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Maria, a nova Arca da Aliança


"[Quando Maria visita sua prima Isabel], é claro que os protagonistas do encontro se tornam explicitamente os meninos que as duas mulheres trazem no ventre. João exulta de alegria na presença do seu Senhor, realizando a profecia transmitida por Gabriel a Zacarias, isto é, que o menino haveria de ser purificado no seio materno. E Jesus começa a sua grande obra de santificação. Logo que foi concebido - não é um aglomerado de sangue, como pretendem os assassinos modernos que fizeram aprovar leis assassinas -, já é o Filho de Deus! Trata-se de um ensinamento que todas as mulheres que concebem um filho devem ter bem claro.

Depois, há um outro particular a realçar neste encontro de grande valor profético e salvífico que remete para um episódio bíblico e parece ser uma sua antecipação. Quando a Arca da Aliança, de que Deus tinha tomado posse cobrindo-a com a sua sombra para indicar a sua presença nela foi levada para Jerusalém pelo rei Davi, fez uma primeira paragem. O rei teve um momento de hesitação e de terror, por causa da santidade da arca, quando Uzá morreu inesperadamente só por ter ousado tocar nela. Então, Davi mandou que ela ficasse na casa de Obed Edom durante três meses, o mesmo período que Maria passou junto de sua prima. Depois, quando se decidiu que ela fosse transportada definitivamente para Jerusalém, sentiu toda a sua indignidade e exclamou: 'Como entrará a Arca do Senhor em minha casa?' (2Sm 6,9)

Todo esse episódio foi um sinal profético. A verdadeira Arca da Aliança é Maria, a quem o anjo disse: 'O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra', Isabel, também ela repleta da presença divina, repete quase as palavras humildes de David: 'E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?'. É realmente estupenda essa realização no plano de Deus que, a partir das antecipações veladas do Antigo Testamento, encontra as suas concretizações no Novo.

A Visitação relata-nos um dos episódios mais jubilosos da vida de Maria. Que não são muitos! A exultação de Isabel e a exultação de João Batista dizem-nos claramente a alegria gerada pela presença de Maria, onde quer que vá, onde quer que obtenha acolhimento. Porque com ela está sempre não só a presença de Jesus, que dá a graça da salvação, mas também a presença do Espírito Santo, que ilumina, que faz compreender os grandes mistérios de Deus.

Pe. Gabriele Amorth, O evangelho de Maria. Parede: Lucerna, 2014. p.31-32.

Só quem ama compreende.


Os seres humanos se sentem sós, abandonados em sua auto-afirmação, enquanto não encontrarem um eco, aceitação e confirmação de fora. A tendência de união encontrada em todo o universo, na vida humana apresenta-se em escala e graduação ascendentes, conforme os níveis de vida. No nível biológico, no "sexo", há apenas abraços, contato epidérmico, tentativa de penetração que, de maneira nenhuma, por mais repetidos que sejam, podem saciar o desejo de plena união. No nível emocional, na "paixão", no "Eros" atinge-se certo paralelismo, sintonização de vibrações psíquicas, projeção recíproca de emoções pessoais no parceiro. Um jogo a dois, mas que não é nem de longe verdadeira união. É no nível da vida consciente e livre, no nível pessoal, que se realiza verdadeira união.

O verdadeiro amor é amor-amizade. É união entre duas personalidades. É conhecimento, reconhecimento de um Eu para com outro Eu diferente, que se deve aceitar na realidade própria e inconfundível; mas não como lâmpada excitadora de sonhos e excitações; nem como manequim a vestir a esplêndida roupagem de nossa imaginação.

É significativo como a Escritura designa a união amorosa conjugal: "Adão conheceu sua mulher e ela o concebeu" (Gen 4,1). Não podemos conhecer uma pessoa como os demais objetos que nos rodeiam. A nossa inteligência é um receptáculo de capacidade elástica quase ilimitada: nele podemos receber o mundo todo, dando-lhe assim nova existência. Conhecer alguma coisa é dar-lhe existência reflexa dentro de nós. É uma espécie de nova criação. Quanto mais coisas conhecemos, mais se alargam os nossos horizontes, nosso mundo interior. A todos objetos podemos dar assim nova existência "subjetiva" dentro de nós. Menos a outras pessoas. Nenhuma pessoa é simples"objeto"; é sempre "sujeito", indivíduo: um mundo inteiro, fechado e inacessível a estudo "objetivo". Por mais que observemos e analisemos uma pessoa, não a "compreendemos", não a apreendemos completamente, transferindo-a para nosso mundo interior. A chave única que dá acesso ao "jardim fechado" do Eu diferente é o amor. Só quem ama, compreende.

