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Leitor pergunta: Católicos adoram santos?


Um leitor surpreendentemente nos pergunta se nós, católicos, adoramos santos. Para que não me suponham aumentador da conversa, transcrevo:

"Ainda no assunto de santos, queria saber, a igreja católica adora imagens? Sendo que na bíblia, êxodo no capitulo 20, onde esta escrito os dez mandamentos, fala para n adorar imagem e nem escultura, e a igreja faz culto ligados a santos a padroeiros, e vs falam que os santos intercede por nós, como interceder? Se quando a pessoa a morre n sabe de nada, sua memoria está no esquecimento, então ele n tem como fazer nada, Então é um absurdo confiarmos que uma pessoa que morreu esteja intercedendo por nós, uma pessoa pode interceder por nos que Jesus.
Leia efésios 1:1, 2 
Êxodo 20:4,6
Eclesiastes 9:5,6
I Timóteo 2:5

Obrigado, e me explique por vcs defende isso?"

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Caro, quanto à pergunta geral, é óbvio que a Igreja não adora santos nem imagens. Ela adora somente a Deus. Quanto aos santos, a Igreja os venera. Este sempre foi um foco de confusão: protestantes não conseguem ver muita diferença entre adoração e veneração, mas isto é obviamente uma limitação da mente protestante, e não nossa. Com certeza, eles saberiam diferenciar o respeito que nutrem por um familiar de idade e a adoração a Deus. E, no entanto, não fazem esta distinção quando é hora de criticar a Igreja. A origem deste equívoco parece falar algo sobre as intenções dos que o perpetraram.

Vejamos como a Igreja define o que seja adoração:

"Adorar a Deus é reconhecê-lo como Deus, como o Criador e o Salvador, o Senhor e o Dono de tudo o que existe, o Amor infinito e misercordioso. 'Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a Ele prestarás culto' (Lc 4,8), diz Jesus, citando o Deuteronômio (6,13). Adorar a Deus é, no respeito e na submissão absoluta, reconhecer o 'nada da criatura', que não existe a não ser por Deus. Adorar a Deus é, como Maria no Magnificat, louvá-lo, exaltá-lo e humilhar-se a si mesmo confessando com gratidão que Ele fez grandes coisas e que seu nome é santo.' A adoração do Deus único liberta o homem de se fechar em si mesmo, da escravidão do pecado e da idolatria do mundo." (CIC, 2096-2097)

Quanto às imagens e venerações dos santos, a Igreja se refere a "veneração respeitosa", e esclarece:

"O culto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as considera em seu aspeto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é imagem." (2132)

A veneração é basicamente um ato de respeito, enquanto que a adoração é um ato pelo qual se reconhece que Deus é Deus e é o criador e salvador de tudo quanto existe, inclusive de todos os santos. Aliás, estes só são santos porque estão como que mergulhados em Deus. 

Quanto à passagem de Ex 20, em que se proíbe a confecção de ídolos, vê-se logo que isto não inclui todas as imagens, pois o próprio Deus manda, em várias ocasiões, que seus servos façam imagens: é o caso da serpente de bronze, dos querubins de ouro, dos bois no altar, das palmas em alto relevo que ilustram as paredes do templo de Salomão, etc.

As imagens que foram proibidas tinham a intenção de serem ídolos, isto é, de serem adoradas. Era sempre uma tentação para Israel, que vivia circundado por povos politeístas. Assim, como meio de preservar o povo na obediência ao Deus único, Ele o proibiu de fazer ídolos.

Além disso, o próprio livro de Deuteronômio dá uma outra razão para que não fossem feitas imagens, sequer de Deus: "Uma vez que nenhuma forma vistes no dia em que o Senhor vos falou no Horeb, do meio do fogo, não vos pervertais, fazendo para vós uma imagem esculpida, em forma de ídolo..." (Dt 4,15-16)

Não se podia fazer imagens porque não havia qualquer referência de como fosse Deus. Contudo, a partir da Encarnação do Verbo, que é "a imagem do Deus invisível" (Cl 1,15) e que falou de Si mesmo que "Quem Me vê vê o Pai" (Jo 14,9), inaugura-se, diz o Catecismo, e o afirmou o Sétimo Concílio de Nicéia, em 787, uma nova economia das imagens.

Portanto, fazer imagens não é adorá-las. A imagem é um símbolo que aponta para outras realidades. É como uma foto. Ninguém pensa que a própria mãe virou papel depois de morta quando dela só se conservam fotos. E, no entanto, quando esta mesma foto é beijada, tampouco pensa o filho estar a beijar o papel, mas a sua mente liga-se espiritualmente à presença da sua mãe. É mais ou menos assim que acontece com os santos, com a diferença de que eles não são seres inertes com os quais nos ligamos apenas pela memória e imaginação, mas entre nós e eles ocorre um intercurso efetivo. E aqui entramos na segunda pergunta. Antes, porém, de respondê-la, transcrevamos as citações que o rapaz nos faz, e expliquemos uma a uma, conforme nos for conveniente.

Efe 1,1-2: "Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos cristãos de Éfeso e aos que crêem em Jesus Cristo. A vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo!" - Só não entendi a relação dessa passagem com o ponto da discussão.

