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Instinto Sexual e Castidade II: Moralidade das poluções noturnas e prazeres sexuais involuntários


Tanto o castelo de fada, como a casa da bruxa exercem misteriosa atração. Não só o desejo, também o medo aprisiona a vida emocional num círculo mágico. A sexualidade não é fada nem bruxa. O conhecimento sóbrio de sua realidade, como tendência psico-biológica de caráter universal e dinamismo considerável, "desencanta" sua atuação sobre fantasia e vida emocional.

Deixar uma criatura na ignorância (na "bela" inocência"), sob pretexto de preservá-la dos perigos da sexualidade, é lamentável desserviço. Justamente tal ignorância afetada de uma realidade dinâmica existente em todos os seres é que produz inquietações e angústias desnecessárias. A tensão nervosa favorece aquilo que se quer evitar. O medo de um perigo desconhecido pode tiranizar o psiquismo a ponto de lhe impor idéias fixas ou atos coercitivos que intimamente se detestam. Devemos aceitar com realismo e humildade a natureza humana como Deus a fez. Então teremos a disposição exata para resolver as dificuldades.

Temos corpo, temos sexo - e não temos mais o dom da integridade. Essas reflexões conservar-nos-ão serenos diante de movimentos e sensações carnais involuntários. O corpo pode ser excitado por fatores independentes da nossa vontade. Nesse ponto, a medicina esclarece a ascese: "Em qualquer idade, homens e mulheres podem experimentar, sob influências diversas, sensações mais ou menos claras, localizadas nos órgãos da geração. É preciso sabê-lo e não se amedrontar. Não se deve prestar a isso atenção maior do que se presta aos demais fenômenos fisiológicos. O sentimento de pureza não deve degenerar em obsessão; e não há motivo para perturbar-se, se uma sensação genital é percebida agradavelmente: nada pode impedir que uma sensação da retina seja luminosa; de igual modo, modificação circulatória da zona sexual é necessariamente acompanhada de prazer. Neste caso, a culpabilidade consistiria na entrega ao prazer, em fazer tudo para melhor experimentar e gozar, e mais ainda na provocação." (1)

Pode ser enfadonho e humilhante constatar e sofrer passivamente tais excitações involuntárias dos órgãos sexuais. É preciso olhar para o movimento da alma e não do corpo. Os fenômenos fisiológicos, considerados em si, são indiferentes. A malícia depende só e sempre da vontade, da parte que essa teve em provocar a sensação ou em comprazer-se nela. Não se confunda complacência da vontade com a sensação fisiológica de prazer. (Sentir na esfera psico-biológica não é o mesmo que consentir na esfera espiritual).

De maneira particular não sejam motivo de perturbações os sonhos e poluções noturnas. Os movimentos semiconscientes que precedem o sono e, mais ainda, os que antecedem e seguem imediatamente o despertar, nunca são plenamente responsáveis. Por isso não há aí pecado mortal. "É preciso não confundir estas manifestações involuntárias da atividade sexual com os atos imorais propriamente ditos, ainda que as poluções noturnas se efetuem tão próximas ao acordar que a sensação que as acompanha se torne plenamente consciente. Mesmo que, ao despertar, o indivíduo tenha consciência de certa participação de gestos, subsiste ainda a diferença entre estes fenômenos e ato voluntário, executado com a intenção de provocar a sensação, que constitui a masturbação." (2)

É preciso não esquecer que a atividade sexual é uma das mais fortes da natureza humana. Ela pode ser refreada, canalizada, mas nunca extirpada. Muitas de suas manifestações fogem ao governo e freio da vontade, sobretudo no sono, cessando a vida espiritual consciente. Os 'sonhos maus' são mesmo a válvula natural para atividade sexual refreada. "É próprio da natureza humana que as poluções noturnas (nós damos à palavra o sentido estrito de ejaculação espermática durante o sono) sejam frequentemente acompanhadas de sonhos voluptuosos, ou que tais sonhos se dêem na mulher enquanto dorme e que tomem como elementos pessoas que se conhecem, se amam, aos quais se está unido espiritualmente. Não há nisso matéria de remorso, mas só de humildade em verificar que se está sujeito à condição humana. Nem há motivo para cessar de ver com toda a simplicidade aqueles ou aquelas que o subconsciente uniu nas suas divagações." (3)

Para quem a autoridade do médico católico, acima citado, que desde longos anos tem sido assistente de seminários e conventos, não é suficiente neste terreno, referimos a palavra de Sto Tomás que dedica um artigo inteiro ao assunto e chega à conclusão: "A polução noturna não é pecado; pode, às vezes, ser consequência de um pecado anterior." (4) Que atitude serena em face de um fato fisiológico que em si nada tem a ver com a moral! Pois sem o uso da razão - suspenso no sono - não se pode falar em atos morais. Pode de alguma maneira ser efeito de uma atitude precedente leviana, como leituras ou conversas excitantes. Mas a culpabilidade desses atos conscientes deve ser julgada por si mesma, não pelo efeito eventual de uma polução noturna, já que é impossível estabelecer o nexo causal exato, podendo influir outras causas inculpáveis.

Fora do sono, admite Sto Tomás ainda duas outras situações em que alguém, sem querer, portanto sem culpa moral, pode experimentar satisfação carnal completa: enfermidade orgânica e "violência em que a alma não consente, embora a carne experimente o prazer".(5)

Provavelmente pensa Sto Tomás em violência física externa, mas nada impede de aplicar a tese também à violência interna de impulsos psíquicos irresistíveis. Indivíduos que procuram libertar-se de vícios contraídos, ou pessoas neuróticas que sofrem de impulsos sexuais coercitivos (não raro contraídos pelo recalque desastroso de toda a esfera sexual), beiram frequentemente o abismo do desespero. Julgam-se, em todos os atos, plenamente culpados. É preciso esclarecê-los que hábitos contraídos e impulsos coercitivos diminuem a liberdade e com isso a culpa; podem mesmo chegar a constituir autêntica violência, e essa, segundo Sto Tomás, exime de culpabilidade.

(1) Blot-Galimard. Guide médical des vocations sacerdotales et religieuses, 19523 p. 269.
(2) Blot - Galimard, op. c. p. 271.
(3) Blot - Galimard, op. c. p. 270.
(4) S. th. II. II. 154, 5.
(5) S. th. II. II. 152, 1 ad 4.

Frei Valfredo Tepe OFM. O sentido da vida. Ascese cristã e psicologia dinâmica. 3ª ed. Bahia: Mensageiro da Fé, 1960. p. 110-112.

Jovem católico é agredido na PUC por defender a posição católica!


Num seminário promovido pela PUC para promover a Reforma Política do PT, o palestrante, Daniel Seidel, que conseguiu a façanha de ser ao mesmo tempo representante do PT e secretário da CNBB, em partes do seu discurso defendia claramente a Revolução e afirmava que o que se espera não será conseguido a partir de reformas. Neste momento, um rapaz católico, depois de pedir a palavra, questionou como é que uma bancada de excomungados pode discursar numa instituição católica e, ao mesmo tempo, pretender representar esta mesma Igreja. Para respaldar sua crítica, ele mostrou o Decreto contra o Comunismo, de autoria de Pio XII, de 1949, que excomunga os católicos que promovam de alguma forma o ideal comunista. Depois disso, vieram reprimi-lo e a coisa desandou, como se pode ver no vídeo.

