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Instinto Sexual e Castidade I


As duas necessidades do ser vivo: manter-se e abrir-se, vemo-las expressa marcadamente nas duas paixões mais fortes que incessantemente ocupam o esforço ascético: a tendência sexual que corresponde à necessidade de comunicação, e a tendência agressiva que corresponde à necessidade de auto-conservação. A tendência sexual é dirigida pela castidade; a tendência agressiva, a ira, pela mansidão.

A castidade não tem por objeto a eliminação ou metamorfose dos instintos. Bem diz Pio XII na encíclica sobre a virgindade: 'A virtude da castidade não exige de nós que nos tornemos insensíveis ao estímulo da concupiscência, mas que o subordinemos à razão e à lei da graça.'(1) Aviso importante para almas angustiadas que se atormentam a si mesmas com impressões e sensações de caráter sexual, embora tais sensações não estejam debaixo de seu poder. O que no máximo podia ser classificado como tentação, logo consideram como pecado. Nasce o sentimento de culpabilidade que fixa a atenção sobre o assunto. A fixação da atenção sobre o assunto sexual exacerba a tentação: a alma debate-se num círculo vicioso e chega, pressionada por idéias fixas ou impulsos coercitivos, a fazer o que mais receia e detesta.

Quanta angústia e quanto desgaste nervoso não resulta do desconhecimento da natureza humana! A vida sensitiva funciona, em grande parte, automaticamente. Chegando alguma impressão a um sentido, logo este toma posição e , se lhe convém, acha nele prazer e procura a continuidade da impressão; não lhe convindo, porém, acha-lhe desprazer e procura afastar-se. A procura do bem correspondente é necessidade intrínseca da natureza, tanto na esfera biológica, como psíquica e espiritual. Nenhum homem pode impedir que um prato saboroso lhe agrade e o atraia. Nenhum homem pode evitar que aquilo que convém à sexualidade lhe provoque as sensações e tendências correspondentes. Sob tal aspecto ninguém pode mudar ou eliminar a vida sensitiva. O que é da natureza não se pode expulsar.

Mas essas reações automáticas precisam de regulativo. Nos animais, é o instinto que mantém as tendências sensitivas dentro de um justo limite que não prejudique a vida total. No homem, esse regulador instintivo se encontra mal desenvolvido, especialmente em referência à vida sexual. Para ele, o regulativo é o próprio espírito que, conhecendo as necessidades diversas e os perigos possíveis, deve dirigir e condicionar os movimentos automáticos dos sentidos. Essa direção e vigilância custam esforços contínuos, porque a vida sensitiva está constantemente em atividade; custam, não raro, esforços heróicos, pois, às vezes, as paixões resistem com força, querendo seguir independentes o próprio caminho. Dessa atividade reguladora do espírito depende em grande parte a perfeição do homem, a elaboração espiritual de sua vida, a realização de si mesmo.

A lei estratégica básica dessa atividade é chamada fuga. Por causa da função automática da vida sensitiva, acontecerá muitas vezes que surjam impressões, sensações e tendências que o homem, em vista da finalidade espiritual superior, não pode admitir - em outras palavras, tornam-se para ele tentação, solicitação para canalizar a energia em direção não-construtiva. Que pode e deve o homem fazer em tal caso? A resposta resulta logicamente da natureza automática de tais movimentos. É impossível mudar agrado em desagrado, o prazer em desprazer. O prazer será o estado natural, enquanto durar a impressão exterior. Portanto só resta ao homem uma saída: colocar-se fora do alcance de tal impressão ou do objeto que a provoca. Então se amortece, gradativamente, a sensação e o perigo será debelado.

É antiquíssima a lei ascética de evitar e fugir nas lutas pela castidade. Sendo a única atitude lógica e natural, não demonstra fraqueza ou covardia, mas prudência, isto é, conhecimento exato da realidade e conformação com ela. Enfrentar o perigo, fazer-se de forte, aparentar insensibilidade estóica, é ignorância da natureza humana e desconhecimento das estratégias diferentes na luta pela perfeição: "Os assaltos do pecado devem ser vencidos às vezes pela fuga, e outras pela resistência. Pela fuga, quando uma ocupação demorada dos pensamentos forneceria novo incentivo ao pecado, como acontece na impureza. Por isso, foi dito: 'Fugi da fornicação.' (1Cor 6,18) (2)

(1) Pio XII, Encíclica sobre a Sagrada Virgindade. In: Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 14 fasc. 2, julho 1954, p. 451.
(2) S. th. II. II. 35, 1 ad 4.

Frei Valfredo Tepe OFM. O sentido da vida. Ascese cristã e psicologia dinâmica. 3ª ed. Bahia: Mensageiro da Fé, 1960. p. 110-112.
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