Ex 20,4-6: "Não farás para ti escultura nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto. Eu sou o Senhor, teu Deus, um Deus zeloso que vingo a iniquidade dos pais nos filhos, nos netos e nos bisnetos daqueles que me odeiam, mas uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus ensinamentos." - Já explicado. O próprio Deus mandou em outras diversas vezes que Israel fizesse imagens. A proibição de ídolos, e não de quaisquer imagens, se deve também às circunstâncias da época, como já dito.

Ecle 9,5-6: "Com efeito, os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem mais nada; para eles não há mais recompensa, porque sua lembrança está esquecida. Amor, ódio, ciúme, tudo já pereceu; não terão mais parte alguma, para o futuro, no que se faz debaixo do sol." - E aqui entramos no problema da imortalidade da alma que resolveremos já já; mas, antes, citemos o último texto.

1Tim 2,5: "Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem." - A resolução deste problema, não obstante ser bem mais fácil do que o outro, o pressupõe, pelo que responderemos primeiramente o anterior e, em seguida, este.

O livro do Eclesiastes, escrito por Salomão, trata da vaidade da vida e da efemeridade do mundo. Sua função é nos recordar que tudo aqui embaixo passa e que apegar-se a alguma das coisas transitórias é sem sentido. No trecho citado, vemos que o foco de Salomão não está em pronunciar-se sobre o além, mas sobre a terra mesmo: "não terão mais parte alguma, para o futuro, no que se faz debaixo do sol." "Embaixo do sol" significa nesta vida. E é óbvio que, nesta vida, já não há mais nada, uma vez que o corpo pereceu. Não há recompensa nem punição, e sua lembrança (a memória que os outros têm dele) está esquecida.

E uma prova de que ele se pronuncia sobre esta vida e não sobre a outra se encontra no capítulo 3, versículo 21: "Quem sabe se o sopro de vida dos filhos dos homens se eleva para o alto, e o sopro de vida dos brutos desce para a terra?" Aqui Salomão afirma categoricamente que não sabe. E, se não sabe, não pode pronunciar-se a respeito. É óbvio que a intenção dele, uma vez que confessa a própria ignorância, não é tratar desses assuntos, mas do mundo cá de baixo.

Além do mais, estamos no Antigo Testamento, e até então a revelação era apenas fragmentária. Somente a partir do Cristo é que saberemos as coisas com certos detalhes. E, ainda assim, é fato que as correntes judaicas mais ortodoxas não apenas criam na imortalidade da alma, como também na reencarnação, conceito que assumia o nome de Guilgul Neshamot. Ora, os judeus liam o livro do Eclesiastes e não encontravam dificuldade nenhuma em harmonizá-lo às suas crenças. Disto concluímos que a interpretação que fazem certas correntes protestantes a respeito desses versos é equivocada.

Por outro lado, provamos que há imortalidade da alma através da Sagrada Escritura por grande quantidade de textos, dentre os quais destacamos:

Samuel é invocado pouco depois de morrer e repreende Saul. Logo, não era demônio: 1Sm 28,8.

Moisés e Elias aparecem conversando com Jesus na Transfiguração: Mt 17, 3.

Jesus, na Parábola do rico Epulão e do pobre Lázaro, afirma a realidade pós morte: Lc 16,19-31.

Jesus promete ao bom ladrão que ele irá ao Paraíso ainda naquele dia: Lc 23,43.

Jesus, depois da morte, vai pregar aos espíritos na prisão: 1Pe 3,19.

Os Apóstolos vêem Jesus caminhando sobre a água e pensam que é um fantasma: Mt 6,49.

Depois que Jesus ressuscita, os Apóstolos ficam achando que é um espírito, e Jesus diz: "tocai e vede: um fantasma não tem corpo nem ossos, como vede que tenho." Lc 24,39.

Paulo diz que prefere morrer para estar com Cristo: Fl 1,21ss

Paulo diz que enquanto vivemos no corpo estamos exilados, isto é, longe do Senhor: 2Cor 5,8

Etc.


Quanto ao segundo texto, o de Jesus como único mediador, explica-se muito facilmente.

O Pecado Original rompeu a comunhão entre o homem e Deus, e não havia nada que pudesse reatar esse convívio. Apenas Jesus Cristo, unindo-nos a Deus primeiramente em Si mesmo, na união hipostática, e, depois, esposando a todo o gênero humano a partir da Redenção, foi capaz de dar-nos, de novo, a vida. Então, fora d'Ele ninguém se salva. Ele é o único mediador absoluto.

Contudo, esta única mediação tornou possível, a partir de si mesma, outras mediações secundárias, que dependem dela e só existem por meio dela. Os santos não são poderes alternativos, fora de Deus. Pelo contrário, estão revestidos de Deus, participam da Sua natureza, e, deste modo, compondo o Seu corpo, podem interceder por nós do mesmo modo que cada um de nós pode interceder pelos demais. Vemos na Bíblia como Paulo sempre se recomenda às orações dos cristãos aos quais chama "santos". Ora, rezar por alguém é interceder, isto é, fazer a mediação entre alguém e Deus. Os protestantes vivem pedindo orações aos pastores, que, então, tornam-se intercessores. Esta intercessão, dando-se por dentro da mediação única do Cristo, é perfeitamente válida. Logo, isto não é um problema.
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