Para fazer uma rápida apreciação, nos sentimos maximamente representados pelo jovem que teve a coragem de enfrentar, praticamente só, aquele povo. É verdade que depois alguns simpatizantes - provavelmente seus amigos - se manifestaram, no meio da confusão. 

Mas em segundo lugar, é de uma vergonha imensurável que a CNBB coloque um petista pregador da revolução como sua representante numa instituição católica. É deplorável. A CNBB já passou dos limites há muito. Chego até certo asco dessa conferência. Ela não é católica. 

Instinto Sexual e Castidade I


As duas necessidades do ser vivo: manter-se e abrir-se, vemo-las expressa marcadamente nas duas paixões mais fortes que incessantemente ocupam o esforço ascético: a tendência sexual que corresponde à necessidade de comunicação, e a tendência agressiva que corresponde à necessidade de auto-conservação. A tendência sexual é dirigida pela castidade; a tendência agressiva, a ira, pela mansidão.

A castidade não tem por objeto a eliminação ou metamorfose dos instintos. Bem diz Pio XII na encíclica sobre a virgindade: 'A virtude da castidade não exige de nós que nos tornemos insensíveis ao estímulo da concupiscência, mas que o subordinemos à razão e à lei da graça.'(1) Aviso importante para almas angustiadas que se atormentam a si mesmas com impressões e sensações de caráter sexual, embora tais sensações não estejam debaixo de seu poder. O que no máximo podia ser classificado como tentação, logo consideram como pecado. Nasce o sentimento de culpabilidade que fixa a atenção sobre o assunto. A fixação da atenção sobre o assunto sexual exacerba a tentação: a alma debate-se num círculo vicioso e chega, pressionada por idéias fixas ou impulsos coercitivos, a fazer o que mais receia e detesta.

Quanta angústia e quanto desgaste nervoso não resulta do desconhecimento da natureza humana! A vida sensitiva funciona, em grande parte, automaticamente. Chegando alguma impressão a um sentido, logo este toma posição e , se lhe convém, acha nele prazer e procura a continuidade da impressão; não lhe convindo, porém, acha-lhe desprazer e procura afastar-se. A procura do bem correspondente é necessidade intrínseca da natureza, tanto na esfera biológica, como psíquica e espiritual. Nenhum homem pode impedir que um prato saboroso lhe agrade e o atraia. Nenhum homem pode evitar que aquilo que convém à sexualidade lhe provoque as sensações e tendências correspondentes. Sob tal aspecto ninguém pode mudar ou eliminar a vida sensitiva. O que é da natureza não se pode expulsar.

Mas essas reações automáticas precisam de regulativo. Nos animais, é o instinto que mantém as tendências sensitivas dentro de um justo limite que não prejudique a vida total. No homem, esse regulador instintivo se encontra mal desenvolvido, especialmente em referência à vida sexual. Para ele, o regulativo é o próprio espírito que, conhecendo as necessidades diversas e os perigos possíveis, deve dirigir e condicionar os movimentos automáticos dos sentidos. Essa direção e vigilância custam esforços contínuos, porque a vida sensitiva está constantemente em atividade; custam, não raro, esforços heróicos, pois, às vezes, as paixões resistem com força, querendo seguir independentes o próprio caminho. Dessa atividade reguladora do espírito depende em grande parte a perfeição do homem, a elaboração espiritual de sua vida, a realização de si mesmo.

A lei estratégica básica dessa atividade é chamada fuga. Por causa da função automática da vida sensitiva, acontecerá muitas vezes que surjam impressões, sensações e tendências que o homem, em vista da finalidade espiritual superior, não pode admitir - em outras palavras, tornam-se para ele tentação, solicitação para canalizar a energia em direção não-construtiva. Que pode e deve o homem fazer em tal caso? A resposta resulta logicamente da natureza automática de tais movimentos. É impossível mudar agrado em desagrado, o prazer em desprazer. O prazer será o estado natural, enquanto durar a impressão exterior. Portanto só resta ao homem uma saída: colocar-se fora do alcance de tal impressão ou do objeto que a provoca. Então se amortece, gradativamente, a sensação e o perigo será debelado.

É antiquíssima a lei ascética de evitar e fugir nas lutas pela castidade. Sendo a única atitude lógica e natural, não demonstra fraqueza ou covardia, mas prudência, isto é, conhecimento exato da realidade e conformação com ela. Enfrentar o perigo, fazer-se de forte, aparentar insensibilidade estóica, é ignorância da natureza humana e desconhecimento das estratégias diferentes na luta pela perfeição: "Os assaltos do pecado devem ser vencidos às vezes pela fuga, e outras pela resistência. Pela fuga, quando uma ocupação demorada dos pensamentos forneceria novo incentivo ao pecado, como acontece na impureza. Por isso, foi dito: 'Fugi da fornicação.' (1Cor 6,18) (2)

(1) Pio XII, Encíclica sobre a Sagrada Virgindade. In: Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 14 fasc. 2, julho 1954, p. 451.
(2) S. th. II. II. 35, 1 ad 4.

Frei Valfredo Tepe OFM. O sentido da vida. Ascese cristã e psicologia dinâmica. 3ª ed. Bahia: Mensageiro da Fé, 1960. p. 110-112.

O perigo de amar a Deus egoisticamente


Amemos a Deus, diz Sto Tomás, não egoística, mas desinteressadamente; não excluindo, de certo, nossa própria felicidade, mas também não rebaixando Deus a um 'meio' de nossa felicidade. 'Deus é em si mesmo um bem muito maior do que o bem da felicidade que gozaremos na posse d'Ele."

A felicidade, o prazer, são bens secundários que se conseguem funcionalmente, com o 'repouso na posse do bem'. Procure-se o bem como tal, não o bem funcional e subjetivo da 'felicidade'. O princípio hedonista é perigoso entrave na procura da perfeição cristã. Quem visa direta e principalmente 'salvar sua alma' ou ganhar 'a felicidade eterna', faz de Deus um meio para um fim egocêntrico. O egoísmo é planta viçosa que também vinga nos ambientes onde se procura a perfeição religiosa. É trepadeira que tudo cobre: o próprio Deus pode ficar irreconhecível sob a folhagem do egocentrismo espiritual. O Deus de infinita majestade torna-se então o 'meu' Deus, um Deus segundo as 'minhas' idéias e 'minhas' necessidades; um Deus funcional: 'meu' empregado para tudo, 'meu' auxílio em todas as aflições e afinal 'minha' recompensa, 'minha' felicidade eterna. Só poda impiedosa na floresta tropical dos adjetivos possessivos, libertará o homem de si mesmo, da profunda introversão e do egoísmo arraigado. 'Quem quiser guardar a sua alma, perdê-la-á', diz Jesus; 'mas quem a perder, (quem perder a si mesmo de vista) por meu amor, salvá-la-á.' (Lc 9,24)"

Frei Valfredo Tepe, O sentido da vida. Ascese cristã e psicologia dinâmica. 3ª ed. Bahia: Mensageiro da Fé, 1960. p. 94-95.

