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Adventismo: O Juízo Investigativo



A Igreja Adventista do Sétimo Dia - IASD afirma a existência de um negócio chamado "Juízo Investigativo". Na verdade, seriam três juízos ou três fases de um único juízo, como se diz, e aqui iremos estudá-las e ver se há fundamento para elas.

Estes três momentos judicativos surgem como consequência lógica de três eventos.

O primeiro deles é a entronização de Jesus no Lugar Santo em 22 de Outubro de 1844. O segundo seria o reino do milênio, após a primeira vinda de Jesus, antes da ressurreição dos infiéis. O terceiro seria, enfim, quando Jesus decretar o destino dos não convertidos que, ressuscitados, ouvirão a sua sentença e a sofrerão, sendo destruídos em seguida. Estes três juízos ou três fases do juízo recebem nomes específicos.

A primeira, como já dissemos, chama-se Juízo Investigativo.
A segunda, Juízo Judicativo.
A terceira, Juízo Executivo.

Neste texto especificamente nos deteremos no Juízo Investigativo.

Este juízo, como o nome sugere, seria um processo de investigação em que Jesus, tendo entrado no Lugar Santíssimo, examina os escritos dos anjos relatores. O adventismo crê que há anjos responsáveis por escrever tudo quanto fazemos: desde os nossos atos às mais recônditas intenções da nossa alma.

Um fiel registro de todas as suas [dos homens] ações é feito diariamente pelos anjos relatores. Todos os seus atos, mesmo as intenções e propósitos do coração acham-se fielmente revelados. (Testemunhos para a Igreja 1, pg. 468, disponível aqui)

A fim de que seja preservada a Justiça divina, Ele necessita conhecer todos estes fatos antes de uma tomada de decisão:
"Deve haver um exame dos livros de registro para determinar quem, através do arrependimento e fé em Cristo, tem direito aos benefícios de Sua expiação. A purificação do santuário envolve, portanto, uma obra de investigação - um julgamento - antes da volta de Cristo, pois quando Ele vier, Sua recompensa estará com Ele para dar a cada um segundo as suas obras (Ap 22,12)." (O grande conflito, p. 197)

Assim, existiriam livros no Santuário Celestial (Dn 7,10, Apo 20,12), e, neste lugar, Jesus, ministrando, ocasião que corresponderia ao Grande Dia da Expiação, analisa uma a uma as histórias dos homens: "A esse período nos referimos como o antitípico Dia da Expiação." (Questões sobre doutrina, p.315) O objetivo disto é apenas um: decidir quem mantém seu nome escrito no livro da vida ou quem o terá apagado, pois este apagamento pode acontecer (Cf. Ex 32,33; Apo 3,5; Sl 69,28). Por isso, até a fim de economizar tempo (rs), os que um dia foram fiéis são os únicos casos a serem examinados. Isto é: os não cristãos já estão naturalmente excluídos.

Escreve Ellen White:

"No ritual simbólico, os únicos que participavam do Dia da Expiação eram aqueles cujos pecados haviam sido transferidos ao santuário durante o ano. Assim, no grande Dia da Expiação final e do juízo investigativo, os únicos casos examinados são os daqueles que afirmaram fazer parte do povo de Deus. O julgamento dos ímpios é algo distinto e separado, e ocorre posteriormente. 'Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada.' (1Pe 4,17)

Os livros de registro no Céu determinam a decisão do julgamento. O Livro da Vida contém os nomes de todos os que já serviram a Deus. Jesus ordenou aos discípulos: 'Alegrai-vos, [...] porque o vosso nome está arrolado nos Céus.' (Lc 10,20). Paulo fala de seus cooperadores, 'cujos nomes se encontram no Livro da Vida' (Fp 4,3). Daniel declara que o povo de Deus será livrado, 'todo aquele que for achado inscrito no livro [da vida]' (Dn 12,1). E João diz que entrarão na cidade de Deus apenas aqueles cujos nome estão 'inscritos no Livro da Vida do Cordeiro' (Ap 21,27).

