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A amizade...


Eu não poderia deixar passar este dia sem escrever algo a respeito dos meus amigos. Embora este assunto seja de caráter mais pessoal - e textos assim eu os escrevo no Amor e Pobreza - quero, contudo, colocá-lo aqui, lugar onde considero ser o trabalho um tanto mais sério, para mostrar que a amizade, para mim, ocupa lugar de honra.

O que são os amigos? Quando nascemos, somos primeiramente entregues aos cuidados dos nossos pais e, cercados por um ambiente de amor, vamos nos adaptando e acostumando com estes que aprenderemos chamar de pai e mãe. Nem sempre isto ocorre do modo como deveria, mas, ainda assim, haverá alguém que assuma a responsabilidade pela criação do pequeno. Às vezes, o infante também se relacionará com um irmãozinho, e é nesta relação que o primeiro germe da amizade surge. Um pouco mais adiante, é comum que a criança inicie um certo convívio com outras crianças da família ou de amigos dos pais e este será o primeiro contato com uma pessoa diferente, que não partilha dos mesmos laços sanguíneos, não divide sempre os mesmos espaços e age de um modo que ela ainda não conhece. Além disto, talvez o pequeno se afeiçoe particularmente por este sujeito de fora, fascinante porque diferente do convívio que tem desde o nascimento.

Mas é na escola que as relações da pessoinha se alastram e ela se verá exposta, agora, numa grande rede de estranhos, e submetida aos cuidados de adultos que nunca viu. É quase como um segundo parto. Um mundo totalmente diferente é apresentado à criança e, mais terrível, ela terá de o enfrentar sozinha. Olha ao lado, e a ninguém vê que lhe seja familiar. O que deve fazer? Não se sabe bem... O que é fato é que as crianças se sentirão mais ou menos ameaçadas. Hoje isto parece ser um tanto menos intenso que antigamente, quando as crianças eram mais tímidas. 

Porém, é neste desconforto, nesta falta da segurança familiar, que a criança terá ocasião de desenvolver-se imensamente. E isto é tão precioso que é comum que o sujeito lembre com imensa doçura destes dias de sua infância. Quantos de nós não gostaria de voltar atrás e visitar, pelo menos mais uma vez, aqueles dias em que levávamos à escola as nossas lancheiras, em que as cores dos brinquedos e o som do ambiente tanto nos impressionavam, em que fizemos os nossos primeiros amigos? É como ir a Nárnia pela primeira vez...

Sim, os primeiros amigos geralmente são feitos nesta Nárnia chamada escola. Amigos que partilham das primeiras aventuras. Até hoje eu lembro de certos sonhos que tive com os amigos daquela época. Que felicidade a de estar juntos: de jogar bola, de brincar de se esconder, de polícia e ladrão, de amarelinha, etc... - brincadeiras tão boas e sadias, mas que hoje foram quase que de todo deixadas de lado. - E quando eu descobri a existência do video game? Uauuu!!!! Desenhinhos que eu podia controlar! Que respondiam aos meus movimentos! Que sonho! Que felicidade! E tudo isto eu conheci por intermédio dos meus amigos. 

Sim, meus amigos me apresentaram, também, algumas vezes, coisas que não eram boas, mas que eu tinha de conhecer, de um modo ou de outro. Isto serviu para despertar as primeiras preocupações morais e fazer florescer o senso de responsabilidade. E quando uns de nós ficávamos intrigados, sempre por besteira, depois de algum tempo tínhamos de fazer um dolorido exercício: o de vencer o orgulho e reatar a amizade... Os dois geralmente queriam, mas um deles tinha de tomar a iniciativa e isto era particularmente nocivo ao ego gigante de crianças. E já que ambos sabiam disso, ninguém comentava quem havia sido o primeiro. Importava que alguém o tinha feito e a amizade seguia. Na minha experiência particular, a gente conseguia isso chamando o outro pra jogar video game. Se o outro aceitasse, tínhamos o nosso amigo de volta.