Santidade e Liberdade


Verdadeira liberdade, digamo-lo de novo, não significa permanecer na indecisão, na ambivalência, mas realizar-se plenamente. A plena realização, a santidade, consiste em aderir o homem a Deus de tal maneira que se torne "um espírito com Ele." (1Co 6,17) e se deixe levar pelo Espírito para onde Ele quiser. "Todos os que são movidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." (Rm 8,14)

Livre é o homem que é "ele mesmo", sem coação nenhuma. E quanto mais o homem aderir a Deus, Àquele que o conhece como é e como devia ser, tanto mais ele se realizará. Assim será o santo, o verdadeiro homem livre; o pecador, porém, será sempre mais escravo. A verdade teológica tem suas manifestações psicológicas. Quanto mais santo for alguém, mais imprevisível se torna o seu procedimento. Quando os mundanos o tacham de absurdo ou irrazoável, mostram apenas sua raiva por não o compreenderem. 'Razoável' é o que fica dentro das motivações terrenas e é assim, mais ou menos, previsível. O santo - e todo o cristão que vive da fé - ultrapassou estas categorias.

Por outro lado, quanto mais pecador for o homem, mais previsível o seu procedimento. Conhecendo-se, em linhas gerais, as tendências psíquicas do homem, as paixões e os instintos, conhecendo-se, ademais, as características psicossomáticas de um indivíduo, será relativamente fácil prever o seu procedimento em determinadas circunstâncias, sempre supondo ser ele um "pecador", isto é, um homem escravizado aos automatismos instintivos. Os homens especulam com essas "fraquezas" previsíveis. O suborno, por exemplo, é questão algébrica quando o homem não é "de bem", isto é, unido por uma consciência reta de Deus. A propaganda comercial, a propaganda dirigida dos sistemas ditatoriais baseia-se na previsão da reação das massas. Ameaças e promessas conseguem tornar dóceis os homens. Menos os santos! POrque são "dóceis a Deus" (Jo 6,45). "O vento sopra onde quer; ouves a sua voz, mas não sabes donde vem nem para onde vai. O mesmo se dá com aquele que é nascido do espírito." (Jo 3,8)

O comportamento dos santos não é previsível. Daí a ira impotente dos homens que não conseguem dobrá-los nem com promessas nem com castigos, tendo de fazer deles mártires. Nunca se sabe o que o santo fará em determinada circunstância. Pois fará o que Deus quiser - e não conhecemos os planos de Deus. O santo vive o momento sem se preocupar com o futuro. Confia na palavra de Jesus: "Ser-vos-á inspirado naquela hora o que haveis de dizer". (Mt 10,19) Quem é dócil às inspirações do Divino Espírito Santo, é verdadeiramente livre. Tal liberdade dos filhos de Deus escapa às previsões e aos julgamentos humanos: "O homem espiritual não é julgado por ninguém, mas ele julga (bem) todas as coisas." (1Co 2,15)

Frei Valfredo Tepe, OFM. O sentido da vida. Ascese cristã e psicologia dinâmica. 3ª ed. Bahia: Mensageiro da fé, 1960. p.66-67.

As filhas da acídia


Hoje em dia, a raça dos Gerasenos [dos que preferem os porcos a Jesus] está proliferando. (Cf. Mt 8,28ss). Grassa, mesmo nos países cristãos, o "materialismo prático" (aliás tradução moderna adequada da palavra acídia) e no séquito dele encontramos crescente desassossego e desajustamento. Não se recalcam impunemente realidades dinâmicas, nem instintivas nem muito meno espirituais e sobrenaturais. A acídia é considerada vício capital, quer dizer, fonte de muitos outros pecados. Sto Tomás apresenta uma lista dos "filhos da acídia" que parece pintar um quadro exato da vida moderna.

O primeiro filho é o desespero. Kierkegaard chamou o desespero a "doença até a morte". Que alguém desesperadamente não queira ser o que é, é realmente "doença mortal." Mas não é essa a atitude do mundo moderno diante das realidades sobrenaturais? A humanidade não pode libertar-se de Jesus. Não pode ignorá-lo. Jesus é a decisão. Depois de Cristo, o homem só se pode realizar como cristão. Querer negar isso é negar a si mesmo, é não querer a própria realidade. Tal luta e rutura interior produz o desespero da vida. A vida depois de Cristo só tem sentido em Cristo, na orientação para o sobrenatural. Fora disso, fica apenas o tédio.

Então toma conta da alma outra filha da acídia: a inquietação dissipada do espírito. Hoje diríamos "sensacionalismo". Não aceitando a própria realidade, o homem procura abafar tudo com sensações sempre novas, atividade febril e divertimentos em sequência. Sempre mais invade o coração a insensibilidade para com tudo o que é necessário para a salvação. Igrejas vazias, frequência diminuta dos sacramentos, aversão à palavra de Deus, perda do "sentido do pecado", torpor espiritual. Daí vem pusilanimidade em face das grandezas oferecidas por Deus, e rancor contra todos aqueles cuja missão é defender e propagar o reino de Deus nas almas. E, afinal, endurece a alma na malícia completa, no ódio contra tudo o que é divino. - Realmente, um quadro impressionante! Ilustrando e explicando, ao menos em parte, o desajustamento e o desespero que reinam no mundo moderno.

Frei Valfredo Tepe, OFM. O sentido da vida. Ascese cristã e psicologia dinâmica. 3ª ed. Bahia: Mensageiro da fé, 1960. p.64-65.

Ressuscitou como disse! Aleluia! Bendita seja Sua ressurreição!


Ó Filho, descido do céu para visitar servos que vinham arrastando suas doenças! Muitos médicos vieram, trabalharam, cansaram-se, curaram pouco, deixaram muito.

Aquele que é o Criador fez-se criança; aquele que é o santo veio ao batismo; aquele que é o Filho vivo experimentou a morte e ressuscitou glorioso do sepulcro. Bendita seja sua ressurreição!

O Verbo saiu do Pai e revestiu corpo em outras entranhas; passou de um seio a outro; encheram-se com ele castas entranhas. Bendito seja o que habitou entre nós!

Desceu do alto como Senhor e das entranhas saiu como escravo; no inferno, a morte curvou-se perante ele, e, na ressurreição, a vida o adorou. Bendito o seu triunfo!

Entrou pelo ouvido (Anunciação) e habitou nas entranhas. Revestiu corpo, baixou e salvou-nos; abriu o inferno, baixou e nos congregou; abriu o céu, subiu e nos elevou para lá. Bendito aquele que o enviou!

Maria carregou-o como criança; o sacerdote carregou-o como oblação; a cruz carregou-o como vítima; os céus carregaram-no como Deus. Glória a seu Pai!