No livro 'memorial', estão registradas as boas ações dos 'que temem ao Senhor e para os que se lembram do Seu nome' (Ml 3,16). Cada tentação resistida, cada mal vencido, cada palavra bondosa dita a alguém, cada ato de sacrifício, cada sofrimento suportado por amor de Cristo, está registrado. 'Contaste os meus passos quando sofri perseguições; recolheste as minhas lágrimas no Teu odre; não estão elas inscritas no Teu livro?' (Sl 56,8)." (O Grande Conflito, p. 225)

Veja também isso:
"Assim, compreendemos que o livro da vida é o registro dos que professaram ser seguidores de Deus e deram início à caminhada rumo à vida eterna. O apóstolo Paulo fala da 'Igreja dos primogênitos arrolados nos Céus' (Hb 12,23) Falando em linguagem comum, diríamos que o livro da vida é o registro celestial da igreja. Nessa lista estão todos os que Deus pode considerar candidatos ao Seu reino eterno, desde Adão até a última pessoa na Terra que se volva ansiosamente para Ele, não importando quão limitada seja sua compreensão da gloriosa boa-nova do evangelho.
Cremos que a eliminação dos nomes do livro da vida é uma obra do juízo investigativo. O completo e perfeito exame de todos os candidatos à vida eterna terá de ser feito antes que Cristo volte nas nuvens do céu, pois, quando Ele aparecer, já terão sido tomadas as decisões para vida ou para morte. Os que morreram em Cristo serão chamados à vida, e os seguidores vivos de Cristo serão trasladados (1Ts 4,15-17). Todos são cidadãos do reino eterno. Depois do segundo advento, não haverá tempo para essas decisões." (Questões sobre doutrina, pg. 312)

Considere mais este texto de Ellen White sobre o que ocorre no Juízo Investigativo:

"Ao abrirem-se os livros de registro no juízo, é passada em revista perante Deus a vida de todos os que creram em Jesus. Começando pelos que primeiro viveram na Terra, nosso Advogado apresenta os casos de cada geração sucessiva, finalizando com os vivos. Todo nome é mencionado, cada caso minuciosamente investigado. Aceitam-se nomes, e rejeitam-se nomes. Quando alguém tem pecados que permanecem nos livros de registro, para os quais não houve arrependimento nem perdão, seu nome será omitido do livro da vida, e o relato de suas boas ações apagado do livro memorial de Deus. [...] Todos os que verdadeiramente se tenham arrependido do pecado e que pela fé hajam reclamado o sangue de Cristo, como seu sacrifício expiatório, tiveram o perdão aposto ao seu nome, nos livros do Céu; tornando-se eles participantes da justiça de Cristo, e verificando-se estar o seu caráter em harmonia com a lei de Deus, seus pecados serão riscados e eles próprios havidos por dignos da vida eterna. (O grande conflito Apud Questões sobre doutrinam, p. 315)

Ao término deste exame, acontecerá a volta de Jesus e o início do milênio.

"Tendo concluído Seu ministério como sumo sacerdote, nosso Salvador retorna à Terra, em glória, e então Satanás é lançado no abismo, onde ele e seus confederados de rebelião permanecerão por todo o milênio." (Questões sobre doutrina, p. 316)

Vamos então a alguns problemas

O primeiro problema, e que salta à vista, é a concepção materialista do céu que se tem e a negação prática da onisciência divina. Surpreendentemente, Deus precisa recorrer a livros para conhecer as minúcias da vida dos seres humanos, o que leva também a um segundo absurdo: que os anjos relatores saibam previamente algo que Deus não sabe ainda.

A Sra White nada fala sobre isso - pelo menos não o vimos -. Mas, como é um problema básico e facilmente percebido, o Questões sobre doutrina se apercebe dele e tenta uma justificação:

"Se a questão envolvesse apenas Deus, certamente não haveria necessidade de registros. Mas, para que os habitantes de todo o Universo, incluindo os anjos bons e maus e todos quantos já viveram na Terra, pudessem compreender Seu amor e Sua justiça, a história da vida de toda pessoa que já viveu neste mundo foi registrada, e no juízo serão abertos esses registros - pois todo homem será julgado segundo o que for revelado 'nos livros' do registro (Dn 7,10; Ap 20,12)" (p. 303)

"Cuma foi, seu zé?"
Isso, além de não melhorar muito, levanta outros sérios problemas. O primeiro é que a multidão de homens e anjos é de repente transformada numa plêiade de curiosos e fuxiqueiros. Além disso, o fato de eles precisarem conferir para só então se certificarem de que Deus é justo instaura e sacraliza, nos salvos, a desconfiança de Deus. Os que virem Deus face a face não apenas o amarão e nele confiarão, mas terão ainda quaisquer reservas que os farão conferir o Seu trabalho. E o que garantiria a estes desconfiados que os registros falam a verdade? Se se desconfia de Deus, imagina de um anjo relator? Então, o que se vê é uma série interminável de problemas. Os adventistas julgaram necessário levantar essa questão devido à afirmação bíblica de que os justos julgarão o mundo. (2Pe 2,4) Mas é muito interessante que os tais justos julguem o que já está julgado. Segundo, se se referisse a um desejo espontâneo de conferir um caso ou outro em particular, não seria o mundo que seria julgado, mas apenas alguns casos - por certo, a minoria, pois o Céu deve ser muito mais interessante do que tédio subjacente necessário à perda de tempo que seria fazer isso aí.

