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O modismo de um falso tradicionalismo

Tempos atrás, com a ascensão dos grupos pentecostais, várias pessoas passaram a utilizar crucifixos nos pescoços e a pendurar terços nos bolsos como que para identificar a que grupo pertenciam. Tornou-se moda ostentar os objetos sagrados, muitas vezes, sem nem saber o real significado do que se portava. Foi nesta época ainda que alguns passaram a banalizar certas orações tradicionais, como, por exemplo, a oração de exorcismo de S. Bento, que se viu, de uma hora pra outra, sendo usada com fins, por vezes, sensacionalistas.

Passado também certo tempo, corremos o risco de desbancar num outro modismo: o falso tradicionalismo.

É muito interessante notar que, no decorrer dos séculos, os combatentes de determinada heresia, por vezes, exageravam tanto na defesa de um aspecto contrário que terminavam por criar, eles também, uma outra heresia. Esta dinâmica do erro, porém, sempre tem algo em comum: a atitude de fiar-se demasiado na própria opinião e fazer-se o critério da verdade.

O autêntico tradicionalismo é uma posição de fidelidade a Deus e à Sua Igreja, motivada, antes de tudo, pelo amor... um amor, por vezes violento, semelhante ao de Elias que se dizia "devorado de zelo pelo Senhor" e um amor que se manifesta como fidelidade ao "Deus ciumento". Como forma de expressão, este amor se dá por uma série de atitudes exteriores que nada mais são do que consequências da chama que arde no interior. Mas, à semelhança dos fariseus, é bem possível que se tente imitar este aspecto puramente estético, ao mesmo tempo em que se cultive intenções diversas. Apressar-se sobre as intenções de alguém é algo complicado de se fazer e, mesmo, ilícito. Nisto consiste o julgamento que Nosso Senhor proíbe. Por este motivo, este artigo não visa acusar ninguém em particular, mas apenas despertar para o risco de, na atitude de dizer-se tradicional, permitir-se a mescla de intenções não tão tradicionais assim.

Algo que os santos e todos os verdadeiros católicos sempre prezaram, e pelo que devemos também cuidar, é a chamada "pureza de intenção". Todo trabalho de legítimo apostolado deve ser um fiel cumprimento do primeiro mandamento. Se não for pelo amor a Ele, todo tempo que investirmos em nossos projetos será agitação infértil e barulho inútil. Acontece que, algumas vezes, podemos querer nos apoiar em Deus apenas para construir determinada imagem a nosso respeito. Tantos há que ganharam respeito na defesa da Fé. Isso é ótimo, claro... mas não é este tipo de prêmio o que deve motivar um "amigo da cruz". O oposto também pode ocorrer: utilizarmos do sagrado somente para fazer inimigos e externar nossa agressividade, pensando ser isto, a garantia do incômodo causado, prova de legitimidade do espírito cristão. Há ainda o risco de sermos guiados pelo torpe motivo de querer corresponder às expectativas de algum outro tradicionalista ao qual respeitamos e de quem a opinião a nosso respeito muito nos interessa. Se assim agimos, estamos desfocando a motivação correta. Estamos buscando servir, não a Deus, que aparece apenas como ilustração, mas a este outro a quem nos preocupamos em agradar. Isto pode acontecer de forma muito mais frequente do que imaginamos...

Nesta época em que vemos o belo esforço de muitos filhos da Igreja em protegê-la contra os erros, há sim o risco de que alguém, mal interpretando as coisas, procure imitar somente o aspecto exterior, o fenômeno do combate, sem armar-se, contudo, da lente interior, do amor que deve ser como que o combustível da nossa alma. Estas pessoas má-orientadas geralmente tendem a dizer-se fiéis à Igreja e a afirmarem-se capazes das maiores heroicidades pela Fé, mas, diante de um pequeno ponto em que descobrem um desacordo entre o que realmente a Igreja ensina e o que, até então, defendiam, o orgulho entra em cena na forma de obstinação ao erro. Ora, mas não era amor à Igreja que se dizia? Por que não acatar, então, o que ela diz e renunciar a comodidade da própria opinião? Torna-se, dessa forma, manifesta a caricatura que se mantinha e a infantilidade que a sustentava.

Devemos, pois, meus irmãos, cuidar para que isto não se encontre na nossa alma, compreendendo que, por vezes, o nosso amor próprio disfarça-se de todo tipo de virtude. E não nos enganemos: é bem possível manter toda uma vida permeada de aparentes austeridades, quando o que nos move é somente o egoísmo e a soberba. Contemplemos a cruz de Nosso Senhor, e aprendamos o que é ser pobre, humilde e o que significa amar. Como dizia Sta Catarina de Sena, que ao contemplar a humildade e humilhação do Crucificado, nós nos envergonhemos da nossa vaidade.

Que Nosso Senhor nos ensine a caminhar direito e que a chama que arde em nós seja a da Caridade, que extirpa todo o vício. Que a Virgem Maria nos ensine a ser pobres. Somente assim, compreendendo o nosso nada, a infinita pequenez do nosso ser, poderemos, enfim, pretender ser úteis a Nosso Amado Deus.

Corde in Crux, Crux in Corde

Fábio Luciano
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