Fé Cristã, que são:

- O Pecado Original é real: Adão e Eva pecaram, e a consequência do pecado deles foi comunicada a todos os homens. Por causa disso, o mal e a morte entraram no mundo. E é por isso que Nosso Senhor fala que é preciso nascer de novo. Um novo nascimento é necessário porque o primeiro nascimento foi estragado. Bento XVI escreveu, certa vez, que negar o pecado original é perigoso, pois, então, suporemos uma neutralidade no ser humano onde ela não há. Isto pode levar a exposições indevidas que trarão consequências não previstas.

- Cristo morreu para nos redimir. Sem Ele, não há qualquer esperança de Salvação. Ao contrário do que comumente se pensa, o céu não nos é devido. E é por isso que a Escritura fala que nenhum outro nome nos foi dado do alto pelo qual possamos ser salvos. Ou seja: não há redenção sem Cristo. Pensar no céu como uma mera recompensa dos próprios esforços é imbecil e megalomaníaco.

- Cristo age em nós pela Graça Santificante. Esta é uma das realidades mais ignoradas pelos católicos atuais. Se não há Graça, não há vida da alma. Se não há vida da alma, uma pessoa não pode salvar-se. Isso significa, também, que, ainda que uma pessoa faça mil e uma ações grandiosas em prol dos pobres, ou outros atos de devoção, se ele não está em graça, estas coisas são incapazes de torná-lo amigo de Deus e restituir-lhe o dom da Graça. Logo, é absolutamente falso que uma pessoa pode chegar a ser salva por si mesma. Se isso fosse possível, a morte de Cristo seria desnecessária, o que é uma blasfêmia.

O Pelagianismo, portanto, consiste numa espécie de auto-suficiência humana, verdadeiramente demoníaca - pois foi o demônio quem nos prometeu que seríamos como deuses - e, portanto, é totalmente oposta à verdade do Cristianismo. É uma heresia perniciosa, e, não obstante, tem sido pregada como se fosse o próprio catolicismo. 

Isso não quer dizer, obviamente, que as obras não sejam importantes. Não aderimos ao princípio autocontraditório da Sola Fide, por ser, inclusive, antibíblico. Mas, se as ações têm sua importância, esta reside dentro de um contexto que pressupõe necessariamente a Graça Santificante, pois é esta que nos incorpora ao corpo de Cristo, e é só então que, à semelhança da água misturada ao vinho antes da consagração, na Missa, nós podemos vincular os nossos pequenos sacrifícios e ações aos méritos infinitos da Cruz do Senhor. Ocorre conosco aquilo que Paulo já dizia: "completo em mim o que faltou à Paixão de Cristo". Os méritos existem porque, uma vez que estamos unidos a Jesus, Ele eleva as nossas ações à sua dimensão divina; nos sobrenaturaliza, nos faz transcender a pouca medida dos nossos esforços naturais. Nos torna deuses por participação.

Reneguemos, pois, com força, o pelagianismo e qualquer sombra de heresia, pois, por causa dele, não poucas são as pessoas que, enganadas, caminham sem sair do lugar.
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