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Fé e razão - relações mútuas


A Fé e a razão não podem nunca contradizer-se, porque têm a mesma origem: Deus que é a única Verdade.

Este princípio fundamental era comumente admitido por todos os filósofos da Idade Média; mas Santo Tomás soube, melhor que todos, mostrar em pormenor, o pleno acordo das doutrinas reveladas com a verdade natural. Esta harmonia tem por origem os bons serviços que, uma à outra, se prestam a fé e a razão.

I - A fé relativamente à razão tem um papel duplo:

a) Papel de curativo - Sendo uma virtude sobrenatural cuja sede própria é a inteligência, a fé é como a radiação especial da graça neste faculdade. Ora a graça não destrói a natureza, antes a perfaz: eis porque restabelece primeiro a razão em todo o seu poder nativo, curando as feridas da ignorância e do erro, causadas pelo pecado original. Indiretamente, acalmando a perturbação das paixões e afastando os preconceitos do orgulho, dá as disposições indispensáveis a encontrar a verdade, sobretudo nos problemas práticos. Mais diretamente, nas doutrinas que interessam a salvação e que são fundamentais em filosofia (Deus e a criação, a alma humana e o seu destino), a fé mostra de antemão, com infalível certeza, o fim a atingir pela demonstração racional, poupando-nos assim as hesitações e as tentativas onde facilmente se introduz o erro.

b) Papel sobre-elevador - A influência da fé é ainda mais profunda, tanto mais que numa vida cristã fervorosa, ela é acompanhada pelo exercício dos dons do Espírito Santo, de Ciência, de Inteligência, de Sabedoria, que firmam o olhar da alma na contemplação das mais altas verdades. Porque, conquanto a fé nos apresente mistérios, em si próprios inevidentes, é sobretudo uma luz sobre-eminente que, longe de esmagar a razão, a engrandece estendendo, por assim dizer, ao infinito, o seu poder de visão. Assim, estudando a Santíssima Trindade ou a Encarnação, os filósofos cristãos descobriram admiráveis precisões sobre o valor do nosso conhecimento, sobre a inteligência e seus atos, sobre as noções de pessoas, de relações, de natureza, etc.

II - A razão relativamente à fé tem, pelo seu lado, um papel triplo:

a) Papel apologético - A razão, para conduzir à fé, pode demonstrar no sentido estrito o que Santo Tomás chama os "preâmbulos da fé", isto é, as verdades fundamentais, como a existência de Deus e sobre tudo a possibilidade e o fato da Revelação: o que chamamos a "credibilidade" da Revelação. Estas provas coordenadas constituem a ciência apologética.

b) Papel teológico - A razão explica a fé; não já por provas demonstrativas, porque os mistérios escapam por definição a qualquer demonstração racional e não podem provar-se senão pela autoridade da Escritura devidamente sancionada pelos milagres e pelo ensino oficial dos Padres e da Igreja; - mas propõe as razões de conveniência para estes mistérios; ordena logicamente as diversas verdades reveladas e esclarece a sua significação por comparação com as teses da filosofia: são as conclusões assim deduzidas e integradas numa mesma construção lógica com os dogmas, que constituem a ciência teológica.

c) Papel polêmico - A razão defende a fé refutando todas as objeções que lhe fazem, mostrando a sua falsidade ou a sua ineficácia; de modo que o mistério, ainda que ficando em certo sentido "inconcebível" e acima da razão, não se acha nunca oposto à razão e nunca implica contradição.

É no exercício desta tripla função que Santo Tomás desenvolveu principalmente os recursos da sua poderosa inteligência escrevendo as duas Sumas e as suas numerosas obras teológicas.

F. J. Thonnard, Compêndio de História da Filosofia
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