Mas amar significa antes de tudo: sair do "jardim fechado" do próprio Eu. É abrir-se para encontrar porta aberta. Aí está a razão porque se ama tão pouco nesse mundo. Há uma dolorosa dissonância no homem. De um lado, aspira ardentemente à união que rompa o isolamento. Do outro, receia essa mesma união como ameaça à sua personalidade. Efeito ainda do pecado original. Tendo rompido o homem a união e harmonia com Deus, perdeu também a capacidade de estabelecer, com naturalidade e espontaneidade, relações mútuas, união harmoniosa. Sente-se por demais exposto, vulnerável, inseguro, ameaçado no seu valor pessoal. Mas amar é sempre abrir-se. E abrir-se é arriscar-se. O medo inibe. O egoísmo procura antes de tudo segurança. Mas, quando prevalece o instinto de segurança, nunca se chegará a amar. E sem amor não se encontra a plenitude da vida. A eterna desconfiança, o eterno medo tranca o homem dentro de si mesmo e fá-lo murchar, estiolar, atrofiar-se. Querendo salvar-se, tudo perde. Quem amar a sua vida (a sua segurança pessoal) acima de tudo, perdê-la-á; mas quem a perder (quem se ariscar, se abrir para o Tu), ganhá-la-á. Isso vale tanto para o amor humano, como para o divino. É preciso abrir a porta, senão a vida estancará no isolamento. A união é transfusão de novo sangue. Só nela se encontra sentido e felicidade. Nisso há evidentemente risco. Quem se abre, expõe-se ao perigo de ser invadido e explorado. Mas, antes a possibilidade de uma exploração, que a certeza de estiolamento.

Frei Valfredo Tepe OFM. O sentido da vida. Ascese cristã e psicologia dinâmica. 3ª ed. Bahia: Mensageiro da Fé, 1960. p. 230-232.

Instinto sexual e castidade III - Impulsos coercitivos e distinção entre intemperança e incontinência


Não se trata de chamar bom o que é objetivamente mau. Trata-se de desligar um sentimento culposo neurótico de atos que, na situação individual, estão fora do alcance da livre vontade. Só assim pode restituir-se o equilíbrio emocional e estender novamente o domínio da vontade a todos os territórios da alma que antes estavam bloqueados. "Frequentemente, a reação patológica desaparecerá na medida em que o aspecto moral da conduta não obsedar mais o paciente, constituindo a preocupação moral precisamente um aspecto do sintoma psicopatológico." (1)

Brenninkmeier defende a opinião de que é dever do confessor esclarecer os penitentes neuróticos sobre a falta de liberdade, respectivamente redução considerável dela, que modificam a responsabilidade em determinados atos. A maioria se debate em pensamentos autopunitivos dolorosos: eu "sabia" o que estava fazendo; se fiz, sou culpado... Não avaliam o poder de impulsos coercitivos que bloqueiam a vontade, deixando à razão sua plena lucidez. Quando o confessor "consegue convencer o neurótico de que seu estado não implica culpa, antes enfermidade; quando alcança dele que aceite os fatos amiúde humilhantes com espírito sereno, apoiando-se na bondade, misericórdia e compreensão de Deus, o enfermo encontrará em tais conhecimentos profunda paz; a graça sacramental fortalecerá sua alma; voltará a sentir gosto pela vida interior e perderá o sentimento aterrador causado pelo temor de ser inútil todo o trabalho pela santificação, já que nem conseguia manter-se na amizade de Deus, por grandes que fossem os esforços. Esclarecido o seu entendimento, logo o doente se livra de parte considerável de sua angústia e consegue enveredar por um caminho que contribuirá poderosamente para a cura." (2)

Não só em casos patológicos, mas também de um ponto de vista geral, sabe Sto. Tomás levar em consideração o impulso elementar dos desejos carnais. São para ele atenuantes e não agravantes do pecado. Quem peca pressionado por estímulo mais forte de concupiscência, cai por causa de uma tentação mais grave. daí é que lhe é imputada menos culpa." (3) Mais graves que os pecados carnais, são para ele os pecados espirituais, justamente porque neles falta a pressão e a solicitação dos impulsos psíquicos e biológicos. Tal classificação é apenas o reverso da ordem hierárquica como ele vê as virtudes. A castidade não é, para ele, de forma alguma, a maior virtude. Ela faz parte da temperança; e esta é a última das virtudes cardeais. Acima dela estão a fortaleza, a justiça e a prudência. E acima de todas, se encontram as virtudes teológicas: esperança, fé e, rainha de todas, a caridade.

Não é só a clássica ordem hierárquica que torna admirável a doutrina de Sto Tomás; sua moral, longe de ser casuística, é essencialmente dinâmica. Não julga sobre valor ou desvalor do homem por um processo de adição: somando atos isolados, sejam pecados, sejam atos meritórios. A direção geral impressa à vida é decisiva.

