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Ditadura do relativismo


Somos chamados a atingir (a plenitude do Cristo) para sermos realmente adultos na fé. Não devemos permanecer crianças na fé, em estado de menoridade. E em que é que consiste ser crianças na fé? Responde São Paulo: significa ser batidos pelas ondas e levados ao sabor de qualquer vento de doutrina... (Ef 4, 14). Uma descrição muito atual! Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantos modos de pensamento... A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi não raro agitada por estas ondas – lançada dum extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, até ao ponto de chegar à libertinagem; do coletivismo ao individualismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo e por aí adiante.

Todos os dias nascem novas seitas e cumpre-se assim o que São Paulo disse sobre o engano dos homens, sobre a astúcia que tende a induzir ao erro (cf. Ef 4, 14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é freqüentemente catalogado como fundamentalismo, ao passo que o relativismo, isto é, o deixar-se levar ao sabor de qualquer vento de doutrina, aparece como a única atitude à altura dos tempos atuais. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que usa como critério último apenas o próprio “eu” e os seus apetites.

Nós, pelo contrário, temos um outro critério: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. É Ele a medida do verdadeiro humanismo. Não é “adulta” uma fé que segue as ondas da moda e a última novidade; adulta e madura é antes uma fé profundamente enraizada na amizade com Cristo. É essa amizade que se abre a tudo aquilo que é bom e que nos dá o critério para discernir entre o que é verdadeiro e o que é falso, entre engano e verdade.

Devemos amadurecer essa fé adulta. A essa fé devemos guiar o rebanho de Cristo. E é esta fé – e somente a fé – que cria unidade e se realiza na caridade. Em contraste com as contínuas peripécias daqueles que são como crianças batidas pelas ondas, São Paulo oferece-nos a este propósito uma bela palavra: praticar a verdade na caridade, como fórmula fundamental da existência cristã. Em Cristo, verdade e caridade coincidem. Na medida em que nos aproximamos de Cristo, assim também na nossa vida, verdade e caridade se fundem. A caridade sem a verdade seria cega; a verdade sem a caridade seria como um címbalo que tine (1 Cor 13, 1).

Cardeal Joseph Ratzinger
Parte do texto da homilia do então Cardeal Joseph Ratzinger, futuro Bento XVI, pronunciada na Missa Pro Eligendo Pontífice, celebrada no dia 18 de abril de 2005.

Fonte: www.quadrante.com.br

Votos de Feliz Natal


Meus queridos amigos, quero aproveitar também este espaço para expressar meus sinceros desejos de um santo e feliz natal a todos os amigos e leitores deste humilde blog.

Que neste tempo tão profundo, a nossa alma possa imitar os pastores e os reis magos que, prostrando-se, adoraram o menino Deus, o Verbo Eterno que se havia encarnado.

Que a nossa alegria seja santa e pura, e que nesta santa ocasião, nós não nos dispersemos, mas permaneçamos na doce e suave contemplação do terno e divino infante que dorme no colo da Virgem. Lembremos que hoje é o Seu aniversário. Para ele, o melhor presente: o nosso coração vazio dos desejos mundanos e movido somente por amor e gratidão a um Deus que visita a nossa miséria e faz-se um de nós para nos resgatar e unir-nos a Ele.

A Jesus Cristo, glória eterna! Que todo joelho se dobre, que toda língua professe, que todo coração se renda, que toda alma adore o menino Deus, Jesus Cristo, o Amor feito carne.

E que, enfim, a nossa alma seja também um presépio, onde Sua Majestade se digne limpar e habitar. Mas, para tal, sejamos pobres, pobres de espírito, como era pobre a gruta onde quis nascer nosso divino Salvador.

Oh Pobreza, esposa de Francisco, sede também a minha para que, ornado de vossa beleza, eu possa atrair os divinos olhares de meu eterno Mestre, por quem morro de amor! Amém!

Virgem Santíssima, ensina-me teu segredo... e recebe também, Santíssima Pastora, o meu profundo amor, Senhora Minha e Dona de todo o meu ser. Amém!
Fábio Luciano

O Natal do católico


Dom Lourenço Fleichman OSB

Para nós, católicos, que procuramos viver neste mundo sem desmerecer o nome de Cristo, que procuramos guardar um mínimo de coerência e de fidelidade, quando não um sincero desejo de santidade, chegamos neste final de 2008 a mais um Natal. Para eles não.

Nós, católicos, que, ao levantar pela manhã, dobramos os joelhos e piedosamente fazemos o Sinal da Cruz e a oração da manhã; que durante o dia, entre conduções e cachações, tentamos rezar uma dezena do Terço ou, quem sabe, o Terço inteiro; nós que, ao regressar ao lar, antes de deitar, agradecemos por termos sobrevivido, por termos correspondido a alguma graça, e mesmo amado, de amor canhestro e sem jeito, nesses dias de Natal poderemos cantar com júbilo nosso Adeste Fidelis e nossa felicidade será pura e verdadeira. A deles não!

Para nós é mais um Natal, sempre novo porque a graça é a única novidade neste mundo; para eles tudo é velho, pior! velhaco, corrompido, ultrapassado, pois não há nada de novo sob o sol. Por que festejam, então? Porque trocam presentes, se não buscam a santidade, se não rezam, se não crêem nesta Criança, nesse Deus, "que hoje nasceu para nós"? Ah!, se ao menos eles fossem coerentes com sua soberba, se soubessem rechaçar de todo o Cristo, não tentando desejar uma Felicidade que não lhes pertence e que, no fundo, desprezam. Permitam-me dizer: eu odeio a tal Solidariedade. Nada mais falso do que a falsa bondade dessa gente que sai por aí dando abraços em todos que encontram, os mesmos que na véspera desprezavam e de quem se riam. Que paz é essa? Que mundo é esse?

Esse mundo ainda treme de um estremecimento profundo. Seus alicerces ainda vibram enquanto telhas e janelas racham em pedaços; esse mundo ainda teme ver desabar toda a sua estrutura. Evacuar! é o grito que seguram na garganta e que deverá ser gritado quando a coisa toda desabar. "E não ficará pedra sobre pedra". O problema é que o mundo não é um edifício. O mundo globalizado que sonhou com o governo mundial, que pregou a religião única da Liberdade Religiosa a todo preço, criou essa situação: evacuar para onde? O que acontece com as pessoas quando, presas no alto de um edifício que desaba ou pega fogo, não encontram mais saída? Num ato de desespero, de medo, de terror, lançam-se no abismo porque têm medo de sofrer. Assim acontecerá com esses homens das finanças, com os governantes falsos de um mundo de mentirinha. Porém, eles não têm para onde correr. Descobriram a grande mentira. O mundo financeiro já ruiu, e os governantes foram obrigados a mexer suas peças no tabuleiro, mudar sua estratégia e fingir que oferecem muita segurança às empresas quebradas e aos cidadãos assustados. Parece fácil e parece um alívio: alguns bilhões disso para você, outros bilhões daquilo para o outro... e não esqueçam de produzir novelas para as 6, para as 7, para as 8 horas, porque o povo tem direito a se divertir. E no meio do caminho, tem o Natal, para aliviar todas as tensões. Ora, creio que a tsunami de 2008 é bem pior do que a do Natal de 2004. Naquela, morreram alguns milhares e partiram para o juizo diante de Deus. Nessa, é toda a humanidade que se atola na mentira para esconder a sem vergonhice e a falsa moral dos grandes desse mundo. Você acredita em Barack Obama? Você acredita no livre mercado da China, ou na "conversão" de Cuba? Pois continuem, sigam em frente. Não há Natal para vocês, pois o que vocês festejam é falso como o mundo em que vivemos.

Só existe um Natal verdadeiro, mas este está escondido aos olhos do mundo. Só existe o Natal onde a fé nos transporta, nos ilumina a inteligência e nos revela um mundo maravilhoso que só podemos conhecer em Deus. E este mundo da fé, este mundo do Paraíso, existe de verdade, existe de modo mais verdadeiro do que o dinheiro que você usa e o crédito que eles lhe dão a peso de ouro e que lhe dá a ilusão de que você sobrevive. O mundo da fé é a única realidade que ainda subsiste e é por isso que só os católicos podem viver o Natal. A diferença entre a felicidade mundana e a felicidade católica é que a primeira só existe por três coisas: dinheiro, prazeres e liberdades totais. Já a verdadeira felicidade prescinde do dinheiro, dando ao pobre a capacidade de se alegrar, apesar do pouco. Ela despreza os prazeres sensuais da gula, do álcool ou da carne; ao contrário, ela clama os católicos a se privarem dessas coisas para melhor se prepararem para o Natal. E, por fim, a felicidade cristã torna ridícula a falsa liberdade desse mundo nos fazendo dobrar os joelhos diante de uma Criança, de um Deus Menino, deitado numa manjedoura, "porque não tinha lugar para eles na estalagem".

É por isso que eu queria dizer para vocês, quer sejam meus paroquianos ou leitores e amigos que nos lêem aqui, preparem-se neste Natal para uma festa sobrenatural, para as alegrias vividas na fé, no conhecimento das realidades misteriosas e fantásticas que Deus nos reserva lá no céu e das quais Ele vai nos falando aqui na terra, em cada festa litúrgica, em cada Natal. Abram seus missais e leiam estas missas com suas antífonas, seus textos maravilhosos que nos ensinam tanto, que nos fazem conhecer Jesus como ele é, como ele vive hoje no céu. Na sua segunda vinda Ele virá nas nuvens (eu creio, porque assim está escrito). Caberá, então, reconhecermos este Rosto adorável que um dia vimos no sorriso de uma Criança, nas nossas orações diante do Presépio.

Dom Lourenço Fleichman OSB
Fonte: www.permanencia.org.br

Salve Virgem Mãe de Deus!!!


"Aqueles que dizem ter a Deus por Pai, e não têm Maria por Mãe, na verdade têm por pai o próprio demônio"
S. Luís Maria Grignion de Montfort

Proibição da palavra "Natal" em Oxford

Autoridade vaticana rechaça energicamente proibição do "Christmas" em OxfordROMA, 04/11/2008 (ACI).- O Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Dom Gianfranco Ravasi, deplorou a decisão da prefeitura da cidade inglesa de Oxford de proibir a palavra "Christmas" (Natal) das celebrações de fim de ano, e descreveu a medida como "sintoma do ateísmo e indiferença religiosa que hoje se promove".

Conforme informa L'Osservatore Romano, o Arcebispo assinalou que "o que se busca com esta iniciativa em Oxford não é tanto estabelecer um diálogo de modo que não existam prevaricações, senão extingui-lo até o ponto de restringir toda identidade própria, toda história que está nas bases e não estabelecer um verdadeiro diálogo"."

O verdadeiro diálogo –precisou– se constrói através da identidade. Então neste caso, não é somente uma excentricidade, mas uma negação consciente, não sei até que ponto, de uma grandeza que está nos alicerces".

Deste modo manifestou que "enquanto no passado quando se combatia a presença dos símbolos religiosos, se fazia com argumentações, ou com o desejo de opor um sistema alternativo, agora em vez disso se realiza esta avançada de negação como uma especiaria de névoa, quer introduzir um componente sem consistência que é a característica da secularização atual", em referência ao título que as autoridades deram às celebrações de fim de ano: "Festival das luzes de inverno".

