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Deus, Perfeição e Infinitude


De fato, o que é por si, e não feito, se oferece ao pensamento como o tipo mesmo do imóvel e do acabado. O ser divino é necessariamente eterno, pois a existência é sua essência mesma; ele é não menos necessariamente imutável, pois nada poderia se acrescentar a ele ou ser retirado dele, sem destruir sua essência, ao mesmo tempo que sua perfeição; ele é, por fim, repouso, como um oceano de substância integralmente presente a si e para quem a própria noção de acontecimento seria desprovida de sentido.

Mas, ao mesmo tempo, porque é própria do ser que é Deus a perfeição, ele não é apenas a completação e o acabamento desse ser, ele é também sua expansão absoluta, isto é, sua infinitude. Enquanto nos ativermos ao primado do bem, a noção de perfeição implica a de limite, e é por isso que os gregos anteriores à era cristã nunca deixaram de conceber a infinitude como uma imperfeição. Quando, ao contrário, se postula o primado do ser, é verdade que nada pode faltar ao Ser e que, por conseguinte, ele é perfeito; mas, como se trata agora de perfeição na ordem do ser, as exigências internas da noção de bem se subordinam às da noção de ser, de que ela é apenas um aspecto. A perfeição do ser não requer apenas todos os acabamentos, ela exclui todos os limites, gerando assim uma infinitude positiva que nega toda e qualquer determinação.

Visto sob esse aspecto, o Ser divino desafia mais que nunca a abrangência dos nossos conceitos. Não há uma só das noções de que dispomos que, de certo modo, não falhe quando tentamos aplicá-la a ele. Toda denominação é limitação; ora, Deus está além de qualquer limitação, logo está além de qualquer denominação, por mais elevada que seja. Em outras palavras, uma expressão adequada de Deus seria Deus. É por isso que, quando a teologia cristã postula uma, postula somente uma, que é o Verbo; mas nossos verbos, por mais amplos e abrangentes que sejam, só dizem uma parte do que não tem partes e se esforçam para fazer caber numa essência o que, conforme a expressão de Dionísio, é superessencial. Mesmo as idéias divinas só exprimem Deus quatenus, como participações possíveis, logo parciais e limitadas, do que não participa de nada e excede qualquer limite. Neste sentido, a infinitude se torna uma das características principais do Deus cristão e, depois do Ser, a que o distingue de todas as outras concepções de Deus da forma mais nítida.

Étienne Gilson, O Espírito da Filosofia Medieval, O Ser e Sua Necessidade
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