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A legítima conversão Católica em contraste com o engano luterano e o naturalismo rasteiro - A dimensão da vida da Graça


Pe. Garrigou Lagrange

A conversão faz passar a alma do estado de pecado mortal ou da dissipação e da indiferença com relação a Deus, ao estado de graça, no qual ela já ama a Deus mais do que a si e acima de tudo, pelo menos com um amor de estima, senão ainda com um amor verdadeiramente generoso e vitorioso sobre todo egoísmo.

O primeiro estado era um estado de morte espiritual, no qual, mais ou menos conscientemente, o pecador refere tudo a si, querendo fazer-se centro de tudo e ficando escravo de tudo: de suas paixões, do espírito do mundo e do espírito do mal.

O segundo estado é um estado de vida, no qual começamos seriamente a superar a nós mesmos, a referir tudo a Deus, amado por nós mais do que a nós mesmos. É a entrada no reino de Deus, onde a alma dócil começa a reinar com Ele sobre as paixões, sobre o espírito do mundo e sobre o espírito do mal.

Compreende-se então que Santo Tomás tenha escrito: "O bem da graça de um só homem é maior que o bem natural de todo o universo" (I-II, q. 113, a.9. ad 2m): O menor grau de graça santificante que houver em uma alma, por exemplo na de uma criança depois de batizada, vale mais que o bem natural de todo o universo. Esta graça única vale mais do que todas as naturezas criadas tomadas em conjunto, incluindo as naturezas angélicas, pois os anjos necessitaram não de redenção, mas do dom gratuito da graça, para tenderem à bem-aventurança sobrenatural à qual Deus os chamara. Santo Agostinho diz que Deus, criando a natureza angélica, deu-lhes o dom da graça: "Ao mesmo tempo que lhes criava a natureza lhes dava a graça" e sustenta que "a justificação do ímpio é coisa maior do que a criação do céu e da terra", até maior que a criação das naturezas angélicas.

Santo Tomás acrescenta: "A justificação de um pecador é proporcionalmente mais preciosa do que a glorificação de um justo, pois o dom da graça supera mais o estado do ímpio, que era digno de castigo, do que o dom da glória o estado do justo que, pelo fato de sua justificação, é digno deste dom". Há muito maior distância entre a natureza do homem e até a do anjo mais elevado e a graça, do que entre a graça e a glória. A mais alta natureza criada não é absolutamente o germe da graça, enquanto que a graça é justamente o germe da vida eterna, semen gloriae. Passa-se, pois, no confessionário, no momento da absolvição do pecador, algo maior proporcialmente do que a entrada de um justo na glória.

Tal a doutrina que Pascal exprime dizendo, em uma das mais belas páginas de Pensées, que neste ponto resume o ensinamento de Santo Agostinho e de Santo Tomás: "A distância infinita entre os corpos e os espíritos retrata a distância infinitamente superior entre os espíritos e a caridade, porque é sobrenatural. Todos os corpos, o firmamento, as estrelas, a terra e os seus reinos, não valem o menor dos espíritos, pois o espírito conhece tudo isto e a si mesmo, ao passo que os corpos nada conhecem. Todos os corpos reunidos, e todos os espíritos em conjunto e todas as suas produções não valem o menor movimento de caridade, que está numa ordem infinitamente mais elevada. De todos os corpos juntos ninguém alcançará um pensamento, por menor que seja, pois isto é impossível por ser de outra ordem. De todos os corpos e espíritos conjuntamente não seria possível conseguir um movimento de verdadeira caridade, pois isto é impossível, dado que de outra ordem, de uma ordem sobrenatural".

Vê-se daí como foi grande o erro de Lutero sobre a justificação, querendo explicá-la não pela infusão da graça e da caridade que redime os pecados, mas apenas pela fé em Cristo, sem as obras, sem o amor, isto é, pela simples imputação exterior dos méritos de Cristo, imputação que cobriria os pecados sem apagá-los, deixando assim o pecador na sua mancha e corrupção. Deste modo, a vontade não seria regenerada pelo amor sobrenatural de Deus e das almas em Deus. A fé nos méritos de Cristo e a imputação exterior de sua justiça manifestamente não bastam para que o pecador seja justificado ou convertido; é necessário ainda que queira observar os preceitos, sobretudo os dois grandes preceitos do amor a Deus e ao próximo. "Se alguém me ama, guardará minha palavra e meu Pai o amará e nós viremos e faremos nele a nossa morada" (Jo 14,23). "Quem permanece na caridade, permanece em Deus e Deus nele" (1 Jo 4,16).

Estamos aqui em um plano muito superior ao da honestidade natural, e esta também não pode ser realizada sem a graça, necessária ao homem decaído a fim de amar eficazmente, e mais do que a si mesmo, o Soberano Bem, Deus autor de nossa natureza. Nossa razão, por suas próprias forças, concebe facilmente que devemos amar assim o Autor de nossa natureza, mas nossa vontade, no estado de decadência, não pode chegar até aí. Com mais forte razão ela não pode, apenas por suas forças naturais, amar a Deus, Autor da graça, visto como este amor é de ordem essencialmente sobrenatural, tanto para os anjos quanto para nós. Vemos, assim, qual é a elevação da vida sobrenatural que recebemos no batismo, e por conseguinte, qual deve ser nossa vida interior.

Pe. Réginald Garrigou-Lagrange, As Três Vias e as Três Conversões
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