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Dia de todos os santos! Deo Gratias!


Neste dia, a Igreja celebra o festa de todos os santos, estes irmãos nossos que, como dizia Sto Agostinho, amaram tanto a Deus até o desprezo de si mesmos, e que hoje gozam da festa sem fim, da visão face a face de Deus todo poderoso e todo amável.

Nós, aqui da terra, cativos ainda da escuridão deste exílio, neste dia lançamos ao alto um suspiro e um olhar expectante; o olhar de quem deseja rever os seus, estando já há tanto tempo distante. O olhar de quem sabe ser lá a Pátria da felicidade que todos desejamos.

Os santos, desde a minha adolescência, sempre me pareceram figuras radiosas. Nunca os estranhei, como fazem alguns dizendo que aquilo que se nota neles é determinado por um contexto diferente; não, de modo algum. Se formos em suas épocas, e observarmos os pecadores, perceberemos os mesmos dramas pelos quais passamos nós que nos dizemos "modernos", como se ser "moderno" fosse qualquer coisa para se orgulhar. A santidade destes focos de mistério se devia, antes, à compreensão profunda que eles iam adquirindo das verdades eternas. A vida de orações e mortificações constantes lhes retirava os impedimentos da visão, e, de repente, a realidade passava a ser vista sem os coloridos dos próprios caprichos e das próprias vaidades. Era, de fato, um libertar-se de si mesmos. O mundo passava a ser entendido como é. A um sujeito que alcança este nível de maturidade, não é possível ignorar que o mistério é o que sustenta o mundo. Estas filosofias rasteiras - materialismo, ceticismo, agnosticismo, niilismo, ateísmo, etc - são próprias de quem não enxerga muita coisa à frente do nariz. O santo, ao contrário, se vê como que impactado por este Ser dO qual percebe que não há como escapar.

"Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. (Sl 139,7-8)

"Deus é, e basta!"

É preciso, portanto, purificar os nossos conceitos, a nossa visão das coisas, e adquirir um senso de profundidade. S. Boaventura dizia que o mero desfilar de criaturas e a simples visão da existência dos entes lhes falava continuamente de Deus, do qual, portanto, não havia mais qualquer necessidade de provas. Para os olhos puros, Deus está em todo lugar e tudo fala d'Ele. Também Sto Agostinho, perguntando às coisas que via ao seu redor sobre Aquele que as tinha feito, delas escutava: "procura-O acima de nós". Para o santo, tudo aponta para Deus.

Os homens míopes e mundanos olharão com desconfiança para estes homens e tenderão a chamá-los de alienados, denunciando que a sua fuga para outros mundos lhes isenta de interferir suficientemente nesta realidade imediata. Mas os santos, ouvindo estes lamentos, apenas podem repetir as palavras de Cristo na Cruz: "Perdoai-os, eles não sabem o que dizem..." Quando compreendemos que a realidade ultrapassa infinitamente o estreito campo de nossa experiência imediata, entendemos que o alienado é precisamente este pretenso "realista", este indivíduo que está preso ao que vê com seus olhos físicos. Na verdade, ele não compreende sequer o que vê, pois esta parte que lhe é acessível somente assume real significado se tomada no seu contexto, como parte de um todo maior. Se, ao contrário, esta parte é isolada e tida como totalidade do real, é natural que, ao olhá-la, o sujeito nada entenda, sem mesmo aquilo que vê. O santo não é um alienado; é o único fiel à realidade, porque sabe que ela é bem mais ampla e não se restringe ao mundo sensível. Sabe que este mundo somente adquire sentido se visto sob a luz da eternidade, e entende que a felicidade definitiva a que os homens são chamados está para além daquele vértice natural, a que todos chamamos de morte.

O empirista ou o racionalista têm-se a si mesmos como medida de verdade e de realidade. O santo, ao contrário, sabe-se pequeno e, na sua pequenez, se alegra e se abandona ao abismo amoroso que é seu Deus. Contemplar a verdade só é possível na santidade. E, se é verdade que o homem, pela sua própria natureza, tem sede da verdade, isto significa que a sua realização, a sua perfeita felicidade, somente podem identificar-se com a santidade.

