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Dia de Finados - Uma Reflexão Sobre a Morte e os Novíssimos

"Em todas as tuas obras, lembra-te dos teus novíssimos, e jamais pecarás". (Eclo 7,40) 

Hoje é dia dos finados e queremos falar de um tema que não é tão apreciado: a morte. Houve tempo em que se acusava os cristãos de um desejo quase mórbido pela morte, já que estes demonstravam uma alegria aparentemente irracional quando tratavam do assunto. Hoje em dia é totalmente o contrário: a maioria de nós evita falar ou até mesmo pensar nisso. Não à toa os santos nos parecem figuras estranhas. S. Bento, por exemplo, pedia para os monges lembrarem-se constantemente da morte. Isto é um aspecto importante no cristianismo e mais abaixo tentarei explicar o porquê.

Mas, primeiramente, pensemos: o que é a morte? O que acontece durante e depois? A vida cessa em absoluto? A pessoa entra num estado de inconsciência? Ou a alma mantém-se consciente? Será que ela fica a passear? 

É muito comum que mesmo os católicos de hoje estejam totalmente desinformados sobre o que ocorre e adiram, até sem má intenção, a pedaços de doutrinas diferentes, como a espírita ou a protestante.

Expliquemos, então. A morte é simplesmente a separação entre a alma e o corpo. Este último, quando não mais em condições de manter-se, chega a um estado de falência, a que denominamos morte. Porém, a alma, que existe e não é material, sobrevive e mantém a sua consciência. A alma é de natureza espiritual e, portanto, é naturalmente imortal.

Estritamente, então, não podemos dizer que alguém morre, mas que a morte se dá ou acontece em alguém, já que é apenas uma parte deste alguém que passa pelo processo de morte: o corpo. A alma humana é a sede da inteligência e da vontade, de modo que estas duas permanecem depois da morte. Isto significa que a pessoa permanece entendendo e conhecendo tudo quanto entendia e conhecia e, além disto, continua a amar e a detestar o que antes amava e detestava.

O que acontece, então, à alma? Ela passa por um julgamento particular onde toma consciência de toda a sua vida e de cada ato, cada sentimento, pensamento e intenção, porém sem os coloridos de sua vaidade. Ela os vê tais como foram, sem ludibriações. Se foi falsa e hipócrita, ela contempla sem disfarce sua falsidade e hipocrisia. Se foi boa e caridosa, do mesmo modo, ela o vê. Depois de ter passado por isso, ela mesma desejará o destino que lhe cabe. Há, aqui, três possibilidades. Essas possibilidades recebem o nome de novíssimos e são: a) O Inferno; b) O Purgatório; c) O Céu.

Difundiu-se, infelizmente, nos meios católicos a ilusão de que todos as pessoas, ao morrerem, iriam para o céu.  Há vários padres que sugerem isso. Contudo, isto não procede. É falso. Não temos nenhuma condição de afirmar que alguém em específico não se salvou, mas tampouco podemos dizer que todos se salvam. Nosso Senhor falou disso várias vezes.

Dos três novíssimos, dois são definitivos, isto é, são para sempre: o Inferno e o Céu. Se alguém cai num desses lugares ou estados - se são lugares de fato ou somente estados é um assunto controverso, embora eu defenda que sejam lugares reais -, nunca mais haverá a possibilidade de mudança. O Purgatório, ao contrário, é provisório, mas não deve ser entendido como um meio termo entre ambos. O Purgatório é, já, certeza do Céu. É um estado de preparação para que a alma, purificada de suas mínimas manchas, possa expor-se, depois, à contemplação da face de Deus, a que chamamos de "visão beatífica" e que é no que consiste o Céu. O grau de alegria disto é absolutamente inimaginável. S. Paulo o afirma ao dizer que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram nem a mente humana jamais concebeu o que Deus tem preparado para os que O amam.

