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A dor de ter ofendido a Deus nas almas santas


Sta Teresa D'Avila, Doutora da Igreja

Parecer-vos-á, irmãs, que estas almas a quem o Senhor se comunica tão particularmente estarão já tão seguras de que hão-de gozá-l'O para sempre, que não terão que temer nem chorar seus pecados; e será um engano muito grande, porque a dor dos pecados cresce tanto mais quanto mais se recebe de nosso Deus. E tenho para mim que esta pena não nos deixará, até que estejamos onde nenhuma coisa no-la possa dar.

É verdade que umas vezes aperta mais que outras, e também é de diferente maneira; porque não se lembra da pena que há-de ter por eles, mas sim de como foi tão ingrata a Quem tanto deve, e a Quem tanto merece ser servido; porque, nestas grandezas que se lhe comunicam, entende muito mais a de Deus. Espanta-se de como foi tão atrevida; chora o seu pouco respeito; parece-lhe coisa tão desatinada o seu desatino, que não acaba nunca de o lastimar, quando se lembra das coisas tão baixas pelas quais deixava uma tão grande Majestade. Muito mais se lembra disto do que das mercês recebidas, sendo elas tão grandes como as ditas e as que estão por dizer; parece que as leva um rio caudaloso e as traz a seu tempo; mas isto dos pecados estão como lodo, pois sempre parece que se avivam na memória e é bem grande cruz.

Sei de uma pessoa que, deixando de querer morrer para ver a Deus, o desejava para não sentir tão habitualmente a pena de quão desagradecida tinha sido a Quem tanto deveu sempre e havia de continuar a dever; e assim lhe parecia não poder haver ninguém cujas maldades pudessem chegar às suas, porque entendia que não haveria a quem Deus tanto tivesse sofrido e tantas mercês tivesse feito. No que toca a medo do inferno, nenhum têm. O de poderem vir a perder a Deus, às vezes aflige muito; mas é poucas vezes. Todo o seu temor é que não as deixe Deus de Sua mão e O venham a ofender, e se vejam em estado tão miserável como se viram em outros tempos, pois de sua própria pena ou glória não têm cuidado; e, se desejam não estar muito tempo no purgatório, é mais para não estarem ausentes de Deus, enquanto ali estiverem, do que pelas penas que hão-de passar.

Eu não teria por seguro, por favorecida que uma alma esteja de Deus, que ela se esquecesse de que nalgum tempo se viu em miserável estado; porque, embora seja coisa penosa, aproveita para muitas coisas. Talvez que, como eu tenho sido tão ruim, me pareça isto, e esta é a causa de o trazer sempre na memória; as que têm sido boas, não terão que sentir; embora sempre haja quebras enquanto vivemos neste corpo mortal. Para esta pena não é alívio nenhum pensar que Nosso Senhor já tem perdoados e esquecidos os pecados; antes acresce à pena ver tanta bondade e fazerem-se mercês a quem não merecia senão o inferno. Penso que foi este um grande martírio em São Pedro e na Madalena; porque, como tinham o amor tão acrescido e tinham recebido tantas mercês e tinham entendida a grandeza e a majestade de Deus, seria bem duro de sofrer, e com muito terno sentimento.

Sta Teresa D'Avila, Castelo Interior
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