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Feliz Natal!


Desde a queda de Adão e Eva, a alma humana foi obscurecida, privada da comunhão com Deus e impossibilitada de realizar seu fim mais essencial: a posse de Deus na eternidade. Todos eventos da vida terrena retiravam seu sentido deste fim último, para ele se ordenando como meios. A alegria da vida humana existia porque hauria seu brilho e calor daquele Sol divino para o qual, porém, os homens estavam agora impossibilitados de ir.

A desordem proveniente do pecado não apenas cavou um fosso intransponível ao homem entre nós e Deus, como ainda inseriu a desordem dentro da nossa alma. Desde então, passamos a buscar fontes alternativas de realização e, como estas inexistiam, fomos obrigados a fundamentar a vida inteira na mentira. A fim de produzirmos, nós mesmos, aquilo que não havia, passamos a forçar a realidade para que se adequasse às nossas fantasias e, neste processo, tornamo-nos violentos e cada vez menos sensíveis à delicadeza do amor. Cada pessoa, assim, ia perdendo a vista da unidade fundamental de toda a criação e se via restrita a um caminho extremamente individual e fragmentado do todo no qual lhe importava sobretudo a satisfação de si mesmo. Sobre isso, escreveu o Profeta Isaías:

"Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho" (Is 53,6)

Era noite na nossa alma e, nessa noite, tateávamos semi-cegos por caminhos que trilhávamos por suposições, isto é, à medida em que nos dispúnhamos afetivamente para eles. Estávamos, rigorosamente, cativos dos nossos interesses e da nossa sensibilidade, ou seja, o nosso horizonte era estreitíssimo e ia somente até onde iam os nossos cálculos interesseiros. É verdade que, pela insistência divina em não nos abandonar e manter contato com os homens, havia, ainda, um quê de saúde no mundo e os homens conduzidos por Deus nos faziam relembrar daqueles tempos áureos em que o homem podia, de fato, ser feliz sem falsificações. Esses homens não apenas nos punham nostálgicos, como também nos anunciavam uma felicidade futura, a qual, no entanto, não tínhamos a menor capacidade de sondar em profundidade. Tivemos a notícia, mas escapava-nos a substância do anúncio. Embora Deus mesmo tivesse conduzido esse pontos luminosos, que chamamos de Profetas, a imensa maioria dos homens permanecia num profundo sono.. Os profetas foram como estrelas num extenso céu escuro... E era noite..

Mas eis o que ocorre:

"O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu uma luz." (Is 9,2)

As duas maiores festas cristãs acontecem de noite para mostrar que Deus intervém, justamente, quando as coisas estão escuras. O nascimento de Jesus se deu não apenas numa noite física, mas também numa noite espiritual. Na alma dos homens, o sol divino estava "escurecido"; não que Deus possa escurecer-se, mas é possível, como escreveu Sta Teresa D'Avila, envolvê-lo com uma espessa camada de modo que sua luz não incida na alma e esta fique em trevas. Isto ocorre no pecado mortal. E foi justamente nesta noite que brilhou uma grande luz: Jesus nasceu. Qual o significado disto?

Primeiramente, notemos que, se a treva é ausência de luz, a noite da alma nos homens era a falta da luz divina. Faltava Deus aos homens e eles não eram capazes de reconstruir o que fora perdido. Estando tal conserto acima das forças humanas, forçoso era que, se ele fosse feito, o fosse pelo próprio Deus. E é isto o que se dá: Deus como que "sai de si", movido pelo imenso amor pelos homens, e vem a nós. Em seguida, Ele une em Si mesmo aquilo que estava separado: Deus e os homens. Com efeito, Jesus será Deus e homem e não é possível que as duas naturezas, antes impedidas de união pelo abismo do pecado, agora, unidas na pessoa do Cristo, cultivem ainda qualquer distância. Jesus, ao assumir a nossa natureza, como que se casou conosco tornando-nos, desse modo, um só com Ele.

Tornou-Se humano para que o homem pudesse tornar-se divino. Com isto, Ele nos restituiu a esperança da felicidade completa, da realização mais plena. Ao vê-Lo, hoje, nascido na gruta de Belém, em tão aparente indigência, nós podemos perceber a grandeza do Seu amor em vir resgatar-nos de tão profunda baixeza. Isto é motivo de uma vertiginosa alegria. Se não sabíamos mais o que fazer, se estávamos desesperados e tínhamos por certo a nossa condenação, agora abriu-se para nós uma porta, uma imensa luz brilhou para nós. Deus nos deu a certeza mais cabal de que somos amados. Agora, nós não precisamos seguir caminhando pelos nossos próprios caminhos, nos quais íamos desgarrados. Agora, surgiu para nós O caminho que não engana e nos leva ao Pai. Todos nós, por Ele, transcendemos a nossa fantasia, os nossos caprichos, os nossos interesses egoístas, e retomamos contato com a mais sólida realidade, com a Verdade. Superamos o mesquinho cálculo dos nossos interesses, e adentramos na dinâmica do amor. Imitando a Ele, que saiu de Si, nós sairemos de nós mesmos e iremos a Ele. Nisto está a nossa Salvação. Eis a Luz que nos permite ver com clareza o que até então era-nos invisível pela densidade da noite. Eis o Sol da Justiça que nos nasce e nos restitui a dignidade perdida pelo pecado. Eis que o divino infante participará do nosso sofrimento, chorando copiosamente na noite de Belém, e nós, que já estávamos acostumados às lágrimas, participaremos da alegria divina e, depois de tanto tempo, voltará à nossa face aquele sorriso que nasce, não do campo superficial das sensações, nas do íntimo da alma, expressão de uma alegria da qual participa a totalidade do ser do homem.

Esta alegria, portanto, não é forjada, não é artificial, e não é, como dizia S. Josemaria Escrivá, uma alegria de animal sadio, que surge da boa constituição física. É algo mais interno, mais profundo e que, ao mesmo tempo em que nos preenche, nos relembra que nós somos mais que animais que seguem seus instintos e seus desejos; somos filhos de Deus, criados à Sua imagem e semelhança. Somos vocacionados à eternidade. Na pobreza de seus trapinhos, o Cristo nos relembrou que nós somos Sacerdotes, Profetas e Reis.

Feliz Natal!
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