Depois de afirmar que com esta decisão "Deus é negado, ignorado totalmente e o esforço pastoral deve ser agora mais complexo", Dom Ravasi denunciou esta medida como "uma sorte de 'jogo da sociedade' incolor, inodora, insípida" que gera "maior ateísmo, mas com a indiferença religiosa talvez impede ao homem interrogar-se, como fazem todas as grandes religiões, sobre temas fundamentais, temas básicos que são disolvidos ao interior de uma atmosfera assim de inconsistente".

De outro lado, o jornal inglês The Telegraph recolheu as declarações do Bispo de Portsmouth, Dom Roger Francis Crispin Hollis, quem assinalou que esta decisão "ofende à comunidade cristã da cidade (Oxford), não faz nada por promover a harmonia racial e, em nome da inclusão, exclui as tradições de uma significativa população da cidade. Deploro esta decisão e espero que o conselho o volte a pensar".

Por sua parte, Sabir Hussain Mirza, Chefe do Conselho Muçulmano de Oxford, expressou estar "muito zangado por isso. Os cristãos, muçulmanos e outras religiões esperamos todos a chegada do Natal"

De maneira similar se expressou o rabino Eli Bracknell, quem indicou que "é importante manter o Natal tradicional britânico. Algo que afete a cultura tradicional e o Cristianismo no Reino Unido não é positivo para a identidade britânica".

A idéia de renomear o Natal como "Festival das luzes de inverno" proveio da organização "Oxford Inspire" (Oxford Inspira), que são os encarregados deste evento.

Fonte: http://www.cleofas.com.br/

Natal sem Fome


Colabore com o projeto Natal sem Fome, doando alimentos não perecíveis para as famílias carentes.


Entregue na Igreja Matriz de Santa Maria Madalena, União dos Palmares - AL.
Agradecemos a sua ajuda. Deus o abençoe e retribua, Amém.

S. João da Cruz - Doutrina da mortificação dos apetites


Neste dia de S. João da Cruz, a quem tenho como pai e mestre espiritual, disponibilizo para os ainda poucos leitores deste blog, esta preciosidade que são algumas linhas escritas pelo próprio santo. Aproveitem a santa leitura.


Para atingir este estado sublime de união com Deus, é indispensável à alma atravessar a noite escura da mortificação dos apetites, e da renúncia a todos os prazeres deste mundo. As afeições às criaturas são diante de Deus como profundas trevas, de tal modo que a alma, quando aí fica mergulhada, torna-se incapaz de ser iluminada e revestida da pura e singela claridade divina. A luz é incompatível com as trevas, como no-lo afirma São João ao dizer que as trevas não puderam compreender a luz (Jo 1,5).

A razão está em que dois contrários, segundo o ensinamento da filosofia, não podem subsistir ao mesmo tempo num só sujeito. Ora, as trevas, que consistem no apego às criaturas, e a luz, que é Deus, são opostas e dessemelhantes. É o pensamento de S. Paulo escrevendo aos coríntios: “Que pode haver de comum entre a luz e as trevas?” (2Cor 6,14). Portanto, se a alma não rejeita todas as afeições às criaturas, não está apta a receber a luz da união divina.

Para dar mais evidência a esta doutrina, observemos que o afeto e o apego da alma à criatura a torna semelhante a este mesma criatura. Quanto maior a afeição, maior a identidade e a semelhança, porque é próprio do amor fazer o que ama semelhante ao amado. Davi, falando dos que colocavam o amor nos ídolos, disse: “Sejam semelhantes a eles os que os fazem; e todos os que confiam neles” (Sl 113,8). Assim, o que ama a criatura desce ao mesmo nível que ela, e desce, de algum modo, ainda mais baixo, porque o amor não somente iguala, mas ainda submete o amante ao objeto do seu amor. Deste modo, quando a alma ama alguma coisa fora de Deus, torna-se incapaz de se transformar nele e de se unir a ele. A baixeza da criatura é infinitamente mais afastada da soberania do Criador do que as trevas o são da luz. Todas as coisas da terra e do céu, comparadas com Deus, nada são, como disse Jeremias: “olhei para a terra, e eis que estava vazia, e era nada; e para os céus, e não havia neles luz” (Jr 4,23). Dizendo ter visto a terra vazia, dá a entender todas as criaturas e a própria terra serem nada. Acrescentando: Contemplei o céu e não vi luz – quer significar que todos os astros do céu comparados com Deus são puras trevas. Daí se conclui que todas as criaturas nada são, e as inclinações que nos fazem pender para elas, menos que nada, pois são um entrave para a alma e a privam da mercê da transformação em Deus; assim como as trevas, igualmente, por serem a privação da luz, são nada e menos que nada. Quem está nas trevas não compreende a luz; da mesma forma, a alma colocando sua afeição na criatura não compreenderá as coisas divinas; porque até que se purifique completamente não poderá possuir Deus neste mundo pela pura transformação do amor, nem no outro pela clara visão. Para esclarecer ainda mais esta doutrina, vejamos algumas particularidades.

Todo o ser das criaturas comparado ao ser infinito de Deus nada é. Resulta daí que a alma, dirigindo suas afeições para o criado, nada é para Deus, e até menos que nada, pois, conforme já dissemos, o amor a assemelha e torna igual ao objeto amado e a faz descer ainda mais baixo. Esta alma tão apegada às criaturas não poderá de forma alguma unir-se ao ser infinito de Deus, porque não pode existir conveniência entre o que é e o que não é. Descendo a alguns exemplos particulares, vemos que toda a beleza das criaturas, comparada à infinita beleza de Deus não passa de suma fealdade, segundo diz Salomão nos Provérbios: “A graça é enganadora e vã a formosura” (Pr 31,30). A alma, presa pelos encantos de qualquer criatura, é sumamente feia diante de Deus, e não pode de forma alguma transformar-se na verdadeira beleza, que é Deus, pois a fealdade é de todo incompatível com a beleza. Todas as graças e todos os encantos das criaturas, comparados às perfeições de Deus, são disformes e insípidos. A alma, subjugada por seus encantos e agrados, torna-se, por si mesma, desgraciosa e desagradável aos olhos de Deus, sendo, deste modo, incapaz de unir-se à sua infinita graça e beleza. Porque o feio está separado do infinitamente belo, por imensa distância. E toda a bondade das criaturas posta em paralelo com a bondade infinita de Deus mais parece malícia. Ninguém é bom, senão só Deus (Lc 18,19). A alma, prendendo seu coração aos bens deste mundo, torna-se viciosa aos olhos de Deus; e assim como a malícia não pode entrar em comunhão com a bondade, também esta alma não se poderá unir perfeitamente ao Senhor, que é a bondade por essência. Toda a sabedoria do mundo, toda a habilidade humana comparadas à sabedoria infinita de Deus são pura e suprema ignorância. S. Paulo o ensina aos Coríntios: “a sabedoria deste mundo é estultícia diante de Deus” (1COR 3,19).

A alma, apoiando-se em seu saber e habilidade para alcançar a união com a sabedoria divina, jamais a alcançará, permanecendo muito afastada, pois a ignorância não sabe o que seja a sabedoria, ensinando S. Paulo que tal sabedoria parece a Deus estultícia. Aos olhos de Deus, os que crêem algo saber são os mais ignorantes. O Apóstolo, falando desses homens, teve razão em dizer aos romanos: “Porque atribuindo-se o nome de sábios se tornaram estultos” (Rm 1,22). Só chegam a adquirir a sabedoria divina aqueles que, assemelhando-se aos pequeninos e ignorantes, renunciam ao próprio saber para caminhar com amor no serviço de Deus. S. Paulo nos ensina esta espécie de sabedoria quando diz: “Se algum entre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se insensato para ser sábio; porque a sabedoria deste mundo é uma estultícia diante de Deus” (1Cor 3,18-19). Em consequência, a alma se unirá à sabedoria divina antes pelo não saber que pelo saber. Todo o poder e toda a liberdade do mundo, comparados com a soberania e a independência do espírito de Deus, são completa servidão, angústia e cativeiro.

A alma enamorada das grandezas e dignidades ou muito ciosa da liberdade de seus apetites está diante de Deus como escrava e prisioneira e como tal – e não como filha – é tratada por ele, porque não quis seguir os preceitos de sua doutrina sagrada que nos ensina: Quem quer ser o maior deve fazer-se o menor, e o que quiser ser o menor seja o maior. A alma não poderá, portanto, chegar à verdadeira liberdade de espírito que se alcança na união divina; porque sendo a escravidão imcompatível com a liberdade, não pode esta permanecer num coração de escravo, sujeito a seus próprios caprichos; mas somente no que é livre, isto é, num coração de filho. Neste sentido Sara diz a Abraão, seu esposo, que expulse de casa a escrava e seu filho: “Expulsa esta escrava e seu filho, porque o filho da escrava não será herdeiro com meu filho Isaac” (Gn 21,10).

Todas as delícias e doçuras que a vontade saboreia nas coisas terrenas, comparadas aos gozos e às delícias da união divina, são suma aflição, tormento e amargura. Assim todo aquele que prende o coração aos prazeres terrenos é digno do Senhor de suma pena, tormento e amargura, e jamais poderá gozar os suaves abraços da união de Deus. Toda a glória e todas as riquezas das criaturas, comparadas à infinita riqueza que é Deus, são suma pobreza e miséria. Logo a alma afeiçoada à posse das coisas terrenas é profundamente pobre e miserável aos olhos do Senhor, e por isto jamais alcançará o bem-aventurado estado da glória e riqueza, isto é, a transformação em Deus; porque há infinita distância entre o pobre e indigente, e o sumamente rico e glorioso.

A Sabedoria divina, ao se queixar das almas que caem na vileza, miséria e pobreza, em conseqüência da afeição que dedicam ao que é elevado, grande e belo segundo a apreciação do mundo, fala assim nos Provérbios: “A vós, ó homens, é que eu estou continuamente clamando, aos filhos dos homens é que se dirige a minha voz. Aprendei, ó pequeninos, a astúcia e vós, insensatos, prestai-me atenção. Ouvi, porque tenho de vos falar acerca de grandes coisas. Comigo estão as riquezas e a glória, a magnífica opulência, e a justiça. Porque é melhor o meu fruto que o ouro e que a pedra preciosa, e as minhas produções, melhores que a prata escolhida. Eu ando nos caminhos da justiça, no meio das veredas do juízo, para enriquecer aos que me amam e para encher os seus tesouros” (Pr 8,4-6; 18-21). A divina sabedoria se dirige aqui a todos os que põem o coração e a afeição nas criaturas. Chama-os de “pequeninos” porque se tornam semelhantes ao objeto de seu amor, que é pequeno. Convida-os a ter prudência e a observar que ela trata de grandes coisas e não de pequenas como eles. Com ela e nela se encontram a glória e as verdadeiras riquezas desejadas, e não onde eles supõem. A magnificência e justiça lhe são inerentes; e exorta os homens a refletir sobre a superioridade de seus bens em relação aos do mundo. Ensina-lhes que o fruto nela encontrado é preferível ao ouro e às pedras preciosas; afinal, mostra que sua obra na alma está acima da prata mais pura que eles amam. Nestas palavras se compreende todo gênero de apego existente nesta vida.
S. João da Cruz.

