Tradutor / Translator


English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Exemplo do Zelo pelo Sagrado da CNBB

Dom Dimas Lara Barbosa, arcebispo eleito de Campo Grande, celebra missa no IV Encontro de Jornalistas da CNBB, realizado no último mês de março. Detalhe para o sacrário no meio do horrendo altar.

Dom Dimas Lara Barbosa, arcebispo de Campo Grande, celebra missa no IV Encontro de Jornalistas da CNBB, realizado no último mês de março. Detalhe para o pobre sacrário no meio do horrendo altar.

VAI COMEÇAR O PERDÃO DE ASSIS: MEIO-DIA DE 01 DE AGOSTO




Caríssimos ,
Ao meio dia de amanhã, I de agosto, começará o "Perdão de Assis", que se estenderá até o entardecer do dia 02 de agosto.
Abaixo o relato do acontecido e as Indulgências da Porciúncula  estendidas à humanidade inteira.
Boa Leitura.

Pe. Marcélo Tenorio

**
Certa noite do mês de Julho de 1216, como acontecia em tantas outras noites, na silenciosa solidão da pequena Igreja da Porciúncula, São Francisco ajoelhado, estava profundamente mergulhado nas suas orações, quando de súbito, uma luz vivíssima e fulgurante encheu todo o recinto e no meio dela, apareceu Jesus ao lado da Virgem Maria sorridente, sentados num trono e circundados por diversos Anjos. 
Jesus perguntou-lhe:“Qual o melhor auxílio que desejarias receber, para conseguir a salvação eterna da Humanidade?”

Sem hesitar Francisco respondeu: “Senhor Jesus, peço-Vos que, a todos os arrependidos e confessados, que visitarem esta Igreja, lhes concedais um amplo e generoso perdão, uma completa remissão de todas as suas culpas.”

“O que pedes Francisco, é um benefício muito grande,”disse-lhe o Senhor, “muito embora sejas digno e merecedor de muitas coisas. Assim, acolho o teu pedido, com uma condição, deverás solicitar essa indulgência ao meu Vigário na Terra.”

No dia seguinte, bem cedinho, Francisco acompanhado de Frei Masseu, seguiu para Perúgia, a fim de se encontrar com o Papa Honório III. Chegando disse-lhe:“Santo Padre, há algum tempo, com o auxílio de Deus, restaurei uma Igreja em honra a Santa Maria dos Anjos. Venho pedir a Vossa Santidade que concedais, nesta Igreja uma indulgência a quantos a visitarem, sem a obrigação de oferecerem qualquer coisa em pagamento (naquela época, toda indulgência concedida a uma pessoa, estava ligada à obrigação dessa pessoa fazer uma oferta), a partir do dia da dedicação da mesma.”

O Papa ficou surpreendido e comoveu-se com o tal pedido. Depois perguntou: “Por quantos anos pedes esta indulgência?”

“Santo Padre, não peço anos, mas penso em muitos homens e mulheres que precisam sentir o perdão de Deus”, respondeu Francisco.

“Que pretendes, em concreto, dizer com isto?” retorquiu o Papa.

“Se aprouver a Vossa Santidade, gostava que todas as pessoas que venham a visitar a Porciúncula, contritos de seus pecados, em “estado de graça”, confessado e tendo recebido a absolvição sacramental, obtenham a remissão de todos os seus pecados, na pena e na culpa, no Céu e na Terra, desde o dia de seu batismo até ao dia em que entre na Porciúncula.”

“Mas não é um costume a Cúria Romana conceder tal indulgência!"

“Senhor, disse o “Poverello”, este pedido não o faço por mim, mas por ordem de Cristo, da parte de quem estou aqui.”

Ouvindo isto o Papa cheio de amor repetiu três vezes:“Em nome de Deus, Francisco, concedo-te a indulgência que em nome de Cristo me pedes.”

Tendo alguns Cardeais, ali presentes, manifestado algum desacordo, o Papa reafirmou: “Já concedi a indulgência. Todo aquele que entrar na Igreja de Santa Maria dos Anjos da Porciúncula, sinceramente arrependido das suas faltas e confessado, seja absolvido de toda pena e de toda culpa. Esta indulgência valerá somente durante um dia, em cada ano, “in perpetuo”, desde as primeiras vésperas, incluída a noite, até às vésperas do dia seguinte.”

A “consagração” da Igrejinha aconteceu no dia 2 de Agosto do mesmo ano de 1216.

