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Quaresma - Eis o tempo de Conversão


Iniciamos o tempo da Quaresma onde, mais do que relembrar, vivenciamos a experiência que o Cristo fez antes de iniciar a Sua vida pública. No nosso caso, o fazemos como preparação para a Páscoa. Costumamos dizer que ressuscitaremos com o Cristo. Mas, para tal, temos de, desde já, sofrer com Ele. Um dos pontos essenciais da Quaresma é, então, unir-mo-nos a Cristo, fazer-Lhe companhia e, a partir da Sua proximidade, nos tornarmos Ele mesmo. No oriente, se fala de processo de deificação, isto é, de transformar-se em Deus. Esta idéia, além de não ter nada de herética, é acompanhada de perto pelos místicos ocidentais, como São João da Cruz, por exemplo, para o qual o cristão deve tornar-se deus por participação. 

Para que isto possa ser alcançado, o homem precisa primeiramente conscientizar-se de que há, no seu ser atual, uma série de inclinações que o rebelam contra Deus, isto é, que fazem guerra a este ideal da deificação. Decorre disso a necessidade de que ele trave uma luta consigo mesmo. Esta luta é simbolizada pelo ambiente árido do deserto, onde as inclinações sensíveis do homem não encontram fácil satisfação. O deserto, assim, é visto como um lugar essencialmente penitencial.

Além disso, o deserto também é visto, na tradição cristã, como a morada dos demônios. Quando adentramos na sobriedade do deserto interior, os nossos demônios surgem com mais força. E é nesta ocasião que teremos a oportunidade de vencê-los. A partir do que já foi dito, o deserto se converte em ambiente de comunhão com Deus, de Sua imitação, e também de luta contra os demônios e nossas inclinações ruins. Poderíamos, talvez, concluir disto que Deus está na luta contra nós mesmos.

Toda esta realidade é sobretudo interior, e é necessário que seja assim, pois como o próprio Senhor nos diz, é do coração do homem que surge o bem ou o mal. Cumpre, portanto, cuidar da fonte para que os seus veios, que são as ações, estejam de fato limpos da vaidade e saciem os que deles beberem. Sabendo, contudo, que ninguém é bom senão Deus, a bondade humana não tem alternativa a não ser ser participada. A quaresma, então, não teria qualquer sentido se não fosse um tempo em que o homem se aproxima de Deus. Não obstante isso possa parecer óbvio, é muito comum que passemos este tempo distraídos do essencial.

Uma pessoa em pecado mortal, por exemplo, o que pode fazer de mais importante senão preparar-se para a confissão e pedir a Deus a graça de uma contrição perfeita? De que adianta mortificar-se se tudo isto apenas serve de ocasião para provarmos aos outros a nossa devoção ou, mais comum, provar para nós mesmos o quanto somos bons? Do que adianta realizar trabalhos sociais se não optamos por uma conversão sincera e profunda da nossa vida? Do que adianta não comer carne nas sextas, ou até fazer jejuns, se não nos decidimos por uma mudança real de vida?

Uma vez que o nosso íntimo adquire as devidas disposições, que são um conhecimento correto sobre nós mesmos e a nossa pequenez, a consciência nossa estrita necessidade de Deus para qualquer bem, a pureza de intenção, o estado de graça, o desapego de nós mesmos e do apreço dos demais, e o desejo de agradar a Deus sobre todas as coisas, então se difundirão de nós, como algo natural, as obras de caridade, assim como do fogo procede naturalmente o calor. Do Cristo é dito que passou pela terra a fazer o bem. Isto ocorre porque o bem é naturalmente difusivo, isto é, espalhar-se e comunicar-se é-lhe uma operação intrínseca. Como não temos, no entanto, a perfeição do Cristo, as obras de caridade convertem-se não somente em expressão da bondade que nos vai n'alma, mas tornam-se, também e principalmente, meios para a obtenção desta bondade. São exercícios para a perfeição, mais do que produtos dela.

Estas obras, porém, pressupõem a fonte da qual procedem: a alma. A fim de que aquelas sejam puras e possam produzir efeitos benéficos na própria pessoa que as faz, é preciso que esta esteja em graça, isto é, esteja num estado de amizade com Deus. Esta amizade deverá ser cultivada na própria alma. Daí a necessidade de uma atividade de convívio entre a alma e Deus, que é a oração. Esta se divide, como se sabe, em oração litúrgica - que é a que fazemos com os outros cristãos reunidos na igreja - e oração pessoal - que é recomendada por Jesus a fim de que só o Pai a conheça. A primeira nos faz lembrar que somos todos irmãos e membros do corpo de Cristo, e tende a nos livrar do egoísmo, individualismo e auto-suficiência; a segunda, impede-nos de cair no erro do coletivismo e faz-nos atentar que, embora o individualismo seja um erro, somos seres absolutamente únicos e individuais, e tal é também o nosso chamado e a nossa vocação. Deus nos chama pelo nome, e o nome é uma indicação da nossa individualidade.

Outros erros que devem ser evitados são o rubricismo, que é o ato de fazer exercícios religiosos como se fossem um fim em si mesmos; e o pelagianismo, que é o esvaziamento da religião de todo o seu caráter sobrenatural e a sua redução ao fator puramente social e moral. Estes erros são muitíssimo comuns.

A quaresma deverá ser sobretudo espiritual. E para isso, é essencial a vivência dos Sacramentos da Eucaristia e a da Confissão. Muito útil são, também, as leituras devotas. Depois, as mortificações, os jejuns, a meditação da Paixão, a prática da Presença de Deus, a intimidade com a Virgem Maria, etc. Aproveitemos que este tempo é de particular proximidade de Deus. É o tempo em que, nos conduzindo ao deserto, Ele nos falará ao coração e nos desposará consigo.

Peçamos, então, a Deus que nos permita viver uma Quaresma em verdadeira intimidade com Ele. Que tenhamos a coragem de lutar contra nós mesmos e os nossos demônios. Que procuremos vencer o nosso orgulho e nosso egoísmo e lembrar dos nossos irmãos que de algum modo precisam de nós. Que Ele nos conceda sempre um maior conhecimento de nós mesmos e a guarda da Graça em nossa alma. Dê-nos Ele um coração contrito e com retas intenções. E nos livre dos erros que se disfarçam de virtude. Que, enfim, vivendo uma santa e sóbria quaresma, possamos, no final, participar da Sua páscoa e felicidade.

Que a Virgem nos conduza.
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