14 de Dezembro - Dia de S. João da Cruz


Noite Escura


Em uma noite escura,
De amor em vivas ânsias inflamada,
Oh! ditosa ventura!
Saí sem ser notada,
Já minha casa estando sossegada.

Na escurudão, segura,
Pela secreta escada, disfarçada,
Oh! ditosa ventura!
Na escuridão, velada,
Já minha casa estando sossegada.

Em noite tão ditosa,
E num segredo em que ninguém me via,
nem eu olhava coisa,
Sem outra luz nem guia
Além da que no coração me ardia.

Essa luz me guiava,
Com mais clareza que a do meio-dia
Aonde me esperava
Quem eu bem conhecia,
Em sítio onde ninguém aparecia.

Oh! noite que me guiaste,
Oh! noite mais amável que a alvorada;
Oh! noite que juntaste
Amado com amada,
Amada já no Amado transformada!

Em meu peito florido
Que, inteiro, para ele só guardava,
Quedou-se adormecido,
E eu, terna, o regalava,
E dos cedros o leque o refrescava.

Da ameia a brisa amena,
Quando eu os seus cabelos afagava,
Com sua mão serena
Em meu colo soprava,
E meus sentidos todos transportava.

Esquecida, quedei-me,
O rosto reclinado sobre o Amado;
Tudo cessou. Deixei-me,
Largando meu cuidado
Por entre as açucenas olvidado.

S. João da Cruz

S. João da Cruz, rogai por nós.

Assista esta poesia musicada no original espanhol.

Santa Edith Stein e o Mistério do Natal


"Diante da criança no presépio, os espíritos se dividem. Ele é o rei dos reis e o Senhor da vida e da morte. Ele fala o seu: “Siga-me”, e quem não for a seu favor, é contra Ele. Ele o diz também para nós e nos coloca diante da decisão entre luz e trevas." (STEIN, Edith. O mistério do natal.[tradução Hermano José Cürten]. -- Bauru, SP: EDUSC, 1999, p. 17)

"Ó troca maravilhosa! O criador do gênero humano encarnando-se, concede-nos a sua divindade. Por causa desta obra maravilhosa o Redentor veio ao mundo. Deus se tornou Filho do homem, para que os homens se tornassem filhos de Deus. Um de nós rompeu o laço da filiação divina, e um de nós devia reatar o laço, pagando pelo pecado. Nenhum da antiga e enferma raça podia fazê-lo. Devia ser um rebento novo, sadio e nobre. Tornou-se um de nós e, mais do que isto: unido conosco. O maravilhoso no gênero humano é que todos somos um. Se fosse diferente, estaríamos lado a lado, como indivíduos autônomos e separados, e a queda de um não poderia ter se tornado a queda de todos. Podia ter sido pago e atribuído a nós o preço da expiação, mas não teria passado a sua justiça para os pecadores, e não teria sido possível nenhuma justificação.Mas Ele veio, para tornar-se conosco um corpo místico. Ele, nossa cabeça, nós, os seus membros. Ponhamos nossas mãos nas mãos do Menino-Deus, pronunciando o nosso “Sim” ao seu “Siga-me”. Então, nos tornamos Seus, e o caminho está livre, para que a sua vida divina possa passar para a nossa. Isto é o começo da vida eterna em nós. Não é ainda a visão beatífica de Deus na luz da glória, é ainda escuridão da fé, mas não é mais deste mundo, já é estar no Reino de Deus." (STEIN, Edith. O mistério do natal.[tradução Hermano José Cürten]. -- Bauru, SP: EDUSC, 1999, p. 19- 20)

"E o Verbo se fez carne”. Isto se tornou realidade no estábulo de Belém. Mas cumpriu-se ainda de outra maneira. “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue, este terá a vida eterna”. O Salvador que sabe que somos e permanecemos humanos, tendo que lutar dia após dia, com fraquezas, vem em auxílio da nossa humanidade de maneira verdadeiramente divina. Assim como o corpo terrestre precisa do pão cotidiano, assim também a vida divina em nós precisa ser alimentada constantemente. “Este é o pão vivo que desceu do céu”. Quem come deste pão todos os dias, neste se realizará, diariamente, o mistério do Natal, a Encarnação do Verbo. E este, certamente, é o caminho mais seguro, para se tornar “um com Deus” e de penetrar dia a dia de maneira mais firme e mais profunda no Corpo Místico de Cristo." (STEIN, Edith. O mistério do natal.[tradução Hermano José Cürten]. -- Bauru, SP: EDUSC, 1999, p.28.)

O Pastorinho - S. João da Cruz


Um pastorinho só está penando
Privado de prazer e de contento
Posto na pastorinha o pensamento
Seu peito de amor ferido, pranteando.

Não chora por tê-lo o amor chagado
Que não lhe dói o ver-se assim dorido
Embora o coração esteja ferido
Mas chora por pensar que é olvidado.


Que só o pensar que está esquecido
Por sua bela pastora é dor tamanha
Que se deixa maltratar em terra estranha
Seu peito por amor mui dolorido.


E disse o Pastorinho: ai desditado
De quem do meu amor se faz ausente!
E não quer gozar de mim presente...
Seu peito por amor tão magoado

Passado o tempo em árvore subido
Ali seus belos braços alargou
E preso a eles o Pastor ali ficou
Seu peito por amor mui dolorido.


S. João da Cruz


Obs...
Por "Pastorinho", S. João quer significar Jesus.
Por "pastorinha", a alma, ou, nós.
Olvidado significa esquecido no sentido de "ignorado"
Por "se deixa maltratar em terra estranha", S. João quer referir-se à Encarnação do Verbo que faz morada em nosso meio e morre na Cruz por amor de nós.
Por "árvore", ele quer significar a Cruz.


Enfim, uma poesia profundíssima e muito própria para o Natal, afinal Jesus é esquecido em seu próprio aniversário e toda a profundidade da Cruz já se faz presente naquele Presépio.

Meditemos nisso...

Algumas coisas que precisam ser ditas

AS CHAVES DO ENIGMA

...
O mal no mundo provém da sua impureza. Ser puro é renunciar aos prazeres ilícitos, os inconvenientes, e muitas vezes até mesmo aos lícitos e inofensivos. Habituar-se ao domínio de si mesmo é preparar-se para o exercício da caridade, a qual consiste, noventa e nove por cento, em renunciar. Quem não mortifica os sentidos, quem não contraria a sua ambição, a sua vingança, a sua vaidade, nunca poderá estabelecer a verdadeira paz dentro e em torno de si.

A luxúria gera a violência e a violência gera a luxúria. Ambas cultuam apenas o que há de físico no ser humano. Uma se utiliza da força, a outra da beleza. Sendo a força o instrumento da violência, as grandes épocas da brutalidade coincidem com a exaltação corpórea dos heróis, o louvor dos músculos nos arremessos fulmíneos, a glorificação dos ritmos plásticos. E sendo a beleza física a matéria prima da lascívia, as gerações que divinizam a força bruta são as mesmas que cantam loas a Frinéia.

Não se conclua que condenamos a força e a beleza físicas. Pelo contrário, dignas são elas da nossa admiração como obras do Criador, morada da alma e templo de Deus; e a prova é que ambas estão santificadas em santos que foram atletas e santas que foram formosas. O que devemos reprovar é o mau aproveitamento de uma e de outra, empregando-as de sorte a divorciá-las dos fins comuns do Espírito e do Corpo.

Esse foi o pensamento cristão na aurora do século I, quando os Apóstolos espalharam pelo Império dos Césares, onde predominavam degradações e violências unidas ao culto dos deuses fortes e belos, as duas soluções para as dores do Gênero Humano: a CASTIDADE E A CARIDADE, ambas tão intimamente irmanadas, que uma parece condição da outra e ambas a mesma expressão do Redentor do Mundo.

São essas duas virtudes as chaves da paz e da segurança entre os povos. Pois não andam, nestes tempos nossos, de mãos dadas, a brutalidade e a sensualidade?

Que tempos viram, como temos visto, civilização mais paganizada? Que oferecem os filmes cinematográficos senão os aspectos de uma civilização que fez do corpo e dos prazeres materiais a preocupação única da existência humana? Que outra lição, senão a do luxo, fantasiosa opulência e exibição faustosa apresentam à juventude dos nossos dias essas películas excitantes e dissolventes de todas as resistências morais?

Que espécies de livros lêem rapazes, raparigas e até mesmo esses grisalhos leões do Chiado, senão coloridas brochuras de novelas, romances e memórias copiados uns dos outros, que abarrotam os mercados internacionais sem outro valor além do que lhes empresta facciosa propaganda manobrada por agentes da dissolução social?

Que época é esta em que, nem pelos gostos, nem pelas atitudes, nem pelo vestuário, se distinguem as mães das filhas e às vezes nem as avós das netas?

Que dias vivemos em que a família foge do lar, até mesmo para celebrar as datas mais belas do calendário cristão e da intimidade doméstica?

Como poderemos chamar espiritualista a esta civilização sedenta de sensacionalismo e que zomba de tudo o que é de Deus, fazendo do próprio matrimônio precária satisfação de vaidades efêmeras?

Que nome merece uma civilização de cassinos, boites, dancings, promiscuidades escandalosas, desnudações nas praias, e concursos de beleza de sabor zoo-técnico, degradantes da majestade e dignidade da mulher?

Não é tudo isso o paganismo?

Se me disserdes que é, então defenderei o paganismo. Não o identificarei aos degradantes costumes do nosso tempo. Porque o paganismo inspirava-se num sentido religioso do cosmos. Decaído da graça, o Homem procurava na interpretação politeísta da natureza, o segredo do seu destino além da morte.

Na dissolução dos costumes conservavam os pagãos uma crença nos deuses, qualquer coisa como reflexos do verdadeiro Deus que lhes ainda não fora revelado.
O paganismo anterior a Cristo apresenta, de mistura com suas misérias, incontestáveis traços de grandeza. Ele chegou a pressentir a vinda do Redentor, na concepção de Alcmene, no sangue de Adonis, na ressurreição de Osíris.

Mas o que hoje temos é inferior ao paganismo, porque se chama materialismo, isto é, repúdio do sobrenatural, gesto a que nunca se atreveu o paganismo.

E se essa atitude fosse anterior ao Cristo, como no caso de alguns filósofos gregos, ela seria desculpável. Mas este nosso materialismo, aceitando tudo o que havia de mau no mundo politeísta, rejeita o que nele havia de sério: a conduta do Homem relacionada com um princípio de causalidade e de finalidade.

Este materialismo de hoje recebeu a mensagem do Evangelho, mas rejeitou a Luz, pela consciência que tem de que as suas obras são más e porque "todo aquele que pratica o mal prefere viver nas trevas"

Plínio Salgado, Primeiro, CRISTO!

Aproxima-se o Natal


Já sopram os ares da época mais doce do ano. Época que, embora repita-se ano após ano, refle um momento singular no tempo, de implicâncias eternas. Este evento foi, não só um divisor de águas, mas o divisor da história.

