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São Francisco de Assis


Hoje é dia de S. Francisco de Assis, que na época da adolescência foi o meu santo de devoção. Francisco foi o primeiro de todos a me encantar pela vida religiosa e pela mística em geral. Eu costumo dizer que foi ele quem me acordou para essa nova dimensão da realidade.

São Francisco de Assis é um santo muito conhecido pela devoção popular. Isso tem seu lado positivo, mas também seu lado negativo. Quando uma coisa fica muito conhecida é muito mais fácil de ser distorcida. E isso, infelizmente, tem acontecido com ele. Quem nunca ouviu falar que São Francisco é o santo da ecologia, do bom mocismo, da fraternidade com todos, etc? É muito comum mostrá-lo assemelhado aos hippies. Basta ver um filme sobre ele que, na época, ficou famosíssimo: Irmão Sol, Irmão Lua, do Franco Zeffirelli. Todo a gravidade da personalidade do Poverello é tratada aí como inexistente. Mas quem o conhece para além dos filmes e musiquinhas legais do Pe. Zezinho sabe como ele sabia ser duro.

O mundo interior de Francisco também não é muito conhecido. E isso porque ele era muito reservado. Nós conhecemos, claro, vários episódios de sua vida, contados principalmente nos Fioretti, na sua biografia escrita por Tomás de Celano e em livros de S. Boaventura. Porém, é nestes próprios escritos que vemos como ele era "fechado" quando se tratava de seu eu com relação a Deus. Muitos dos êxtases e orações de Francisco chegaram até nós graças a bisbilhoteiros e curiosos que o iam espionar durante seus momentos de recolhimento, quase sempre a contragosto dele. Já dizia alguém que o pior inimigo de um santo são os seus biógrafos. E isso com certeza ocorre com S. Francisco de Assis. Santo da humildade, teria preferido passar oculto aos olhos do mundo e manter seus "segredos com o Senhor" desconhecidos. Porém, quis a providência que soubéssemos algo deste gigante da vida interior.

Das virtudes cristãs, a que ele mais estimava era a da Pobreza Interior e se hoje eu estimo tanto este ponto da vida espiritual, isto se deve principalmente a ele. Na adolescência, quando somos tão sensíveis às vaidades do mundo, eu aprendi a ter como sonho de consumo a humildade de Francisco. Gostava de cortar pelo meio algumas das minhas frescuras e dos meus apegos. Mas é claro que eu mantinha outros tantos, principalmente os mais sutis, dos quais só vim me dar conta inteiramente mais tarde.

A pobreza, portanto, foi a grande amada de Francisco, ao ponto de ele chamá-la de esposa. Uma esposa exigente e uma bela viúva, pois seu primeiro esposo, fidelíssimo, havia sido o Cristo, morto na Cruz. Quem quiser, portanto, entender o santo de Assis deve mergulhar no mistério da Pobreza, não da pobreza social, que não tem nada a ver, mas no da pobreza de coração, daquela pobreza de que Jesus fala: felizes os pobres de coração porque deles é o Reino dos Céus.

Esta pobreza é representada de modo perfeito e total pela Cruz do Senhor. Ela é símbolo do total esvaziamento do Filho de Deus. Portanto, serve como síntese perfeita da vida cristã. É por isso que São Francisco de Assis rejeitará atalhos e falsos caminhos e se tornará um santo do Crucificado. E sua proficiência neste caminho foi tal que ele chegou a receber nos seus membros os estigmas da Paixão.

É importante dizer que a pobreza total de Francisco abriu espaço na sua alma para o amor extremamente violento de Deus. Francisco foi alguém que se consumiu no fogo do amor divino, do mesmo modo como uma mariposa é atraída pela chama. E ele lançou-se sem pensar em mais nada. Deu-se inteiramente sem exigir condições nem garantias. Havia aprendido este modo de agir com o próprio Deus durante as durezas de suas penitências e as vigílias que o deixavam com os olhos fundos. Mas compensou! Francisco é também conhecido como o santo da alegria, e ele de fato o foi. A alegria real surge da plena conformação com o Filho de Deus. É por isso que Francisco já não cabia em si de felicidade, de modo que este mundo já não podia contê-lo. Ele era maior que este mundo. Precisava de novas amplidões, de novos horizontes que pudessem conter a vida que ele trazia na alma. 

Faço aqui um apanhado geral. Somente quero dizer que, se quisermos entender Francisco, temos de olhar para algo mais do que a sua aparência e o fato de ele gostar de fazer carícias em animais e de falar com os pássaros. É na sua alma que reside o segredo que dá significado a tudo aquilo que ele fazia. Não o distorçamos. Peçamos, antes, a ele que interceda por nós a fim de que, também a nós, seja dada a graça de uma pobreza interior verdadeira, de um amor violento a Deus e de uma alegria e liberdade profundas!

"Quando à pobreza se une a alegria, não há cobiça nem avareza".

São Francisco de Assis, rogai por nós.
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