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Tradição e Revolução

Thomas Merton

A razão por que a tradição Católica é uma tradiçao é haver uma só doutrina viva no Cristianismo: não há nada de novo para descobrir. A vida da Igreja é a Verdade do Próprio Deus espalhada na Igreja pelo Seu Espírito e não pode haver qualquer outra verdade para a anular ou substituir.

Só uma coisa poderia substituir uma tão intensa vida: uma vida diminuída, uma espécie de morte. A tendência constante da humanidade para se afastar de Deus e dessa tradição viva só pode ser contrabalançada por um regresso à tradição e pela renovação da única vida imutável que, no começo, foi comunicada à Igreja.

(...) Esta "revolução" é a mais completa que jamais foi pregada: é, efetivamente, a única verdadeira "revolução", porque todas as outras exigem o extermínio de alguém, mas esta só significa a morte do homem que, praticamente, chegastes a considerar como o vosso próprio eu.

Uma revolução é considerada como uma mudança que tudo transforma radicalmente. Mas a ideologia da revolução política, se exceptuarmos as aparências, nunca altera coisa alguma. É violência, e o poder passa de um partido a outro, mas, quando o fumo se dissipa e se enterram todos os corpos de todos os mortos, a situação é essencialmente a mesma que era dantes: há, no poder, certa minoria de homens enérgicos a explorar todos os outros com objetivos de ordem pessoal. Há a mesma avidez, a mesma crueldade, a mesma luxúria, a mesma ambição, a mesma avareza e a mesma hipocrisia que havia antes.

Porque as revoluções humanas nada mudam. A única influência que pode realmente derrubar a injustiça e a iniquidade dos homens é o poder que respira na tradição Cristã, renovando a nossa participação na Vida que é a Luz dos homens.

(...) Cada cristão individualmente e cada nova idade da Igreja tem de fazer tal redescoberta, tal regresso às fontes da vida Cristã. Isso exige um fundamental acto de renúncia que aceite a necessidade de iniciar a marcha a caminho de Deus, sob a direção doutros homens.

(...) A noção de dogma apavora aqueles que não compreendem a Igreja. Não podem conceber que uma doutrina religiosa consiga revestir uma expressão autoritária, clara e definida, sem imediatamente se tornar estática, rígida, inerte, perdendo toda a sua vitalidade. E, na sua frenética ansiedade de fugir a uma tal concepção, refugiam-se num sistema de crenças vago e fluido, um sistema em que as verdades passam como um nevoeiro, ondulam e variam como sombras. Fazem a sua escolha pessoal de fantasmas no meio desse pálido, indefinido crepúsculo do espírito, e têm a cautela de nunca os apresentar à plena claridade do sol com receio de uma completa evidência da sua inanidade.

Concedem, como por favor, aos místicos Católicos uma espécie de simpática benevolência, porque julgam que esses homens excepcionais atingiram o cume da contemplação sem curar dos dogmas católicos. A sua profunda união com Deus é considerada como sendo uma evasão à doutrinal autoridade da Sua Igreja e, implicitamente, um protesto contra a mesma autoridade.

A verdade, porém, é que os santos chegaram ao mais profundo, ao mais vital, e também ao mais individual e pessoal conhecimento de Deus, precisamente por causa do ensino autoritário da Igreja, precisamente graças à tradição que tal autoridade salvaguarda e alimenta.

O primeiro degrau para a contemplação é a fé e a fé começa por uma adesão ao ensino de Cristo por intermédio da Sua Igreja: "fides ex auditu, qui vos audit me audit". "Aquele que vos escuta, escuta-Me". E "é escutando que a fé se alcança".

Não é a seca fórmula duma definição dogmática que, por si só, espalha luz no espírito dum contemplativo Católico; a adesão ao que se contém nessa definição, intensifica-se e amplifica-se, porém, numa vital, pessoal e intransmissível penetração da verdade sobrenatural por ela expressa, - uma compreensão que é um dom do Espírito Santo e que mergulha na Sabedoria do Amor para possuir a Verdade na sua Substância infinita, o Próprio Deus.

Os dogmas da fé Católica não são simplesmente símbolos ou vagos raciocínios que aceitamos como arbitrários temas de estímulo, em torno dos quais pode formar-se e desenvolver-se uma salutar actividade moral; ainda menos verdadeiro é que qualquer idéia servisse, para o mesmo fim, tão bem como aquelas que foram definidas, ou que qualquer velho e piedoso pensamento fosse capaz de suscitar nas nossas almas essa vaga vida moral. Os dogmas definidos e ensinados pela Igreja têm uma significação muito precisa, positiva e determinada, que pode ser explorada e aprofundada pelos que para tal possuem dotes, se quiserem viver uma vida integralmente espiritual. Porque a compreensão do dogma é o caminho direto e habitual para a contemplação.

Todos aqueles que o podem fazer, deveriam adquirir algo da precisão e sutileza de um teólogo na apreciação do verdadeiro sentido do dogma. Todo o cristão deve ter, acerca daquilo em que crê, uma compreensão tão profunda quanto a sua condição o permite. Quer isto dizer que cada qual deve respeitar a pura atmosfera da tradição ortodoxa e ser capaz de explicar a sua crença por meio de uma terminologia correcta, - uma terminologia com um conteúdo de idéias autênticas.

Thomas Merton, Sementes de Contemplação
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