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Como o demônio não tolera o oferecimento de nós mesmos a Deus pelas mãos de Maria


Pe. Francesco Bamonte

O que me impressiona mais, durante os exorcismos, nas atitudes e nas expressões dos demônios é o seu medo e ódio terrível à oferta que fazemos de nós próprios a Deus, por amor, em espírito de reparação dos nossos pecados e dos pecados dos outros, pondo previamente esta oferta nas mãos de Maria, a fim de que seja ela a apresentá-la ao Senhor. Na prática, trata-se de dar, com grandíssimo amor, pelas mãos de Maria, a nossa vida a Deus, com a intenção de reparar as ofensas que Ele e a Virgem Maria recebem dos pecados do mundo; para reparar as consequências dos nossos pecados e dos pecados dos outros; para obter a conversão daqueles que, por causa dos seus pecados, correm o tremendo perigo da condenação eterna1. Muitas vezes, experimentei o poder dessa oferta. De fato, aconteceu-me frequentemente que, quer no decurso dos exorcismos, quer no meu ministério sacerdotal, enquanto eu conversava com a pessoa possuída e lhe ensinava como se vive a oferta de si mesmo, o demônio, até aquele momento escondido, repentinamente manifestava-se furioso, porque não suportava que eu fizesse aquela catequese. Compreendi, então, com clareza, que essa oferta a Deus é um meio eficacíssimo, não só para tirar ao demônio os corpos que ele mantém possessos, mas também e sobretudo para arrancar às suas garras muitas almas que vivem no pecado. Como veremos, os próprios demônios, malgrado seu, tiveram de confirmar tudo isto com grande desapontamento.

Num parágrafo anterior (...), já descrevi o modo como a intercessão da Virgem não consiste apenas em orar, por nós e para nós, para nos obter não só a graça santificante e cada uma das graças de que vamos precisando, mas também em dar a Deus o que lhe oferecemos. Um dia, enquanto estávamos a apresentar e a oferecer a Nossa Senhora orações, alegrias, sofrimentos e toda a nossa vida, juntamente com os sofrimentos da pessoa possessa, o demônio foi obrigado a dizer: "Cada alegria, dor, sofrimento, oferecidos àquele Coração (de Maria), são doces ternuras de profunda caridade que ela aceita e oferece com as suas mãos e levanta-as à luz daquele Criador."

Um triste acontecimento tinha provocado em mim um grandíssimo sofrimento moral. Uma manhã, quando retomei os exorcismos, no primeiro dia depois daquela prova dolorosa, o demônio, sentindo-se irritado com o meu regresso aos exorcismos, quis desforrar-se e, de repente, começou a descrever com grande precisão, e rindo-se perfidamente e com grande satisfação, todos os fatos que me tinham causado aquela aflição, gabando-se de ter contribuído para suscitá-los e para fomentá-los. Também ameaçava provocar-me outros. Então, fiz esta oração: "Senhor, pelas mãos da Mãe Celeste ofereço-te com todo o meu coração aqueles sofrimentos." Ainda não tinha acabado de dizer a palavra "sofrimentos" e já o demônio mudava a "música". Com urros que rebentavam os tímpanos, gritou: "Não, nããoo! Foi ela que a apanhou (palavrão). Roubou-a! Logo a levou! (referia-se à oferta do sofrimento). Levou-a Àquele, imediatamente!!! Quase nem deu tempo de apanhá-la. Apanhou-a e levou-lha lá acima. Todas elas almas que me levooouu!!!"

Está ainda viva em mim a recordação de um episódio que aconteceu recentemente: durante uma conversa pessoal, eu tinha ensinado a oferta a Deus de si próprio, pelas mãos de Maria, ao marido de uma senhora que recebia exorcismos. Eu também tinha composto uma oração que ele deveria inserir entre as suas orações da manhã e da noite, para vivificar o espírito desta oferta diária.

Naquele momento, a esposa não tinha qualquer possibilidade de saber nada do que eu dissera ao marido, porque vinha ao nosso encontro com a filha. Tendo chegado junto d nós e sido iniciado o exorcismo, logo o demônio, berrando, disse: "É inútil que ensines aquelas coisas a esse (e disse um palavrão, apontando com o dedo o marido daquela mulher) e, depois, aquele papel que escreveste (referia-se claramente à oração que eu tinha composto, vou rasgá-lo, vou rasgá-lo!"
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1- De fato, os pecados, segundo a sua gravidade, nunca deixam de ter efeitos: provocam sempre danos, tanto em quem os comete, como na sociedade inteira. O dano mais grave, porque não há possibilidade de remédio, para quem persevera no pecado até ao último instante, é o Inferno.

Pe. Francesco Bamonte, A Virgem Maria e o Diabo nos Exorcismos.

Aversão do demônio ao Rosário


Pe. Francisco Bamonte

Na minha experiência de exorcista, apercebi-me de que nenhuma oração extralitúrgica é tão odiada, temida e hostilizada pelo demônio como o Santo Rosário.

Um dia, enquanto eu pegava o terço, o demônio exclamou: "É uma coisa que não suporto, não suporto! Aquele estúpido velho apelidara-a bem, tinha-lhe dado o nome certo: chamava-lhe "arma", porque é uma verdadeira arma. Uma verdadeira arma contra nós"1. Eu disse: "Em nome de Jesus, quem é o estúpido velho a que te referes?" E ele: "Pio" - "Padre Pio de Pietrelcina?" - "Siiim!" Então, eu rebati: "Não é um estúpido: é inteligente, sábio e devoto." E ele: "Para nós é um estúpido. Ainda agora, aquele estúpido trabalha ao lado do Nazareno e daquela mulher que está lá em cima." - "Como se chama aquela mulher que está lá em cima?" - "Chama-se como esta (e dirige um palavrão à pessoa possessa)."

Um dia, ordenei ao demônio: "Descreve as maravilhas do Rosário!" Respondeu-me: "A mim, mete-me nono." E eu: "Para nós é maravilhoso. Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que deu a Virgem Maria por Mãe a cada um de nós, descreve todas as coisas que te metem nojo e que, para nós, são boas." E o demônio: "Descreve todo o itinerário de dor que Ele ofereceu por vós e que custou tanto sofrimento não só a Ele, mas também à sua Mãe, para vos salvar a todos, para vos abrir as portas do Paraíso. Ela sofreu tanto, tanto quanto o Filho, e expiou juntamente com Ele os vossos pecados. É por isso que cada conta (do Rosário) é uma lágrima daquela Mulher que sofreu durante os três anos que Ele padeceu por vós, evangelizou, curou e se manifestou. Tudo fez naqueles três anos, compreendendo aquilo que realizou naquela cinquentena, que o Papa mandou consagrar antes disto, compreendendo isso (refere-se evidentemente aos "mistérios da Luz" que João Paulo II ajuntou aos mistérios do Rosário). Quando vós rezais aquele terço maldito, tudo nos faz mal, porque contemplais tudo aquilo que ele faz contra nós. Tudo. Naqueles três anos, Ele lutou só e exclusivamente para fazer-nos mal e afastar as almas de nós, porque antes não era possível. Depois da sua vinda e especialmente depois da sua revelação (pública), naqueles três anos que contemplais nestes mistérios, vós "massacrais-nos", porque nós revivemos os acontecimentos da sua vida, especialmente se os contemplais oferecendo-os revivendo (em vós) os seus sofrimentos, como esta (diz um palavrão referindo-se à pessoa possessa). Esta mulher (a possessa, que oferece todos os seus sofrimentos a Deus) é um verdadeiro perigo, como são outras como ela. Se, ao meditardes os mistérios desta arma (o Rosário), vós unis os vossos sofrimentos aos deles (Jesus e maria) e ao de todos os sofredores que Ele (Jesus) escolheu, como esta mulher - porque ela não os escolheu para si, é Ele quem a mantém neste estado -, então, sim, vós fazeis realmente muito mal."

