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A suposta helenização do cristianismo, o realismo da filiação divina de Cristo e o encontro providencial entre Fé Bíblica e Filosofia Grega


Joseph Ratzinger

As grandes decisões fundamentais dos antigos concílios, que se converteram nos credos ou símbolos da fé, não torcem a fé convertendo-a numa teoria filosófica, porém dão forma verbal a duas constantes importantes da fé bíblica: propugnam o realismo da fé bíblica e vedam uma interpretação meramente simbólica e mitológica; propugnam a racionalidade da fé bíblica, que, na verdade, ultrapassa sim o que é próprio da razão e de suas possíveis “experiências”, mas, não obstante, apelam à razão e apresentam-se com a exigência de declarar a verdade, de abrir ao homem o acesso ao genuíno núcleo da realidade. Gostaria – como tenho feito com certa freqüência – de mostrar isso, resumidamente em um exemplo central, em apenas um vocábulo puramente filosófico e certamente não bíblico, que encontrou acolhida no Credo mais longo e que, portanto, tornou-se o exemplo ostensivo da “helenização” do cristianismo.

Refiro-me ao enunciado de que Jesus Cristo é o Filho unigênito de Deus, homousios com o Pai – consubstancial com o Pai. É bem sabido como se discutiu a respeito desse termo, como se procurou atenuar seu significado, estabelecer acordos - por motivos políticos, como na procura de mediação entre posições opostas, para salvar a paz na Igreja -, para que, finalmente, esse termo fosse mantido precisamente como garantia da fé bíblica.

Aqui se canoniza uma filosofia estranha à fé, uma metafísica elevada à categoria de dogma que pertence precisamente a uma só cultura? Para responder a essa pergunta precisamos ter bem presente a questão de que se tratava então. O Novo Testamento falava de Jesus como o Filho de Deus. Ora bem, as religiões, em cujo mundo a missão cristã penetrou, também falavam em filhos de Deus e filhos de deuses. Era Jesus de Nazaré um filho de Deus desse tipo? Seria essa, portanto, uma maneira de falar “mitológica, com exagero poético, como talvez seja comum entre enamorados, que colocam num plano absoluto a pessoa amada, mas, naturalmente, não acima da própria realidade, e querendo expressar uma mera decisão? Seria essa uma figura de linguagem ou que tipo de realismo pretendia ter?

Desta pergunta depende a decisão sobre o que é realimente o cristianismo – se Jesus pode ser contado entre os Avataras, entre as múltiplas formas de manifestação da deidade no mundo, se o cristianismo é uma variedade religiosa entre outras ou se aqui se encontra um outro realismo. A palavra homoousius responde à pergunta: a palavra “filho” não se deve entender no sentido poético e alegórico (mitológico, simbólico), mas plenamente no sentido realista. Jesus é realmente o Filho, não se tratando apenas de uma maneira de falar. Defende-se o realismo da fé bíblica, e nada mais; propugna-se a seriedade do sucedido, do novo acontecer que chega de fora. Nesse “é” ressoa o “Eu sou” escutado junto à sarça ardente (Ex 3,14), qualquer que possa ter sido o seu sentido histórico original. “Eu o sou” disse Jesus mais de uma vez, expressando com isso todo o realismo da fé bíblica. A fórmula, aparentemente tão avançada, do Credo, o homoousius, diz-nos em última análise que devemos tomar a Bíblia ao pé da letra, que ela, nos seus supremos enunciados, vale literalmente e não meramente no sentido alegórico.

Nas suas decisões, os padres conciliares entenderam com muita exatidão que a Bíblia não queria introduzir simplesmente uma “ortopráxis” qualquer. Sua pretensão é mais elevada: que o homem é apto para a verdade e quer confrontá-lo com a própria verdade, abrir-lhe a verdade, que, em Jesus Cristo, encontra-se diante dos homens como pessoa. O característico da filosofia grega era que não se contentava com as religiões tradicionais nem com as imagens do mito, mas levantava com toda seriedade a questão da verdade. E já nesse lugar podemos quiçá ver o dedo da Providência: porque o encontro entre a fé da Bíblia e a filosofia grega foi verdadeiramente “providencial”.
 
Joseph Ratzinger, Fé, Verdade e Tolerância, Cap II, pp. 88-90.
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Um comentário:

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