De Deus lhe veio a divindade; dos mortais, a humanidade; de Melquisedeque, o sacerdócio; e de Davi, a realiza. Bendita seja esta união!

Estava entre os convidados no banquete; nas tentações, está entre os jejuadores; na agonia, estava entre os que velam; no templo, entre os que ensinam. Bendita sua doutrina!

Seu nascimento é para nós purificação; seu batismo, propiciação; sua morte, vida; e sua ascensão nos vem a ser exaltação. Quão digno de nossos louvores!

Os lobos arrebatadores o temeram transformado em homem; rasgaram-lhe as vestes; mas, sem querer, revelaram-lhe a glória; o esplendor raiou-lhe da vestimenta. Bendito seja o Filho vivo que, neste dia, ressurgiu do sepulcro por seu grande poder e chamou novamente à vida os mortos, despertou os que dormiam e alegrou a Igreja! Bendita seja sua ressurreição! Glória a Ele!

Neste dia, o filhote do leão rugiu no inferno; tremeu a morte; acordaram os mortos; ergueram-se os que dormiam, deram louvores com vozes novas. Bendita seja sua ressurreição!

Neste dia, os anjos proclamaram aos mortais a nova mensagem do Filho primogênito sobre a ressurreição. Anunciaram à Igreja que ele havia ressuscitado do sepulcro. Bendito seja seu louvor!

Sto Efrém

Também os membros, para participarem da Glória, devem participar da Paixão - São Leão Magno


A fé verdadeira tem esta virtude de não faltar espiritualmente nas coisas em que a presença corporal não é possível; e, quer o coração crente regresse ao passado, quer se volte para o futuro, o conhecimento da verdade não sofre demoras de tempo. Portanto, temos presente aos nossos sentidos a imagem das coisas realizadas para nossa salvação; e tudo quanto comoveu então os ânimos dos discípulos também afeta nossos sentimentos. Devemos esforçar-nos, diletíssimos, com grande empenho da alma e do corpo, por manter-nos inseparavelmente concordes neste mistério; pois, se é falta gravíssima desprezar a festa pascal, mais perigoso seria realmente unir-se às assembléias religiosas, mas não participar da Paixão do Senhor, Com efeito, se o Senhor disse: Quem não toma sua cruz e não me segue não é digno de mim (Mt 10,38), e o Apóstolo: Se com ele sofrermos, com ele havemos de reinar (Rm 8,17; II Tim 2,12), quem é que honra verdadeiramente a Cristo padecente, morto e ressuscitado, senão quem com ele sofre, morre e ressurge?

Sem dúvida, isto já começou, em todos os fiéis da Igreja, no mistério do batismo, em que a destruição do pecado é a vida do regenerado, e a tríplice imersão figura o estado de morte do Senhor durante três dias, de modo que, removido o aterro da sepultura, a água batismal devolve novos os mesmos corpos que a fonte recebeu velhos. Mas é necessário cumprir na prática, apesar de tudo, o que foi celebrado no sacramento e, para os nascidos do Espírito Santo, enquanto sobrar algo do corpo mortal, não há modo de vida sem carregar a cruz. Portanto, estabeleça-se o cristão onde o Cristo o levou consigo e dirija todos seus passos para o lugar onde sabe que foi salvo o gênero humano.

Com efeito, a Paixão do Senhor se estende até o fim do mundo; e assim como é a ele que, na pessoa dos santos, honramos e amamos, e, nos pobres, alimentamos e vestimos; assim, em todos quantos suportam contrariedades pela justiça, é ele que sofre; ou acaso se deve estimar que, difundida a fé pelo mundo e escasseando o número dos ímpios, acabaram todas as perseguições e todas as campanhas que se assanharam contra os santos mártires? Mas diversa é a experiência dos fiéis servidores de Deus e diversa, também, a doutrina do Apóstolo, que diz: Todos quantos querem viver piamente no Cristo Jesus serão perseguidos. (II Tim 3,12) Não podem ter paz com este mundo, se não forem amigos do mundo; e nunca há comunhão entre a iniquidade e a justiça; nenhuma concórdia da mentira com a verdade; nenhum acordo das trevas com a luz.

Portanto, diletíssimos, a Páscoa santa é celebrada condignamente nos membros santos do corpo de Cristo e nada falta aos triunfos que a Paixão do Salvador alcançou; pois, para os que, a exemplo do Apóstolo, castigam o próprio corpo e o reduzem à servidão (ICor 9,27), os mesmos adversários são esmagados pela mesma força, e agora o mundo é vencido por Cristo.

Sermão LXX de S. Leão Magno

Sábado Santo, Dia da Virgem Maria - Entenda por quê.


Parece que, no grande tríduo pascal, entre a crucifixão e a ressurreição, existe um vazio, uma pausa de expectativa e de silêncio. Mas esse vazio é colmatado por uma pessoa que tem o coração cheio de esperança. Com toda a certeza, porque a sua fé - e só a sua fé - não se desmoronou. Quando Deus a preanuncia no Gênesis, ela é o sinal de que o Salvador virá; o seu nascimento é saudado como a aurora que anuncia o sol, Jesus Cristo. O Sábado Santo é o dia típico de Maria e vai-se difundindo cada vez mais o uso de celebrar nesse dia "a hora de Maria". Só nela é que a esperança está viva no mundo, porque só ela espera confiadamente pela hora do triunfo.

Os outros não. Para os outros, aquele sábado ainda é um dia angustiante, repleto apenas de recordações dolorosas, de incógnitas e de trevas. Os pensamentos das principais testemunhas só podiam deter-se em recordações tristes: a morte atroz de Jesus, com os seus contornos humilhantes, tornados ainda mais indignos pelo comportamento dos seus amigos. Tinha-se consumado a traição de Judas, que pusera fim à sua vida, enforcando-se desesperado; na verdade, Satanás havia entrado nele. Pedro, impulsivo e generoso, depois da sua tríplice negação, não tivera como não chorar lágrimas amargas de arrependimento. Os outros apóstolos não conseguiram fazer melhor do que fugir, pois não tinham conseguido engolir o medo de serem procurados, e estavam muito bem escondidos em casa. Também as mulheres, as fidelíssimas de Cristo, só misturam o pranto com uma preocupação prática: como embalsamar o corpo morto de Cristo, porque naquela sexta-feira à tardinha o sepultamento havia sido feito à pressa e o dia seguinte era o "grande sábado".

Era evidente em todos o desabamento de toda a esperança, a impressão de que tudo tinha acabado. Nunca pensaram que tudo estava a começar. Ninguém pensou que aquele sangue derramado pela nova aliança indicava o caminho do novo povo de Deus. A ressurreição chegaria como uma daquelas surpresas em que se tem dificuldade em acreditar, mas que se apoiaria em provas que se sucederiam em cadeia. Primeiro, o sepulcro vazio e os anjos proclamando: "Não está aqui; ressuscitou!" (Lc 24,6); depois, as diversas aparições a indivíduos, a grupos, a uma multidão de cerca de 500 fiéis (cf. 1Cor 15,6-8). A Liturgia pascal caracterizar-se-ia pelo canto jubiloso à Virgem: "Alegra-te, Rainha do Céu, porque o teu Filho ressuscitou como tinha prometido."