Noutro exorcismo, o Maligno disse: "Quando dizeis a Ave-Maria é como se ela tomasse o vosso espírito e o levasse diante do Pai. Todas as vezes. Porque ela ama-vos como ninguém mais vos ama, leva-vos lá acima consigo. E quando tu recordas a vida daquele (refere-se à meditação de cada mistério durante o Rosário), para mim é um suplício reviver todas as vezes o que aquele estabeleceu (mais um palavrão), porque quando tu acabas, começa outro, e [quando] este deixa, outro inicia, e este sai, outro entra. Sempre, há sempre alguém que está a rezá-lo. Não há um instante em que não seja rezado. É uma cantilena ininterrupta, em todas as partes do mundo. Mas, para nós, é um fundo musical mortal. Com todos aqueles (outro palavrão) mistérios, lembrais-nos todas as vezes o que nos fez e nos faz maaaaaal!"

E um dia 7 de outubro, dia da memória litúrgica da Senhora do Rosário. Tirei do bolso o terço e ele disse imediatamente: "Essas contazinhas fazem-me mal, bastardas! E também bastardos os que o fazem! (talvez se referisse àqueles que confeccionam os terços do Rosário)." Ordenei-lhe: "Por que te aborrecem tanto aquelas contazinhas?" E ele: "Porque me dais muitos murros. Acabai com isso! Já não vos dou o suficiente?" Então, coloquei o terço em cima daquela pessoa e o demônio berrou: "É pesado, esmaga-me, tira-o, esmaga-me! Estás a esmagar-me! Saem-me as "tripas", não vês!" O que é que estas reações do demônio nos ensinam para a nossa vida diária? Que o Rosário, bem rezado, "pesa" no demônio de tal maneira que já não pode fazer-nos todo o mal que quereria, porque a Senhora, precisamente através do Rosário, faz-nos crescer na fé em Deus e protege-nos das insídias do inimigo.

Noutro dia, enquanto eu exorcizava, tirei novamente um terço do bolso e imediatamente o demônio gritou: "Tira essa corrente, tira essa corrente!" E eu: "Que corrente?" E ele: "Essa com a cruz ao fundo. Ela chicoteia-nos com essa corrente!" Trata-se, na verdade, de uma linguagem metafórica, mas faz-nos compreender de maneira muito concreta o poder do Rosário e quanto o demônio o teme.

Outra vez, eu tinha posto ao pescoço da pessoa possessa um terço; o demônio gritou: "Queres matar-me? És um assassino! Estas contas são pior do que os espinhos da coroa de Cristo! São fogo vivo. Cada pérola é um coração consagrado! Mata-nos a todos! Tira-nos a respiração! Está a sufocar-me! Para nós é morte certa!"

Outra vez, enquanto eu estava a dependurar o terço ao pescoço de uma pessoa possessa, o demônio gritou, tentando travar-me: "Tira essas rosas: fedem, fedem, essas rosas!" Instintivamente, eu disse: "Onde estão as rosas?" E o demônio: "Puseste-as em cima dela (referia-se à pessoa possessa)." Depois do exorcismo, essa pessoa referiu-me que se recordava apenas de que, em determinado momento, se tinha sentido envolvida por uma coroa de rosas.

Outras expressões sobre o Rosário, em diversos outros exorcismos:

"Cada conta desse terço, com que vós rezais, é para nós uma chicotada, queima-nos."

"Quando usais aquela maldita corrente, sinto-me mal, porque invocais aquela (a Ave-Maria), recordais-me a vida daquele (a nossa contemplação dos mistérios do Evangelho no Rosário atormenta-o e faz-lhe perder as forças)"

"Quem se agarra a esta (e procurou arrancar o terço que eu tinha posto ao pescoço da pessoa possessa), nunca se perderá."

"Quando contemplais os mistérios daquele terço, fico doente. São bastonadas. Arranca de mim muitas, muitas almas. Porque é sua. Porque é daquela."

"Odeio-o (o terço), porque é uma coroa de amor que une todas a Ele e a ela."

Finalmente:

"Se vós todos soubésseis, eu seria destruído em menos de um segundo. Se rezardes o Rosário, esta coisa aqui bastarda, com fé! (E afastou com desprezo o terço que eu tinha nas mãos.) Sabes o que é que ela faz quando vós rezais o terço? (diz uma série de insultos contra mim): Ela pega a vossa mão, estica-se para o Céu e pega na do vosso Deus, e, através desta oração, desta corrente de (um palavrão), aproxima as duas mãos e aproxima-as para fazer com que se toquem. Quando estas duas mãos se encontram, ela exulta, exulta, exulta, ajoelha-se e reza. Só poucos homens alcançam aquela mão, porque muitas vezes arrancam-ma da mão daquela, porque não querem fazê-lo, graças a mim que sou o seu deus, mas os que conseguem (e repete), mas os que conseguem, têm plena consciência disso e ela exulta. Ei-la que se ajoelha e beija os pés perfurados do Filho e diz que fez graça a este (isto é, a alguma pessoa), porque tocou naquela mão e no meio daqueles (os habitantes do Paraíso), quando acontece, todo o Paraíso, todo o Paraíso exulta. Que nojo, que nojo! E lágrimas de alegria saem daqueles olhos (diz um palavrão). Que nojo, que nojo, que nojo, que nojo, que nojo, que nojo, que nojo!"

1- São Pio de Pietrelcina disse, um dia: "Satanás procura destruir esta oração, mas nunca o conseguirá: é a oração daquela que triunfa sobre tudo e sobre todos. Foi ela quem no-la mostrou, como Jesus nos ensinou o Pai-nosso."

Pe. Francisco Bamonte, A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos.

A recusa, da parte do demônio, do projeto da Encarnação do Filho de Deus e de Maria Rainha dos Anjos e dos homens


O homem foi criado por Deus à sua imagem e semelhança, isto é, segundo a imagem do Filho que o Pai Eterno tinha na sua mente, quando, chegada a plenitude dos tempos, haveria de enviá-lo ao mundo para fazer-se homem e redimir a humanidade. O homem é, portanto, "figura daquele que haveria de vir" (Rm 5,14), Cristo Jesus. Por isso, esteve presente na mente de Deus, desde a eternidade, antes de qualquer outra criatura, e também a figura daquela em quem a Encarnação do Filho haveria de realizar-se: Maria Imaculada. Diz o Concílio Vaticano II: "A santíssima Virgem [foi] predestinada desde toda a eternidade, no desígnio da Encarnação do Verbo divino, para [ser] Mãe de Deus".1 A natureza humana de Cristo e de Maria é o vértice da obra da criação. Embora, cronologicamente, Cristo e Maria aparecessem no mundo muitos séculos depois da criação de todas as coisas, a Santíssima Trindade tinha em mente desde a eternidade esta obra-prima insuperável relativamente a qualquer obra criada por Deus: "Uma Mulher imaculada que fosse Mãe do Filho, dando-lhe a carne humana do seu seio por obra do Espírito Santo".

