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Quem é a "Mulher" do Gênesis e do Apocalipse?


Os nossos irmãos protestantes, já que em sua maioria não partilham do amor devocional à Virgem Santíssima, tendem a não enxergar na Bíblia referências a ela a não ser que estas sejam feitas de modo explícito e inequívoco. Do contrário, estarão sempre procurando interpretações alternativas. É o que ocorre, por exemplo, com expressões usadas no livro do Gênesis e do Apocalipse.

Primeiramente, vamos aos trechos:

Logo após a Queda, Deus promete aos nossos pais, numa primeira referência ao Cristo, que se chamará "Protoevangelho", que Ele enviará Alguém que esmagará a Serpente, símbolo do Diabo. Vejamos:

"Então o Senhor Deus disse à serpente: 'Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais e feras dos campos; andarás de rastos sobre o teu ventre e comerás o pó todos os dias de tua vida. Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." (Gn 3,14-15)

Vamos agora ao Apocalipse:

"Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava em dores, sentindo as angústias de dar à luz. Depois apareceu outro sinal no céu: um grande Dragão vermelho, com sete cabeças e dez chifres, e nas cabeças sete coroas. Varria com sua cauda uma terça parte das estrelas do céu, e as atirou à terra. Esse Dragão deteve-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de que, quando ela desse à luz, lhe devorasse o filho. Ela deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro." (Apo 12,1-5).

Primeiramente, observemos as relações entre os textos:

a) Os livros são respectivamente o primeiro e o último da Bíblia, o que dá uma idéia de que essa relação aí narrada atravessa toda a história;
b) Nos dois trechos, aparece a figura da Mulher e a da serpente ou dragão;
c) Nos dois trechos, há inimizade entre as duas figuras;
d) Nos dois trechos, faz-se referência à descendência da Mulher;
e) Tanto Gênesis quanto Apocalipse prenunciam a vitória contra a serpente.

Os protestantes costumam ver nessa mulher a figura da Igreja. Os católicos também o fazem, mas não exclusivamente. Quanto ao Gênesis, de fato, a Igreja será considerada a Nova Eva, nascida do lado aberto do Novo Adão, o Cristo, pendente na Cruz. Quanto ao Apocalipse, a Mulher aí referida simboliza, também, a Igreja, a Jerusalém Celeste, vestida do Sol, que é o próprio Jesus. No entanto, há uma outra característica que está em ambas as imagens e que geralmente os protestantes tendem a não colocar muita atenção: A mulher é mãe do Cristo. Ora, a Igreja não é Mãe de Cristo. Ela costuma ser chamada de Corpo Místico (Efe 5,23; 30; Rm 12,4-5; 1Cor 12,12-27); , ou de Noiva (Efe 5,25; Apo 21,2; 9; 22-27), mas nunca de Mãe.

E que ela é Mãe do Cristo, se percebe nos dois textos:

No do Gênesis, depois de Deus afirmar que poria inimizade entre a serpente e a Mulher, entre a descendência da primeira e a descendência da segunda, Ele diz que esta lhe esmagará a cabeça. Vamos pensar: quem é que vai esmagar a cabeça? O pronome "esta", próprio da Nova Vulgata (Ipsum), é um termo neutro referente ao substantivo neutro "descendência". Na Vulgata de São Jerônimo, o pronome usado era "ela" e parecia indicar, não a descendência, mas a Mulher. A tradução correta é a primeira, o que é evidenciado quando se confere o original hebraico hu' (הוּא), que é um pronome masculino referente ao substantivo masculino hebraico para "descendência",  zareah' (זַרְעָהּ), regido também por um verbo masculino. Isso pode ainda sugerir que a descendência da Mulher seria um homem. Também o grego da Septuaginta traz o pronome masculino "este" (αὐτός), o que deixa claro que a referência literal não é à Mulher. Mas este que irá esmagar a cabeça da serpente, que é o Cristo, é de fato filho da Mulher. Logo, a Mulher deve necessariamente ser Maria, já que a Igreja não é Mãe do Cristo.

O Apocalipse confirma a identidade masculina da descendência: "Ela deu à luz um Filho" e dá os sinais para que discirnamos a Sua identidade: Ele é "Aquele que deve reger todas as nações com cetro de ferro". Mais à frente, o mesmo livro afirma que este Rei traz escrito em Seu manto e em Sua coxa a inscrição: "Rei dos reis e Senhor dos senhores" (Ap 19,15). Logo, trata-se mesmo de Jesus. De novo, a figura da Mulher deve simbolizar, e neste aspecto exclusivamente, a Virgem Maria, pois é Ela a única Mãe deste Rei. Interessante notar um outro ponto do texto: o dragão se detém diante da Mulher. O objetivo é devorar o Filho tão logo ele nasça. No entanto, se pensarmos bem, o dragão, diante de uma mulher qualquer, poderia tê-Lo matado ainda no ventre, ou até devorado a mãe junto. Aqui, mais uma vez, nota-se qualquer tipo de "autoridade" da Mulher com relação ao dragão, de modo que ele não avança sobre ela. Já no primeiro texto - o de Gênesis - fica patente que o próprio Deus colocou uma inimizade entre a Serpente e Maria. 


A Virgem Santíssima surge assim, para a cristandade, e mesmo para toda a história humana, como a grande inimiga do demônio. Foi sobre Ela que escreveu Salomão: "Quem é esta que desponta como a aurora, bela como a lua, fulgurante como o sol, terrível como esquadrão com bandeiras desfraldadas?" (Ct 6,10), esclarecendo o seu ofício fundamental nesta guerra contra o mal. Ela gerará Aquele que esmagará a cabeça do diabo. Logo, a missão da Virgem é eminente, e pode-se dizer que ela toma parte nesse "esmagamento".

Foi por ter consciência desta missão de Maria tão íntima à do Cristo, e, de algum modo, até anterior à d'Ele, embora d'Ele efeito antecipado, como a aurora em relação ao sol, que a Vulgata Latina trazia, ao invés de um pronome masculino, o feminino "ipsa", referente à Mulher. Maria é Aquela diante da qual o demônio se detém. É aquela que o venceu desde o início.

É inclusive por isso que Jesus usa uma expressão aparentemente tão fria como "Mulher" quando a ela se refere. Se observarmos, todos os escritores bíblicos, quando tratam dela, sempre a chamam de "a mãe de Jesus". Isabel chega a chamá-la de "Mãe do meu Senhor". Em chamá-la "Mulher", Cristo, o mesmo que inspirou os escritores bíblicos, não pretende minimizar o seu papel, mas, antes, identificá-la como aquela Mulher referida desde o início, a inimiga natural do demônio, aquela que o venceu e diante da qual ele se detém.

Isto contudo, não impede a Satanás de guerrear contra a ela. O próprio apocalipse narra que, lançado à terra, perseguiu-a, e o livro do Gênesis mostra que ele chegaria a lhe ferir o calcanhar. No entanto, o dano que lhe causa é indireto, na medida em que fere aquilo pelo que Ela se importa: o restante da sua descendência (Cf. 12,17). Este restante somos nós, assumidos que fomos como seus filhos desde a Cruz. Participando da filiação do Cristo com relação à Virgem, somos associados a ela, de modo que nos tornamos, igualmente, inimigos do demônio. Nós somos o calcanhar da Virgem, a sua parte frágil. Mas, associados ao Cristo, o Rei forte que governa com cetro de ferro, haveremos de, com Ele, esmagar a cabeça deste inimigo.
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