Na plenitude dos tempos, enviou Deus o Seu Filho Unigênito, ao seio de uma Virgem chamada Maria. O Incriado foi gerado no ventre de uma menina que disse sim a Deus e assumiu, então, a orfandade do mundo. A humanidade jazia nas trevas. A lei não justificava... Desde o pecado de Adão, a ligação entre Deus e os homens fora rompida. Todo acontecimento do Antigo Testamento é uma preparação para a vinda do Messias tão aguardado. São as prévias do grande esponsal. Para ser a mãe do Salvador, meninas da Judéia casam-se cedo. Aqui e ali levantam-se vozes proclamando serem o esperado. Algo muito precioso estava iminente. O Rei viria até nós... Preparemo-nos. Ele salvará os homens e estenderá o Seu reinado sobre a terra. Ele governará com cetro de ferro!

E, de fato, nasceu o divino infante. Do seio da Virgem Maria, rompeu o grito do Eterno, numa noite fria, na solidão de um estábulo. Nasceu em Belém, a Casa do Pão, Ele que será o Pão da Vida. Nasceu numa manjedoura, justamente onde se alimentam os animais, o boi e o burro que, conforme Isaías, conhecem o estábulo do seu Senhor. O Onipotente viria a nós como um indefeso e, quieto, repousava no colo ditoso de Maria Santíssima. Oh, que mistério! Diante disto, até os infernos se calaram. Oh espetáculo celeste: Deus fazer-se criancinha! E veio a nós, pobre, numa noite fria, sem um lugar pra ficar, na companhia de Sua Mãe, de Seu pai adotivo e dos animais que por alí habitavam. Deus nasceu... sem festa, sem alarde, na perfeita pobreza que lhe será característica por toda a vida e que Ele ensinará aos seus. O Amor, enfim, habitou entre nós, o Verbo, o Emanuel.

Dobrem-se diante dEle todos os reis da terra, assim como os pastores... os grandes e pequenos. Ofereçam ao Rei verdadeiro o melhor de si. Imitem-no resignado. Curvem-se diante de Sua Majestade, e O adorem. Desçam até as entranhas da terra, numa perfeita prostração e humilhação diante do Cristo, que humilhou-se até a nossa condição para nos elevar à Sua. Oh esponsal. Por amor, Deus toma a nossa semelhança, encarna-se, assume a nossa natureza, para que a união seja completa. E qual foi o motivo de tal ato divino? Na perfeita gratuidade, Deus o fez por amor. Quis tornar-se cativo de nosso coração, quis conquistar-nos de vez, quis chamar-nos à Sua intimidade.

Neste natal, me dê licença o Papai Noel (não precisa aparecer...), pois quero, neste silêncio, nesta quietude simplesmente fazer-Lhe companhia e contemplá-Lo nos braços da Virgem Mãe. Nada de algazarras, nada de barulhos ou distrações. A grande alegria dos homens surgiu, como estrela singular, rompeu as trevas e nos anunciou um novo dia, dia que não terá ocaso, pois Seu Reino durará para sempre. Deixem-me aqui, sozinho, com Ele. Quero imitá-Lo, no Seu silêncio, na Sua pobreza, na Sua solidão, no Seu amor.

Deixarei a casa da minha mãe e me unirei ao Amado. E seremos um só. Ele me introduzirá na Sua adega, e lá estarei, em perfeita alegria. Assim seja, amém.

Fábio Luciano

Quando nos falta amor.

Acordamos e o que priorizamos? Hoje é segunda, talvez tenhamos a mesma rotina, a semana começa e com elas as suas ocupações, as mesmas coisas, os mesmos rostos, as conversas análogas. Tudo igual e nos vem o ... tédio...

Tédio?? Poderá existir esta palavra no dicionário Cristão? Não vejo como. Disse alguém, o que é mais difícil a todos, mas é acessível, é fazer a mesma coisa várias vezes com o mesmo amor da primeira vez. E outro acrescenta: A Felicidade não está em uma vida cômoda, mas sim num coração enamorado. Para quem ama dizer "eu te amo" nunca cansa, nunca é velho, nunca será uma frase gasta e o sentido e o sentimento se preserva. Quando se ama tem-se o mesmo detalhe de carinho, repassa a mesma cena várias vezes em mente e rir-se e delicia-se das mesmas lembranças inúmeras vezes como se fosse algo novo, como se fosse a primeira vez.

Somos assim, enamorados do amor. Buscamos acima de tudo satisfazer o Amado, mesmo que seja para o nosso detrimento. E isso não nos custa, é suave a obediência, é amavel a Cruz, é doce... é Divino, é a bela lei do Amor. Entende-se expressões como esta de São João da Cruz: é preferível padecer pelo Amado a fazer milagres. Não desejamos nada, já o temos, O possuimos. Mas vocês poderão perguntar: Onde? Digo-vos, no mesmo lugar, na mesma ocupação, na mesma e insignificante atividade. No trabalho ordinário.

Tomas Merton começa seu livro Sementes de Contemplação dizendo que cada acontecimento, cada instante semeia qualquer coisa na alma. E isso é fácil aceitar como verdade visto que, em termos infinitamente menores, sabemos que tudo o que vemos, ouvimos e provamos fica arquivado definitivamente em nossa mente, mesmo que não tenhamos acesso. Se assim procede com o nosso corpo, porque não aconteceria com nossa Alma? Devemos, portanto, não fazermos as coisas de qualquer maneira, nem desperdiçar um milionéssimo do nosso preciosíssimo tempo, mas antes aproveitá-lo ao máximo para pôr algo Divino, algo de Cristo, semear suas palavras, oferecer-Lo nossas insignificantes atividades e colocar o máximo amor em cada gesto para que seja por Ele agradável oferenda ao Pai.

O tempo, precioso tempo. Diria que é a única coisa que nós é dado e é dado de modo igual a todos, aqui não há diferente etnia, classes ou raça. O tempo é dado de modo igual a todos e o que fazemos dele é o que definirá o que somos. Se plantamos nesse tempo amor a Deus, o colheremos certamente. Se o gastamos para o nosso benefício, isso nos será exigido. Se fazemos aquele, já somos felizes, se fazemos este não alcançaremos a Paz. O caminho do inferno já é um inferno e não existe felicidade fora do Doador da mesma... mas nada disso, este caminho, não nos é imposto, nos é oferecido e embora Ele nada precise de nós, e nós dele tudo precisamos, Ele nos oferece tudo sem resistência, e nos resistimos tudo e nada temos a oferecer.

Para estes que acham a vida um tédio digo apenas, estais a correr fora do caminho. Todo esta infelicidade é porque te falta o Amor.

Nossa Senhora que tudo fez perfeitamente, que punha infinito amor em cada atos seus, nos ensine a sermos seus imitadores para que possamos como ela dizer, com humildade, "o Senhor pôs os olhos em Vosso servos".

Claudemir Leandro

À espera de um milagre

Não irei apresentar, conforme vós leitores podereis pensar, uma resenha do filme de Steven King, este texto está voltado para aqueles que "crêem" porque viram um milagre ou aqueles que dizem que acreditariam se algum milagre acontecesse.Neste artigo salientarei a importância de não darmos créditos a determinados tipos de "milagres" e que nem sempre são apenas estes que indicam a Igreja verdadeira. Bem, vamos ao texto e ver o que posso transmitir a vós.

Geralmente sou abordado por um pastor Pentecostal me informando que deixou o Catolicismo porque não vê a atuação do Espírito Santo, porque não vê as curas como os primeiros cristãos faziam, porque não vê a efusão do Espírito, e porque a todos devem ser dados o direito de falar, visto que Cristo dá a todos o dom da palavra e da profecia, não apenas aos sacerdotes.

Primeiro é bom frisar que o Espírito Santo não se contradiz. Baseado nesta premissa Ele não pode confirmar, através destes "milagres", que distintas ceitas evangélicas estão certas (pois é fato que em diferentes seitas há estes fenômenos que eles denominam milagres). Isso fere a lógica humana, "pois dois contrários não pode subsistir ao mesmo tempo num só sujeito", ou seja, ou todas estão erradas ou apenas uma está certa. Qual? Tentaremos analisar isto.

A necessidade dos milagres.

Vemos ao longo do Antigo testamento as grandes manifestações de Deus era para fins específicos, Deus falava na linguagem da época e vemos a necessidade clara de tal intervenção, a citar: No primeiro livro dos Reis, cap 18, Elias mostrará que o Deus verdadeiro é aquele que responder pelo fogo, acendendo as lenhas que eles colocaram. Elias não mostra argumentos, para aquele povo o deus verdadeiro seria aquele que manifesta seu poder e esta era a forma que o Espírito escolheria para se manifestar, era necessário, e foi um fato extraordinário. Outra situação, quando Deus mostra os dois prodígios a Moisés, a sua vara transformará em cobra e sua mão ficará branca tão branca como a neve, Deus diz claramente que é para o povo crer, era necessário, era a linguagem da época e foi outro fato extraordinário.

Continuemos com o novo testamento, o dom de linguas era necessário para a expansão do evangelho, os pescadores não sabiam falar outros idiomas, como o evangelho poderia expandir se não houvesse quem o comunicasse? E o mesmo vemos quando o Mago Élimas fica cego (necessária para a conversão do procônsul), na morte de Ananias (necessária para mostrar que não se mente ao Espírito Santo), nos milagres de Cristo como: o cego de nascença (necessário para mostrar que o cegueira não era fruto do pecado e a manifestação da Divindade de Cristo), o paralítico cujo leito foi descido do telhado (mostrar que Cristo tem, por ser Deus, o poder de perdoar os pecados), a ressureição de Lázaro (mostrar que Cristo é Deus e tem poder sobre a morte). Portanto, escutemos o conselho de São Paulo, o Espírito Santo concede o dom segundo lhe apraz e o é extraordinário, não queiramos torná-lo ordinário e fazê-lo como nos apraz.

Dito isto, e se são os milagres que os pentecostalistas querem, faremos a seguinte análise.

Da hierarquia.

Primeiro vemos que São Paulo exorta a importância da hierarquia em 1 Coríntios 12, 28 - Na Igreja, Deus constituiu primeiramente os apóstolos, em segundo lugar os profetas, em terceiro lugar os doutores, depois os que têm o dom dos milagres, o dom de curar, de socorrer, de governar, de falar diversas línguas. Se buscarmos viver esta sugestão paulina vinvenciariamos o Catolicismo, visto ser indiscutível nossa sucessão Apostólica e que segundo este a sucessão é mais importante que os milagres.

Da humildade e fé.

É sinal de humildade não buscar exibir os milagres que aconteçem na igreja e mais digno de fé é aquele que acredita sem ver do que aqueles que exigem presenciar os milagres, palavras do próprio Cristo a Tomé. Agora investigue vocês quem são estes que ficam gritando e exibindo seus dons de curas, pois já não compete a mim julgar apenas analisar os fatos.

Do rigor.

Há um rigor duríssimo, diversas pesquisas cientificas para poder a Igreja Católica afirmar que estamos sobre um fato cuja ciência não explica, pois foje da sua compreensão. Não é apenas uma curarzinha, uns gritinhos e uns pequenos "exorcismos" que não resiste sequer a parapsicologia que admitimos ser atuação do Espírito Santo.