Nesta perspectiva, a Virgem Maria pode ser definida como "primogênita" do Pai, porque nos seus decretos divinos Ele a predestinou juntamente com o Filho Jesus Cristo, antes de todas as criaturas.2 Cristo e Maria foram pensados, queridos e amados pelo Pai Eterno, pelo seu Verbo e pelo Espírito Santo, antes de toda a criação, e, a eles, todas as coisas estão subordinadas e se ordenam necessariamente. Todo o universo material e espiritual foi criado intimamente unido ao homem, de que Cristo e Maria são o vértice, e só por meio do homem todas as coisas podem atingir o fim para que foram criadas. Portanto, a criação dos anjos, feita por Deus, esteve ligada à sua decisão de unir-se ao homem mediante a Encarnação: isto é, entrar no mundo da matéria, do espaço e do tempo. Portanto, a criação dos anjos foi orientada, desde o início, para a síntese admirável da criação, que é o homem, cujo representante máximo é o Verbo de Deus que se torna carne por meio de Maria e se faz homem. A criação do homem - e, em particular, a natureza humana do Verbo - dá consistência e significado a todo o universo, incluindo também os anjos.

É claro que, neste projeto de Deus, a Virgem Maria, embora constituída, como cada criatura humana, de espírito e matéria (alma e corpo), é elevada acima dos anjos que são espíritos puros. Pela sua natureza angélica mais semelhante a Deus, espírito puríssimo, Satanás pretendia que lhe competiria a proeminência sobre toda a criação, que Deus conferiu à Virgem Maria. Consequentemente, esta atitude implicava uma contestação decisiva quer da Encarnação do Verbo de Deus - que haveria de assumir a natureza humana, inferior à angélica - quer da presença daquela Mulher, da qual, encarnando, o Filho de Deus haveria de nascer no tempo. Ela, posta à sua direita, como Rainha dos homens e dos anjos, havia de fato sido eleita não só acima das criaturas humanas, mas também das angélicas. O fato de Satanás rejeitar Maria foi uma consequência lógica da rejeição da Encarnação.

No momento em que a Santíssima Trindade criou os anjos, já sabia que alguns deles haveriam de usar o dom da liberdade para recusar o seu projeto de amor sobre toda a criatura: voltar-se-iam contra Deus, seu Criador, operando pela destruição da sua criação, que era inteiramente boa, e haveriam de introduzir nela o mal, o sofrimento e a morte. Por isso, desde o princípio da Criação, Deus estabeleceu que a Encarnação do Verbo também haveria de ser redentora, a fim de salvar as criaturas que haveriam de continuar fiéis a Ele. Por isso, enquanto criava, Deus pensava no seu Filho feito homem - isto é, Jesus Cristo - como Redentor, e em sua Mãe, cooperadora com o Filho redentor.

O teólogo jesuíta espanhol Francisco Suárez3, que apresenta a síntese provavelmente mais completa de angelologia e demonologia da Idade Moderna, retomando a opinião do Padre das Igrejas, Lactâncio (cerca de 260-330) - segundo o qual o pecado do anjo foi o de inveja, não em relação ao homem, mas em relação ao Filho de Deus feito homem (o Logos) -, explica que, depois, por esse motivo, Lúcifer4 haveria de enganar o homem por inveja (Divinae Institutuiones). Suárez afirma que a revolta de Lúcifer e dos outros anjos rebeldes consistiu em não ter aceitado o plano que Deus lhes tinha preanunciado, relativo à futura Encarnação do Verbo. Esta hipótese teológica fundamenta-se nas seguintes palavras da Carta aos Hebreus (1,6): "Quando [Deus] introduz o Primogênito no mundo, diz: Adorem-no todos os anjos de Deus." De algum modo, Deus haveria de mostrar a todos os anjos a futura imagem do Filho, Deus feito homem, Jesus Cristo, convidando-os a reconhecer nele, desde então, o seu chefe, o autor da sua salvação e o seu legislador.

Lúcifer e uma parte dos anjos recusaram-se a adorar um homem inferior a eles por natureza, embora ao mesmo tempo superior, sendo a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, encarnada. Eles consideraram o projeto divino da Encarnação como uma ofensa inaudita à sua dignidade angélica e à sua grandeza na hierarquia dos seres; por isso, rejeitaram-no desdenhosamente5. Por isso, tratou-se de um pecado de soberba que brota, no entanto (e de acordo com o Beato Duns Escoto), do amor desordenado a si mesmo: amor de concupiscência e, simultaneamente, amor da sua própria excelência. De fato, cego pelo amor desordenado de si mesmo e da sua excelência, Lúcifer pretendeu que a união hipostática do Verbo6 não se fizesse com uma natureza humana, mas sim, necessária e exclusivamente, com a sua natureza angélica.

Por isso, quando os anjos foram convidados a reconhecer Cristo feito homem como seu chefe e seu salvador, e a adorá-lo como Deus, Lúcifer opôs-se, presumindo que essa honra deveria ser dada exclusivamente a ele. Na sua rebelião, arrastou os outros anjos, persuadindo-os de que só a ele conviria a dignidade da união hipostática (isto é: segundo Lúcifer, a natureza divina deveria unir-se à sua natureza angélica e não à natureza humana, como aconteceu em Cristo Senhor). Contra o plano de Deus, ele desejou a união hipostática do Verbo de Deus com a sua própria natureza angélica, porque essa união adquiriria uma proeminência; de fato, considerava que a união hipostática lhe era devida a ele e não ao homem, dado que a natureza angélica é superior à humana7. Por isso, trata-se de um pecado de soberba e de desobediência, a que se seguiu a inveja em relação a Cristo, associada à cólera e ao ódio contra Ele e contra o gênero humano, e muitos outros pecados.

Por conseguinte, a rejeição de Lúcifer não se manifestou somente em relação à Encarnação do Filho de Deus, mas também em relação à Virgem Maria, através de quem a Encarnação haveria de realizar-se. A mística mariana espanhola, a venerável Maria de Jesus d'Agreda (1602-1665)m na sua famosa obra La mística ciudad de Dios, afirma que Lúcifer, por ser a criatura mais luminosa da criaçaõ, pensava que estava destinado a ser ele o chefe dos anjos e da humanidade. No entanto, quando compreendeu que não iria ser ele mas outro - isto é, que o Filho de Deus se faria homem -, não só se recusou adorá-lo e reconhecê-lo como chefe dos anjos e dos homens, como também rejeitou a decisão que Deus lhe havia notificado: com a Encarnação do Verbo, os anjos "deviam considerar igualmente superior a mulher através da qual o Verbo haveria de fazer-se carne. Essa mulher, embora fosse uma criatura humana, e, portanto, de natureza inferior à sua, haveria de ser não só sua Rainha, a quem teriam de obedecer, mas também a Senhora de todas as criaturas, superando nos dons de graça e de glória todas as criaturas angélicas e humanas. Ao obedecerem a este preceito do Senhor, os anjos bons aumentariam a sua humildade, pela qual não só o acolheram, mas também louvaram o poder e os mistérios do Altíssimo. Mas não [fizeram] assim Lúcifer e os seus companheiros; por causa deste preceito e mistério, elevaram-se de tal maneira em soberba e em vaidade ainda maiores que, desordenadamente furioso, ele reclamou para si próprio o privilégio de ser chefe de toda a estirpe humana e de todas as ordens angélicas; e, se isto haveria de acontecer através da união hipostática, que ela se realizasse nele".

