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Do Mistério da Santíssima Trindade - I


O primeiro, o mais sublime e o mais profundo dos mistérios do Cristianismo é o da Santíssima Trindade. Sem dúvida a existência de Deus e as suas perfeições infinitas têm alguma coisa de misterioso para o homem: não compreendemos Deus na sua própria essência e na sua natureza infinita; não temos da onipotência de Deus, da sua eternidade, da sua imensidade, da sua onisciência, uma noção absoluta e inadequada: contudo, a razão humana não só concebe essas grandes verdades, mas proclama que são necessárias. Quando se trata, porém, do mistério da Santíssima Trindade, mistério de um Deus único em três pessoas distintas, não só a nossa razão não descobre este mistério, mas, mesmo depois de o ver enunciado, não percebe a sua necessidade nem penetra a sua natureza; é essa a razão porque chamamos este dogma o primeiro e o mais sublime dos mistérios. Contudo, é ele a origem de todos os outros mistérios da Religião, e deste abismo insondável jorram todas as luzes.

Havemos: 1º de expor claramente em que consiste o mistério da Santíssima Trindade, para afastar qualquer ambiguidade da nossa tese, e, em seguida, fixar as bases deste dogma; 2º de esforçar-nos, não para dá-lo a entender, mas, pelo menos, para mostrar que é aceitável e a razão mais exigente não é capaz de achar coisa alguma que lhe seja oposta; 3º Daremos uma dupla confirmação à nossa tese: em primeiro lugar as analogias características que este mistério da Trindade possui na natureza, depois os ensinamentos da filosofia, tanto moderna como antiga, sobre o dogma da Trindade.

Exposição do Mistério e dos Seus Fundamentos

I- Ensino Católico da Trindade
II - Seus fundamentos: 1º no Antigo Testamento; 2º no Novo Testamento.

I. A fé nos ensina que o verdadeiro Deus é uma Trindade, isto é, que em uma única essência ou natureza divina, há três pessoas: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. Estas três pessoas são numericamente distintas entre si, porém perfeitamente iguais, não tendo todas as três senão uma só e mesma natureza.

As três pessoas são coeternas, existindo desde toda a eternidade, mas cada uma de um modo que lhe é próprio. Deus Pai existe sem nascimento e sem origem; Deus Filho tira a sua origem do Pai por via de geração; é gerado; Deus Espírito Santo tira a sua origem simultaneamente do Pai e do Filho por via de processão, e dizemos que procede de ambos, também desde toda a eternidade.

Todos os atributos ou perfeições da essência divina: poder, sabedoria, santidade, etc., são comuns a toda a Trindade; dá-se o mesmo com todas as obras exteriores de Deus no universo: criação, santificação, etc. Não é senão por apropriação ou por certo modo de falar que se atribui mais especialmente ao Pai a criação, ao Filho a Redenção, ao Espírito Santo a santificação. A Trindade toda coopera a estas obras. Todavia a Redenção é obra pessoal do Filho de Deus feito homem quanto à execução desse projeto divino.

Relativamente ao Mistério da Santíssima Trindade, consiste ele justamente no duplo fato da pluralidade das pessoas e da unidade da natureza em Deus. Não vemos como é isso possível, porque ao redor de nós cada pessoa tem corpo e alma que lhe são próprios, isto é, a sua natureza individual e incomunicável; e em Deus, o que para nós constitui o mistério, é que não compreendemos os termos de natureza e de pessoas divinas: um Deus em três pessoas.

II. A crença no dogma da Trindade certamente não pode vir da razão que não nos diz coisa alguma a este respeito: ela nos vem da Revelação. Este mistério é insinuado no Antigo Testamento, e é claramente enunciado no Novo.

1º É insinuado, até implicitamente contido no Antigo Testamento; pelo menos, achamo-lo nas tradições do povo judaico: o que prova que foi certamente o objeto de uma revelação primitiva. Dizemos que a Escritura Sagrada o insinua. Com efeito, no Gênesis, Deus diz: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança" (I,26). Não é o conselho das três pessoas divinas? No momento da confusão de Babel: "Vinde, diz o Senhor, confundamos a sua linguagem" (Gn XI, 7). Por que esse plural? Já, depois da culpa de Adão, o mesmo livro sagrado nos representa Deus dizendo ironicamente: "Portanto eis Adão que se tornou como um de nós, vamos agora impedir-lhe de levar a mão na árvore da vida" (Ib III, 22). Como havemos de conciliar essas expressões com a unidade de pessoas em Deus?

Encontram-se, no Antigo Testamento, duas expressões para designar a divindade: uma é Jehováh, outra é Eloim. Pelo parecer de todos os habraizantes, a primeira se aplica ao mesmo ser de Deus, à sua suprema essência; está no singular. A segunda exprime a idéia da presença de Deus e do seu poder: vem sempre no plural e significa os deuses; mas, o que não deixa de surpreender é que esta palavra sempre no plural, rege sempre no singular o verbo que a segue. Assim, o primeiro versículo da Bíblia traduzir-se-ia literalmente: "No princípio, os deuses fez o céu e a terra." Os sábios não duvidam em ver, nesta palavra Eloim e no modo de se usar dela, uma expressão que deixa entender a existência de várias pessoas em Deus.

Seja como for, se o dogma da Trindade não era contigo na Bíblia, achava-se nas tradições judaicas, como a crença na imortalidade da alma, na ressurreição dos corpos, na Incarnação. Um judeu célebre, muito versado no conhecimento dos livros dos rabinos, depois convertido ao catolicismo, o sábio Molitor, de Francfort, fez neste ponto pesquisas interessantes, consignadas na sua obra intitulada: A Filosofia da História e da Tradição.

2º Mas era reservado ao Cristianismo fazer-nos conhecer melhor o mistério da Trindade. Até podemos dizer que é um dos dogmas que vêm mais claramente expressos no Novo Testamento. Com efeito, aí vemos o Verbo de Deus, Filho eterno do Pai, que se faz homem, e promete, por sua vez, mandar o Espírito Santo. Nosso Senhor Jesus Cristo manda seus apóstolos batizar as nações "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mt XXVIII, 19). Na sua última prece, o Salvador pede que seus discípulos sejam um como seu Pai e Ele não são mais que um. (Jo XVII, 21). Antes, porém, prometeu enviar o Espírito Santo que procede do Pai. (XV, 17). Depois os apóstolos repetirão com São João: "Há três que prestam testemunho no céu: o Pai, o Verbo e o Espírito Santo, e estes três não são mais que um" (I Jo V,7)

Enfim, a Trindade se manifesta visivelmente no batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo. A voz do Pai se faz ouvir do alto do céu: "Este é o meu Filho bem amado, escutai-o!". O Filho é batizado no rio Jordão, e o Espírito Santo desce sobre ele na forma de uma pomba." (Mt III, 16-17).

Tais são os trechos das nossas sagradas Escrituras que provam o dogma da Trindade, sempre aceito e acreditado pela Igreja, ensinado por todos os doutores e resumido nesta frase do símbolo de santo Atanásio: "A fé católica quer que adoremos a Trindade na unidade, e a unidade na Trindade, sem confundir as pessoas nem separar a substância divina".

Mons. Cauly, Curso de Instrução Religiosa, Apologética Cristã, Tomo IV.
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