No entanto, naquele sábado de silêncio, a chama da fé da humanidade está totalmente e unicamente acesa em Maria. Seria para ela uma grande libertação poder morrer com o Filho; mas devia iniciar a sua nova missão de nossa mãe, recebida precisamente ali, do filho agonizante, a quem também disse o seu fiat. A sua missão começa exatamente nesse sábado, quando oferece a Deus algo precioso, de que ninguém se apercebe: uma fé inquebrantável. Só ela crê e pensa naquilo em que ninguém crê nem pensa; só ela está preparada para o grande acontecimento, que mais ninguém espera. Com certeza, pensa no terceiro dia em que reencontrou Jesus no Templo; ou voltou a pensar noutro terceiro dia, aquele em que o seu Filho se encontrou com ela em Caná e transformou a água em vinho; depois, na Quinta-Feira Santa, Ele tinha transformado vinho em sangue. Ou nas palavras, que provavelmente se lhe referiam, quando Jesus preanunciou a sua paixão, concluindo sempre com uma frase que os apóstolos não compreendiam: "E ressuscitarei ao terceiro dia". É verdade que o seu coração estava cheio de esperança, de certeza.

E, no entanto, aquele sábado decorria de maneira estranha. Os guardas alternavam-se a vigiar um sepulcro fechado e selado, com um cadáver lá dentro, como se o homem pudesse pôr um limite à onipotência de Deus. Todo o povo que acorreu à cidade estava em festa porque celebrava a Páscoa; não se dava conta de que aquela sua Páscoa era o sinal profético de uma grande realidade, que já se tinha realizado na dor e estava quase a realizar-se na alegria. Um sepulcro rigorosamente vigiado, a celebração de um rito que já não fazia sentido - eis dois dos muitos anacronismos daquele dia em que de válido só havia a fé de Maria, a certeza do que ia acontecer e que transformaria definitivamente os modos de encarar a vida humana.

Deste modo, o sábado tornar-sei-a o dia de Maria, o dia de preparação para o Domingo da Ressurreição, que suplantaria o sábado hebraico como dia festivo para os cristãos. Um lento aprofundamento cultual e litúrgico teria lugar até se chegar, no século IX, a uma celebração do sábado dedicado a Maria, com a missa e o ofício próprios da Virgem. Mas o primeiro arranque, o ponto de partida, foi precisamente a importância que a Senhora teve naquele Sábado Santo.

Finalmente, surge a aurora do domingo. Logo de manhãzinha, vemos um pequeno grupo de mulheres dirigir-se para o sepulcro. São as mesmas que vimos ao pé da Cruz; mas falta uma, a mais importante. Por que é que Maria não está com elas? É uma ausência significativa. Talvez o Senhor ressuscitado já lhe tenha aparecido, embora o Evangelho não o diga. Ou talvez esteja tão segura da ressurreição que não comete o erro das outras mulheres de procurar o Vivente entre os mortos. Podemos pensar o que queiramos, mas o que é certo é que ela não vai ao sepulcro porque há um motivo forte que a detém.

As mulheres, admiráveis pela sua fidelidade e pelo seu zelo, encontrarão uma surpresa: o sepulcro vazio. Este acontecimento faz com que as pedras mudas adquiram uma importância especial: por estarem vazias, tornam-se as primeiras testemunhas da ressurreição de Cristo. E é por isso que o Santo Sepulcro se tornará o lugar mais querido, mais amado e mais visitado pelos cristãos.

Depois, sucederam-se as várias aparições do Ressuscitado, pelo que os discípulos comunicaram ente si o grito jubiloso: "Jesus Cristo está vivo!". Ainda hoje, mais de 2000 anos depois, a tarefa dos cristãos é gritar a todos os homens; "Jesus Cristo está vivo!". É este o alegre anúncio que os pode salvar.

Pe. Gabriele Amorth, O evangelho de Maria.

E saíram do Seu lado sangue e água - Bento XVI


Saíram sangue e água do coração traspassado de Jesus. Em todos os séculos, a Igreja, segundo a palavra de Zacarias, olhou para esse coração traspassado e nele reconheceu a fonte de bênção indicada antecipadamente no sangue e na água. A palavra de Zacarias impede mesmo a buscar uma compreensão mais profunda daquilo que lá aconteceu.

Um primeiro grau desse processo de penetração encontramo-lo na Primeira Carta de João, que retoma vigorosamente o discurso do sangue e da água saídos do lado de Jesus: "Este é O que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não com a água somente, mas com a água e o sangue. E é o Espírito que testemunha, porque o Espírito é a verdade. Porque três são os que testemunham: o Espírito, a água e o sangue; e os três tendem ao mesmo fim." (5,6-8)

Que entende dizer o autor com a afirmação insistente de que Jesus veio não só com a água, mas também com o sangue? Pode-se provavelmente supor que aluda a uma corrente de pensamento que dava valor apenas ao Batismo, mas punha de lado a cruz. E talvez isso signifique também que se considerava importante só a palavra, a doutrina, a mensagem, mas não "a carne", o corpo vivo de Cristo, exangue na cruz; signifique que se procurava criar um cristianismo do pensamento e das idéias, do qual se queria tirar fora a realidade da carne: o sacrifício e o Sacramento.

Os Padres viram nesse duplo fluxo de sangue e água uma imagem dos dois sacramentos fundamentais - a Eucaristia e o Batismo -, que brotam do lado traspassado do Senhor, do seu coração. São a corrente nova que cria a Igreja e renova os homens. Mas os Padres, diante do lado aberto do Senhor que dorme na cruz o sono da morte, pensaram também na criação de Eva ao lado de Adão adormecido, vendo assim, na corrente dos sacramentos, ao mesmo tempo a origem da Igreja: viram a criação da nova mulher do lado do novo Adão.

Bento XVI, Jesus de Nazaré, Da entrada em Jerusalém até a ressurreição.

É tempo de chorar...


Foi escarnecido, de fato, quando pendia do madeiro; (...) ou será, por acaso, que até hoje não é escarnecido e ainda cabe indignar-nos contra os judeus, que zombavam dele agonizante, não como triunfador? E quem é que ainda zomba de Cristo? Prouvesse a Deus que fosse um só, que fossem dois, que se pudessem contar! Toda a palha de sua eira escarnece dele e o trigo geme por ser escarnecido seu Senhor. Sobre isto quero gemer convosco, pois é tempo de chorar.

Celebra-se a Paixão do Senhor; é tempo de gemer, de chorar, de confessar os pecados e de suplicar. E quem de nós é digno de verter lágrimas na medida de tamanha dor? Mas, que diz precisamente o profeta? Quem dará que minha cabeça se transforme em água, e meus olhos, em fonte de lágrimas? (Jer 9,1) Realmente, ainda que houvesse em nossos olhos uma fonte de lágrimas, nem esta bastaria.