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1- Gaudium et spes 61.
2- Por predestinação não se entende algo de já estabelecido, independentemente da livre decisão da vontade do homem. Aliás, pode-se dizer que Deus já conhece o que irão fazer os seus filhos que, no entanto, são sempre livres de decidir em plena liberdade. Isto é, Deus predestina que sejam conformes com o seu Filho Jesus aqueles que o escolhem como Pai: "Tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados, de acordo com o seu desígnio. Porque àqueles que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho" (Rm 8,28-29). Trata-se sempre de uma escolha livre. Por isso, embora seja predestinada a ser Mãe do Filho de Deus feito homem, Maria aderiu a Ele livremente. Também o Filho de Deus, mesmo que predestinado a encarnar através de Maria, escolheu livremente realizar este projeto de amor do Pai, para que os homens fossem conformes à sua imagem. Na carta aos Hebreus, Cristo diz: "Eis que venho - como está escrito no livro a meu respeito - para fazer, ó Deus, a tua vontade" (Heb 10,7).
3- Nasceu em Granada em 1548 e faleceu em 1617.
4- É o nome de Satanás tinha antes do seu pecado. Deriva do latim e significa "portador de luz".
5- Aceitando-se a tese de que o pecado dos anjos se realiza na rejeição de adorar o Verbo encarnado, talvez compreendamos melhor o contínuo serviço dos próprios anjos na obra da Encarnação e na assistência prestada a Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, intuímos o motivo mais radical da luta do demônio contra Ele.
6- Por "união hipostática" entende-se a união da natureza divina com uma natureza alheia, isto é, com uma natureza que o próprio Deus criou.
7- Um dos teólogos do séc. XII, Honório d'Autun, afirmou que o Verbo não podia assumir a natureza angélica, porque nesse caso salvaria unicamente um anjo (já que cada um deles é uma "espécie", o que o torna diferente de todos os outros, enquanto os homens pertencem todos à mesma espécie).

Pe. Francesco Bamonte, A Virgem Maria e o Diabo nos Exorcismos. Prior Velho: Paulinas, 2010.

Bastaria que compreendêsseis que o amor moveu tudo...


"Bastaria que compreendêsseis que o amor moveu tudo, bastaria que compreendêsseis, para eu ser destruído! Bastaria que cada homem, cada homem compreendesse um por cento do amor que moveu Aquele a vir à terra, e eu estaria destruído porque é tão grande que nem sequer o imaginais! E eu sofro por isso, porque Ele vos ama! O que poderia senão isto? O quê? Se o compreendêsseis, eu estaria "morto", "morto" e "só", "só", "só"! Mas vós, ... ahhh! (exclamação de satisfação) ninguém crê em nós, ninguém, e eu rejubilo, ahhh ahhhh ahhhhh!... Veio avisar-vos, abrir-vos os olhos, dizer-vos: "Olhai que estou aqui, estou aqui, amo-vos!" ... e vós nada (e ri-se)! Mas nunca vos interrogastes o que, durante dois mil anos, esta bastarda de Igreja, como vós lhe chamais, fez para avançar? O que fazeis, o que fazeis, nunca vos interrogastes? Pensais que sois bruxos? Mas (palavrão) porque (palavrão) não acreditais?! Como estou contente, como estou contente: sois tão estúpidos, estúpidos!" 

Declarações de um demônio numa sessão de exorcismo

Pe. Francesco Bamonte, A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

Movimento homossexual agride jovens católicos em Curitiba

"Nosso Senhor está sendo agredido publicamente. É necessário que, publicamente, Ele seja defendido"

O Papel de Nossa Senhora na História da Salvação


"[A Sagrada Escritura] apresenta a Virgem Maria intimamente unida ao seu Filho divino e sempre solidária com Ele. Mãe e Filho aparecem estreitamente associados na luta contra o inimigo infernal até a plena vitória sobre ele."1 Do primeiro ao último livro da Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse, Nossa Senhora está sempre ligada - segundo o desígnio do Pai Celeste - ao Filho redentor e a Ele inseparavelmente unida para arrancar os homens ao poder de Satanás. "Depois do pecado original, Deus volta-se para a serpente, que representa Satanás, amaldiçoa-a e acrescenta uma promessa: "Farei reinar inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela: ela esmagar-te-á a cabeça, ao tentares mordê-la no calcanhar" (Gn 3,15). É o anúncio de uma vitória: nos primórdios da criação, Satanás parece ter levado a melhor, mas virá um filho de mulher que lhe esmagará a cabeça. Assim, o próprio Deus vencerá, mediante a descendência da mulher. Aquela mulher é a Virgem Maria, da qual nasceu Jesus Cristo que com o seu sacrifício, derrotou de uma vez para sempre o antigo Tentador. Por isso, em muitos quadros ou imagens da Imaculada, ela é representada no ato de esmagar uma serpente sob os seus pés"2

A Sagrada Escritura revela-nos que Cristo Senhor é o único Redentor, o único Mediador junto do Pai, o único Salvador e Libertador da humanidade do poder de Satanás. Contudo , não está sozinho na sua batalha contra Satanás, mas com Maria, os anjos bons e os santos. Entre eles, no entanto, sua Mãe tem um papel singular e especial porque, precisamente por que é mãe, coopera, como nenhuma outra criatura, com o Filho redentor no mistério da Redenção da humanidade. Embora Maria seja uma criatura redimida (a primeira dos redimidos e da maneira mais sublime), coopera com Cristo de modo único e irrepetível. A cooperação dos cristãos tem lugar depois do próprio evento da Redenção, cujos frutos eles se empenham em difundir mediante a oração e a união da oferta de si com Cristo ao Pai. A cooperação de Maria, porém, realizou-se já durante o próprio evento da Redenção, isto é, ao longo da vida terrena do Filho, tendo inclusivamente sido necessário o livre consentimento da futura mãe para que a Redenção se iniciasse.

Se não tivesse dado o consentimento à Encarnação do Filho, Ele não teria podido tomar dela o corpo que ofereceu em sacrifício na Cruz. Além disso, Cristo não subiu ao Calvário para oferecer-se como vítima por nós, sem a livre vontade de Maria. De fato, ela consentiu na paixão do Filho porque embora não tivesse podido negar o seu consentimento, pois já estava incluído no que fora dado na Anunciação, pôde confirmá-lo aos pés da Cruz. Esse consentimento "dado à imolação de Jesus não constituiu uma aceitação passiva, mas foi um ato autêntico de amor, com que ela ofereceu o seu Filho como vítima de expiação pelos pecados da humanidade inteira"3, para, desde modo, arrancar os homens ao poder de Satanás. Aos pés da Cruz, Maria "sofreu profundamento com o seu Filho unigênito e associou-se, de coração maternal, ao seu sacrifício, consentindo amorosamente na imolação da vítima que havia gerado"4.  Com a paixão e morte de Jesus e com a com-paixão de Maria, em cujo coração se reverberou tudo isto que Jesus padeceu na alma e no corpo, Satanás foi derrotado. O seu poder e o dos outros anjos rebeldes, de que ele é o chefe e que, com ele e sob ele, formam um reino (cf. Mt 12,16), foi destruído. Embora continue ativo no mundo - e, por vezes, nas várias épocas históricas, também de maneira muito intensa e evidente -, deixa de ser invencível, enquanto a graça da Redenção, na medida em que é acolhida por nós, nos torna capazes de destruir as obras do diabo.