Ser santo, portanto, não deve ser compreendido como vocação de alguns poucos, ou um poder dado a criaturas extra-terrestres que estiveram no mundo apenas para fazerem-se estranhar. A santidade é a vocação de todos nós, é o nosso anseio mais profundo, é a perfeição da nossa natureza, e nós somente poderemos ser felizes e realizados se, assumindo todo o duríssimo combate necessário para a aquisição deste fim, a ele nos devotarmos totalmente.

Com muito acerto, dizia o jovem S. Domingos Sávio: "Se eu não for santo, serei um fracasso". Que belíssima disposição de alma! Que bom seria que tal ideal fosse, de fato, o primeiro na nossa vida, diante do qual todos os demais se tornassem absolutamente secundários. S. Domingos acerta em cheio quando entende que, se não formos santos, a nossa vida terá sido um rotundo fracasso.

A nossa santidade é, ainda, o grande desejo de Deus que, totalmente interessado na nossa plena felicidade, nos pede veementemente seguir os Seus passos. "Sede santos", diz Jesus, o que aos nossos ouvidos deve soar como "sede felizes", pois é a mesma coisa. A santidade é a felicidade, e a felicidade é a santidade.

A nossa triste sociedade moderna, porém, rebaixou-se a tal ponto que passou a identificar a felicidade com o gozo frenético dos mais baixos prazeres. Não espanta que seja uma sociedade desesperada e, ao mesmo tempo, tão embotada e incapaz de compreender as realidades celestes. Não apenas não as compreende, mas as detesta, porque, não sendo capaz de anular os anseios mais profundos da alma humana, também não se sente capaz de suportar indiferentemente a presença de um santo, enquanto este lhe acusa e lhe faz lembrar dolorosamente a alienação em que vive, a frustração daquilo para o que foi feita, a mentira com que continuamente se engana. Vida complicada, essa... E, triste vaidade, esta complicação é alardeada como se fosse sinônimo de maturidade. Por fim, eis o mundo a perseguir e a matar os santos.

A santidade, ao contrário, embora seja alcançada a partir de contínuos e rigorosos combates, é um caminho de simplicidade. Ao santo não é permitido mentir e toda a sua vida será uma luta contra a mentira. Ele sabe que, em seus membros, em sua alma, há uma tendência a mascarar a verdade das coisas. Mesmo sabendo de sua vocação espiritual, haverá momentos em que, impelido pelas suas próprias fraquezas e maus hábitos, se verá inclinado a corresponder, de novo, ao mundo da ilusão e do egoísmo. A mentira do mundo consistirá em, obedecendo tais grilhões, mentir novamente a si mesmo na busca de convencer-se de que, na verdade, isto é a natureza e a normalidade. O sujeito que caminha seriamente rumo à santidade, porém, não pode enganar-se a este nível. Se, por acaso, cede à mentira pelo seu pecado, não lhe é permitido mascarar o mal feito, devendo, ao contrário, encará-lo, arrepender-se, mortificar-se e continuar a luta, pedindo a graça de Deus para que não reincida no mesmo erro.

Os ateus e congêneres irão afirmar que a santidade é um caminho covarde. Mas quando nos detemos a olhá-la direito, percebemos que ela é o caminho da maior coragem, pois exige o investimento de toda uma vida e a disposição para uma guerra sem tréguas por amor a Deus e aos irmãos. Os que se lambuzam no pecado e na satisfação de si mesmos aparecem, neste contexto, como os verdadeiros covardes que não querem encarar a verdade, que não têm disposição de se privar de seus baixos prazeres numa constante guerra contra si mesmos, que não aceitam "desperdiçar" a própria vida, e que vivem, em última instância, somente para o próprio umbigo. É isso o que eles chamam de coragem!

Hoje em dia, tornou-se comum ver jovens e adultos a defenderem as mais estranhas teorias e a admirarem os mais cafajestes pensadores. Que bom seria se, ao contrário, passássemos a estudar e a conhecer estes homens e mulheres, guerreiros do espírito, que, com a sua seriedade e com a sua leveza, tornaram-se, não apenas senhores de si mesmos, mas senhores do mundo e, hoje, herdeiros da vida eterna, plenamente felizes e vencedores sobre a mentira. Deixaram o exílio, voltaram à pátria e, aos que aqui ainda lutam e sofrem, são como luzeiros a relembrar as realidades mais altas. Que bom seria se os imitássemos a sério!

