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Festa de Cristo Rei


Ontem iniciei a escrever este artigo, mas não pude concluí-lo, pois tive de me ausentar para resolver algumas coisas. Mas, enfim, disponibilizo-o hoje. Pax.

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Hoje a Igreja celebra a Festa de Cristo Rei e o encerramento do ano da Fé.

Ao falarmos de Cristo Rei, por estarmos já tão habituados à expressão, é muito fácil que ela se nos passe como um título dentre tantos outros sem que nos apercebamos do seu significado profundo. Além disto, por vivermos numa espécie de demagogia, forma deturpada da democracia - mas que vai tomando ares de totalitarismo disfarçado -, a idéia de um Rei nos aparece como algo totalmente estranho. Alguns associam de tal modo a Monarquia com a Tirania que a estranheza por chamar Jesus de Rei parece ser como que recalcada, impedindo desse modo uma reflexão mais séria a este respeito.

Jesus é Rei, ou seja, o Seu modo de governo é uma Monarquia, o que já nos deveria ser o suficiente para nos fazer entender a bondade intrínseca ao Império. Ao reconhecermos a realeza de Jesus sobre o universo, estamos a dizer que Ele é senhor absoluto de tudo quanto existe. Logo, não há lugares, dimensões, aspectos do mundo e da vida que sejam absolutamente autônomos, isto é, que possam esquivar-se do domínio d'Ele. Jesus é o criador de tudo quanto há e, além de ter criado, Ele sustenta na existência todas as coisas, de modo que se por acaso Ele cedesse aos nossos caprichos e retirasse a sua atividade de certas áreas da existência humana, essas mesmas áreas cessariam no mesmo instante de existir.

Hoje advoga-se que a religião deve restringir-se a foro íntimo e que não deve se meter em política, em ciência, etc. Pois bem. Ao dizê-lo, essas pessoas estão a negar que Nosso Senhor seja Rei do universo. E, além disso, se Ele por acaso "se retirasse" de tais campos, no mesmo instante eles deixariam de fazer sentido, pois o Cristo é o próprio Lógos, isto é, é o sentido de tudo quanto existe.

Se Jesus é Rei do universo, toda essa militância por retirá-lo da sociedade não faz o mínimo sentido. Ele possui autoridade sobre tudo e sobre todos. Portanto, a sua vontade deveria ser observada e obedecida em todo o seu Reino. Porém, quando caminhava conosco em Seu corpo mortal, Ele chegou a dizer que esse mundo estava sob o maligno. Há um princípio de revolta no universo que peleja contra Ele e, na medida em que o faz, instaura a falsidade e a mentira no mundo. Cristo é a própria verdade. Isto significa que tudo quanto se insurja contra Ele só pode ser falso. Cristo é o próprio bem. Isto significa que tudo quanto pretenda opôr-se a Ele será necessariamente ruim. Se Deus criou todas as coisas que existem a partir da Sua vontade, qualquer princípio que atente contra esta vontade é um princípio de não-existência, de frustração do ser, de negação e destruição. De fato, é este o intento do demônio que não veio senão para roubar, matar e destruir. E fazemos o papel deste quando, no auge da nossa insignificância, defendemos a autonomia seja da política, ou da ciência, ou do direito, etc. Divorciando de Deus certos aspectos da vida humana, nós estamos, na mesma medida, enxertando nesta vida camadas de mentira, de irrealidade, de inexistência e de frustração. Uma pessoa que se rebela contra a vontade divina contraria o seu próprio ser, impedindo-se a obtenção de uma unidade interior. Rebela-se, portanto, contra si mesmo. Querendo arbitrar sobre uma realidade já dada, ele opta por uma reinterpretação do que já existe, e forçosamente cairá em mentiras e falsidades. Rebelando-se contra Deus, se rebelará contra a raiz do seu próprio ser, e é importante frisar que o mundo não reconhecerá este nosso falso senhorio, de modo que não é pela projeção de nossa mentira no mundo que o mundo passará a ser como o pensamos. Não é por supor que a satisfação egoísta dos nossos desejos nos trará a felicidade que isso irá ocorrer. Na verdade, quando nos esquivamos à vontade divina, o nosso próprio ser mais profundo se nega a aderir a essa nossa disparatada empresa, pois há em nós um algo que é profundamente verdadeiro e que, ainda que não o alcancemos e nem o percebamos, está lá, intocado e totalmente à prova de quaisquer dissimulações e tentativas de manipulação.

Celebrar, pois, a festa de Cristo Rei é celebrar o fato de que Jesus tem um domínio absoluto sobre tudo e de que a Sua vontade é a condição do bem e da verdade. Por isso Nosso Senhor nos ensinava a pedir: "seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu", pois a vontade divina, se realizada plenamente, significará a realização mais profunda e mais perfeita da felicidade humana e o bem de todas as criaturas.

Porém, fomos feitos criaturas livres e, logo, podemos aceitar ou negar esta vontade. A verdade é que, por mais que a queiramos fazer, há em nós ondas de revolta contra esta vontade. Nosso egocentrismo nos põe em luta contra Deus. Sempre que pecamos estamos justamente a gritar, com os nossos atos, que Deus não reina sobre nós e que não queremos este reinado. E é por isso que o pecado é uma fonte de inferno para nós. Ele é a perpetuação do fracasso na nossa vida e continuamente nos ameaça com a possibilidade de uma frustração eterna. Por isso, se quisermos agir como servos de Cristo Rei, é preciso que nós movamos uma contínua e diligente luta contra os focos de revolta dentro de nós. Identificar tais focos e lutar estratégica e inteligentemente para vencê-los deve ser o grande trabalho dos cristãos, pois, conforme diz a Escritura, "é uma luta a vida do homem sobre a terra", e, por sua vez, diz São Paulo: "Os que são de Jesus Cristo crucificaram a sua carne com suas paixões e concupiscências". São precisamente estas paixões e concupiscências que movem guerra contra Deus.

Quando falamos de reino, naturalmente pensamos em uma organização social, e não estamos errados em fazê-lo. Mas, lembremos que a sociedade se constitui de indivíduos e que os atos destes têm origem no seu interior, como disse Jesus. Portanto, o Reino de Cristo começa na consciência humana. Uma consciência que assente a Ele inteiramente e, nesse assentimento, torna-se livre, pois é a Verdade que liberta, e não o erro. Quando supomos erroneamente que seremos livres quando dermos azo à nossa revolta, estamos fazendo justamente o contrário: optando por prendermo-nos no irreal, e o irreal não liberta. Isso deveria também ser uma lição para os que pensam que a santidade se faz a partir de altas imaginações. Não. A santidade é precisamente um estado de extrema fidelidade à realidade. E a realidade é justamente esta: tudo quanto existe inclui-se dentro do reinado de Cristo; até mesmo o inferno, onde Ele reina por Sua justiça.

Que nós, os cristãos, como súditos de tão Suma Majestade, possamos dedicar a nossa vida a servi-lo e a estender o seu Reino nas consciências. Deste modo, participaremos também do seu Reinado, pois, como diz a Santa Igreja, "servir a Deus é reinar".

A Ele, supremo Rei absoluto de tudo quanto existe, glória e honra eternos! A Ele, amor infinito e gratidão plena. Viva Cristo Rei!
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