Eu sempre costumo escrever algo na véspera de ano novo e, em geral, os meus artigos sobre isso não são muito animadores. Vamos ver como sai esse.
Bem, o ano vindouro é novo em que sentido? No sentido de que nunca ocorreu.. Ora, mas se assim é, a hora vindoura também é nova, assim como o minuto, ou o segundo, e nem por isso estamos a todo instante comemorando ou celebrando a novidade. E não sei se deveríamos fazê-lo ou não. Penso um pouco que sim. Contudo, ao lermos o livro do Eclesiastes, parece que as nossas expectativas de uma novidade radical vão pro espaço, pois ele nos brinda, dentre outras coisas, com a seguinte afirmação: "não há nada novo debaixo do sol". Com isto, ele quer dizer que o paradoxo da vida terrena é que, ao mesmo tempo em que ela é contínua abertura ao futuro e, por isso, ela é plena recepção da novidade, esta novidade é também incapaz de provocar uma ruptura completa com aquilo que é velho e termina se adequando a este velho. Bem, parece que há uma exceção: o momento da morte rompe com toda a lógica anterior e nos insere numa nova, absolutamente não prevista. Neste sentido, talvez só devêssemos comemorar como passagem para uma absoluta novidade o dia da nossa morte. Lembro-me agora das palavras do Chesterton: "eu nunca sorrirei tanto quanto naquele dia." No entanto, é precisamente o contrário que fazemos, o que nos mostra que a nossa vontade de um "novo", embora exista, é sempre moderada, pois somos medrosos.
Mas até lá, essas comemorações, se possuem algo de legítimo, são também algo supersticiosas. Talvez a legitimidade delas consista em ser prefiguração da novidade real que está mais adiante - a eternidade. A superstição está em esperar que o mero movimento translacional da terra - combinado com a cor da roupa - possa produzir qualquer coisa de novo. É muita tolice..
Na verdade, a única novidade, segundo Salomão, está acima do Sol, onde não há vaidade. Quem quiser experimentar a novidade real, há de tornar-se íntimo das realidades celestes, habitando nelas, e vencer a própria vaidade. E é por isso que o melhor modo de "romper" o ano é participando da Santa Missa, pois aí temos, por um lado, a plena comunicação com o Céu - a Missa é como um céu aberto onde a nossa relação com Deus é garantida e efetivada. - e, por outro, temos a humilhação gloriosa do filho de Deus que renova seu Sacrifício misticamente, vencendo-nos a vaidade e o orgulho. Encarnar a Liturgia na própria vida é plantar o alicerce para que uma real novidade surja. Sem isso, tudo é ilusão e engano.
Portanto, mais tarde, quando estivermos celebrando a passagem para 2014, não adianta pular ondas nem levar flores a entidades, mas, antes, pensar em Deus, colocar o nosso coração ao alto e comungá-Lo à medida em que o permitam as nossas disposições interiores.
Só assim poderemos de fato desejar um Feliz Ano Novo que tenha alguma substância e que não seja mera flatus vocis, isto é, vazio vocal. Mas, antes de tudo, é preciso desejar feliz natal! Ainda não acabou.. E, diante do Natal, o Ano Novo é pardo, é sem graça. O Natal é uma verdadeira novidade; é a entrada da novidade - da Boa Notícia, dAquele que está acima do sol - no nosso mundo sem graça. Ele é, em verdade, o doador da Graça. Acolhamos esta novidade e permitamos que ela faça o que quiser conosco.
Que a Virgem Maria nos auxilie.
Fábio.
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