Da grandiosidade.

Pensemos no milagre de Calanda. Não ouvi nenhuma outra história de alguem que, após ter tido aputada perna, teve a mesma milagrosamente restituida. E Lanciano, Loudes, Fátima, Guardalupe? Não são apenas um, mas milhares e grandiosos. Qual são mesmo estes que acontecem nas igrejas pentecostais? Se queres ver as verdadeiras manifestações visíves do Espírito Santo, basta usar o Google meu caro amigo (já que infelizmente não te contentas com os milagres que presenciamos no evangelho).

Do meio.

É sabido que Deus usa as pessoas como instrumento para manifestar estes acontecimentos, conforme descrevi anteriormente. Analisemos as virtudes e humildades dos santos católicos versus pastores atuais. Temos por um lado, Santo Antônio, São Pio, São Bento, etc... e o que vós tendes mesmo??? Conheces estes que citei? Milagres surpreendentes o Espírito Santo fez atraves deles quando estas pessoas viviam. Por mais que queiras, soberbo leitor, achar que vós pentencostais têm maior atuação do espírito, tua razão há de forçar-te a crer, através do fato, que vós estais enganados.

Mas com tudo isso, devemos evitar o "milagreirismo". Não queiras ficar como Herodes exigindo milagres que poderás ficar como ele sem resposta. Além disso hoje estes milagres já não são necessário para a nossa fé. A nossa Igreja já se encontra bem fundamentada pelos milhares de milagres que se encontram no Antigo e Novo testamento. É como nos diz Chesterton: O que Deus nos pede e quer são vidas milagrosas, cristãs, humildes, pacientes, caritativas, porque a vida perfeita de um cristão é um contínuo milagre sobre a terra.

Peçamos a Nossa Senhora, Virgem Poderosa, que nos ilumine e nos conceda a graça necessária para caminharmos milagrosamente humildes neste vale de lágrimas, cumprindo fielmente a vontade do Vosso amado Filho.

Claudemir Leandro

Lamentos de Jesus revelados a S. Pe. Pio

S. Pe. Pio

Ouça, caro padre, os justos lamentos de nosso dulcíssimo Jesus: “deixam-me sozinho de noite, sozinho de dia nas igrejas. Não cuidam mais do sacramento do altar; nunca se fala desse sacramento de amor; e, mesmo os que falam, infelizmente, com que indiferença, com que frieza!
O meu coração, diz Jesus, está esquecido. Já ninguém se preocupa com o meu amor. Estou sempre triste. Minha casa tornou-se, para muitos, um teatro de divertimentos; mesmo os meus ministros, que sempre considerei com predileção, que amei como a pupila dos meus olhos, deveriam consolar o meu Coração cheio de amargura, deveriam ajudar-me na redenção das almas. Em vez disso, quem o acreditaria?, devo receber deles ingratidão e falta de reconhecimento. Vejo, meu filho, muitos desses que... (aí se calou, os soluços lhe apertaram a garganta, chorou em segredo), sob aparências hipócritas, me traem com comunhões sacrílegas, esmagando as luzes e as forças que continuamente lhes dou...”. Jesus continuou ainda a lamentar-se. Padre, como me faz mal ver Jesus chorar! Também o senhor passou por isso?

Sexta-feira de manhã (28-03-1913) eu ainda estava na cama quando me apareceu Jesus, totalmente maltratado e desfigurado. Mostrou-me um grande número de sacerdotes regulares e seculares, entre os quais diversos dignitários eclesiásticos; desdes, alguns estavam celebrando, outros se paramentando e outros retirando as sagradas vestes.

Ver Jesus angustiado causava-me grande sofrimento, por isso quis perguntar-lhe por que sofria tanto. Não obtive resposta. Porém, o seu olhar voltou-se para aqueles sacerdotes. Mas pouco depois, quase horrorizado e como se estivesse cansado de observar, desviou o olhar e, quando o ergueu para mim, com grande temor verifiquei que duas lágrimas lhe sulcavam as faces. Afastou-se daquela turba de sacerdotes, tendo no rosto uma expressão de profundo pesar, gritando: Carniceiros!

E voltado para mim disse: “Meu filho, não creias que a minha agonia tenha sido de três horas, não. Por causa das almas por mim mais beneficiadas, estarei em agonia até o fim do mundo. Durante o tempo da minha agonia, meu filho, não convém dormir. Minha alma vai à procura de algumas gotas de piedade humana; mas ai de mim! Deixam-me sozinho sob o peso da indiferença. A ingratidão e os meus ministros supremos tornam opressiva minha agonia.

Ai de mim! Como correspondem mal ao meu amor! O que mais me aflige é que, à sua indiferença, esses homens acrescentam o desprezo, a incredulidade. Quantas vezes eu estive a ponto de fulminá-los, se não tivesse sido detido pelos anjos e pelas almas enamoradas de mim... Escreve ao teu padre narrando o que viste e ouviste de mim esta manhã. Diz a ele que mostre a tua carta ao padre provincial...”

Jesus ainda continuou, mas o que disse não poderei revelar a criatura alguma deste mundo. Essa aparição me causou tal dor no corpo, porém ainda mais na alma, que durante o dia todo fiquei prostrado e acreditaria estar morrendo, se o dulcíssimo Jesus já não me tivesse revelado... Jesus tem razão de se queixar de nossa ingratidão!

Padre Pio, Palavras de Luz, Florilégio do Epistolário

A visão nublada dos novos hereges


A Santa Igreja sempre reconheceu a necessidade de uma boa orientação para quem quer trilhar o caminho evangélico. Sabe ela da facilidade de cair em ilusões tão característica dos homens. Por isto, sempre mostrou a Verdade como algo que se deve conhecer, e não criar. A Verdade foi revelada, veio de Deus e, portanto, não é uma projeção do que se acha. Por isto mesmo, a Verdade é objetiva e una, porque corresponde a um Ser que existe realmente e que é Uno. Por isto também, a Verdade é imutável, visto que Deus também o é. Ela é conforme Deus, porque ela é Deus.

Visto que é preciso que o homem a conheça sem mancha, e visto estar ela acima da capacidade humana (é por isso que é Revelada), a Igreja deveria conservá-la pura, imutável, e ensiná-la aos homens. Dessa forma, ela seria exata, independentemente do contexto socio-histórico, pois, sendo atemporal, ela abarca toda a existência humana. É importante notar que o homem, em sua parte essencial, é sempre o mesmo. Em vista desta preservação da Verdade Imutável, a Igreja existe como hierarquia, e não como democracia. Nesta última, a maioria decide; na hierarquia, o critério se dá pela autoridade. A Igreja recebeu a autoridade do próprio Cristo, ao mesmo tempo que recebeu também a promessa da infalibilidade.

Com base nisso, era preciso que o fiel se submetesse ao ensino da Mãe Igreja, infalível, depositária da Verdade Revelada, e dela aprendesse a perfeição da doutrina cristã que representa o perfeito conhecimento de Deus e do mundo. Esse conhecimento seria, então, objetivo, pois corresponderia ao objeto do conhecimento, isto é, à Verdade, que existe por si só. Esta Verdade, uma vez que o homem a conhecesse e nela cresse, seria a luz, através da qual todas as demais coisas assumiriam sua real forma. Deus, em Seu Filho, dá significado a todas as coisas. Ele é como o sol, que é difícil enxergar diretamente, mas que, por meio de sua luz, permite a visão dos objetos. Assim é Deus que, uma vez que seja infinitamente superior à nossa capacidade, nos fornece a Sua luz que vem dar sentido e significação verdadeira a tudo. Disto nos falou Nosso Senhor: “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”. Sabendo do perigo que o fiel correria ao buscar produzir sua própria verdade, S. Pedro, o primeiro Papa, escreve: “A escritura não está aberta à livre interpretação”. Com esta proibição acatada, não só a Verdade não seria distorcida, como também a alma do fiel não correria risco. Os que insistiam em crer de uma forma diferente, distorciam a fé e se enveredavam por falsos caminhos. Estes era chamados de hereges que significa alguém que decidiu seguir um caminho próprio. Esta posição seria muito perigosa porque além de corromper a alma do fiel, distanciando-O da Verdade objetiva, era também potencialmente um risco para outras almas que, uma vez movidas por seus desejos de novidades, e cegas pelas paixões, poderiam também perder-se. Pelo amor à Verdade e às almas, a Igreja sempre foi muito rígida neste sentido.

Contudo, com Lutero, a hierarquia da Igreja é desacreditada. Além de criticar costumes de alguns eclesiásticos, este herege ainda decide meter-se em assuntos teológicos, onde a Igreja tem o dom da infalibilidade. Contrariando a ordem de Pedro, Lutero estabelece uma nova forma de ler a Bíblia: o Livre Exame. Segundo ele, não mais o Espírito Santo iluminaria a Igreja que interpretaria as escrituras e ensinaria aos fiéis, mas, agora, cada um, ao ler a Sagrada Escritura, seria diretamente auxiliado pelo Espírito Santo. Com isto, Lutero faz de cada fiel Papa, pois lhe deu a autoridade de interpretar aquilo que só a Igreja tem. Esta nova prática da religião tem implicâncias muito vastas. Primeiro, porque faz questionar a necessidade de uma igreja, visto que o Espírito Santo se comunicaria de forma direta com o fiel. Segundo, as possíveis interpretações, provindas dos mais diversos tipos, seriam vários tipos de verdade,Sendo, muitas vezes, opostas umas às outras. Com isto estabelece-se forçosamente, ou o relativismo, ou a negação da verdade, ou, desconsiderando a oposição entre as muitas teorias, a visão de que uma seria complemetar da outra. O absoluto se desfaz. A verdade, antes crida como algo exterior, passa a ser produto do interior. O conhecimento passa a ser subjetivo, criado pelo homem que, com essa atitude, faz-se Deus, pois só Deus criou o mundo segundo o Seu pensamento.

A partir do livre exame da Escritura de Lutero, desastroso por sinal, vai surgir também o Livre Exame da realidade, que se tornará como que o absoluto do subjetivismo, produzindo o relativismo, o agnosticismo e o ateísmo, além de atacar os fundamentos da sociedade cristã. O mundo passará a ser mera criação do homem. Frases tipo “cada um tem a sua verdade” vão ser disseminadas num contexto de tolerância e, consequentemente, de negação de qualquer posição absoluta. A Igreja, como detentora desta posição, será odiada e criticada. Jamais abrirá mão de ser quem é... por isso mesmo, verá se cumprir a profecia de Jesus: “Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou primeiro” e “muitos vos perseguirão”. Não obstante as várias seitas surgidas da desobediência e cegueira de Lutero e seus discípulos, atualmente têm surgido, mesmo no seio Igreja Católica, heresias que insistem manter o qualificativo de católicas. Isto caracteriza uma nova forma de heresia, mais velada e, por isso, de certa forma, mais perigosa. Segundo o Papa Bento XVI, enquanto ainda cardeal, a heresia que agora será tratada é algo novo na história, pois não assume característica de nenhum tipo anterior; por isso mesmo a dificuldade de identificá-la como tal.