Essa graça é particularmente reforçada pelo nosso recurso confiante à intercessão especial da Virgem Maria. De fato, pela sua Imaculada Conceição, ela está, no ser e no agir, clara e absolutamente em oposição ao ser e ao agir de Satanás e dos outros anjos rebeldes, totalmente voltada - como nenhum outro ser humano ou angélico - para a neutralização dos ataques demoníacos e para a expansão do Reino do Filho, que é justiça, paz e alegria no Espírito Santo.5 Ela "participa maternalmente naquele "duro combate contra os poderes das trevas..., que se desenvolve durante toda a história humana""6, "colocada no próprio centro daquela inimizade"7 relativamente à "serpente", figura de Satanás e do espíritos do mal de que ele é príncipe, e que será vencido por Jesus Cristo precisamente com a cooperação especial da Mãe.

Nas palavras dirigidas à serpente: "farei reinar a inimizade entre ti e a mulher" (Gn 3,15), Deus revelou que a mulher cujo filho haveria de debelar Satanás, haveria de ser juntamente com ele a antagonista do chefe dos demônios e do mundo diabólico. A mulher "que, embora tenha precedido o homem ao ceder à tentação da serpente, torna-se, depois, em virtude do plano divino, a primeira aliada de Deus. Eva tinha sido a aliada da serpente ao arrastar o homem para o pecado. Deus anuncia que, subvertendo esta situação, fará da mulher a inimiga da serpente... Quem é esta mulher? O texto bíblico não refere o seu nome pessoal, mas deixa entrever uma mulher nova, querida por Deus para reparar a queda de Eva; de fato, ela é chamada a restaurar o papel e a dignidade da mulher e a contribuir para a mudança do destino da humanidade, colaborando mediante a sua missão materna para a vitória divina sobre Satanás. À luz do Novo Testamento e da Tradição da Igreja, sabemos que a mulher nova anunciada pelo Protoevangelho8 é Maria e, na sua estirpe, reconhecemos o Filho, jesus, triunfador no mistério da Páscoa sobre o poder de Satanás. Observamos também que a inimizade, posta por Deus entre Satanás e a mulher do Gênesis, realiza-se duplamente em Maria. Aliada perfeita de Deus e inimiga do diabo, ela foi subtraída completamente ao domínio de Satanás na sua concepção imaculada, quando foi plasmada na graça do Espírito Santo e preservada de toda a mancha de pecado. Além disso, associada à obra salvífica do Filho, Maria foi plenamente envolvida na luta contra o espírito do mal. Assim, os títulos "Imaculada Conceição" e "cooperadora do Redentor", atribuídos a Maria pela fé e pela Igreja para proclamar a sua beleza espiritual e a sua íntima participação na obra admirável da Redenção, manifestam a oposição irredutível entre a serpente e a nova Eva."9

A antiga versão latina do Protoevangelho - que diz: "Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Ela esmagar-te-á a cabeça" (Gn 3,15)10 - "inspirou muitas representações da Imaculada que esmaga a serpente debaixo dos seus pés. No texto hebraico, não é a mulher, mas a sua estirpe, o seu descendente quem calca a cabeça da serpente. Portanto, esse texto atribui não a Maria, mas ao seu Filho a vitória sobre Satanás. Todavia, como a concepção bíblica estabelece uma profunda solidariedade entre o progenitor e a sua descendência, é coerente com o sentido original da passagem a representação da Imaculada que esmaga a cabeça, não por virtude própria, mas pela graça do Filho. Além disso, no mesmo texto bíblico é proclamada a inimizade entre a mulher e a sua descendência, por um lado, e a serpente e a sua estirpe, por outro. Trata-se de uma hostilidade expressamente estabelecida por Deus, que assume um relevo singular se considerarmos o problema da santidade pessoal da Virgem. Por ser a inconciliável inimiga da serpente e da sua estirpe. Maria devia estar isenta de todo o domínio do pecado, desde o primeiro momento da sua existência. A propósito, a Encíclica Fulgens corona, publicada pelo papa Pio XII em 1953 para comemorar o centenário da definição do dogma da Imaculada Conceição, argumenta assim: "Se, num determinado momento, a Bem-aventurada Virgem Maria ficasse privada da graça hereditária do pecado, entre ela e a serpente nunca teria existido - pelo menos durante este período de tempo, mesmo que fosse breve - aquela inimizade de que a tradição primitiva fala até a definição solene da Imaculada Conceição, mas sobretudo uma certa sujeição" (AAS 45 [1953], 579). Portanto, a hostilidade absoluta  estabelecida por Deus entre a mulher e o demônio exige em Maria a Imaculada Conceição, isto é, uma ausência total de pecado, desde o início da vida. O filho de Maria obteve a vitória definitiva sobre Satanás e fez com que dela [se] beneficiasse antecipadamente a Mãe, preservando-a do pecado. Consequentemente, o Filho concedeu-lhe o poder de resistir ao demônio, realizando assim no mistério da Imaculada Conceição o mais notável efeito da sua obra redentora"11

Portanto, na história da salvação há três grandes protagonistas: Cristo redentor, Maria cooperadora de Cristo e Satanás, seu opositor, que - como j´se disse repetidamente -, na Bíblia, é representado pela imagem de uma serpente, mas no curso da história da humanidade, por causa da sua crescente obra maléfica entre os homens, é figurado por um dragão vermelho e sanguinário, para fazer ressaltar a sua ferocidade e crueldade desmesurada em contraposição ao sinal que aparece no céu, da "Mulher vestida de sol" do capítulo 12 do Apocalipse, que também figura a Virgem Maria. Não nos esqueçamos de que, frequentemente, na Bíblia uma mesma figura pode ter diversos significados. Para os exegetas, "Mulher vestida de sol" representa o povo hebraico e/ou a Igreja e/ou Maria. Mas é precisamente este último significado que prevalece, já que o Filho desta mulher é Jesus. "Ela [a Mulher] dará à luz um filho varão [jesus Cristo, o Messias], com o destino de governar todas as nações com cetro de ferro" (Ap 12,5). E a sua Mãe, a "Mulher" do Apocalipse, aparece em luta contra Satanás, como Deus já tinha declarado no Gênesis. "Caracterizada pela sua maternidade, a mulher "está grávida e grita com as dores e o trabalho de parto". Esta observação remete-nos para a Mãe de Jesus junto da Cruz (cf. 19,25), onde ela participa com a alma trespassada pela espada (cf. Lc 2,35), no trabalho de parto da comunidade dos discípulos [isto e´, a Igreja]. Apesar dos seus sofrimentos, está "vestida de sol" - isto é, tem o reflexo do esplendor divino - e aparece como sinal grandioso da relação esponsal de Deus com o seu povo. Embora não indiquem diretamente o privilégio da Imaculada Conceição, estas imagens podem ser interpretadas como expressão do cuidado amoroso do Pai que envolve Maria com a graça de Cristo e o esplendor do Espírito. Finalmente, o Apocalipse convida a que se reconheça mais particularmente a dimensão eclesial da personalidade de Maria: a mulher vestida de sol representa a santidade da Igreja que se realiza plenamente na Santíssima Virgem, por virtude de uma graça singular"12.

À luz de quanto dissemos até agora, compreende-se que os evangelizadores, os pregadores e os catequistas não podem calar-se acerca da "serpente" e do "dragão": "A evocação da luta contra Satanás deve entrar na dinâmica dos diversos serviços da Palavra; por isso, dever-se-á evitar silenciá-la, talvez, pelo desejo de falar só da Mulher: pôr entre parênteses a figura do Dragão resolver-se-ia num empobrecimento da figura e da missão da Mulher"13.