O Purgatório é, já, um estado imensamente feliz, pela garantia do céu. Mas não se deve supor que seja isento de sofrimentos. Bem ao contrário, costuma-se dizer que o menor sofrimento lá supera o maior daqui. É por isso que a Igreja nos pede rezar pelas almas que lá padecem, para que possam, o quanto antes, adentrar no felicíssimo gozo da visão beatífica. E nós, pelas nossas orações, podemos, sim, ajudá-las.

A comunhão que nós, da Igreja peregrina ou militante - que é esta que está ainda neste exílio da terra -, temos com a Igreja padecente - a das almas do Purgatório - e com a Igreja Triunfante - a do Céu - chama-se Comunhão dos Santos e é a isto que fazemos referência quando rezamos o Credo.

Os que vão ao inferno, porém, de lá nunca mais sairão e estão condenados a um sofrimento atroz, também inimaginável, e a um estado perpétuo de ódio a Deus. É a plena frustração do ser humano.

Portanto, quando alguém morre, não fica dormindo inconsciente. Nada disso! Passa por aquele juízo particular e, em seguida, adentra num dos novíssimos. Isto significa que tampouco fica a passear pelo mundo, feito desocupado. Tal não acontece.

O grande determinante para que não nos condenemos é morrermos na Graça de Deus, isto é, morremos sem estar em Pecado Mortal, pois assim, como dizia S. Francisco de Assis, a segunda morte não nos fará mal. Lembremos que o pecado mortal é destruído pela Confissão ou, em último caso, pela contrição perfeita que pode se dar na hora da morte. Isto, porém, não deve ser um objeto de nossa esperança, ou seja, não devemos esperar por esse momento para só então nos arrependermos.

Podemos afirmar também que os mortos não se comunicam com os vivos, a não ser por alguma determinação do próprio Deus. Tampouco vivem a aparecer-lhes ou assombrar-lhes. Nos casos em que essas manifestações de espíritos se comprovam, o que há é o incurso de seres angélicos, bons ou maus. Os anjos maus são chamados demônios.

A morte, é, pois, isto. Acima eu antecipava que é importante para um católico o ato de lembrar-se com uma certa frequência - mas sem nenhuma obsessão - da morte. Isto se dá porque a nossa religião, enquanto permanecemos aqui, é uma religião de exilados, de pessoas que estão caminhando para a Pátria que, por ora, está ainda num porvir. Este porvir deve ser objeto da nossa consideração e devemos buscar estar preparados para isto. Se alguém fosse morar em outro país, obviamente providenciaria para que tudo estivesse de acordo quando chegasse o momento de partir. No nosso caso, não sabemos quando será. Portanto, devemos estar constantemente preparados, com os rins cingidos, vivendo já desta espera. A lembrança do futuro pode tanto nos animar a seguir a doutrina de Cristo - quando pensamos no Céu e na alegria sem fim dos que aí residem - quanto nos atemorizar e nos impedir de cometer pecados graves - quando pensamos no imenso padecimento dos condenados. Isto também não deve nos fazer pensar que o caminho da virtude é uma via de mera barganha. Porém, isto já é assunto para uma outra postagem.

Neste dia em que lembramos os que já partiram desta vida, tomemos consciência da nossa condição mortal, de que a nossa vida aqui é passageira e de que, não obstante, somos almas imortais cujo destino será determinado pela nossa conduta aqui e pelo amor que tivermos a Nosso Senhor. "Aquele que me ama, cumpre os meus preceitos", diz Ele. Que Ele nos dê forças para cumpri-los. Não tenhamos medo de pensar na morte... 

Que a Virgem Maria nos auxilie, nos conduza, nos impeça de morrer - e viver - em pecado mortal, para que, quando o nosso dia chegar, estejamos preparados para entrar naquele bendito convívio, razão da nossa existência. Que pelos méritos infinitos da Cruz de Nosso Senhor, adquiramos a firme resolução de nos convertermos realmente. Amém.

"Minha vida é fugaz, brevíssimo segundo. Instante que me foge, Vós o sabeis.
Para amar-Vos, oh meu Deus, só tenho hoje."

Sta Teresinha de Lisieux

Fábio.
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