A Indulgência da Porciúncula somente era concedida a quem visitasse a Igreja de Santa Maria dos Anjos, entre a tarde do dia 1 Agosto e o pôr-do-sol do dia 2 Agosto. Em 9 de Julho de 1910, o Papa Pio X concedeu autorização aos Bispos de todo o mundo, só naquele ano de 1910, para que designassem qualquer Igreja Pública das suas Dioceses, a fim de que também nelas, as pessoas recebessem a Indulgência da Porciúncula. (Acta Apostolicae Sedis, II, 1910, 443 sq.; Acta Ord. Frat. Min., XXIX, 1910, 226). Este privilégio foi renovado por um tempo indefinido por decreto da Sagrada Congregação de Indulgências, em 26 março de 1911 (Acta Apostolicae Sedis, III, 1911, 233-4).Significa que, atualmente, qualquer Igreja Católica de qualquer país, tem o benefício da Indulgência que São Francisco conseguiu de Jesus para toda humanidade. Assim ganharão a Indulgência, todas as pessoas que estando em "estado de graça", visitarem uma Igreja nos dias mencionados, rezarem um Credo, um Pai-Nosso e um Glória, suplicando ao Criador o benefício da indulgência, e rezando também, um Pai-Nosso, uma Ave-Maria e um Glória, pelas intenções do Santo Padre. Poderão utilizar a Indulgência em seu próprio benefício, ou em favor de pessoas falecidas ou daquelas que necessitam de serem ajudadas na conversão do coração.

Por outro lado, a Indulgência é "toties quoties", quer dizer, pode ser recebida tantas vezes quantas a pessoa desejar, isto é, em cada ano, fazendo visitas a diversas Igrejas das 12 horas do dia 1 de Agosto até o entardecer do dia 2 de Agosto.

Cinco razões pelas quais não se deve pedir sinais sobrenaturais na oração


Sta Teresa D'Avila, Doutora da Igreja, Mestra de Oração


A primeira, porque é falta de humildade querer que se vos dê o que nunca haveis merecido, e assim creio que não terá muita quem o desejar; porque, assim como um pequeno lavrador está longe de desejar ser rei, parecendo-lhe impossível, porque não o merece, assim também o está o humilde de coisas semelhantes; e creio eu que estas coisas nunca se darão, porque, primeiro que faça estas mercês, dá o Senhor um grande conhecimento próprio. Pois, como entenderá, com verdade, que se lhe faz uma muito grande mercê em não estar já no inferno, quem tem tais pensamentos?

A segunda, porque é muito certo ser enganado, ou estar muito em perigo de o ser; porque o demônio não precisa mais do que ver uma pequena porta aberta para fazer mil trapalhices.

A terceira; que é a mesma imaginação, quando há um grande desejo, faz entender à própria pessoa que ela vê e ouve aquilo que deseja, tal como os que andam com vontade de uma coisa durante o dia e pensando muito nela, lhes acontece virem a sonhar com ela de noite.

A quarta, é muito grande atrevimento querer eu escolher caminho, não sabendo qual o melhor, mas sim deixar ao Senhor, que me conhece, que me leve por aquele que me convém, para que em tudo faça a Sua vontade.

A quinta, pensais que são poucos os trabalhos que parecem aqueles a quem o Senhor faz estas mercês? Não, são grandíssimos e de muitas maneiras. E sabeis vós se seríeis pessoas para os sofrer? A sexta, porque talvez por aí mesmo por onde pensais ganhar, perdereis, como Saul, por ser rei.

Enfim, irmãs, além destas há outras; e crede-me que, o mais seguro, é não querer senão o que Deus quer, pois nos conhece e ama mais do que nós mesmos. Ponhamo-nos em Suas mãos, para que seja feita a Sua vontade em nós; e não poderemos errar se, com determinada vontade, nos ficamos sempre nisto.


Sta Teresa D'Avila, Castelo Interior

O combate pela Pureza


Forçosa é a guerra à tirania das nossas paixões, em nossa peregrinação pela terra. É lei tanto de ordem e de subordinação laboriosa, como também de harmonia e de unidade, de liberdade e de paz.

As aparências austeras da obrigação ocultam, porém, sua encantadora e sublime beleza a uma mocidade que, loucamente pródiga de si, sacrifica ao prazer sua integridade moral, e que não hesita arruinar em outros o que ela não soube respeitar em si mesma.

Uma depravação mais consciente e mais requintada na malícia, acrescenta a calúnia à tentação: a lei da castidade é impossível. É, se quiserem, o patrimônio de seres fracos.

- Fraco -, o homem que nutre ambições celestiais; forte, o incapaz de uma coragem que o levanta acima do sensualismo animal?

- Fraco -, o que disputa às inteligências puras o prêmio da nobreza; forte, o que se avilta?

- Fraco -, o magnânimo que por amor de Deus e dos seus semelhantes de esquece de si; forte, o egoísta que só se preocupa de vis prazeres?

- Fraco -, o cavalheiro do direito; forte, o escravo de desejos desordenados?

- Fraco -, aqueles cujas energias vitais enriquecerão a sociedade dos homens; forte, o esgotado, o gasto pelo vício?

- Fraco -, o homem que sabe guardar os seus sagrados juramentos; forte, o cínico ou hipócrita que viola seus compromissos?

- Fraco -, o vitorioso; forte, o vencido?

E contudo, por toda a parte, encontra aplausos a absurda calúnia. Os preconceitos do mundo a embalam; médicos, em nome de uma suposta ciência, corroboram-na com seus maus conselhos; uma vasta e poderosa imprensa a difunde e patrocina; e um código de uma certa moral, em voga, formula para o homem, para a mulher, para o celibatário, para o esposo, para o nacional e para o estrangeiro, regras que são outros tantos desafios à honestidade.