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1- BENTO XVI, Angelus de 15 de agosto de 2007.
2- BENTO XVI, Angelus de 8 de dezembro de 2009.
3- Cf. João Paulo II, Audiência geral de 3 de abril de 1997.
4- Lumen Gentiun 58.
5- Maria, ícone perfeito da Igreja, foi resgatada, preservada do pecado, cheia de graça, isto é, tornada capaz, como e ainda mais do que qualquer outro homem redimido, de oferecer um contributo ao desenvolvimento da obra salvífica.
6- João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater 47.
7- Ibidem 11.
8- "Proto evangelho" quer dizer "primeira boa-nova" e refere-se ao primeiro anúncio que encontramos na Bíblia: o da vitória definitiva do Messias e da Mulher (Maria) sobre Satanás e sobre as forças do mal (cf. Gn 3,15). Portanto, é um anúncio que abre para a esperança de salvação a humanidade caída sob o poder de Satanás, depois do pecado.
9- João Paulo II, Audiência Geral de 25 de janeiro de 1996.
10- Ao comentar esta passagem, que na versão grega dos Setenta aparece no masculino: "Ele esmagar-te-á a cabeça", Santo Afonso Maria de Ligório escreve: "Seja como for, é certo que Lúcifer foi derrotado pelo Filho por meio da Mãe ou pela Mãe por virtude do Filho. Diz São Bernardo: "Esmagado e calcado aos pés de Maria, sobre uma aviltante escravidão." Por isso, o Maligno é sempre obrigado a obedecer as ordens da Rainha como alguém que perdeu a guerra e foi tomado escravo. São Bruno afirma que Eva, ao ser vencida pela serpente, trouxe consigo a morte w as trevas; mas afirma que Eva, ao ser vencida pela serpente, trouxe consigo a morte e as trevas, mas a Bem-aventurada Virgem, ao vencer o demônio, deu-nos a vida e a luz. Portanto, Nossa Senhora ligou o inimigo de tal maneira que não pôde mover-se para causar o mais pequeno dano aos seus devotos"
11- João Paulo II, Audiência Geral de 29 de maio de 1996.
12- Ibidem.
13- M. G. MASCIARELLI, Pio IX e l'Immacolata, Cidade do Vaticano, LEV, 2000, p.73

Francesco Bamonte, A Virgem Maria e o Diabo nos Exorcismos. Prior Velho: Paulinas, 2010.

GRAA e TLC


Nos últimos dias 17, 18, 19 e 20, participei do famoso Curso de TLC, na cidade de Taquarana, localizada a cerca de meia hora de Arapiraca. O contato entre GRAA e TLC já vinha acontecendo há tempos. O nosso coordenador, Breno da Bezerra, conheceu o grupo através do Victor Valdomiro Elson, ex coordenador estadual do TLC, que divide com o Breno o mesmo quarto na residência universitária de Maceió. Desde então, tivemos oportunidade de nos conhecermos mutuamente. O GRAA recebeu dois membros do TLC de lá no seu último retiro. Além disto, os meninos de Taquarana passaram a nos convidar regularmente para servir em retiros e eventos promovidos por eles. Aconteceu, então, de o Breno fazer o curso do TLC e converter-se, desse modo, em TLCista. Porém, era o único TLCista do GRAA. Pouco tempo depois, começaram a vir os convites para que eu também fizesse o curso. Relutante, fui adiando a ocasião. Ano passado, terminei não fazendo, mas o Victor começou já a me falar do evento deste ano. Tão logo a data foi se aproximando, ele passou a me perguntar - quase intimando - se eu iria realmente fazer. A idéia foi-me ficando familiar e, então, pareceu-me que eu iria, de fato, satisfazer os desejos axilares do Victor. A verdade é que, dentre outros benefícios, o Victor deixaria de me encher, rs..

Porém, o dia chega e eis que estou atolado de coisas pra fazer. Os dois colégios estão no final do ano letivo e exigem uma dedicação quase em tempo integral - por causa de certas contingências muito específicas - de tal modo que não pude aparecer na faculdade na última semana. Minha tia, de outro lado, já me reclama vez ou outra que se sente só e eis que agora sou interpelado a deixá-la sozinha por quatro dias. E isso tudo sem falar no dinheiro, que tá difícil. Diante deste contexto, me passava pela cabeça mais ou menos o seguinte: "mas que invenção é essa minha? Lá vou eu, viajar por quatro dias, precisando terminar de preencher as benditas cadernetas; além disso, vou ter de deixar minha tia só e gastar dinheiro sem ter como." Porém, chegado o dia, perguntei novamente a ela se tava tudo bem em eu ir e, diante da resposta afirmativa, arrisquei... e fui. Além destes pontos, há outras coisas que foram muito importantes  - que penso não convir falar agora - e que me deram o sinal verde e praticamente me intimaram a ir. E lá fui eu. "Abraão, sai da tua terra, deixa a tua parentela e vai para onde eu te indicar...", foi o que o profeta escutou. - "Fábio, sai da tua casa, deixa as tuas cadernetas e tua tia e vai pra Taquarana, a terra da taturana, ver aquele monte de malucos..." A voz de Deus soava meio suspeita e pareceu-me, num átimo, semelhante à do Júnior Pereira. Era muito improvável. Só sei que lá fui eu.

Ah, e também aconteceu de eu ter um sonho profético sobre isso. Sonhei, semana passada, comendo baratas. Não são das coisas mais apetitosas e confesso que sequer entendi o que aquela iguaria fazia no meu sono. Sem querer pensar em qualquer possibilidade de explicação freudiana, vi o caso como mero acaso e deixei-o. Somente vim lembrar-me novamente do ocorrido quando, pronto para tomar café da manhã, escuto aqueles loucos a cantar: "barata frita... barata assada... sopa de barata...".. Haha... os juízos do Senhor são realmente imperscrutáveis.

Pois bem. Fiz o curso e, dos pormenores, não posso contar. Sigilo quase de confissão. Só posso dizer que gostei imensamente.. compensou-me com fartura todo o esforço. Além de tudo, fiz novos amigos, conheci melhor os que já havia feito, e ganhei toda uma família. Agora somos dois GRAA's a serem TLCistas e dois TLCistas a serem GRAA's.  Aproveito, então, esta ocasião para agradecer a algumas pessoas e, se eu esqueço algum nome, não me tenham por mal... memória de nomes nunca foi o meu forte. Quem me conhece, bem o sabe. Agradeço então ao Victor Elson, pela encheção de saco. Agradeço ao Xandy (pai com barbas de profeta), ao Raul, ao Breno KLB (fã), à Denize (minha flor), ao Aldenor (Pe. Jackson Cover - nada, nada, nada, nada... ♪♫), ao Vinícius, ao Júnior Pereira, à Amanda Mirlla (minha mãe epicentro), que acabei de conhecer e que, se brincar, é mais maluca que eu.. ao Fernando, ao Téo, à Juliana - que estava realmente epicêntrica -, à Mayre, à Cida e a todos os demais, tanto os que serviram quanto os que participaram do Curso. Muito obrigado, meus caros, pela oportunidade. Ocioso é dizer que eu recomendo a experiência. Que Deus nos abençoe a todos e que nos conduza ao sempre mais alto.

Ah, e esqueci de dizer.. O pessoal fica me perguntando o que significa TLC. Pois bem, isso eu posso falar: é Teologia da Libertação para Camundongos.

Pax.

Fábio.

Pedido urgente de Pe. Lodi, do Pró-Vida de Anápolis!

Prezados amigos

http://www.providaanapolis.org.br/doacoes.htm

Hoje o Pró-Vida de Anápolis tem pouco mais de R$ 400,00 (quatrocentos reais). Não fizemos nenhum gasto extraordinário nos últimos meses, mas as doações têm sido pequenas e nem todos os sócios têm-se lembrado de contribuir.