Isso aparece sobretudo na distinção entre "intemperança" e "incontinência." Incontinência é imperfeição de governo. Na essência há o predomínio da boa vontade que apenas não consegue impor-se plena e constantemente. Há quedas por fraqueza, paixão, curiosidade, etc. Sem inocentar tais quedas, cumpre reconhecer que são muito menos graves que os pecados cometidos por libertinagem e cinismo.

À libertinagem cínica, essa desistência de um ideal pessoal superior, dá-se o nome de intemperança. A direção total da vida é pervertida, encaminhando-se toda a energia do psiquismo em direção da satisfação carnal. Não é a intensidade do prazer, mas a direção geral impressão à vida, o que mais modifica a culpabilidade de um ato que, no mais, se apresenta rodeado das mesmas circunstâncias. Pela intemperança peca-se muito mais que pela incontinência; pois, de um lado, peca-se muito por hábito, de outro por paixão (4). Paixão, já o vimos, é fator atenuante. "Quem falta por ausência momentânea de domínio de si, arrepende-se depressa", diz Sto Tomás. Todavia a vontade de quem peca pela tendência habitual enraizada e não revogada da impureza visa diretamente ao pecado e dificilmente se arrepende; antes "alegra-se por ter pecado, pois o pecar tornou-se-lhe natural" (5). Sucumbir aos assaltos da paixão é fraqueza; pecar pela tendência pervertida da vontade é malícia.

Na intemperança completa, na direção total da vida para o prazer carnal, na luxúria é que vê Sto. Tomás o grande mal. A luxúria açambarca, monopoliza toda a energia da alma, tornando impossível a evolução superior da personalidade. É a principal acusação que Sto Tomás formula contra este pecado capital, pois esta principalmente, perverte e destrói a prudência. Torna a alma impermeável para as realidades restantes da vida. Cega a alma; já não a deixa ver os bens do espírito; e os bens terrenos, pessoas e objetos, apresenta-os sob o ângulo reduzido e exclusivo do prazer. (5)

Um inquérito entre universitários demonstrou que a promiscuidade sexual precoce paralisa, de certa maneira, a evolução ulterior, particularmente o amadurecimento afetivo. Tais criaturas serão, muitas vezes, incapazes de apreciar e compreender o valor de um verdadeiro e profundo amor único. O homem não pode desenvolver-se para todos os lados. O seu dinamismo não dá para tudo. Tem que escolher a direção e, com isso, fatalmente renunciar a outros rumos. Quem faz seu "ideal" consistir no desdobramento biológico, sobretudo sexual, priva-se do acesso à realização superior de si mesmo. Sto Tomás compara o libertino com o leão que ao ver o veado logo pensa em pasto de sua insaciável voracidade. Assim o escravo da impureza não vê mais as criaturas com simplicidade, no seu valor e beleza intrínsecos, mas apenas como objetos potenciais de sua satisfação.

Justamente aí aparece a desordem essencial da impureza, o seu caráter de pecado, pois pecado é desordem moral. Luxúria é, na sua essência, egoísmo brutal. A tendência sexual devia ser, conforma a idéia do Criador, porta aberta pra o ambiente. A desordem das relações sexuais fora do casamento consiste em que aqueles que a praticam estão tentando isolar uma só união (a sexual) de outras que devem acompanhá-la para, segundo os planos do Criador, formarem a união completa, rompimento do isolamento individual: "Serão dois numa só carne." (Gn 2,24)

Aí está a desordem: não em um "demais", mas em um "de menos". Não realizam a finalidade da tendência sexual: a união; fogem dela, de suas responsabilidades e encargos. Mais claramente: a desordem está no egoísmo que não quer dar-se, não quer unir-se, mas apenas procura unilateralmente a sensação subjetiva do prazer. Em vez de se abrir realmente para um Tu, fecha-se dentro de si mesmo; pois, quem reduz o parceiro a um objeto ou meio de prazeres, não entra em contato real com ele. A moral cristã não condena o prazer sexual; condena a tentativa de separá-lo de seu bem próprio ou de seu escopo natural: o bem comum da continuação do gênero humano e, secundariamente, o auxílio mútuo dos cônjuges. Procurando tais bens, tais fins, rompe o indivíduo o casulo do seu egoísmo e realiza-se pelo contato com o mundo ambiente. Mas procurando o prazer subjetivo, separado dessas finalidades objetivas, tranca-se outra vez, desastradamente, dentro de si mesmo. Aí está a grave desordem da luxúria.

(1) Nuttin, J. Psicanálise e personalidade, 1995, p.170.
(2) Brenninkmeyer, A. Tratamiento pastoral de los neuróticos, 1950, p.40-44.
(3) S. th. I. II. 73, 4.
(4) S. th. II. II. 156, 3.
(5) Ibidem.

Frei Valfredo Tepe OFM. O sentido da vida. Ascese cristã e psicologia dinâmica. 3ª ed. Bahia: Mensageiro da Fé, 1960. p. 115-119.

Reação das crianças quando perguntadas sobre o aborto - Inglês

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