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A Mística de S. Bernardo de Claraval IV - A união pela harmonia das vontades


Hoje, dia de S. Bernardo de Claraval, grande doutor da Igreja, termino as postagens referentes à sua mística que iniciei semanas atrás. Recomendo veementemente a sua leitura e rogo por todos os leitores deste blog a sua intercessão. Deleitem-se...

Poderão acessar os artigos anteriores pelos links abaixo.


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S. Bernardo é o doutor por excelência da mística, e como tal foi tido na mais alta estima por toda a Idade Média. Dante, nos últimos cantos da Divina Comédia, escolheu-o por guia no caminho da união mística. Como mestre da ascese e da mística sua influência foi profunda e duradoura. Desde os Vitorinos até S. Boaventura, os grandes mestres da espiritualidade medieval vão inspirar-se nos seus escritos. Em todos eles, o ardor do amor místico vai de mãos dadas com o esplendor das ciências profanas. Ainda hoje, o grande místico e asceta faz jus à nossa gratidão, mercê de suas profundas intuições psicológicas, notadamente no domínio da vontade.

A União do Homem com Deus
S. Bernardo de Claraval

Deus e o homem, porém, não se identificam nem pela substância nem pela natureza; por isso não podemos dizer que sejam uma só coisa; contudo, podemos afirmar com absoluta verdade e certeza que são um só espírito, desde que se encontrem unidos pelos laços do amor. Este ser-um, porém, decorre menos de uma associação das essências do que da harmonia das vontades.

Patenteia-se assim, salvo engano meu, de maneira suficiente, não só a diversidade, como ainda a disparidade dessas duas unidades; pois se aquela se encontra até num mesmo ser, esta só se verifica entre essências diversas. Haverá uma distância comparável à que existe entre a unidade de vários e a unidade de um só? É, pois, pelo "unus" e pelo "unum" que essas duas unidades se delimitam uma da outra. Com efeito, o "unum" designa a unidade da essência no Pai e no Filho, ao passo que o "unus" não designa o mesmo entre Deus e o homem, mas sim a comunhão íntima de amor.

É verdade que, em certo sentido, também o Pai e o Filho podem dizer-se "unus"; é o que fazemos, por exemplo, ao falarmos de um Deus, de um Senhor, etc.; pois dizemos isso de cada um em particular, e não em relação ao outro. Pois eles não possuem uma divindade ou majestade diversa, tampouco como têm uma substância ou essência ou natureza diversa. Pois todas estas coisas, se as considerares com reverência, não são diversas nem divididas neles, mas uma só coisa. Que digo? são também uma só coisa com eles.

Que será então aquela unidade pela qual muitos corações e muitas almas se dizem uma só coisa? Não me parece que lhe devamos dar o nome de unidade, se a compararmos àquela que não une muitas coisas, mas designa um único de maneira inteiramente singular. Logo, a unidade singular e suprema é aquela que não resulta de uma associação, mas que vigora desde a eternidade. Esta não se efetua em virtude do referido ágape espiritual, posto que nem sequer é produzida. Ela é, pura e simplesmente. Muito menos devemos fazê-la proceder de uma como aliança de essências para que haja uma reunião ou unificação por consenso.

Ora, Deus e o homem subsistem em si mesmos e distanciam-se por suas própria vontades e substâncias; a nosso ver, eles se mantêm unidos um ao outro de maneira inteiramente diversa, a saber: não pela confusão das substâncias, mas pela harmonia das vontades. Esta união consiste, pois, na comunhão das suas vontades e no consenso da caridade. União feliz, se a conheceres por experiência! Nenhuma, se a comparares!

BOEHNER, Philotheus; GILSON, Etienne. História da Filosofia Cristã. Rio de Janeiro: Vozes, 2009.
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Um comentário:

  1. Na verdade a Imagem e Semelhança do Criador é só Espiritual , pois quando somos remidos de pecados alcançamos a santidade que é a Imagem Santa e a Semelhança Espiritual eterna . Mas o que nos separa de Deus é a barreira do pecado que nos impede de ouvir e sermos ouvidos pelo Santo Espirito...http://misericordiadosenhor.blogspot.com

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