De lá pra cá, alguns amigos se afastaram... outros se foram embora.. alguns até já não estão mais entre nós. Mas outros tantos tantos vieram.. e conforme a gente vai amadurecendo, os amigos vão ocupando um lugar cada vez mais sério na nossa vida. Quando entrei na Igreja, era mais uma vez um outro mundo completamente diferente e que eu devia desbravar. Agradava-me ver a amizade dos outros e eu desejava intimamente poder ser incluído naquilo. De início, eu não me fazia notar em nada. Nunca fui bonito como outros rapazes, e minha extrema timidez me deixava no grau zero da ousadia. Insegurança era o que me definia e eu ficava lisonjeado por qualquer manifestação de simpatia alheia. Então, a meu ver, amizade não era tanto algo a que eu tinha direito, mas era sobretudo algo que os outros, num exercício pleno de bondade, talvez me concedessem. Desse modo, eu era muito condescendente com o que diziam e falavam, ainda que aquilo me incomodasse de algum modo. Desenvolvi muitos respeitos humanos por ser tão passivo e, até hoje, luto muito por deixá-los. Mas o que importa é que eu realmente fiz amigos.

Observando bem, os amigos estão em toda a nossa vida. Eles são uma espécie de garantia dos sorrisos da alma. Eles nos consolam nos momentos duros, e forçam o nosso amor quando tendemos ao egoísmo. Nos orientam quando não sabemos o que fazer, e nos preludiam docemente o Céu. Sim; somente quem experimentou a graça de uma amizade gratuita, sem interesse, sem intenções dúbias, pode entender do que eu estou falando. Quem, ao contrário, apenas conhece este jogo medíocre de interesses que perpassa a nossa sociedade em grande parte, haverá de considerar isso tudo muito romântico. De minha parte, estou muito convencido de que Deus pôs os amigos no mundo para que, de algum modo, O pudessem representar e ajudar a desenvolver algo de bondade em nós, pois estamos no mundo para aprender a ser bons, e para isso é preciso amar. Os amigos nos forçam a amar.

Porém, ser amigo é algo mais do que falar. É algo da alma. Por ser um mistério bonito, muitos desejam poder possuí-lo pelo mero exercício da palavra. Mas isto não é suficiente. Um amigo de verdade morre, mas não trai. Acontece que grande parte das nossas amizades ainda está atravessada de interesses, e é mantida como um modo de evidenciar o nosso ego e de se obter o que buscamos. São estas coisas que asfixiam a amizade. São como que um punhado de terra somado ao lugar onde, antes, seria preciso cavar para encontrar este tesouro escondido.

Enfim, a amizade, por ser prelúdio e abertura para Deus, somente pode se dar perfeitamente em Deus. A amizade, fazendo que amemos algo fora de nós, é, pela própria natureza, transcendente. Se desenvolve quando esquecemos as nossas seguranças e abandonamos o nosso conforto - como na escola. E tem a aptidão de dilatar e amadurecer a nossa alma à medida em que ela mesma cresce, pois a única coisa que nos apequena nesta vida é o egoísmo. Acabo de ler: "Amigo de verdade é aquele que vira Super Saiajyn quando você morre". É justamente isto! É o amor a algo fora de nós que nos faz crescer. E é Deus quem nos ensina este mistério. São Paulo nos dá uma cartilha de como fazer: "considerai os interesses uns dos outros maiores do que os próprios". E o próprio Deus nos chama de amigos ao esquecer-se de Si mesmo e entregar a própria vida por nós. 

Hoje em dia, eu posso dizer que possuo amigos. Não são muitos, obviamente. Tantos são apenas conhecidos e bons colegas. Outros, sequer são colegas. Mas alguns, embora poucos, são amigos. E são estes amigos que me fazem sentir um gostinho do céu. São estes amigos que atiçam em mim a sede do infinito e me fazem desejar alcançar um dia as eternas paragens a fim de com eles conviver pela eternidade. São estes amigos que me fazem vislumbrar algo do que seja Deus. São estes amigos que me forçam a querer ser melhor, que me exigem fidelidade, que me atravessam a alma quando me deixam, e que me fazem sorrir sem querer quando aparecem.

A transcendência da amizade permite que ela continue ainda quando não há proximidade física, pois a amizade é da alma e esta não está submetida às leis do espaço. A todos os meus amigos, pois... aos de perto e aos de longe, quero agradecer-lhes e dizer que, mesmo das trevas do meu egoísmo, eu consigo ver esses pontinhos de luz que são vocês e que me forçam para fora dessa minha redoma. Agradeço a Deus pela graça de tê-los e somente desejo que a nossa amizade se estenda pela eternidade. Meus amigos, eu os amo.


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