Mas que se trata de um caso de desconfiança é dito pelo próprio Questões sobre doutrina:

"O amor e a justiça de Deus têm sido desafiados por Satanás e suas hostes. O arquienganador e inimigo de toda justiça tem feito parecer que Deus é injusto. Portanto, em sua infinita sabedoria, Ele determinou resolver para sempre toda dúvida. Faz isso revelando perante o Universo inteiro a história completa do pecado, desde seu início." (p. 303)
Quer dizer que "em sua infinita sabedoria", Deus resolveu tirar a dúvida dos homens dando-lhes livros? "Vamos fazer do Céu um país de leitores."

Além disso, a segunda citação acima afirma que também os "anjos maus e todos quantos já viveram na Terra" poderão, através desses registros, "compreender Seu amor e Sua justiça", o que traz imediatamente a questão: também os demônios e os perdidos terão acesso a estes registros? Ora, estamos no Milênio, que é quando os "santos curiosos e paranóicos" supostamente reconferirão os tais registros. Mas os demônios não estarão no abismo? Os registros serão levados lá? E o que dizer dos homens maus que já tiverem morrido e estiverem supostamente naquela soneca? Não é só no final que eles serão ressuscitados? Quer dizer que depois da segunda ressurreição ainda haverá tempo de verificar, por parte dos condenados, a história de todas essas pessoas? Então põe mais um milênio aí... Pelo menos morrerão cultos... 

Shandaray...
Outra coisa curiosa: toda a perspectiva adventista pressupõe a existência do tempo no Céu. Na verdade, o tempo é uma criação de Deus para as realidades espaciais e, portanto, materiais. O que é o tempo? É justamente a distância entre o início de um movimento - físico ou mental - e o seu termo. Percorrer essa distância exige que no início do movimento ainda não se tenha o que se terá no fim. Portanto, o tempo exige um ser carecente que busca algo que lhe falta. Ora, Deus é completo e onipresente, o que impossibilita inclusive que Ele se mova, já que mover-se implica ocupar espaço antes não ocupado. Se Deus está em todo lugar, Ele não pode ocupar um lugar ainda não ocupado porque tal lugar não existe. Tempo e espaço existem neste universo. Deus está fora do tempo. É por isso que Deus se chama de "Eu sou".

Tudo quanto está no tempo muda. Ora, Deus não muda, o que significa que Ele não tem um antes e um depois. Ele simplesmente é. Ler livros é fazer um trabalho temporal e sucessivo, onde a consciência transita de nome a nome, de idéia a idéia, de história a história, e, de novo, isto pressupõe a negação da onisciência. Deus pode expressar-se sucessivamente já que Ele se dirige a seres temporais cujos atos cognoscitivos são sucessivos. Mas, enquanto atividade imanente, Deus não tem sucessão.

Poder-se ia objetar que Jesus o faz enquanto homem. Mas isto seria perder tempo, pois Jesus é Deus e pode saber de tudo num átimo. Contrasta com essas verdades evidentes a hipótese de Jesus estar, desde 1844, neste trabalho.

Acaba mair não...

Também do ponto de vista profético, isso não bate. Com efeito, costuma-se atribuir um dia a um ano. As 2.300 tardes e manhãs de Daniel seriam supostamente 2.300 anos, que levariam a 1844 - Na verdade, 1843. Assim, o dia da expiação, sendo somente um dia no tipo do Santuário, deveria ser correspondente a mil anos proféticos no seu antítipo. Chegaríamos então a 1944[43], que já passou faz tempo. Mesmo assim, esta teoria contrastaria com o que dissemos anteriormente.

Os livros de que se fala certamente não são livros literais, mas um símbolo usado pela Escritura para dar à consciência humana uma idéia comparativa de que Deus tem tudo registrado. Em Apocalipse 10,10 se fala de um livro pequeno que o Apóstolo João come, e até descreve o gosto. Ora, não se deve tomar isso literalmente.

O Questões sobre doutrina, a este respeito, diz:

"A que se assemelham esses 'livros' exatamente, não sabemos. Isso não foi revelado. As Escrituras, porém, tornam claro que, seja qual for a natureza desses registros, desempenham papel vital na cena do juízo." (p. 303)

Notem que ele aspeia a palavra "livros". Talvez algum adventista que estivesse nos acompanhando até aqui estivesse vendo com maus olhos o fato de atribuirmos a estes livros um sentido não literal. Mas eis que uma fonte de peso adventista diz o mesmo. Pô-lo entre aspas é o mesmo que dizer que não são livros exatamente. Mas é preciso dizer mais: se estes registros forem quaisquer objetos extrínsecos à mente divina, teremos de novo uma negação prática da onisciência. É preciso, portanto, que eles sejam a própria Inteligência de Deus, pelo que dispensam o "tempo" - que inexiste no Céu - de exame.