Vede quanta coisa padeceu! E qual é o resultado? Eis que nossos pais esperaram e foram arrancados (Sl 21,5) da terra do Egito. E como eu disse, tantos invocaram a Deus, e, imediatamente na hora, sem esperar a vida futura, logo foram libertados! O próprio Jó foi entregue ao demônio que o pedira, e apodrecia carcomido de vermes; entretanto, ainda nesta vida, recobrou a saúde, recebeu em dobro o que perdera. Ao passo que o Senhor foi flagelado e ninguém lhe acudiu; foi desfigurado pelos escarros e ninguém lhe acudiu; deram-lhe bofetadas e ninguém lhe acudiu; foi levantado sobre o madeiro e ninguém o tirou daí: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? (Mt 27,46) Não lhe acodem. Por que, meus irmãos? Por quê? A troco de que padeceu tanto? Tudo quanto padeceu é o preço de nossa redenção.

Sto Agostinho, Narração II sobre o Salmo XXI.

Diante de ti pende o Salvador na cruz...


Diante de ti pende o Salvador na cruz, porque se tornou obediente e assim foi até a morte de cruz. Ele veio a esse mundo não para fazer a sua vontade, mas a vontade do Pai... Teu salvador pende frente a ti na cruz, nu e entregue porque escolheu a pobreza. Quem quiser segui-lo tem que abandonar todos os bens terrenos... Teu salvador pende diante de ti com coração aberto. Derramou o sangue de seu coração para conquistar teu coração. Queres segui-lo na pureza santa, então teu coração deve estar purificado de todo desejo terreno: Jesus crucificado, o único objeto de teu anelo, de teu desejo, de teus pensamentos...

É o coração amoroso de teu redentor que te convida para segui-lo, exigindo tua obediência, porque a vontade humana é cega e fraca. Ela não consegue encontrar o caminho enquanto não entregar-se totalmente à vontade de Deus. Exige a pobreza, porque as mãos devem estar vazias dos bens terrenos, para receber os bens celestes. Exige a castidade, porque é só pela desvinculação do coração de todo amor terreno que ele se torna livre para o amor de Deus. Os braços do crucificado estão estendidos para atrair-te ao seu coração. Ele quer tua vida, para doar-te a sua. Ave crux, spes unica

O mundo está em chamas, o incêndio pode atingir também nossa casa. Mais alto, acima das chamas, alcança a cruz e elas não a podem consumir. É o caminho que vai da Terra ao céu. Quem a abraça crendo, amando, esperando, a esse a cruz carrega para o seio da Trindade. O mundo está em chamas. Impinge-te apagá-las? Olhe para a cruz. Do coração aberto jorra o sangue do redentor, isso extingue as chamas do inferno, torna teu coração livre, capaz de cumprir fielmente teus votos, então a inundação do amor divino se derrama em teu coração até inundá-lo e torná-lo fecundo até os confins da Terra... 

Em todos os lugares de miséria podes estar na força da cruz; onde quer que seja o amor misericordioso te sustenta, o amor que vem do coração de Deus; onde quer que seja, ele lança seu sangue precioso - amainando, curando, redimindo.

Edith Stein, Teu coração deseja mais.

Participar dos Sofrimentos de Cristo - Caminho de união com Deus


O peso da cruz, que o Cristo carregou sobre si, é a degeneração da natureza humana com todas as consequências do pecado e do sofrimento, com o que se abateu a humanidade decaída. Retirar esse peso do mundo é o sentido da via crucis. O retorno da humanidade liberta para o coração do Pai Celeste, a adoção como filhos é um livre presente da graça, do amor misericordioso, mas não pode acontecer a custo da santidade e justiça divina.

Toda a soma de falhas humanas, desde a queda originária até o dia do juízo final, deve ser extirpada pela proporção correspondente de atos de expiação.

A via crucis é essa expiação. As três quedas sob o peso da cruz correspondem à tripla queda da humanidade: o primeiro pecado original, a rejeição do redentor por seu povo eleito, a decadência daqueles que trazem o nome de cristãos. O Salvador não está sozinho na via crucis e ao seu redor não há apenas inimigos, que o oprimem, mas também pessoas que lhe dão apoio: como protótipo originário dos seguidores da cruz, em todos os tempos, a Mãe de Deus; como tipologia daqueles que aceitam em si o sofrimento que lhes é imposto e experimentam sua bênção na medida em que o carregam, temos Simão Cirineu; como representante dos que amam, que são impingidos a servir o Senhor, temos Verônica. Cada um que, no decorrer dos tempos, carrega com paciência um destino pesado, pensando no Salvador sofredor, ou que assume sobre si voluntariamente ações de expiação, extinguiu com isso algo do violento peso da culpa que pesa sobre a humanidade e ajudou o Senhor a carregar seu peso; mais que isso: Cristo, o cabeça, faz expiações nos membros de seu corpo místico que se colocam à disposição dele de corpo e alma para sua obra da redenção. Podemos admitir que a visão dos fiéis que o seguiriam em seu caminho de sofrimento confortou o Salvador na noite em que passou no Monte das Oliveiras, e a força desses que carregam a cruz veio em seu auxílio em todas as quedas.

Os justos da Velha Aliança são os que o acompanham no trecho de caminho entre a primeira e a segunda queda. Os discípulos e as discípulas que se juntaram a Ele durante sua vida terrena são os que auxiliaram no segundo trecho do caminho. Os que amam a cruz que Ele convocou e convoca novamente na história turbulenta da Igreja militante são os companheiros da aliança no fim dos tempos.

Também nós somos convocados para isso. Não se trata, portanto, de uma recordação piedosa das dores do Senhor, quando alguém deseja sofrer, mas voluntariamente a expiação é aquilo que liga verdadeira e realmente, de maneira profunda, com o Senhor. Surge por um lado da ligação já existente com Cristo, isso porque o homem natural foge do sofrimento.

Desejar sofrimentos é algo que só pode alguém a quem se lhe abriu o olhar do espírito para os nexos sobrenaturais do acontecer no mundo; mas isso só é possível acontecer em pessoas onde vive o Espírito de Cristo, que, como membros, recebem do cabeça sua vida - sua força, seu Espírito e sua orientação.

Por outro lado, as ações de expiação ligam ao Cristo de maneira mais íntima, assim como toda e qualquer comunidade vai tornando-se sempre mais íntima com o trabalho conjunto em uma obra, e como os membros de um corpo em sua confluência orgânica vão tornando-se cada vez mais fortemente uma unidade. E uma vez que o ser um com o Cristo representa nossa bem-aventurança e o avanço do tornar-se um com Ele, vai constituindo nossa ventura sobre a terra, por isso a via crucis de modo algum está em contraposição com a feliz filiação divina. Ajudar a carregar a cruz de Cristo traz uma pura e intensa alegria, e aqueles que têm o direito e o podem fazer, os edificadores do Reino de Deus, são os mais autênticos filhos de Deus. E assim, a predileção pela via crucis de modo algum significa esquecer que a Sexta-feira da Paixão já se passou e que a obra da redenção está completa. Só os redimidos, só os filhos da graça que podem carregar a cruz de Cristo. É só a partir da unificação com a cabeça divina que o sofrimento humano recebe força expiatória. Sofrer e ser feliz no sofrimento, estar de pé sobre a terra, caminhar por entre os caminhos sujos e tortuosos desse mundo, no entanto reinar juntos com Cristo à direita do Pai, rir e chorar junto com os filhos desse mundo e cantar louvores a Deus sem parar, junto com os coros dos anjos, isso é a vida do cristão até que irrompa a manhã da eternidade.

