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Memento Mori - Lembra-te da Morte


Thomas de Kempis

Bem depressa chegará o teu fim, neste mundo; por isso, vê como te preparas. Hoje o homem está vivo e amanhã já não existe! E, desaparecendo dos olhos, desaparecerá da lembrança.

Oh cegueira e dureza do coração humano, que só pensa nas coisas presentes sem olhar para as futuras! Em cada ação, em cada pensamento deverias proceder como se hoje mesmo tivesses de morrer.

Se tivesses a tua consciência pura não temerias muito a morte. Seria melhor evitar o pecado que fugir da morte. Se hoje não estás preparado, como estarás amanhã? O dia de amanhã é incerto; sabes tu se lá chegarás?

Que nos importa viver muito se tão pouco nos emendamos? Infelizmente, uma vida longa nem sempre nos torna melhores; antes, muitas vezes, acumula as nossas culpas. Oxalá tivéssemos vivido bem um só dia neste mundo!

Muitos contam os anos da sua conversão; mas, frequentemente, pouco é o fruto da sua emenda. Se morrer mete medo, pensemos que talvez seja mais perigoso viver muito.

Feliz aquele que traz sempre diante dos olhos a hora da morte e cada dia se dispõe para morrer. Se já viste morrer algum homem, considera que também tens de passar pelo mesmo caminho.

Quando te levantares pela manhã, pensa que não chegarás à noite, e quando te deitares à noite, não contes chegar ao outro dia. Por isso, está sempre preparado e vive de tal modo que a morte nunca te encontre desprevenido.

Quantos não morrem de repente! Pois, "na hora que menos se espera o Filho do Homem virá" (Lc 12,40)

Quando chegar aquela hora extrema, então começarás a pensar muito diversamente sobre a vida passada e arrepender-te-ás de teres sido tão indolente e preguiçoso.

Como é feliz e prudente aquele que, enquanto vive, se esforça por ser tal como deseja que o encontre a morte!

O perfeito desprezo do mundo, o fervoroso desejo de progredir na virtude, o amor da disciplina, o exercício da penitência, a renúncia de si mesmo e a paciência em todas as adversidades, por amor de Jesus Cristo, dar-lhe-ão grande confiança de morrer santamente.

Enquanto tens boa saúde, podes fazer muito bem; mas, quando estiveres doente, não sei o que poderás fazer. Poucos se tornam melhores com as doenças; assim também, dos que andam em constantes peregrinações, raros são os que se santificam.

Não confies em amigos e parentes, nem deixes para mais tarde o negócio da tua salvação; porque os homens esquecer-se-ão de ti mais depressa do que tu pensas. É preferível fazeres agora, oportunamente, provisão de boas obras e enviá-las adiante de ti, que esperar pelo socorro dos outros.

Se não te preocupas com a tua sorte, agora, como queres que os outros o façam no futuro? Agora é o tempo precioso; "agora são os dias da salvação, agora é o tempo favorável" (IICor 6,2).

Que pena que não empregues mais utilmente este tempo em que podes alcançar o prêmio da vida eterna! Lá virá o tempo em que desejarás um dia ou uma hora para te emendares e não sei se a alcançarás.

Ah! Irmão caríssimo, de quantos perigos te livrarias, de quantos temores poderias fugir, se estivesses sempre receoso e desconfiado da morte! Procura agora viver de modo tal que na hora da morte tenhas motivos antes para te alegrar do que para temer.

Aprende a morrer agora, para o mundo, para que então comeces a viver com Cristo. Aprende agora a desprezar tudo para poder, naquela hora, ir livremente ao encontro de Cristo. Castiga agora o teu corpo, com penitência, para que então possas ter uma confiança certa.

Oh! Louco! Para que pensas que hás-de viver muito tempo, não tendo um dia sequer seguro? Quantos se deixaram enganar e, inesperadamente, foram separados dos seus corpos! Quantas vezes ouviste dizer: tal homem foi morto com uma estocada, este afogou-se, aquele caiu e partiu o crânio; um expirou enquanto comia, outro enquanto estava a jogar; este outro morreu pelo fogo, aquele outro pelo ferro; um pela peste, outro assassinado pelos ladrões?

E assim o fim de todos é a morte, e "a vida passa tão depressa como a sombra" (Jo 14,10; Sl 143,4).

Quem se lembrará de ti depois da tua morte? Quem orará por ti? Faz agora, caríssimo, o que puderes, pois não sabes quando morrerás nem o que te acontecerá depois da morte. Enquanto tens tempo, entesoura riquezas imortais. Não tenhas em mente senão a tua salvação; ocupa-te apenas das coisas de Deus.

"Granjeia agora amigos (venerando os Santos de Deus e imitando as suas virtudes, para que, quando saíres desta vida, te recebam nas moradas eternas" (Lc 16,9).

Considera-te, neste mundo, como hóspede e peregrino, a quem nada interessam os negócios desta Terra. Conserva sempre o coração livre e voltado para Deus porque "não tens aqui morada permanente" (Hb 13,14).

Dirige para o Céu as tuas orações e gemidos de cada dia, com lágrimas, para que a tua alma depois da morte mereça passar ditosamente ao Senhor. Ámen.

Thomas de Kempis, Imitação de Cristo
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