Trato agora de uma heresia que tem, particularmente, me despertado repugnância: A chamada TL (Teologia da Libertação) bem como suas ramificações. Embora tenha nascido em berço católico, de católico mesmo ela só tem o nome. E não se trata bem de um nascimento, mas antes, de uma transmutação, um mascaramento. Ela não surge da reflexão da doutrina perfeita da Igreja, mas como um enxertamento da doutrina marxista, dentro do meio cristão. Vale lembrar que o marxismo é totalmente anti-cristão, chegando mesmo o Papa Pio XII a dizer que o socialismo e o cristianismo são inconciliáveis. Disse ainda que não se pode ser um e outro ao mesmo tempo. Daí se deduzir que a TL, marxismo mascarado de religião, não é católica. E, especificamente sobre a TL, ela foi condenada pela Igreja a partir da carta “eu vos explico a Teologia da Libertação” de Bento XVI, enquanto ainda Cardeal. Mas, dito isto, passemos às suas considerações práticas.

Assim como o materialismo surge como uma inversão de uma filosofia, a saber, o idealismo de Hegel, passando pelo materialismo de Feuerbach, caracterizando-se por um desprezo pela metafísica e uma depreciação da teoria, supervalorizando a práxis, assim também a TL, correspondendo à sua forma original, vai inverter a visão católica, menosprezando a espiritualidade e a oração, e pondo seu foco justamente na práxis, isto é, na ação social. E o que tem de cristão nisso? Nada. Mas, para enganar, ela se reveste de um cuidado pelos pobres. Assim, o foco da TL, rindo-se dos que cuidam da oração, seria a luta social pelos pobres. Nisto está justamente o perigo. Bento XVI explica que quando um erro encerra uma partícula de verdade, ele se torna nocivo, e tanto mais nocivo, quanto maior for esta verdade. Ora, o cuidado com os pobres é autenticamente cristão. Mas, utilizando-se disto, como lobo em pele de cordeiro, a TL aproveita para distorcer a doutrina cristã, invertendo mesmo a hierarquia de seus valores. Lembremos que também Judas Iscariotes, pra encobrir a sua avareza, fingia ter cuidado com os pobres. E dele, Jesus falou que seria melhor que nem tivesse nascido. Este lamento de Nosso Senhor seria sumamente verdadeiro também com relação à TL. E ainda, por usar dos pequeninos, os pobres, seria melhor que a TL amarrasse uma pedra ao pescoço e se lançasse no mar. Isto falo com relação ao movimento e, não necessariamente, com relação aos integrantes, visto a verdade ser intolerante com o erro, mas caridosa com os homens.

A TL, subertendo os valores cristãos, primeiro descentraliza-o da oração e o desfoca para a prática. Segundo, distorce esta mesma prática, aplicando-lhe os moldes socialistas e anti-cristãos. Terceiro, assume como referencial, não os santos e doutores da Igreja, mas os militantes do partido Comunista e os terroristas coloridos pela mídia, entre eles, o assassino Che Guevara.

Tal movimento, tão mascarado, assume uma aparência de objetividade, visto que põe toda a sua força na ação e na luta. Aos olhos humanos, parece que fazem mais do que os que rezam. Do ponto de vista materialista sim, embora, mesmo assim, estes resultados não sejam positivos. Interessante que, focando a prática social e menosprezando a espiritualidade, eles destroem, não só a matéria, mas a própria fé dos seus adeptos e das suas vítimas. Em suma, é um horror. Eles fazem aquilo que Sto Tomás ensina ser muito mais grave do que roubar dinheiro: corromper a Fé. Já tive a oportunidade de escrever algo sobre a prevalência da oração sobre a prática na Igreja, mas me utilizarei de mais esta, embora o faça de forma mais resumida.

Há uma hierarquia de valores na Igreja. Isto se dá, também, porque existe uma visão verdadeira do mundo, porque parte de uma verdade objetiva. A luz que emana desta verdade, como já foi escrito, é o que dá significado real às coisas. O metafísico prevalece sobre o físico, o espiritual sobre o material, o eterno sobre o temporal, a contemplação sobre a ação. A Igreja sempre ensinou que a prioridade seria a vivência da Fé a partir da oração. O cultivo da vida do espírito é que possibilitaria a mudança exterior, entendida, em seu sentido autêntico, como consequência e reflexo da transformação interior. Esta seria a base, o pilar. A oração seria, então, aquilo que daria significado e eficácia à ação.

Do ponto de vista puramente materialista, é preciso ter-se o próprio indivíduo como termo e força primeira da ação, o que caracteriza pura vaidade e nenhum conhecimento de si mesmo. No autêntico cristianismo, assumindo seu real lugar, a prática evangélica assume eficácia real porque não se fudamenta na própria pessoa, mas em Deus. Esta é a única forma de amar verdadeiramente, pois, quando o amor não vem de Deus, não é amor, mas apenas pura vaidade e orgulho. Se o amor não nasce do contato com Deus, do trato de amizade com o Cristo, a ação torna-se meramente ostensiva, distorcendo antes que consertando, atrapalhando antes que sendo útil. No entanto, é preciso ter olhos claros para ver isso. Se um vício atrai outro vício, assim como uma virtude atrai outra virtude, uma cegueira (a de querer ser útil por si mesmo) atrai outra cegueira (a de não perceber o próprio fracasso). É, por isso, necessário limpar os olhos e aprender a amar direito. E isto só se faz com a oração em primeiro lugar.

S. José Maria Escrivá escreve: “Em primeiro lugar, oração; em segundo lugar, expiação; em terceiro, muito em terceiro lugar, ação. S. João da Cruz escreve: “Deus espera de ti o mínimo de submissão e humildade, do que todas estas obras que pensas prestar-lhe”. Sta Teresa D’Ávila escreve: “A oração é a vida da alma”. O Beato Charles de Faucaul diz: “A oração é a respiração da alma”. Jesus, no início de Sua pregação, adverte: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Tudo isto, e muitas outras passagens do Evangelho e de tantos outros santos e doutores, sempre mostram a precedência da oração em relação à ação. É a atitude da mulher que gastou de seu precioso perfume nos pés do Cristo. Censurada por Judas, que era corrupto, foi elogiada pelo Salvador, e o perfume encheu toda a casa, porque foi gasto com o Cristo. Ademais, é preciso amar a Deus sobre todas as coisas; por isso, também, é preciso orar constantemente, como nos ordena Jesus. E não há amor sem oração.

Os que consideram que a simples ação resume a totalidade do Evangelho são tolos que vêem, justamente, a parte menor e menos essencial. Alguns ousam falar de mística social. Ora, que bagatela! Se todo o mal vem do coração, assim também todo o bem. Portanto, é do interior que surgem as ações. Se o espírito não ama, não trata com Deus, não é purificado, então a ação exterior será igualmente suja, corrompida, desprovida de verdade e profundidade.

A TL, em si mesma, já pretende esconder seu rabo luciferino. E, transmutando-se, assume de novo novas formas, como se pusesse novos véus de mentira; mas tais véus são sempre transparentes e o mau odor se faz sentir de longe por quem quer que queira observar. Movimentos sociais, na Igreja, são autênticos quando sustentados pela oração. Mas, infelizmente, há movimentos que estão se pervertendo com o mesmo ideal vaidoso e anti-evangélico da TL. Por trás de lemas tais como “luta, resistência, ternura...” vão se cegando, vão se levando ao abismo. São como cegos que guiam cegos e cairão todos no mesmo buraco. Estranhamente, encontram espaço no seio da Igreja, embora ninguém a fira tanto. Se voltam contra ela, permanecendo nela. Geralmente são grupos que querem assumir ideais modernistas, que querem a liberdade sexual, que querem a libertação dos “tabus”, o sexo livre. São pessoas para as quais, praticamente, já não existe pecado; o único pecado seria a “exploração” dos oprimidos pelos proprietários e donos dos meios de produção. Ora, se querem ser marxistas, vão para o PT, o PSOL, o PSTU... mas, infelizmente, a maioria já está lá. Querem permanecer na Igreja porque dão a parecer que mantêm um ideal religioso, mas, na verdade o que pretendem, é que em seio católico as suas opiniões tenham mais autonomia e mais liberdade, porque transvestidas de seriedade. S. Paulo os chamaria, sem medo, de inimigos da cruz, porque o são. Não entendem nada. Pensam não só como os homens, mas como os piores homens, afoitos, inclinados à baderna, permitindo a plena liberdade e satisfação de suas paixões.

Tudo isto é uma pena. Fere, machuca, faz sangrar a Igreja, Esposa Imaculada do Cordeiro. Mancha a sua belíssima Face. Estes inimigos traem Jesus com um beijo, enquanto o açoitam as costas. Querem questionar e contestar a Bíblia, não observam os dogmas. Se tornaram todos discípulos do Livre Exame de Lutero. E, se um livre exame medíocre já seria horrível; estes, ao estarem cegos, e fazerem o tal livre exame, tornam-se risonhos e ridículos, porque suas conclusões são miseráveis.

Deus nos diz: “permanecei na minha doutrina”, “não te desvies para a esquerda ou para a direita”, “se me amardes, fareis o que vos digo”. Por fim, Sto Afonso escreve: “Quem não reza, se condena”.

Sejamos fiés à Santa Igreja, sem medo do seus inimigos, os de fora ou os de dentro, mas sejamos soldados que defendem a Verdade divina, imutável e eterna, com amor. Conheçamos a Igreja, pratiquemos os seus ensinamentos, leiamos os escritos dos doutores, dos santos, dos papas, de todo o Magistério, a sua filosofia, a sua teologia, a sua mística. E, antes de tudo, rezemos e adoremos ao Cristo, na vivência dos Sacramentos. Cabe aqui o lema dos estudantes, quado S. João da Cruz tornou-se reitor de uma universidade. Conta-se que a maioria dos estudantes, dedicava-se bem aos estudos e eram, a maioria, bons místicos. O lema observado era: “homens de oração e homens de estudo; antes, porém, homens de oração”.

Fábio Luciano

Sacramento da Eucaristia


Seguindo com a explanação dos Sacramentos, ouso escrever algo sobre o maior deles; na verdade, todos os demais Sacramentos convergem para ele, de tal forma que se costuma dizer que ele seja O Sacramento. Se, enfim, todos eles têm como fim a Deus, isto é, são meios para Deus, o de que agora tratamos não é apenas meio, mas o próprio fim. Falamos de um Sacramento que é Deus. Deus Sacramento, a Eucaristia.

Antes, é importante notar que este é um dos pontos que diferem a Santa Igreja Católica de todas as demais denominações religiosas. É mesmo um ponto de contradição para a tão almejada união dos credos. De fato, Nosso Senhor, ao expor a necessidade de recebermos tal sacramento, foi abandonado pela multidão, restando-lhe apenas os amigos mais íntimos. Isto acontece ainda hoje. São tão poucos que permanecem fiel a tão augusto mistério.
Sendo Deus, logicamente, deve ser o centro das nossas vidas. A Eucaristia é, como dizia S. Pe. Pio, o Sol da Igreja. Ele chega mesmo a afirmar que seria mais fácil a terra viver sem o sol do que sem a Eucaristia. Alegorias à parte, creio firmemente que a sentença também seja uma verdade literal. Pois bem. Daí podemos também concluir que a Santa Missa deve ser, então, o centro de nossa espiritualidade, da nossa vida, e do nosso dia. A partir dela, se presta o maior culto de adoração possível a Deus, e é por meio dela que vem a nós Jesus, pelas mãos do sacerdote ordenado.