Edith Stein, Teu coração deseja mais.

A absoluta gratuidade do amor divino


Aquilo que para nós, sem dúvida, é mais incompreensível em Deus é que, bastando-se perfeitamente a si mesmo, não precisando de nada, não podendo ganhar nada de nada, tenha criado o Mundo e o Homem, que ele ame, que haja nele alguma coisa que corresponde ao que chamamos uma "conduta", pela qual parece ter necessidade do Homem, de se entregar a uma espécie de luta com o Homem para o conquistar e arrancar às consequências das faltas que o Homem comete graças a um livre arbítrio que o próprio Deus lhe deu, e que Deus respeita, apesar de ser de tudo o senhor absoluto.

Ao considerar a criação e a redenção, dir-se-ia de verdade que Deus tem necessidade do Homem, que ele não pode resistir ao amor que o impele a expandir-se, a querer que a sua felicidade não seja a única, que haja uma felicidade que, de certa maneira, se junte à sua. E, por outro lado, quando raciocinamos sobre Deus, compreendemos que Ele não pode ter necessidade de nada, que nenhuma felicidade pode acrescentar alguma coisa à sua, que nada pode aumentar o que quer que seja ao que Ele possui. E chega-se então a uma tal gratuidade no amor divino que o espírito desfalece, porque somos incapazes de nos elevarmos tão alto.

Um amor que dá sem necessidade de dar, sem nada que corresponda ao que chamamos um motivo, um desejo, sem nada esperar, nem mesmo a satisfação de ter dado, que não retribui absolutamente nada, rigorosamente nada ao que ama, em que a vantagem é unicamente para o que recebe, um amor que estritamente só tem efeito sobre o que recebe, não experimentando o que dá qualquer mudança de algum modo concebível - um unilateralismo tão absoluto ultrapassa-nos totalmente e dá vertigens quando se tenta representá-lo. 

Por isso toda a literatura sobre Deus faz uso de antropomorfismos. Apresenta-se o amor de Deus como um amor que lhe faz desejar o Homem, sofrer os pecados dos homens, lutar para conquistar o Homem, rejubilar com a virtude do Homem. Na realidade, tudo isso significa simplesmente que atos análogos ao que Deus realiza corresponderiam em nós a tais sentimentos.

Em Deus, nada há disso: o amor de Deus é pura gratuidade.

Jacques Leclerco, Diálogos do homem e de Deus.

Não me move, Senhor, para amar-Te...


Não me move, Senhor, para amar-Te
O Céu que me prometeste
Nem me move o inferno tão temido
Para deixar, por isso, de ofender-Te

Tu me moves, Senhor,
Move-me ver-Te
Pregado em uma Cruz e escarnecido
Move-me ver Teu corpo e Tua morte

Move-me, enfim, o Teu amor
e de tal maneira, 
Que ainda que não houvesse Céu eu Te amaria,
E ainda que não houvesse inferno Te temeria.

Nada tens que dar-me para que eu Te queira,
Pois mesmo que eu não esperasse o que espero,
O mesmo que Te quero, te quereria

Poesia Anônima, Frequentemente atribuída a Sta Teresa D'Avila

Leitor pergunta: Católicos adoram santos?


Um leitor surpreendentemente nos pergunta se nós, católicos, adoramos santos. Para que não me suponham aumentador da conversa, transcrevo:

"Ainda no assunto de santos, queria saber, a igreja católica adora imagens? Sendo que na bíblia, êxodo no capitulo 20, onde esta escrito os dez mandamentos, fala para n adorar imagem e nem escultura, e a igreja faz culto ligados a santos a padroeiros, e vs falam que os santos intercede por nós, como interceder? Se quando a pessoa a morre n sabe de nada, sua memoria está no esquecimento, então ele n tem como fazer nada, Então é um absurdo confiarmos que uma pessoa que morreu esteja intercedendo por nós, uma pessoa pode interceder por nos que Jesus.
Leia efésios 1:1, 2 
Êxodo 20:4,6
Eclesiastes 9:5,6
I Timóteo 2:5

Obrigado, e me explique por vcs defende isso?"

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Caro, quanto à pergunta geral, é óbvio que a Igreja não adora santos nem imagens. Ela adora somente a Deus. Quanto aos santos, a Igreja os venera. Este sempre foi um foco de confusão: protestantes não conseguem ver muita diferença entre adoração e veneração, mas isto é obviamente uma limitação da mente protestante, e não nossa. Com certeza, eles saberiam diferenciar o respeito que nutrem por um familiar de idade e a adoração a Deus. E, no entanto, não fazem esta distinção quando é hora de criticar a Igreja. A origem deste equívoco parece falar algo sobre as intenções dos que o perpetraram.

Vejamos como a Igreja define o que seja adoração:

"Adorar a Deus é reconhecê-lo como Deus, como o Criador e o Salvador, o Senhor e o Dono de tudo o que existe, o Amor infinito e misercordioso. 'Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a Ele prestarás culto' (Lc 4,8), diz Jesus, citando o Deuteronômio (6,13). Adorar a Deus é, no respeito e na submissão absoluta, reconhecer o 'nada da criatura', que não existe a não ser por Deus. Adorar a Deus é, como Maria no Magnificat, louvá-lo, exaltá-lo e humilhar-se a si mesmo confessando com gratidão que Ele fez grandes coisas e que seu nome é santo.' A adoração do Deus único liberta o homem de se fechar em si mesmo, da escravidão do pecado e da idolatria do mundo." (CIC, 2096-2097)

Quanto às imagens e venerações dos santos, a Igreja se refere a "veneração respeitosa", e esclarece:

"O culto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as considera em seu aspeto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é imagem." (2132)

A veneração é basicamente um ato de respeito, enquanto que a adoração é um ato pelo qual se reconhece que Deus é Deus e é o criador e salvador de tudo quanto existe, inclusive de todos os santos. Aliás, estes só são santos porque estão como que mergulhados em Deus. 

Quanto à passagem de Ex 20, em que se proíbe a confecção de ídolos, vê-se logo que isto não inclui todas as imagens, pois o próprio Deus manda, em várias ocasiões, que seus servos façam imagens: é o caso da serpente de bronze, dos querubins de ouro, dos bois no altar, das palmas em alto relevo que ilustram as paredes do templo de Salomão, etc.

As imagens que foram proibidas tinham a intenção de serem ídolos, isto é, de serem adoradas. Era sempre uma tentação para Israel, que vivia circundado por povos politeístas. Assim, como meio de preservar o povo na obediência ao Deus único, Ele o proibiu de fazer ídolos.

