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Série "Quando se darão essas coisas?" - Parte II - Idade Média e Idade Moderna


e) Na Idade Média

No séc. 10 fizeram-se ouvir pressentimentos de próximo fim do mundo, pressentimentos cujas proporções têm sido por vezes exageradas por historiadores e romancistas. Alguns escritores e pregadores medievais julgavam que no ano 1000 o Anticristo seria desencadeado sobre o mundo e, em breve, se daria o juízo universal; a sentença se baseava principalmente em Ap 20,1-15, texto que fala de um reino milenário de Cristo, após o qual se deve dar a ressurreição final.

Em fins do séc. 12, o Abade Joaquim de Fiore († 1202) distinguia três idades do mundo: a do Pai, correspondente ao Antigo Testamento; a do Filho, que duraria desde o início da era cristã até 1260, já que 42 são as gerações indicadas na árvore genealógica de Cristo em Mt 1,17 (gerações a cada uma das quais Joaquim de Fiore Atribuía 30 anos); em 1260 começaria nova fase, a do Espírito Santo, caracterizada por um entendimento mais profundo e espiritual das Escrituras Sagradas; seria a era definitiva, norteada pelo "Evangelho eterno" de que fala Ap 14,6. Estas idéias encontraram larga difusão, principalmente em círculos dados à alegoria e a um espiritualismo unilateral.

Das obras de S. Tomás († 1274), colhe-se a informação seguinte: alguns Doutores medievais julgavam que os astros cessarão de se mover no fim dos tempos, para ocupar exatamente a mesma posição que tinham no início do mundo, de sorte que nenhuma trajetória astral ficará incompleta. Ora, os sábios atribuíam então a duração de 36.000 anos à revolução de alguns corpos celestes. Donde se previa que a História ainda duraria mais 30 mil anos aproximadamente. A S. Tomás um futuro tão extenso parecia pouco provável.

O séc. 15 foi mais uma vez marcado por expectativas de consumação iminente. O desejo de nova era, lançado ao público por Joaquim de Fiore e seus numerosos amigos, encontrava terreno propício para grassar em meio às desordens religiosas e políticas dos séc. 14 e 15 (transferência dos Papas para Avinhão, grande Cisma do Ocidente cristão; novas teorias relativas ao governo da Igreja, do Estado). A evocação do fim do mundo servia frequentemente de tema aos pregadores para excitar os homens à penitência e ao mútuo entendimento. S. Vicente Ferrer († 1418), talvez mais por artifício oratório, assinalava-lhe o ano de 1412. Principalmente em fins do séc. 15 esperava-se uma intervenção apocalíptica de Deus; oráculos e profecias aterradores se difundiam febrilmente ; as numerosas narrativas de fenômenos portentosos excitavam nas imaginações o desejo de os ver, mesmo à custa de árduas peregrinações e penitências; falava-se de um Papa angélico, etc. Os ânimos fermentavam cada vez mais... A explosão deu-se realmente em 1517, não por uma catástrofe cósmica (fim do mundo), mas pela irrupção do luteranismo e da ps. reforma protestante. Esta, sem dúvida, pôs fim a muitos valores veneráveis da Idade Média, e deu ocasião a que novos valores surgissem por obra da autêntica reforma, empreendida pelo Concílio de Trento (1545-63).

f) Na Idade Moderna

Não faltam igualmente indivíduos e correntes de pensamento que se propõem prever a data final. Assim:

Pico de Mirandola († 1494), humanista famoso, colocava a volta de Cristo no ano de 1994, baseando-se em pressupostos de mística neoplatônica e cabalística;

Tiago Nacchiante O.P. († 1494), bispo de Chioggia, predizia o fim do mundo para o ano de 1800;

Cornélio a Lapide († 1637), exegeta católico, em 1626 julgava que próximo estafa o fim do mundo, apelando, entre outras razões, para um oráculo comum entre os turcos: a religião de Maomé haveria de durar mil anos; ora, pouco faltava para se preencher esse prazo; o Islamismo, pois, haveria de mover em breve a última perseguição contra a Igreja e sofrer o seu golpe mortal pela vinda de Cristo;1

João Bengel († 1752), exegeta luterano da corrente pietista, propunha o seguinte cálculo, todo baseado em presumidas indicações cronológicas da Bíblia:

Desde a criação do mundo até o nascimento de Cristo decorreram 3.943 ou, redondamente, 3.940 anos. Ora, segundo 1 Pd 4,7, "o fim de todas as coisas está próximo"; o que significa que a era inciada por Cristo deve ser de menor duração que a anterior. Esta nossa era cristã, porém, certamente há de compreender, antes do juízo universal e da consumação do mundo, os 2000 anos de que fala Ap 20 (um milênio, durante o qual Satanás permanecerá ligado ao abismo, e outro milênio, em que os santos reinarão com Cristo sobre a Terra); por conseguinte, o início do primeiro milênio não podia distar muito da época em que Bengel vivia (1740 + 2000 = 3740; a era cristã devia durar menos de 3940 anos!). Ulterior precisão: o número 7 tem preponderância nas indicações cronológicas da Sagrada Escritura, donde Bengel julgava poder concluir que a duração total da História será de 7.777 anos. Ora, se esta é a duração total da História, não se pode atribuir à era cristã extensão maior do que 7.777 - 3.940, isto é, 3.837 anos; o que implicava que o primeiro milênio devia começar no ano 3.837 - 2.000, ou seja, em 1837. Por conseguinte, vivendo no séc. 18, Bengel esperava para 1.837 a próxima vinda de Cristo, que inauguraria uma nova ordem de coisas, provisória, até a consumação definitiva da História no ano de 3.837 (7.777, a partir da criação do mundo).

Os adventistas foram fundados por Guilherme Miller († 1849), que, depois de aderir ao racionalismo de sua época, se convertera à seita protestante dos batistas. Partia do princípio de que todas as profecias bíblicas referentes ao Messias se devem cumprir ao pé da letra. Ora, já que o Messias foi pobre e mal recebido em sua primeira vinda, há de voltar uma segunda vez à Terra, e estabelecerá um reino glorioso milenário, que será a realização verbal da era messiânica profetizada pelo Antigo Testamento; terminando o milênio, verificar-se-á o juízo final (cf. Ap 20).

E quando se dará a vinda inaugurativa do reino milenário?

Miller lia em Dan 8,14: "(A abominação durará) até duas mil e trezentas tardes e manhãs; a seguir, o santuário será purificado." Neste texto muito enigmático,  tomando as "tardes e manhãs" por anos, julgava que Cristo viria instaurar o milênio no ano 2.300 a partir da data do oráculo, ou seja, a partir de 457 a.C.; o que equivalia a dizer que o Senhor voltaria para instaurar justiça e paz no ano 1.843 da nossa era ou, mais precisamente, entre março de 1843 e março de 1844. Quando em 1831 a profecia de Miller começou a ser propalada, suscitou muitos adeptos entusiastas, principalmente entre batistas e metodistas, os quais passaram a ser chamados adventistas (uma chuva de asteróides, em 1833, parecia ser o abalo de estrelas - prenúncio do fim). Todavia, o ano de 1.843 trouxe a grande decepção aos 50.000 discípulos! 

Miller continuou a afirmar que o Senhor não tardaria; S. Snow refez os cálculos, anunciando o fim do mundo para 22 de outubro de 1844; em consequência, em certas regiões dos EE.UU. da América do Norte, camponeses e operários abandonavam o trabalho, e passavam as noites ao relento, esperando com impaciência febril a vinda de Cristo; a desilusão sofrida ainda foi mais amarga. Os adventistas até hoje conservam a crença no próximo regresso do Senhor; alguns dizem que o prazo previsto por Daniel de fato terminou em 1844, mas que Cristo ainda está a purificar o santuário; virá logo depois de completar esta obra.

Os "Sérios Estudiosos da Bíblia" ou, a partir de 1931, as "Testemunhas de Jeová", fundados por Charles Russell († 1916), sofreram a influência dos adventistas. Conforme os cálculos fantasistas de Russell, os sete dias da criação (cf. Gn 1) significavam que o mundo durará 49.000 anos; ora, a cronologia bíblica revela que não estamos longe de findar este período. Pois que deve haver um paraíso terrestre de 1.000 anos antes da consumação; Russell afirmava que a sua geração não passaria sem ter visto o Reino de Deus. Aguardava, pois, a segunda vinda de Cristo, espiritual e invisível, para 1874; a partir deste ano até 1914, o Senhor faria a colheita dos seus fiéis; em 1914 inauguraria o reino milenário, no qual no ano de 2.914 se seguiriam os céus novos e a Terra nova. O dito exegeta repartia a história do mundo em três faces: a antiga, desde a criação até o dilúvio; a atual, subdividida em período patriarcal (do dilúvio até o Patriarca Jacó), período judaico (de Jacó até Cristo), peíodo cristão (desde Cristo até o início do milênio); a fase futura compreenderia o milênio (1914-2914) e a era do mundo renovado, definitivo.

