Tradutor / Translator


English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

O que a contemplação não é e o que a impede


Não se deve exagerar e distorcer a contemplação, ou fazer com que pareça algo muito grande. Ela é essencialmente simples e humilde. Ninguém pode entrar nela se não for pelo caminho da obscuridade e do esquecimento de si. Além disso, ela também implica grande disciplina; acima de tudo, a disciplina da virtude cotidiana. Implica justiça para com os outros, veracidade, trabalho duro, desapego de si, devoção aos deveres de seu próprio estado de vida, obediência, caridade e auto-sacrifício. Ninguém deve se iludir com as aspirações contemplativas se não está determinado a assumir, em primeiro lugar, os labores e as obrigações comuns da vida moral.  A contemplação não é uma espécie de mágica, um atalho fácil para a felicidade e a perfeição. No entanto, ao nos conduzir a um contato com Deus em um relacionamento pessoal e direto de amizade misteriosamente experimentada, a contemplação traz, necessariamente, aquela paz que Cristo prometeu e que "o mundo não pode dar". Pode haver muita desolação e sofrimento no espírito contemplativo, mas há sempre mais alegria que tristeza, mais segurança que dúvida, mais paz que desolação. O contemplativo é aquele que encontrou aquilo que todos os homens buscam de um modo ou de outro.

(...) Os grandes obstáculos à contemplação são a rigidez e o preconceito. Quem pensa saber de antemão o que é a contemplação impede a si mesmo de descobrir a verdadeira natureza desta, pois é incapaz de "mudar de idéia" e aceitar algo completamente novo. O indivíduo que pensa que a contemplação é elevada e espetacular não pode receber a intuição de uma Realidade suprema e transcendente, mas ao mesmo tempo imanente ao próprio eu comum dele. Aqueles que precisam ser exaltados e aqueles para quem o misticismo é o ápice da ambição humana nunca serão capazes de sentir a libertação, concedida somente aos que renunciam ao sucesso. E como nós, em sua grande maioria, somos rígidos e apegados às nossas próprias idéias, convictos de nossa própria sabedoria, orgulhosos de nossas capacidades e profundamente comprometidos com nossa ambição pessoal, desejar a contemplação é perigoso para qualquer um de nós. Entretanto, se realmente queremos nos libertar desses pecados, o desejo pela liberdade contemplativa e pela experiência da realidade transcendente provavelmente surgirá em nós por si mesmo, naturalmente.

Thomas Merton. A experiência interior. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 167-168.
Blog Widget by LinkWithin

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...