Além disso, o próprio livro de Deuteronômio dá uma outra razão para que não fossem feitas imagens, sequer de Deus: "Uma vez que nenhuma forma vistes no dia em que o Senhor vos falou no Horeb, do meio do fogo, não vos pervertais, fazendo para vós uma imagem esculpida, em forma de ídolo..." (Dt 4,15-16)

Não se podia fazer imagens porque não havia qualquer referência de como fosse Deus. Contudo, a partir da Encarnação do Verbo, que é "a imagem do Deus invisível" (Cl 1,15) e que falou de Si mesmo que "Quem Me vê vê o Pai" (Jo 14,9), inaugura-se, diz o Catecismo, e o afirmou o Sétimo Concílio de Nicéia, em 787, uma nova economia das imagens.

Portanto, fazer imagens não é adorá-las. A imagem é um símbolo que aponta para outras realidades. É como uma foto. Ninguém pensa que a própria mãe virou papel depois de morta quando dela só se conservam fotos. E, no entanto, quando esta mesma foto é beijada, tampouco pensa o filho estar a beijar o papel, mas a sua mente liga-se espiritualmente à presença da sua mãe. É mais ou menos assim que acontece com os santos, com a diferença de que eles não são seres inertes com os quais nos ligamos apenas pela memória e imaginação, mas entre nós e eles ocorre um intercurso efetivo. E aqui entramos na segunda pergunta. Antes, porém, de respondê-la, transcrevamos as citações que o rapaz nos faz, e expliquemos uma a uma, conforme nos for conveniente.

Efe 1,1-2: "Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos cristãos de Éfeso e aos que crêem em Jesus Cristo. A vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo!" - Só não entendi a relação dessa passagem com o ponto da discussão.

Ex 20,4-6: "Não farás para ti escultura nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto. Eu sou o Senhor, teu Deus, um Deus zeloso que vingo a iniquidade dos pais nos filhos, nos netos e nos bisnetos daqueles que me odeiam, mas uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus ensinamentos." - Já explicado. O próprio Deus mandou em outras diversas vezes que Israel fizesse imagens. A proibição de ídolos, e não de quaisquer imagens, se deve também às circunstâncias da época, como já dito.

Ecle 9,5-6: "Com efeito, os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem mais nada; para eles não há mais recompensa, porque sua lembrança está esquecida. Amor, ódio, ciúme, tudo já pereceu; não terão mais parte alguma, para o futuro, no que se faz debaixo do sol." - E aqui entramos no problema da imortalidade da alma que resolveremos já já; mas, antes, citemos o último texto.

1Tim 2,5: "Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem." - A resolução deste problema, não obstante ser bem mais fácil do que o outro, o pressupõe, pelo que responderemos primeiramente o anterior e, em seguida, este.

O livro do Eclesiastes, escrito por Salomão, trata da vaidade da vida e da efemeridade do mundo. Sua função é nos recordar que tudo aqui embaixo passa e que apegar-se a alguma das coisas transitórias é sem sentido. No trecho citado, vemos que o foco de Salomão não está em pronunciar-se sobre o além, mas sobre a terra mesmo: "não terão mais parte alguma, para o futuro, no que se faz debaixo do sol." "Embaixo do sol" significa nesta vida. E é óbvio que, nesta vida, já não há mais nada, uma vez que o corpo pereceu. Não há recompensa nem punição, e sua lembrança (a memória que os outros têm dele) está esquecida.

E uma prova de que ele se pronuncia sobre esta vida e não sobre a outra se encontra no capítulo 3, versículo 21: "Quem sabe se o sopro de vida dos filhos dos homens se eleva para o alto, e o sopro de vida dos brutos desce para a terra?" Aqui Salomão afirma categoricamente que não sabe. E, se não sabe, não pode pronunciar-se a respeito. É óbvio que a intenção dele, uma vez que confessa a própria ignorância, não é tratar desses assuntos, mas do mundo cá de baixo.

Além do mais, estamos no Antigo Testamento, e até então a revelação era apenas fragmentária. Somente a partir do Cristo é que saberemos as coisas com certos detalhes. E, ainda assim, é fato que as correntes judaicas mais ortodoxas não apenas criam na imortalidade da alma, como também na reencarnação, conceito que assumia o nome de Guilgul Neshamot. Ora, os judeus liam o livro do Eclesiastes e não encontravam dificuldade nenhuma em harmonizá-lo às suas crenças. Disto concluímos que a interpretação que fazem certas correntes protestantes a respeito desses versos é equivocada.

Por outro lado, provamos que há imortalidade da alma através da Sagrada Escritura por grande quantidade de textos, dentre os quais destacamos:

Samuel é invocado pouco depois de morrer e repreende Saul. Logo, não era demônio: 1Sm 28,8.

Moisés e Elias aparecem conversando com Jesus na Transfiguração: Mt 17, 3.

Jesus, na Parábola do rico Epulão e do pobre Lázaro, afirma a realidade pós morte: Lc 16,19-31.

Jesus promete ao bom ladrão que ele irá ao Paraíso ainda naquele dia: Lc 23,43.

Jesus, depois da morte, vai pregar aos espíritos na prisão: 1Pe 3,19.

Os Apóstolos vêem Jesus caminhando sobre a água e pensam que é um fantasma: Mt 6,49.

Depois que Jesus ressuscita, os Apóstolos ficam achando que é um espírito, e Jesus diz: "tocai e vede: um fantasma não tem corpo nem ossos, como vede que tenho." Lc 24,39.

Paulo diz que prefere morrer para estar com Cristo: Fl 1,21ss

Paulo diz que enquanto vivemos no corpo estamos exilados, isto é, longe do Senhor: 2Cor 5,8

Etc.


Quanto ao segundo texto, o de Jesus como único mediador, explica-se muito facilmente.

O Pecado Original rompeu a comunhão entre o homem e Deus, e não havia nada que pudesse reatar esse convívio. Apenas Jesus Cristo, unindo-nos a Deus primeiramente em Si mesmo, na união hipostática, e, depois, esposando a todo o gênero humano a partir da Redenção, foi capaz de dar-nos, de novo, a vida. Então, fora d'Ele ninguém se salva. Ele é o único mediador absoluto.

Contudo, esta única mediação tornou possível, a partir de si mesma, outras mediações secundárias, que dependem dela e só existem por meio dela. Os santos não são poderes alternativos, fora de Deus. Pelo contrário, estão revestidos de Deus, participam da Sua natureza, e, deste modo, compondo o Seu corpo, podem interceder por nós do mesmo modo que cada um de nós pode interceder pelos demais. Vemos na Bíblia como Paulo sempre se recomenda às orações dos cristãos aos quais chama "santos". Ora, rezar por alguém é interceder, isto é, fazer a mediação entre alguém e Deus. Os protestantes vivem pedindo orações aos pastores, que, então, tornam-se intercessores. Esta intercessão, dando-se por dentro da mediação única do Cristo, é perfeitamente válida. Logo, isto não é um problema.
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