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Sobre o acordo entre Roma e a FSSPX - Dando também o meu pitaco


Bem. Todos na Igreja estamos acompanhando esse processo de um possível e provável acordo jurídico entre a FSSPX e a Santa Sé. Este assunto tem dividido muita gente. Encontramos com frequência pessoas que são totalmente favoráveis ao referido acordo - entre os quais, eu. E há também os que são absolutamente opostos a tal idéia, dentre os quais alguns da própria FSSPX  e, de outro lado, como já era de se esperar, os modernistas, para os quais a Igreja só começou a existir depois do último Concílio.

Eu não trato muito do assunto porque, sinceramente, é um tema muito complicado e me considero muito pequeno para entrar nessas discussões- além do que eu entendo que não compete a mim decidir a respeito. Vou apenas acompanhando, olhando, lendo comentários e textos. O que é, então, que eu pretendo com esse post? Quero abrir uma exceção, aproveitar o fato de que ainda é possível dar nossa opinião sem medo de maiores reprimendas, e tocar nalguns pontos que considero importantes e que, não obstante, parecem ser ignorados por alguns, sobretudo pelos que são contrários ao tal acordo.

Primeiramente, a gente vai percebendo que, para fundamentar a posição contrária à união entre FSSPX e Roma, são utilizados os seguintes instrumentos: 1- A filosofia tomista (ou algo parecido); 2- As cartas papais anteriores ao Concílio Vaticano II e que ainda vigoram, é claro; 3- declarações do fundador da FSSPX, o Mons. Marcel Lefebvre.

Permitam-me, agora, apontar os problemas que eu, na minha insignificância, julgo ver na argumentação dos que se opõem ao Papa.

1- Racionalismo e Naturalismo. Lendo as cartas trocadas entre os quatro bispos da Fraternidade, vi que o seu atual superior, Dom Bernard Fellay, tocou num ponto absolutamente crucial. Ao responder as críticas dos demais senhores bispos, ele diz: "vossa visão da Igreja é demasiado humana; falta-vos o sobrenatural". Perfeito! Em geral, os que se levantam contra o acordo oferecido pelo Papa estão, sempre, armados de uma argumentação puramente humana, racionalista, de uma fria dedução que se restringe aos limites do natural. As objeções são sobretudo filosóficas. O problema, porém, não é que sejam filosóficas, mas que erijam a razão humana como o critério último das decisões humanas, como se fosse suficiente fazer certos cálculos silogísticos. Desse modo, cai-se num racionalismo travestido de devocionismo. Mas o que se está fazer é professando uma fé absoluta na própria capacidade individual - só deles - de conhecer tudo quanto seja suficiente para a tomada de posição definitiva e, com base em raciocínios às vezes realmente precipitados, fazendo uma previsão que pretende esgotar todas as possibilidades futuras. Quando, na verdade, é básico que a inteligência humana também foi ferida pelo Pecado Original e é curada de suas trevas pela Fé. Mas o que é a Fé? Como Sto Tomás dirá que ela é uma virtude intelectual, alguns tendem a reduzi-la, novamente, ao âmbito da mera inteligência, como se ter Fé fosse compreender, racionalmente, todas as questões teológicas e toda a realidade divina. Desse modo, teriam mais Fé os tomistas e versados em Filosofia. Talvez seja por isso que alguns dos que estimam Sto Tomás se achem na mesma altura que o Santo Padre, a ponto de chamá-lo de herege e de maquiavélico a cada passo que ele insinua. A este respeito, o Léon Bloy tem muita razão ao rir e criticar os que pretendem ter "explicado o céu". No entanto, uma teologia que esgote Deus é, por si mesma, herética, além de ser tudo, menos tomista. O aspecto negativo é fator essencial da saúde teológica, e consiste apenas no bom senso de reconhecer que há algo além do que o que estou percebendo agora. S. Paulo dirá que a Fé é a certeza de coisas que não se vêem, e "ver" aqui não diz respeito somente ao campo da visão sensível, mas à percepção - e concepção - como um todo, isto é: a Fé constata-se quando, ainda se não entenda de todo algum seu conteúdo, o sujeito lhe dá adesão por confiar, não tanto na proposição em si, mas na Pessoa que lha disse. Isto não advoga em favor do fideísmo, que é, por si mesmo, irracional. O que estou a dizer é que a Fé exige que se considere a dimensão do supra-racional. O Apóstolo São Tomé, avisado da ressurreição do Cristo, não lhe deu crédito, pois, a partir de uma argumentação meramente humana e tendo por base a experiência dos sentidos, não há razões para afirmar que alguém tenha ressuscitado. E, no entanto, Nosso Senhor o reprovou por só acreditar no que vê. Não lhe foi suficiente que Jesus o tivesse predito. Agora, também, parece que a mera argumentação filosófica - eficiente mas limitada, quando não tendenciosa - quer se erigir como o critério máximo das ações, como se não houvesse nada acima dela, ainda que estejamos tratando também e sobretudo da dimensão do Sagrado. É como se não fosse suficiente que Jesus tenha dito: "As portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja". Chegou-se a tal ponto que alguns da FSSPX parecem entender que Roma seria, não mais a sede da Igreja, mas alguma coisa parecida com o Anti-Cristo. Disso tudo, cai-se num segundo erro:

2- Livre Exame. Se, por um lado, costuma-se criticar, com toda razão, o herege devasso Lutero por sua idéia disparatada de pretender que a Escritura pode ser lida a torto e a direito e entendida de um jeito ou de outro, segundo os caprichos individuais dos protestantes, também agora, alguns "tradicionalistas" se aventuram em algo muito semelhante: a diferença é que o objeto da empreitada não é somente a Escritura, mas também as cartas dos Pontífices anteriores. E prova de que essas mesmas cartas podem oferecer suporte a uma ou outra interpretação - não obstante a maior clareza nas afirmações - é esta divisão no seio da própria FSSPX, onde se pode seguramente supor que os que a formam conhecem bem todo este ambiente de Encíclicas, Pronunciamentos, Dogmas e Cartas. A questão é que, além de compreender as assertivas que vão descritas nos referidos documentos, há de se lhe acompanhar a reflexão sobre os modos de aplicabilidade dos mesmos preceitos. Nada disso é fácil, reconheçamo-lo. Porém, há já aqueles que foram escolhidos para tal competência. E quem foi que deu a autoridade a todo e a qualquer um - ainda que se pretenda distinguir, ou se distinga, de fato, pelos conhecimentos filosóficos, sobrenaturais ou extra-terrestres, - de analisar, a seu modo, estes assuntos? Onde que ficou, mesmo, o critério da autoridade e hierarquia que rege a Santa Igreja? Com isso, caímos no terceiro problema.

3- Pretensão de um igualitarismo prático. Todos nós, católicos, criticamos a todo o tempo a falsa filosofia igualitarista, perversa e nefasta, que tanto mal e morte trouxe ao mundo. Porém, o que me parece estar acontecendo é algo bem parecido dentro da Igreja. Não mais se respeitam, na prática, as autoridades. E para que isso seja burlado e não fique assim tão evidente, acostumou-se a florear essas intervenções indevidas com toda sorte de pronomes de tratamento, de apelos a bênção e de advérbios de humildade. Uma coisa, porém, é que alguém proponha algo, como sempre foi legítimo fazer. Outra, bem diferente, é querer que as coisas andem segundo seu juízo particular, como se lhe competisse guiar a Igreja. E eu penso que isto seja de tal modo óbvio, que me espanta - e esta afetação se assemelha muito à cegueira produzida pela soberba - que tais pretensões sejam levadas a termo. Reconheçamos nosso lugar, meus caros. Repito: é muito possível contribuir, com as luzes que nos foram dadas por Deus, nas argumentações e nas elucidações, mas o façamos sempre com humildade. Reconheçamos os nossos limites. Isso tudo tem se assemelhado assustadoramente com um certo espírito revolucionário, onde os de baixo passam a planejar se insurgirem contra os de cima. Claro que os reclames, agora, não são em favor de um igualitarismo, mas alguns sujeitos têm agido de modo parecido, como que pressupondo que lhes compete decidir os rumos da Igreja de Cristo, ao invés do Papa. Este espírito parece muito bem encarnado na frase de alguém segundo a qual, depois do último Concílio, o leme da Barca de Pedro teria passado para a FSSPX e que Roma somente a teria de volta uma vez que se convertesse.

Dom Fellay, que me pareceu ser muito mais sensato que os outros três juntos, tem muita razão ao temer um ulterior cisma. Mas também estava totalmente certo ao dizer que, se há de haver uma solução para a crise atual que a Igreja vive, ela deve vir de Roma, do Papa! Essa conversa de se esconder num grupo e achar que isso é ser católico é um problema. Respeito muito Dom Lefebvre e simpatizo o mesmo tanto pela FSSPX, mas, com todo respeito, não foi a ele que Nosso Senhor concedeu as chaves.

Se a FSSPX regularizar sua situação canônica, quantas pessoas não poderão conhecer melhor a doutrina católica?! Se alguns argumentam que, antes, a Igreja toda deve ser limpa de todo e qualquer erro, forçoso é dizer, com Dom Fellay, que tal pessoa tem pouco senso de realidade. Os erros são extirpados no combate. Isto significa que, antes da vitória definitiva, é preciso pôr mãos à obra. Mas parece que, para os opositores do acordo, importa mais a intocabilidade da suposta perfeição de sua Fraternidade, do que o bem da Igreja Universal.
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Um comentário:

  1. Respeito muito Dom Lefebvre e simpatizo o mesmo tanto pela FSSPX, mas, com todo respeito, não foi a ele que Nosso Senhor concedeu as chaves.(2)

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Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.

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