Por fim, se a intenção de Deus fosse comunicar as suas decisões e as razões delas, nada O impediria de iluminar simultaneamente a consciência de todos quantos houvesse no mundo, tanto anjos quanto homens.

Outro problema: como é possível que um julgamento da vida inteira de alguém aconteça enquanto o julgado ainda está vivendo? Deus poderia fazê-lo na sua presciência - como de fato Ele já sabe de antemão quem se salvará e quem se condenará -, mas isto dispensaria a necessidade de qualquer exame. A crença adventista, ao contrário, é a de que o meu nome pode estar sendo examinado agora no livro, e as minhas disposições atuais determinarão a minha salvação ou condenação. O meu nome por certo não será revisto, pois isto abriria ocasião para a revisão de todos os demais, e, sendo que o que motivaria uma tal revisão seria uma mudança interior, e sendo que esta pode se dar continuamente, seguir-se-ia daí a possibilidade de uma revisão contínua, e penso que eu que nem a paciência divina daria conta.

Crer no Juízo Investigativo é divinizar a sorte. Depois que o meu nome passar pelo exame e for apagado do livro da vida, de nada adiantará os meus ulteriores arrependimentos. Estarei perdido. Do mesmo modo, se no exame, eu for encontrado arrependido, e meu nome for mantido no livro da vida, isto significa que eu posso até fazer pacto com o demo depois, que nem por isso ele sairá de lá. Se se contestar isso, se terá de admitir a possibilidade da revisão do livro. A única saída é supor que um tal exame não existe, e que o julgamento divino, não precisando ocorrer no tempo, será imediato, no fim dos tempos, quando todos os homens tiverem terminado a sua história, como é a única alternativa lógica.

Vamos a mais uma citação que prova por A+B que o juízo investigativo nega a onisciência divina:

"Evidentemente, o relator celestial fez uma completa biografia de todo indivíduo que já viveu na Terra, não omitindo coisa alguma que pudesse ter qualquer influência na decisão do Juiz Onipotente." (p. 311)

A primeira coisa a se perguntar é: onde se diz na Bíblia sobre os anjos relatores?

A segunda é: por que os anjos relatam tudo de todo indivíduo se, como vimos, apenas os que uma vez foram cristãos serão objetos de exame?

Depois: se os anjos não omitem "coisa alguma que pudesse ter qualquer influência na decisão" de Deus, então isto significa que se eles omitissem, Deus não o saberia, isto é, poderia ser influenciado. Diga-me o leitor? Há sentido dizer isso considerando a onisciência divina?

Vamos a apenas mais dois problemas. Um deles já o adiantamos acima: na primeira citação, Ellen White deixa claro que apenas os uma vez ingressados na vida cristã serão analisados no Juízo Investigativo:

"No ritual simbólico, os únicos que participavam do Dia da Expiação eram aqueles cujos pecados haviam sido transferidos ao santuário durante o ano. Assim, no grande Dia da Expiação final e do juízo investigativo, os únicos casos examinados são os daqueles que afirmaram fazer parte do povo de Deus. O julgamento dos ímpios é algo distinto e separado, e ocorre posteriormente. (O grande conflito, p. 255)


Isto de fato otimizaria bastante o tempo. Mas, de novo: por que os anjos relataram a vida inclusive de quem nunca foi cristão? E o caso desses infiéis seria analisado só durante o Milênio? O Questões sobre Doutrina é taxativo: Depois do segundo advento, não haverá tempo para essas decisões." (p. 312)" Então, o julgamento dos ímpios ocorre posteriormente quando? Além disso, se eles não entraram no convívio dos justos, não já estão julgados? Como saber quem não entra no céu senão julgando-os anteriormente? Note-se que a sra White diz que "os únicos casos examinados são os dos que afirmaram fazer parte do povo de Deus".


Por fim, Ellen White cita Jesus e São Paulo:


"Alegrai-vos, [...] porque o vosso nome está arrolado nos Céus.' (Lc 10,20). Paulo fala de seus cooperadores, 'cujos nomes se encontram no Livro da Vida' (Fp 4,3)." (O grande conflito, p. 255)

Daí eu pergunto: que sentido faz se alegrar porque o nome aparece no livro dos céus se o mais normal do mundo é que depois o corretivo santo ou a borracha do poder entrem em ação e apaguem o nome de lá? Pelo contrário, quando Jesus ou Paulo falam isto, é óbvio que eles estão dizendo que aqueles aos quais eles se referiam eram pessoas eleitas de Deus.
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