Em 1917, já que as profecias não se cumpriam, Alexandre Freytag († 1947) separou-se da seita e fundou o ramo dissidente dito "dos Amigos do Homem" ou "dos Amigos do Eterno" ou "dos Discípulos de Cristo". Pôs-se a pregar e escrever, anunciando a vinda próxima do Reino de Deus, no qual todos os homens habitariam em vilas dotadas de todo o conforto e higiene; não haveria nem proprietários nem patrões; tudo seria dado a todos gratuitamente...; haveria vegetação abundante, temperatura amena e uniforme em todo o globo, etc.

Por fim, mesmo nos nossos dias não deixou de se verificar um fenômeno cósmico diante do qual os homens têm reagido em atitude semelhante à de casos análogos. Eis o que na exposição de "O que são os discos voadores", o repórter da revista carioca "O Cruzeiro", aos 20 de novembro de 1954, verifica à pág. 60 (note-se no trecho abaixo, mais uma vez, o recurso à Sagrada Escritura para interpretar os tempos):

"Todos os grandes profetas da antiguidade, inclusive Nostradamus, assim como certas passagens da Bíblia, falam de uma grande catástrofe denominada "o fim dos tempos", a acontecer no ano de 1999. "Estranhos sinais aparecerão nos céus..." "Do céu virá um grande rei, chefe de um poderoso exército..." "Em outubro de 1999, depois de um eclipse total do Sol, uma grande translação se produzirá de tal modo que julgarão a Terra fora de órbita e abismada em trevas eternas..." "A Terra será despedaçada em grandes aberturas. Será agitada e cambaleará como um embriagado..." Isso tudo quererá dizer que um astro qualquer passará próximo de nós bastante para influenciar sobre a nossa marcha através do espaço? Ou que a inclinação da Terra sobre o próprio eixo se modificará a ponto de ocasionar tal catástrofe, como alguns cientistas predizem e como alguns temem que as explosões atômicas estejam precipitando?

Espíritas e videntes modernos confirmam tudo isso com um quase fanatismo. Tenho recebido inúmeras comunicações acerca dos futuros acontecimentos da natureza dos "discos", da vida em outros planetas. Respeito-as, mas como repórter tenho de me ater a fatos.

Astrólogos predizem fatos estarrecedores. Um deles, o Professor Rubens Peiruque, previu uma nova onda de "discos" para este ano em que estamos. Coincidência ou não, isso está acontecendo. Ele também afirma que, em 1956, marcianos farão uma invasão pacífica na Terra. Só nos resta esperar."

Diante das muitas teorias tão bem arquitetadas no decorrer da Hist´ria, mas fragorosamente desmentidas pela experiência, o católico dificilmente dará crédito a alguma nova conjetura. Nem há fundamento para se afirmar que a época posterior à redenção drará ao menos tanto quanto a antecedente, ou seja, 4 ou 6 mil anos, correspondentes, como crêem muitos, à história do Antigo Testamento; tal computação não se funda em absoluto sobre algum texto da Revelação - As profecias sobre a data do fim do mundo constituem um autêntico fenômeno sociológico, uma espécie de mal crônico que acompanha as grandes sacudidelas da história.

1- Commentarius in Apc 20,5. Lugduni 1626.

BETTENCOURT, Dom Estêvão. A Vida Que Começa Com a Morte. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Agir. 1963. Pp. 194-198
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Um comentário:

  1. A paz meus amados irmãos em Cristo Eucarístico.
    Como é bom saber que o amor a Divina Eucarístia tem chegado a diversos corações, é com uma alegria muito intensa no coração que nós membros da Associação de Adoradores do Sublime Sacramento vos saúdam com todo amor e gratidão...
    Que Deus abençoe-vos a cada vez mais, q a Mãe do Sublime Sacramento nos ensine a adorar seu Fiho com mais amor e gratidão...
    Fraternos abraços...
    AASS
    "Dominus Vobiscum"

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