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A Vida Interior é o Único Necessário


Pe. Garrigou Lagrange

A vida interior é para cada um de nós o único necessário. Ela deveria desenvolver-se constantemente em nossa alma, muito mais do que aquilo que chamamos de vida intelectual, científica, artística ou literária. Ela é a vida profunda da alma, do homem inteiro e não apenas de uma ou outra de suas faculdades. A própria intelectualidade ganharia muito se, em lugar de querer suplantar a espiritualidade, reconhecesse sua necessidade, sua grandeza e se beneficiasse da sua influência, que é a das virtudes teologais e dos dons do Espírito Santo. Como é grave e profundo este assunto, que é expresso por estas duas palavras: Intelectualidade e Espiritualidade! Também é bastante evidente que sem uma vida interior séria não há como manter-se uma influência social verdadeiramente profunda e durável.

A urgência premente de nos lembrarmos do único necessário se faz sentir particularmente neste tempo de mal-estar e de confusão geral em que tantos homens, e até povos, perdendo de vista nosso verdadeiro fim último, colocam-no nos bens terrenos, esquecendo o quanto estes diferem dos bens espirituais e eternos.

No entanto, é claro, como disse Santo Agostinho: "que estes mesmos bens materiais, ao contrário dos bens espirituais, não podem ao mesmo tempo pertencer integralmente a muitos". A mesma casa, o mesmo terreno, não podem simultaneamente pertencer de modo integral a muitos homens, nem o mesmo território a muitos povos. Daí vem o terrível conflito de interesses, quando se põe febrilmente o próprio fim último nestes bens inferiores.

Ao contrário, Santo Agostinho se compraz em insistir que os mesmos bens espirituais podem pertencer simultânea e integralmente a todos e a cada um, sem que ninguém perturbe a paz a outrem. Até, a todos e a cada um, sem que ninguém perturbe a paz a outrem. Até, por sinal, nós os possuiremos tanto melhor quanto mais numerosos formos em gozar deles conjuntamente. Podemos, pois, deste modo gozar todos simultaneamente, sem de modo algum nos prejudicarmos uns aos outros, a mesma verdade, a mesma virtude, o mesmo Deus. Estes bens espirituais são bastante ricos e universais para pertencerem ao mesmo tempo a todos e para satisfazerem a cada um de nós. Mais ainda, não possuímos plenamente uma verdade, se não a ensinarmos a outros, se não os fizermos participar de nossa contemplação.

Não amamos realmente uma virtude se não a quisermos ver amada pelos outros. Não amamos sinceramente a Deus se não o quisermos fazer amado. Enquanto se perde o dinheiro que se dá ou que se gasta, não se perde a Deus dando-o aos outros, antes ficamos possuindo-o melhor. Nós o perderíamos se, pelo contrário, por ressentimento permitíssemos que sequer uma alma ficasse sem Ele; se quiséssemos excluir uma alma do nosso amor, mesmo aquela que nos perseguisse e caluniasse.

Há nesta verdade simplíssima e altíssima, tão querida de Santo Agostinho, uma grande luz. Se os bens materiais dividem os homens, principalmente quando são procurados por si mesmos, os bens espirituais unem os homens com uma profundidade que só cresce na medida em que amamos tais bens.

Este grande princípio é um daqueles que fazem melhor sentir a necessidade da vida interior. Contém virtualmente a solução da questão social e da crise econômica mundial que grassa em nossos dias. É ele expresso com simplicidade no Evangelho: "Procurai primeiro o reino de Deus e tudo o mais vos será dado em acréscimo" (Mt 6,33; Lc 12,31). O mundo está agonizante justamente por esquecer esta verdade fundamental que é, no entanto, elementar para qualquer cristão.

As verdades mais profundas e vitais são, de fato, precisamente verdades elementares longamente meditadas, aprofundadas e assim tornadas para nós verdades de vida, isto é, objeto de nossa contemplação habitual.

O Senhor mostra aos homens, na hora presente, como eles se enganam querendo passar sem Ele, pondo o próprio fim último no gozo terrestre, invertendo a escala de valores ou, como se dizia outrora, a subordinação dos fins. Querem então produzir o máximo possível na ordem material do prazer. Pensam compensar assim, pelo número, a pobreza dos bens terrestres. Constroem máquinas cada vez mais aperfeiçoadas para sempre produzirem mais e melhor, tirando assim o maior proveito. Eis o fim último deles. O que se segue disto? Esta superprodução não pode ser escoada. Torna-se inútil e nos conduz ao desemprego atual, em que o operário sem trabalho está na indigência, enquanto outros morrem de indigestão. Dizem que é uma crise, mas na realidade é mais do que uma crise, é um estado geral que deveria ser revelador se tivéssemos olhos para ver, como diz o Evangelho. Puseram o fim último da atividade humana onde ele não está, não em Deus, mas nos prazeres terrestres.

Querem encontrar a felicidade na abundância dos bens materiais, que são incapazes de dá-la. Longe de unir os homens, estes bens os dividem, e isto tanto mais quanto estes são procurados como fim último e mais encarniçadamente. A distribuição ou a socialização de tais bens nunca será remédio suficiente e dará felicidade, enquanto tais bens terrestres conservarem sua natureza e a alma humana, que os supera, conservar também a sua. Daí a necessidade, para cada um de nós, de pensar no único necessário e de pedir ao Senhor pessoas santas que não vivam senão com este pensamento e que sejam grandes animadoras, das quais tem o mundo tanta necessidade. Nos períodos mais perturbados, como na época dos Albigenses e mais tarde, na eclosão do Protestantismo, o Senhor enviou uma plêiade de santos. A necessidade deles não é menos sentida nos tempos atuais.

Pe. Réginald Garrigou-Lagrange, As Três Vias e As Três Conversões
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