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Dia do amigo


Já escrevi outras vezes sobre esse tema - aqui e aqui - e sempre há o que fica por dizer. A linguagem possui, de fato, um limite. É bobice reduzir a realidade àquilo que dela podemos expressar. O inefável é muito mais substancial do que o dito. Falar sobre algo é sempre limitar este algo; enquadrá-lo em representações pessoais. Por mais que a linguagem transcenda a esfera do estritamente subjetivo - e é por isso que nos entendemos -, o seu uso não se dá sem acentos e ênfases pessoais. Cada um de nós lê a palavra "amizade" com uma carga afetiva absolutamente única.

Ainda assim, é possível, como já dito, sair desse solipsismo e comunicar algo do que temos na alma. E é por isso que sempre me arrisco a escrever alguma coisa sobre a amizade. 

Bem, mas o que é ser amigo? É ser uma alma em dois corpos, é desejar o bem para o outro, etc. Sim, é isso tudo, e só por aí dá pra perceber como a amizade não tem nada de vulgar. É coisa rara. Se eu olho para outra pessoa e a trato como a minha alma em outro corpo, não há dificuldade de amá-la tanto quanto a mim mesmo. Este é o preceito evangélico. Se fôssemos amigos de todos, seríamos santos. Porém, a amizade é um algo bem mais restrito. A própria Escritura nos aconselha a escolher com muito cuidado aqueles a quem chamaremos por este título.

Desejar o bem do outro é, como eu já falei várias vezes, desejar principalmente o Sumo Bem, que é Deus. Uma amizade que seja claramente antiteísta não é amizade. É algo usurpador. Um bem que contrarie o bem maior não é um bem, mas um mal, assim como a um roubo, embora seja a aquisição de bens, não chamamos de bem e sim de mal. O mal é o "bem" que nos rouba o Bem. Ser amigo é desejar o Bem do outro. Mas, além do bem absoluto, a amizade também deseja outros bens: o físico, o da sua convivência e o da partilha de suas alegrias e tristezas. É tudo muito bonito, embora difícil de se achar. Mas, penso eu, existe ainda algo mais perfeito a se falar sobre a amizade.

Quando Jesus chamou aos seus apóstolos de amigos, ele elevou para sempre e ao infinito a dignidade da amizade. E, em seguida, recomendou: "amai-vos uns aos outros como eu vos amei". A pergunta é: como é que Jesus nos amou?

"Ao extremo", diz São João. Amou-nos entregando a Sua vida por nós. Como, pois, deveríamos amar os nossos amigos? Ao ponto de entregar-lhes a própria vida, se preciso fosse. É algo que é prometido mais facilmente por Eros. Porém, Eros é passageiro e inconstante. Quando, ao contrário, isto é dito com segurança por um amigo, temos um tipo de amor muitíssimo raro. E eu penso que esta disposição, acompanhada das anteriormente referidas, é que coroa a amizade e nos faz amar aos outros assim como Jesus nos amou. Essas frases, porém, não são capazes de comunicar a realidade que elas referem. Somente um amigo pode experimentar, no íntimo da alma, se já possui esta disposição ou não. A amizade é um tesouro, é um grande presente de Deus, porque tendo como termo esta disposição, ela nos arranca de nós mesmos, e a nossa salvação está toda nisso: em sair do nosso ego. Todo tipo de amor respira melhor à medida com que morre o nosso falso eu. E a amizade, sendo vida, o exige conforme se aperfeiçoa.

Que Jesus conceda a todos os meus amigos o bem que não lhes posso fazer. E que Ele imprima em todas as nossas almas esta disposição tão bela que sempre animou a Sua: "Ninguém tem maior amor do que Aquele que dá a vida pelos Seus amigos."

Sejamos, sobretudo, amigos de Nosso Senhor. Esta amizade é a condição de possibilidade de todas as outras. Feliz dia do Amigo!
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