Neste dia de todos os santos, renovemos os nossos propósitos de fidelidade a Deus. Reconheçamos que, por diversas vezes, há muita soberba misturada com estes nossos ideais e, de modo mais ou menos sutil, muitos de nós desanimamos porque pensamos que o mundo não aprecia suficientemente os nossos esforços. Alguns até parecem identificar a santidade com a fama. Enquanto assim pensarmos, sequer teremos compreendido o que é a verdadeira santidade. Jesus já o tinha dito: "O mundo vos odeia, porque não sois do mundo." Ser santo implica uma extrema fidelidade pela Pátria de onde descendemos - e, consequentemente, um grande desprezo pelas honrarias e satisfações daqui de baixo - e é natural que atraiamos sobre nós os olhares atravessados de todos estes que se habituaram às "cebolas do egito", aos torpes prazeres da escravidão. Quanto a nós, não nos deixemos inebriar por estas falsas luzes. Sigamos fiéis e "percamos a vida" por Nosso Senhor. Se assim fizermos, um dia poderemos estar reunidos com Ele e com todos estes nossos irmãos, os santos, onde viveremos felizes pela eternidade.

Que o Senhor nos dê a Sua graça. Que a Virgem Santíssima nos conduza. Amém.

Fábio.
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2 comentários:

  1. Sou católico praticante e muitas vezes ponho-me a questionar porque razão a Igreja Católica, só nos mostra uma Igreja sofredora, cheia de mártires!
    Já nos bastam os "mártires" diários que "sofrem" por diversas razões! De vez em quando lá vem um Bispo denunciar injustiças praticadas por pessoas, normalmente, governos com políticos corruptos que se "servem" dos cargos que ocupam para praticarem todo o tipo de injustiças e criarem leis injustas que prejudicam Países a as respectivas populações!
    Jesus "defendia" e acusava abertamente os fariseus chamando-lhe "sepulcros caiados" ! Porque não h´-de a Igreja com os seus servidores, denunciar situações de injustiças a que assistimos diáriamente?

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  2. Olá Antônio, Salve Maria.

    Quando Jesus denunciava os fariseus, o fazia por motivos religiosos. Os fariseus pervertiam a religião, e por isso Nosso Senhor dizia aos seus discípulos: "Se a vossa justiça não for superior à dos fariseus, não herdareis o Reino dos Céus".

    Portanto, é preciso se ater a esta primazia da vida espiritual.

    Isso, porém, não significa que se deva ignorar as situações em que há injustiça social. Muito pelo contrário. Tanto que a Igreja incentiva os que se sentem vocacionados à vida política a adentrarem neste mundo e, norteados pela Doutrina Social da Igreja, contribuírem para a instalação da justiça social, atacando e denunciando os abusos e promovendo a ordem.

    A Igreja, porém, deve sempre manter a ênfase espiritual e atacar as injustiças humanas na medida em que essas impedem a realização da vida espiritual ou ferem a dignidade da vocação humana. Ela pode e deve, sim, intervir nos assuntos seculares, sobretudo quando estes aviltam a vida humana e os direitos de Deus. Porém, a ênfase do clero deve ser, mesmo, com relação à espiritualidade e aos meios de o homem se relacionar com Deus. Isso é o mais importante pois é daí que decorre necessariamente o engendramento da honestidade no mais íntimo da alma humana, fonte e sede de todos os bens, como também de todos os males.

    Um dos problemas, porém, dos que operam no campo da política é que muito comumente estão sendo orientados por ideais que contrariam o ensino católico, como é o caso da famigerada Teologia da Libertação. Se alguém opta por uma militância política, há de cuidar para não cair nessas ideologias de esquerda.

    No mais, é recomendação da Igreja que os leigos se interessem pela Doutrina Social da Igreja e, a partir dela, contribuam para a restauração da ordem no domínio secular.

    Abraço.

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