Para que possamos continuar mantendo a Casa da Gestante, com as irmãs religiosas, as hóspedes e os bebês, e para que possamos continuar imprimindo e enviando o boletim "Aborto! Faça alguma coisa pela vida", tenham a bondade de ajudar-nos financeiramente.

As doações podem se feitas na Agência 0324-7, Conta Corrente 7070-X, Banco do Brasil, em nome de "Pró-Vida de Anápolis", CNPJ 01.813.315/0001-10.

Tenham a bondade de enviar uma mensagem para escritorioprovida@terra.com.br informando seu depósito ou transferência, a fim de podermos fazer o devido lançamento contábil.

Deus lhes pague.

O escravo de Jesus em Maria,

-- Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis
Telefax: 55+62+3321-0900
Caixa Postal 456
75024-970 Anápolis GO
http://www.providaanapolis.org.br
"Coração Imaculado de Maria, livrai-nos da maldição do aborto"

O feto possui um ciclo vital próprio e é, já, vida humana.


O grande debate que se levanta é o de quando começa a vida humana e quando uma vida pode ser sujeito de direitos pessoais. 

Na ciência há um grande debate sobre a questão. Mas uma coisa é certa: a partir da fecundação, tem início uma nova vida, que se encontra em potência e orientada para ulteriores desenvolvimentos. Já não é nem a vida do espermatozoide nem a vida do óvulo. Estes, como tais, antes da fecundação, tinham atingido o máximo de seu desenvolvimento. O espermatozoide sozinho não podia passar de um espermatozoide. O óvulo sozinho não podia passar de um óvulo. Entretanto, a partir da fecundação forma-se um novo genoma ou código genético, de tal modo que, durante toda a gestação, nada mais é acrescentado, nada mais a nova vida recebe, senão os nutrientes de que precisa para continuar a viver e desenvolver-se. Com os nutrientes fornecidos pela mãe, ele desenvolve seus órgãos e aumenta seu tamanho.

A nova vida que começa com a fecundação representa um novo ciclo vital com uma identidade bem determinada e com uma orientação a um desenvolvimento bem definido. "Identidade" e "orientação" são as duas grandes características da nova vida. É o novo genoma que determina essa identidade e essa orientação, orientação que, coordenada e contínua, se não interrompida, vai culminar em uma vida carregada de expressões pessoais. As multiplicações celulares ocorridas nos primeiros dias após a fecundação não fazem da nova vida um “amontoado de células”, como por vezes se diz por aí, assim como muitos tijolos bem ordenados não são simplesmente um amontoado de tijolos, mas uma casa.

Desse modo, com os dados que temos da ciência, é forçoso reconhecer que o zigoto é o primórdio de um novo ciclo vital e, portanto, de um novo organismo humano. Isso foi abertamente reconhecido pelo Comitê Warnock com as seguintes expressões: “Uma vez que o processo começou, não há nenhuma parte do processo de desenvolvimento que seja mais importante que outra; todas são parte de um processo contínuo, e se cada etapa não acontece normalmente, no tempo justo e na correta sequência, o desenvolvimento ulterior cessa”.

Com essas considerações, o olhar filosófico não poderia deixar de ver no embrião humano brilhar o esplendor da dignidade humana ou da dignidade pessoal.

"Freud é apenas uma lenda"

por Natália Martino

Filósofo e historiador, o professor da Universidade de Washington diz por que considera o pai da psicanálise uma fraude.

"Muitos pacientes de Freud cometeram suicídio e
ele nunca disse uma palavra sobre isso", afirma o professor. 

O filósofo e historiador Mikkel Borch-Jacobsen não se esquiva de uma polêmica. A última década da sua carreira, dedicada aos estudos sobre a história da psicanálise e da psiquiatria, foi pródiga em livros e opiniões controversas que lhe renderam inimigos entre terapeutas do mundo inteiro. Começou a receber as primeiras críticas severas em 1996 com o lançamento do livro “Anna O. – Uma Mistificação Centenária”, no qual questionava as avaliações de Freud sobre uma das suas principais pacientes. Foi também um dos autores do “Livro Negro da Psicanálise”, uma das obras mais barulhentas já lançadas sobre o assunto. Agora, escreveu “Os Pacientes de Freud”, lançado recentemente no Brasil (Editora Texto e Grafia), no qual reconstrói a trajetória de 31 pacientes de Freud. Na obra, ele conta os motivos que os levaram até o analista e, principalmente, como viveram durante e depois do tratamento. A partir de documentos, como cartas trocadas entre o terapeuta e seus amigos e entrevistas confidenciais feitas com os pacientes de Freud, o autor desconstrói o mito do criador da psicanálise.

ISTOÉ - O que os relatos que o sr. apresenta em seu livro revelam sobre Freud e a psicanálise?


MIKKEL BORCH-JACOBSEN - As histórias dos pacientes de Freud foram a base das suas teorias. Quando percebemos que elas são falsas, como vemos ao analisar a vida dos pacientes que descrevo no livro, toda a teoria da psicanálise é abalada. O caso apresentado por Freud como sendo de Anna O., que hoje sabemos tratar-se de Bertha Pappenheim, por exemplo, é considerado um dos mais fundamentais para o desenvolvimento da psicanálise. A paciente tinha sintomas graves de histeria que, supostamente, Freud curou com o método catártico. Mas isso não é verdade. No fim do tratamento, ela já não suportava mais conviver com o problema e foi internada em uma clínica, onde continuou apresentando o mesmo quadro de histeria. Apenas seis ou oito anos depois, Bertha foi considerada curada. Não se sabe como ela se curou, mas é óbvio que não foi com a psicanálise, ninguém se cura por meio de um tratamento finalizado quase uma década antes. 



ISTOÉ - Os resultados terapêuticos eram insuficientes?

MIKKEL BORCH-JACOBSEN - Na maioria dos casos sim. Era comum que as condições dos pacientes piorassem, como no caso de Viktor von Dirsztay, que mais tarde chegou a admitir que a análise o destruiu. Muitos outros dos seus pacientes cometeram suicídio, como Margit Kremzir e Pauline Silberstein. Claro que qualquer terapeuta está sujeito ao risco de suicídio dos seus pacientes, mas a questão é que Freud nunca disse uma palavra sobre isso. 

ISTOÉ - Ele escondia esses fatos?

MIKKEL BORCH-JACOBSEN - Como um bom positivista, Freud sempre afirmou que suas teorias eram baseadas na observação de dados clínicos. Por um longo período, porém, tudo o que sabíamos sobre esses dados se baseava no que ele escolheu nos mostrar. Ao compararmos essas histórias com a realidade, observamos discrepâncias que automaticamente invalidam as conclusões de Freud. Os medicamentos, por exemplo, foram sistematicamente excluídos das histórias que ele contou, mas muitos dos seus pacientes eram viciados em morfina. Hoje é muito claro que a droga teve em alguns casos um papel essencial no tratamento. Freud dizia, por exemplo, que diante dos ataques histéricos de Anna von Lieben, a Cäcilie M. citada em “Estudos sobre a Histeria”, ele conduzia um tratamento hipnótico que a fazia se sentir melhor. O que ele não nos contava é que as crises dela eram causadas por abstinência de drogas e que ela se acalmava quando ele lhe dava uma injeção de morfina. A famosa cura catártica nada mais era do que cura com morfina. 

ISTOÉ - Os diagnósticos dele são questionáveis?

