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A verdadeira contemplação não é tensa nem obsessiva


Não há tensão na verdadeira contemplação, pois, se o dom é verdadeiro, não dependemos dele; não somos escravizados pela "necessidade" de experimentar alguma coisa. O contemplativo não busca confirmação da confiança em si mesmo, em sua virtude, em seu estado ou em sua "oração". A confiança dele está em Deus, não em si mesmo. A paz e o "repouso" da contemplação são frutos de uma fé viva na ação da graça divina. O contemplativo é capaz de abandonar a si mesmo e a tudo o mais, por saber que tudo o que realmente importa em sua vida está nas mãos de Deus; por saber que não tem de "pensar no amanhã". Ele percebe completamente que a mensagem de salvação do Evangelho depende da graça de Deus, não do engenho humano.

(...) A vida comunal regular é geralmente vivida no ritmo dos que são ativos e extrovertidos. Impacientes com sutilezas interiores e intolerantes com o que não traz um resultado tangível, essas boas pessoas querem, no final de cada dia, ter certeza de que fizeram alguma coisa a serviço de Deus. Por isso, a vida delas está ordenada para lhes confirmar sua confiança. O dia é dividido em um número definido de exercícios, entre os quais está a prece, marcada pelo relógio e pela exatidão com o que o cerimonial é executado. A atenção está toda concentrada no desempenho exterior.

É bem verdade que a regularidade é uma coisa muito importante. Mas, quando se torna um fim em si mesma, frustra o propósito para o qual foi instituída. Quando a atenção centra-se antes de tudo no exterior, e quando há uma necessidade obsessiva de perfeição em tudo (não para a glória de Deus, mas para a obtenção de paz interior), a verdadeira contemplação se torna impossível, pois esta pressupõe que o homem esteja livre de quaisquer interesses, sejam altos ou baixos, espirituais ou materiais. Isso não quer dizer que descuido e falta de disciplina sejam mais favoráveis à oração interior do que a observância regular. Evidente, a vida regrada é necessária: mas a disciplina é boa precisamente na medida em que liberta a mente de preocupações perfeccionistas com coisas exteriores. A disciplina cuida das coisas exteriores, deixando-nos livres para meditar e orar. Evidentemente, portanto, faz uma grande diferença o espírito com que alguém se determina a cumprir uma regra religiosa. Quando a regularidade é sinal de amor e liberdade espiritual, ela favorece a contemplação. Mas, quando é sintoma de perfeccionismo legalista e pretensioso, mata então a vida contemplativa em sua raiz.

Thomas Merton, A experiência interior. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p.163-164.
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