Primeiramente, vejamos algumas considerações que podem esclarecer um pouco este mistério. Vimos, pela explicação sobre os Sacramentos em geral e também, na que trata do batismo, que todos eles foram instituídos pelo próprio Cristo, e o poder de exercê-los foi conferido à Igreja (Cf Mt 16,19). No Sacramento da Eucaristia, Jesus o institui na quinta feira santa, um dia antes de Sua morte. Reunido com os seus discípulos, é também a noite da instituição do sacerdócio. Transubstanciando o pão e o vinho em Sua carne e Seu sangue, os oferece como comida e bebida, conforme já o tinha dito: “Minha carne é verdadeira comida e Meu sangue é verdadeira bebida”(Jo 6,55). Após a celebração da primeira Santa Missa, ordena aos Apóstolos: “Fazei isto é memória de Mim”(Luc 22,19). É importante dizer que a Santa Missa (mais adiante, discorreremos mais especificamente sobre ela como um todo) acontece de forma atemporal, isto é, não se limita a uma cronologia. Não existem, por exemplo, duas Santas Missas. É sempre uma só, a mesma, porque é sempre o Sacrifício Redentor de Cristo, que aconteceu uma vez por todas. Sempre se dá uma atualização, fora do tempo cronológico, onde dizemos que habita o tempo Kairos, o tempo de Deus. Mas, este acontecimento está também relacionado com a ordem dada por Cristo aos Apóstolos para a celebrarem em “memória” dEle. Há aqui um perigo de mal interpretação, segundo a qual, a Santa Missa seria apenas um memorial, no sentido de lembrança do que já aconteceu. Não é assim. O termo que Cristo usou foi “anamnesis” que seria melhor traduzido como “tornar presente”. E é justamente isto: a Santa Missa torna presente o Sacrifício de Cristo, assim como também a Sua Ressurreição. É na Santa Missa que a Eucaristia vem a nós, também como cumprimento da promessa de Jesus: “Eis que estarei todos os dias convosco até o fim do mundo”(Mt 28,20).

É difícil tratar de um tema tão profundo. Ele está intimamente ligado com dois outros temas, profundíssimos: a Santa Missa, e a Paixão que, embora estejam abraçados a ponto de serem a mesma coisa, podem ser tratados de forma específica. Mas, tentemos tatear passos neste mistério abismal...

Na Antiga Lei, os judeus costumavam fazer sacrifícios. Estes já eram uma prefiguração do único Sacrifício de Cristo. Após matar cordeiros (Jesus é o Cordeiro de Deus), eles o assavam (Eucaristia – Santo Agostinho diz que é o Pão assado no fogo do Espírito Santo) e o comiam (prefiguração da Comunhão). A hora do Sacrifício dos animais era às três horas da tarde (hora da Morte de Jesus). O Sacrifício dos cordeiros era expiatório; o cordeiro era morto em lugar dos habitantes da região por causa dos seus pecados. O ritual era feito anualmente, pelo sumo-sacerdote. Tudo isto é prelúdio da Nova Aliança, onde Cristo assume o lugar do Sumo-Sacerdote: “Suas vestes eram tecidas de alto a baixo em peça única, sem costura” (Jo 19,23). O próprio Cristo oferecia a Vítima, e Ele mesmo era a Vítima. O sacrifício que antes tinha um limite tanto geográrico, como temporal, em Cristo assume valor eterno. Por isto, é dito Nova e Eterna Aliança (Cf Hb 12,24 – 13,20).

Os remidos por Cristo passam a ser Seu Corpo Místico, sendo Ele mesmo a cabeça, e nós, seus membros. Estes renascidos, nova humanidade, unidos numa só Fé, num só Batismo e numa só Igreja, precisarão alimentar-se do Corpo do Cordeiro. Esta é a ordem dada por Cristo: “Se não comerdes carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos” (Jo 6,53) ou “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna”(Jo 6,54). Sendo o próprio Deus, não simbolicamente, mas de fato, não devemos fazer da Eucaristia uma simples devoção, ou ter para com ela uma espécie de veneração; não. Devemos, ao invés, prostrarmo-nos diante dela como sendo o próprio Deus, porque o é. Devemos arder de amor ou, como dizia Elias, nos devorarmos de amor pelo Cristo Eucarístico, e adorá-lo com toda a força de nossa alma, numa Fé pura e livre que, uma vez livre das prisões dos sentidos, erga-se rapidamente e sem erro a estas realidades altíssimas. Eis o pão seco dos fortes, como o expressou Edith Stein. Como Elias que após comer o pão misterioso teve forças para andar vários dias (I Re19,5-8), assim também, neste exílio é nossa necessidade alimentarmo-nos deste Pão que é Deus. Assim como Tobias declarava que seu alimento era um pão e um vinho desconhecidos (Tb 12,19), assim também, o alimento de nossa alma, se possível diário, deve ser a Eucaristia. Eis a comida dos amantes do Amado. É a partir da vivência dos Sacramentos e da constância no Mistério da Eucaristia que somos, aos poucos, divinizados, isto é, transformados nEle, no Cristo, formados segundo a semelhança do Homem perfeito, o Novo Adão, que é Jesus. Isto Ele mesmo disse a Sto Agostinho: “Quando me comungas, não és tu que me transformas em ti, como acontece com os outros alimentos; mas Eu te transformo em Mim”. E, como dizia S. João da Cruz, o amor é maior onde há maior semelhança. Devemos ainda considerar que é atitude de profundo amor que o Cristo queira permanecer entre nós. Outrora, escondia de nós Sua forma divina; hoje esconde-nos, até mesmo, Sua forma humana, como nos ensina Sto Tomás de Aquino. Se antes fora um radical rebaixamento, assumindo a nossa pobre natureza, agora, assume então a forma de coisa, rebaixa-se a um estado tão vizinho do nada, como o explica Sta Tereza, para estar perto de nós. Como não arder de amor por Ele? Que insensibilidade é esta que faz alguém perder a Santa Missa por motivo fútil? Eis o ensinamento de Deus Pai a Santa Catarina de Sena: “aos que tratam a Eucaristia com deszelo, até os demônios sente asco dessas almas”.

Terminando este muito simples apanhado de algumas questões, evidenciamos que é preciso confessar-se regularmente. Mais adiante trataremos deste Sacramento. Não deve aproximar-se do banquete eucarístico, se o fiél estiver em pecado grave. Do contrário, estaria praticando sacrilégio e, ainda, comendo a própria condenação, como ensina S. Paulo. Afinal, ter a consciência de que não se está em condições de recebê-Lo é também um ato de Fé. Isto, porém, não é desculpa para faltar à Santa Missa e, também, não se deve passar tempo sem confessar-se. O ideal é que este Sacramento da Penitência seja buscado sempre que houver necessidade, pois ele destrói os vícios e robustece a vontade de perfeição em nós.

Acima de tudo, é preciso amar a Deus e adorá-lo com toda potência de nossa alma. E, enfim, terminando, ponho aqui o que disse S. Pe. Pio quando lhe perguntaram como alguém deve assistir à Santa Missa. Eis a resposta: “como a assistiram Nossa Senhora e o Apóstolo João aos pés da Cruz”.

A todos a paz.

Fábio Luciano

Algumas considerações sobre o materialismo


Durante toda a história do cristianismo, víamos pessoas que proclamavam, desprovidas de medo e munidas de amor, com imensa alegria o fato de serem cristãs. Que graça, que alegria! O tempo do erro passara. O Cristo, de fato, tinha vindo à nossa humilde convivência; dignara-se ensinar-nos a perfeição da Verdade. Instruíra-nos sobre a forma de agradar a Deus, convencera-nos sobre a vaidade que é viver para as coisas mundanas, instituíra a Sua Igreja em nosso meio e se mantivera, fisicamente, unido a nós, em Seu Corpo e Sangue, em todas as Igrejas do mundo. Preparava-nos assim a alma e a morada celeste, onde, enfim, se daria a plenitude da felicidade e do amor, a perfeita comunhão de um Deus que deu Sua vida por amor com a alma, resgatada e inflamada no mesmo amor, a ponto de, amante e amado, constituírem um só, como o fazem o esposo e a esposa ao se tornarem uma só carne.

A barbárie havia passado, e com ela toda a mentira. A ordem foi dada: Ide e ensinai. Eis a reta hierarquia das coisas. As perguntas fundamentais do ser humano foram respondidas. Cabia-nos, enfim, lutar contra as más tendências que permaneciam na tentativa de nos distrair desta sublime verdade.

No entanto, hoje em dia, como naquele tempo dos judeus, os homens rejeitaram a luz. Escolheram as trevas, se ocultaram em cavernas tenebrosas e, como disse o Apóstolo, escolheram fábulas e criaram falsos mestres ao invés de aderirem à Verdade revelada. Rejeitaram o Verbo de Deus. Entre suas fantasias e contos de comadres que, impressionantemente, encaixam-se umas às outras, como se fossem resultado de uma conspiração underground contra a Verdade, está a famosa doutrina materialista, antiga na verdade, mas que ganhou nova força nestes tempos, devido ao alastramento da doutrina socialista pelo mundo. Por amor à verdade, discorramos então sobre alguns pontos desta teoria que, não obstante sua fragilidade infantil, tem ganho muitos adeptos que, lamentavelmente, têm correspondido à infeliz subdoutrina, tornando-se também eles infantis na maneira de ver o mundo. As contradições são muitas, a começar pelo reducionismo econômico, segundo o qual, a força determinante para toda mudança na humanidade, seria a questão econômica. Descarte-se então toda outra motivação humana. O amor, por exemplo, segundo o socialismo não move nada. Dessa forma, o ideal deles de liberdade seria apenas motivado pelo interesse econômico. Hehe... Muitos que geralmente aderem a este sistema não refletem sobre as implicâncias de sua crença. É lamentável. Mas, sem nos determos nesta questão, passemos a uma rápida análise de alguns princípios da teoria.

Primeiramente, é importante ressaltar que o materialismo observa, como os demais sistemas, o princípio de causalidade. Causa e efeito são admitidos e cridos. Neste sentido, a causa dos problemas sociais seria a propriedade privada. A causa da desigualdade seria a existência de classes. A causa da emancipação seria a revolução. É interessante isto, mas se torna ainda mais interessante se a gente questionar o materialismo sobre a causa primeira das coisas. Todas as coisas são causadas por algo anterior. Na filosofia tomista, se diz que um ser em potência só pode ser posto em ato, por um ser em ato. Ora, mas o materialismo, negando o espírito e qualquer transcendência, teria, ou de negar a causa primeira, num processo retroativo infinito (ilógico), ou de escolher como causa primeira uma matéria. Mas, então, esta matéria incriada, seria uma espécie de ser transcendente. Isto seria uma coisa muito estranha. Segundo o princípio da causa primeira, o materialismo não se explica.