MIKKEL BORCH-JACOBSEN - Sim, os diagnósticos que Freud alegava fazer tão cuidadosamente escancaram discrepâncias entre sua prática real e suas descrições. Quando o pai da jovem Ida Bauer, que Freud eternizou como Dora, a levou até Freud devido a um episódio de asma, o analista instantaneamente diagnosticou neurose. Mas como ele poderia saber? Aquela era a primeira vez que ele a via. Há vários exemplos desse tipo e uma vez que definia seu diagnóstico, Freud o mantinha obstinadamente, mesmo que os fatos mostrassem a ele outro caminho. As consequências dessa postura frequentemente eram bem sérias, como quando Freud forçou Horace Frink a se divorciar da esposa para se casar com a milionára Angelika Bijur para combater a homossexualidade que o paciente negava vigorosamente. 

ISTOÉ - Freud chegava a dar conselhos tão diretos aos pacientes?

MIKKEL BORCH-JACOBSEN - Ele intervia diretamente na vida dos seus pacientes e não hesitou em instigar alguns a se casarem e terem filhos, por exemplo. Foi o que aconteceu com Max Graf e Olga Hönig, os pais do “pequeno Hans” – e o casamento foi um completo desastre. Em outros casos, Freud proibia pacientes de se masturbarem, como no caso da sua filha, Anna Freud. Sempre que essas instruções eram dadas, Freud era a voz da autoridade. 



ISTOÉ - Ele acreditava que podia tratar a filha? 

MIKKEL BORCH-JACOBSEN - Freud queria muito ajudar a filha a se desligar dele e isso fica claro em várias cartas que ele escreveu a amigos. Mas a única coisa que ele podia oferecer a ela era a psicanálise, o que, obviamente, era a coisa mais estúpida que ele poderia fazer. Como ela conseguiria se curar se sua única ajuda era de um analista que era o próprio pai do qual ela deveria se desligar? Por mais óbvio que pareça, Freud não percebeu isso. Não estou dizendo que ele abusou da filha, de jeito nenhum, ele a amava. Mas estava tão convencido de que sabia como ajudá-la que não permitiu que ela se libertasse dele. 

ISTOÉ - Para Freud, a psicanálise sempre funcionava? 

MIKKEL BORCH-JACOBSEN - Sim, claro, ele acreditava que havia descoberto a cura para as doenças mentais. Freud tinha suposições teóricas que o impediam de ver o que estava acontecendo. Ele estava tão convencido de que a terapia funcionava que, quando ela não dava certo, ele simplesmente achava que era necessário ir mais fundo no inconsciente. Só no fim da sua vida, em seus últimos artigos, ele admitiu que os métodos eram inconclusivos em alguns casos. 

ISTOÉ - Mas em algum momento ele foi deliberadamente negligente ou desumano com seus pacientes?

MIKKEL BORCH-JACOBSEN - Sim, a forma como ele sacrificava seus pacientes no altar das suas teorias é vergonhosa. Marie von Ferstel, por exemplo. Ela era uma mulher rica que sofria de fobias e de constipação. Freud disse a ela que, para resolver esses problemas, ela teria que aprender a se desapegar, por exemplo, do dinheiro. O que ela fez? Transferiu para ele o título de uma das suas propriedades, que ele prontamente vendeu. Eu acho isso imperdoável. Freud simplesmente não era uma pessoa admirável. 

ISTOÉ - De que forma essas revelações atingem a psicanálise hoje?

MIKKEL BORCH-JACOBSEN - Não vejo como salvar a psicanálise diante de tudo isso. Eu sei que muitas pessoas admiram Freud como um pensador independentemente das vicissitudes de sua prática. Também acho que ele era um gênio, tinha ideias realmente incríveis. Mas as suas teorias são contraditórias demais às suas práticas para serem levadas a sério. 

ISTOÉ - O sr. aponta essas contradições em 31 casos e Freud atendeu pelo menos cinco vezes mais pacientes. Não poderia ser coincidência?

MIKKEL BORCH-JACOBSEN - Uma das minhas principais fontes de pesquisa foram as entrevistas com pacientes de Freud conduzidas por Kurt Eissler, que era secretário do Arquivos de Freud. Esse material ficou inacessível até 1999, quando Eissler morreu e, a partir daí, começou a ser colocado em domínio público, processo que só deve acabar em 2057. Eissler tinha enorme interesse em defender a memória do pai da psicanálise e se essas entrevistas fossem positivas não teriam sido tornadas confidenciais. Muita coisa ainda será revelada, possivelmente conseguiremos rastrear outros pacientes, mas não acho que as novas histórias irão contradizer as estatísticas que já temos.

ISTOÉ - Muitas pessoas afirmam hoje ter encontrado conforto na psicanálise. Não há nenhum valor nisso? 

MIKKEL BORCH-JACOBSEN - No meu ponto de vista, neuroses, como histeria e obsessão, não são doenças mentais, são pedidos de socorro. A análise cumpre, nesses casos, o papel que a religião cumpria antes. As pessoas iam até o padre para buscar respostas e as encontravam. Qualquer uma das centenas de tipos de psicoterapias que existem hoje pode cumprir esse papel. Reconheço que, em alguns casos, pessoas com problemas pessoais podem encontrar conforto no divã. 

ISTOÉ - Mas seus livros parecem tentar destruir a psicanálise.

MIKKEL BORCH-JACOBSEN - Eu sou um acadêmico e meu único interesse é separar as verdades das lendas. Freud é apenas uma lenda. Ele reescreveu a história de acordo com seus propósitos pessoais.

ISTOÉ - Essa sua postura crítica em relação à psicanálise acompanhou toda a sua carreira?

MIKKEL BORCH-JACOBSEN - Não, no início eu era simpático à psicanálise e tinha interesse especial na escola Lacaniana. 

ISTOÉ - E o que essa mudança significou profissionalmente? 

MIKKEL BORCH-JACOBSEN - Eu era constantemente convidado para conferências e para escrever artigos em revistas até que eu publiquei meu primeiro livro mais crítico sobre Freud. A partir desse momento, não fui mais convidado para nada. Não se pode ser crítico à psicanálise sem sofrer as consequências disso.


Fonte: Isto É

Virgem Maria, Mãe de Deus e Rainha



Havendo sido exaltada a Virgem Maria como Mãe do Rei dos reis, com toda razão a Santa Igreja a honra e quer que seja honrada por todos pelo título glorioso de rainha. Se o Filho é Rei, diz Santo Atanásio, com toda razão a Mãe deve ter-se por Rainha e chamar-se Rainha e Senhora. Desde que Maria, acrescenta S. Bernardino de Sena, deu seu consentimento aceitando ser Mãe do Verbo eterno, desde esse instante mereceu ser a rainha do mundo e de todas as criaturas.

E se Jesus é rei do universo, rainha também o é Maria. De modo que, diz São Bernardino de Sena, quantas são as criaturas que servem a Deus, tantas são as que devem servir a Maria, já que os anjos, os homens e todas as coisas do céu e da terra, estando sujeitas ao domínio de Deus, estão também submetidas ao domínio da Virgem. Por isso o abade Guérrico, contemplando a Mãe de Deus, lhe fala assim: "Prossegue, Maria, prossegue segura com os bens de teu Filho, governa com toda confiança como rainha, mãe do rei e sua esposa." Segue pois, oh Maria, dispondo à tua vontade os bens de teu Filho, pois ao ser mãe e esposa do rei do mundo, se te deve como rainha o império sobre todas as criaturas.

Sto Afonso Maria de Ligório, As Glórias de Maria
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