De outra forma, poderíamos notar que ao observar o princípio da causalidade, o materialismo, negando o espírito, torna-se mecânico, isto é, toda a transformação, não havendo uma vontade pessoal que nela aja, torna-se meramente determinista. Daí surgem novos problemas:
Primeiro, como explicar que as coisas se transformem? Para tal, deveríamos conceber uma espécie de dinamismo inerente às partículas da matéria. Só isto explicaria a sua diversidade. Muito estranho...
Segundo, como explicar que as coisas materiais se organizem de forma tão ordenada? Isto não supõe a existência de uma inteligência que as ordene? Seria uma tendência natural da matéria em ordenar-se? Ora, e por que, então, não saem computadores, carros, televisores do lixão? Por que as coisas não se concertam por si só?
Em terceiro lugar, se o materialismo é forçosamente determinista; isto implica que as coisas seguem um curso mecânico. Tudo já está determinado. Como, então, falar de liberdade? Como prometer a emancipação da sociedade? Se alguém é determinista, então não tem sequer a liberdade de tomar um sorvete ou de dizer um bom dia porque, se o disser, somente o fez por já estar determinado. Determinismo e liberdade são antagônicos, são opostos.

Resumindo então estas questões, teríamos que o materialismo é inconsistente, entre outros motivos, porque:

1 – Não explica a causa primeira
2 – Não explica porque as coisas se transformam
3 – Não explica porque as coisas estão dispostas em perfeita ordem
4 – Observa o determinismo, que se opõe ao conceito de liberdade, que ele promete.

Estas são apenas algumas questões, vistas muito rapidamente, sobre alguns princípios do materialismo. Ele não se sustenta. Mas, infelizmente, pelo seu caráter de revolução e baderna, tem conseguido muitos adeptos e, mais infelizmente ainda, suas ramificações tem se infiltrado em meios católicos.

Que Nossa Senhora nos proteja deste mal, e rogue a Deus para que nos conserve fiéis à sua Santa e Perfeita Verdade.

Fábio Luciano

A intolerância religiosa


Partes do sermão do Cardeal Pie, pregado na Catedral de Chartres em 1841

Nosso século clama: “tolerância, tolerância”. Tem-se como certo que um padre deve ser tolerante, que a religião deve ser tolerante. Meus irmãos, não há nada que valha mais que a franqueza e eu aqui estou para vos dizer,, sem disfarce que no mundo inteiro só existe uma sociedade que possui a verdade e que esta sociedade deve ser necessariamente intolerante.

Faz parte da essência de toda verdade não tolerar o princípio que a contradiz. A afirmação de uma coisa exclui a negação dessa mesma coisa,, assim como a luz exclui as trevas. Onde nada é certo, onde nada é definido, pode-se partilhar os sentimentos, podem variar as opiniões. Mas logo que a verdade se apresenta com as características certas que a distinguem, por isso mesmo que é verdade, ela é positiva, ela é necessária e por consequência ela é una e intolerante: in necessaris unitas. Condenar a verdade à tolerância é condená-la ao suicídio. A afirmação se aniquila se ela duvida de si mesma, e ela duvida de si mesma se ela admite com indiferença que se ponha a seu lado a sua própria negação. Para a verdade, a intolerância é o instinto de conservação, é o exercício legítimo do direito de propriedade.

Assim, meus irmãos, pela própria necessidade das coisas,, a intolerância está em toda parte porque em toda parte existe o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, a ordem e a desordem. Quem há de mais intolerante do que esta proposição: 2 e 2 fazem 4? Se vierdes me dizer que 2 e 2 fazem 3 ou fazem 5, eu vos respondo que 2 e 2 fazem 4...Nada é tão exclusivo quanto a unidade. Ora, ouvi a palavra de São Paulo: “unus Dominus, una fides, unum baptisma”. Há no céu, um só Senhor: unus Dominus. Esse Deus, cuja unidade é seu grande atributo, deu à terra um só símbolo, uma só doutrina, uma só fé: una fides. E esta fé, esta doutrina, Ele confiou-as a uma só sociedade visível, uma só Igreja cujos filhos são, todos, marcados com o mesmo selo e regenerados pela mesma graça: unum baptisma. Assim, a unidade divina que esplende por todos os séculos na glória de Deus, produziu-se sobre a terra pela unidade do dogma evangélico cujo depósito foi confiado por Nosso Senhor Jesus Cristo à unidade hierárquica do sacerdócio: um Deus, uma fé,uma Igreja: unus Dominus,una fides, unum baptisma.

Um pastor inglês teve a coragem de escrever um livro sobre a tolerância de Jesus Cristo e o filósofo de Genebra (Rousseau) disse, falando do Salvador dos homens. “Não vejo que meu divino Mestre tenha formulado sutilezas sobre o dogma”. Bem verdadeiro, meus irmãos. Jesus Cristo não formulou sutilezas sobre o dogma, mas trouxe aos homens a verdade e disse: se alguém não for batizado na água e no Espírito Santo; se alguém recusa-se a comer a minha carne e a beber o meu sangue, não terá parte em meu reino. Confesso que nisso não há sutilezas, há intolerência, há exclusão, a mais positiva, a mais franca. . E mais, Jesus Cristo enviou seus Apóstolos para pregar a todas as nações, isto é, derrubar todas as religiões existentes para estabelecer em toda a terra a única religião cristã e substituir todas as crenças dos diferentes povos pela unidade do dogma católico. E prevendo os movimentos e as divisões que esta doutrina vai incitar sobre a terra, Ele não se deteve e declarou que tinha vindo para trazer não a paz, mas a espada e acender a guerra não somente entre os povos, mas no seio de uma mesma família e separar, pelo menos quanto às convicções, a esposa fiel do esposo incrédulo, o genro cristão do sogro idólatra. A afirmação é verdadeira e o filósofo tem razão: Jesus Cristo não formulou sutilezas sobre o dogma.

Falam da tolerância dos primeiros séculos, da tolerância dos Apóstolos. Mas isso não é assim, meus irmãos. Ao contrário, o estabelecimento da religião cristã foi, por excelência, uma obra de intolerância religiosa. No momento da pregação dos Apóstolos, quase todo o universo praticava essa tolerância dogmática tão louvada. Como todas as religiões eram igualmente falsas e igualmente desarrazoadas, elas não se guerreavam; como todos os deuses valiam a mesma coisa uns para com os outros, eram todos demônios, não eram exclusivos, eles se toleravam uns aos outros: satã não está dividido contra si mesmo. O Império Romano, multiplicando suas conquistas, multiplicava seus deuses e o setudo de sua mitologia se complica na mesma proporção que o da sua geografia.

Quando aparece o cristianismo, não foi repelido subitamente. O paganismo perguntou se, ao invés de combater a nova religião, não devia dar-lhe acesso ao seu solo. (...) Mas a palavra do profeta não tardou a se verificar: as multidões de ídolos que viam, de ordinário sem ciúmes, deuses novos e estrangeiros serem colocados ao lado deles, com a chegada do Deus dos cristãos, lançam um grito de terror, e, sacudindo sua tranquila poeira, abalam-se sobre seus altares ameaçados. E logo, quando se percebeu que esse Deus novo era irreconciliável inimigo dos outros deuses; quando viu-se que os cristãos, dos quais se havia admitido o culto, não queriam admitir o culto da nação; em uma palavra, quando constatou-se o espírito intolerante da fé cristã, é aí que então começou a perseguição.

Ouvi como os historiadores do tempo justificam as torturas dos cristãos. Eles não falam mal de sua religião, de seu Deus, de seu Cristo, de suas práticas; só mais tarde é que inventaram calúnias. Eles os censuram somente por não poderem suportar outra religião que não seja a deles.

Assim, meus irmãos, o principal agravo contra os cristãos era a rigidez absoluta do seu símbolo, e, como se dizia, o humor insociável de sua teologia. Se só se tratasse de um Deus a mais, não teria havido reclamações; mas era um Deus incompatível, que expulsava todos os outros: eis porque a perseguição. Assim, o estabelecimento da Igreja foi uma obra de intolerância dogmática. Toda a história da Igreja não é outra que a história dessa intolerância. O que são os mártires? Intolerantes em matéria de fé, que preferem os suplícios a professarem o erro. O que são os símbolos? São fórmulas de intolerância, que determinam o que é preciso crer e que impõem à razão os mistérios necessários. O que é o Papado? Uma instituição de intolerância doutrinal, que pela unidade hierárquica mantém a unidade de fé. Porque os concílios? Para freiar os desvios de pensamentos, condenar as falsas interpretações do dogma; anatematizar as proposições contrárias à fé.

Nós somos então tolerantes, exclusivos em matéria de doutrina; nós dissto fazemos profissão; nos orgulhamos da nossa intolerância. Se não o fôssemos, não estaríamos com a verdade, pois que a verdade é uma, e consequentemente intolerante. Filha do céu, a religião cristã, descendo sobre a terra, apresentou os títulos de sua origem; ela ofereceu ao exame da razão fatos incontestáveis, e que provam irrefutavelmente sua divindade. Ora, se ela vem de Deus, se Jesus Cristo, seu autor, pode dizer: Eu sou a Verdade: Ego sum Veritas, é necessário por uma consequência inevitável, que a Igreja Cristã conserve incorruptivelmente esta verdade tal qual a recebeu do céu; é necessário que ela repila, que ela exclua tudo o que é contrário a esta verdade, tudo o que possa destruí-la. Recriminar à Igreja Católica sua intolerância dogmática, sua afirmação absoluta em matéria de doutrina é dirigir-lhe uma recriminação muito honrável. É recriminar à sentinela ser muito fiel e muito vigilante, é recriminar à esposa ser muito dedicada e exclusiva.

Se todas as religiões podem ser postas num mesmo nível, é que elas se equivalem a todas, se todas são verdadeiras é porque todas são falsas, se todos os deuses se toleram, é porque não há Deus. E se se pode aí chegar, não sobra mais nenhuma moral incômoda. Quantas consciências estariam tranquilas, no dia em que a Igreja Católica desse o beijo fraternal a todas as seitas suas rivais!

Procurais a verdade sobre a terra? Procurai a Igreja intolerante. Todos os erros podem se fazer concessões mútuas; eles são parentes próximos, pois que têm um pai comum: vos ex patre diabolo estis. A verdade, filha do céu, é a única que não capitula.

Vós, pois, que quereis julgar esta grande causa, tomai para isto a sabedoria de Salomão. Entre essas diferentes sociedades para as quais a verdade é um objeto de litígio, como era aquela criança entre as duas mães, quereis saber a quem adjudicá-la. Pedi que vos dêem uma espada, fingi cortar, e examinai as caras que farão os pretendentes. Haverá vários que se resignarão, que se contentarão da parte que vão ter. Dizei logo: essas não são as mães! Há uma cara, ao contrário, que se recusará a toda composição, que dirá: a verdade me pertence e eu devo conservá-la inteira, eu jamais tolerarei que ela seja diminuída, partida. Dizei: esta aqui é a verdadeira mãe!

Sim, Santa Igreja Católica, vós tendes a verdade, porque vós tendes a unidade, e porque vós sois intolerante, não deixais decompor esta unidade.

Cardeal Pie
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