Diante dessa insolência, a virtude, tímida e retraída, resigna-se por vezes a envergonhar-se e até mesmo a capitular!

É mister, pois, despertar a estima pela pureza.

É necessário excitar e estimular o brio em quem a possui.

Convém igualmente, já que a conservamos em fragilíssimo vaso, ensinar a arte de a defender e de preservá-la de choques fatais.

E como o homem é curável, e como um triunfo pode vingar cabalmente uma derrota, é necessário reanimar a coragem dos abatidos e hesitantes e incitar à desforra os irresolutos e humilhados.

Prefácio do livro A Grande Guerra, do Pe. J. Hoornaert, S.J.

Dom de Línguas - Eu Pergunto e os Caríssimos Pe. Marcelo Tenório e Prof. Eder Silva Respondem



Antes de pôr a resposta abaixo, gostaria de agradecer profundamente a boa vontade dos caríssimos Pe. Marcelo Tenório e do Prof. Eder Silva em responderem prontamente a questão que eu havia levantado sobre o Dom de Línguas descrito por S. Paulo no primeiro livro de Coríntios. Agradeço a ambos e, ao reverendo Pe. Marcelo, sigo rogando a sua bênção. Que Deus os abençoe.

Recomendo a todos a leitura. Salve Maria!

**
Caríssimo Sr. Fábio

Salve Maria!

Li atento seu comentário da matéria "RCC - Origem e Catolicidade". Não tenho o hábito de responder comentários das postagens, por questão de tempo e de proposta mesmo do nosso blog. Todavia suas considerações foram importantes e uma reflexão sobre as mesmas a partir da doutrina da Igreja, segundo Santo Tomás de Aquino, seria de grande valor, visto que Sua Doutrina é a Doutrina Perfeita, canonizada pela Santa Religião.

O Prof. Eder Silva quis discorrer sobre o assunto e julgo sua colocação perfeita e cabível para a questão em foco. Abaixo está o seu comentário e depois a doutrina da Igreja comentada pelo Prof. Eder, assim, os leitores terão uma visão melhor e geral do assunto.

Concluíndo, deixo aqui as belas palavras de Pio XI:

" A TODOS QUANTOS AGORA SENTEM SEDE DE VERDADE, DIZEMO-LHES:   IDE A TOMÁS DE AQUINO."

Com minha bênção,

Pe. Marcélo Tenorio

_________________________

Caríssimo Pe. Marcelo, sua bênção.

De fato, a RCC tem origem protestante e a mantém naquilo que a caracteriza. Tenho, por vezes, conversado com alguns carismáticos, a fim de esclarecer-lhes sobre isto.

Porém, hoje estive lendo um texto do saudoso Prof. Orlando Fedeli

(http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cartas&subsecao=rcc&artigo=20040812202727&lang=bra), em que ele responde a uma dúvida sobre a dita oração em línguas. E, depois de terminá-lo, vi que algumas questões levantadas pelo rapaz que o indagou não foram respondidas.

Primeiro, o texto enviado pelo rapaz faz uma aproximação da oração em línguas com a tradição apofática da Igreja, que é uma tradição autêntica. Claro que não tem nada a ver uma coisa com a outra, mas objetar-lhe a validade afirmando que em referir-se a algo supra-conceitual está-se a renegar a Fé é faltar com a sinceridade, pelo menos no caso do Professor Orlando que, creio eu, conhecia bem essa tradição da Teologia Negativa.

Mas as questões mesmo que me ficaram foram outras.

Sempre que eu li a respeito, vi que a Igreja considerava o verdadeiro carisma das línguas como um dom dado aos primeiros de falar verdadeiramente outras línguas, mantendo portanto a inteligibilidade, e que a finalidade deste dom era facilitar a difusão do Evangelho em diversos povos.

Quando Paulo diz, porém, que aquele que fala em línguas fala misteriosamente a Deus sem que ninguém o entenda, vi argumentos que diziam que este tipo de linguagem é semelhante, por exemplo, à dos Cânticos dos Cânticos em que se entendem os símbolos mas não se apreende o simbolizado, precisando, para tal, do dom de interpretação, que Paulo cita.

Pois bem. No entanto, na assertiva do rapaz me ficaram umas dúvidas e que ponho logo a seguir:

1- Os carismas autênticos foram sempre dons extraordinários, isto é, não comuns. No entanto, Paulo parece desejar, com relação ao "dom de línguas", que todos o tenham:

"desejo que todos faleis em línguas" (1Cor 14,4-5)

2- Dizíamos que a oração em línguas nada mais era que falar outra língua realmente existente, como quando um italiano fala japonês. Se assim é, a linguagem mantém seu caráter inteligível. No entanto, Paulo parece fazer uma distinção entre a linguagem e o entendimento: ""Orarei com o espírito, mas orarei também com o entendimento (1Cor 14,15)" e "Se eu oro em virtude do dom das línguas, o meu espírito ora, mas o meu entendimento fica sem fruto." (1Cor 14,14)

Por fim, padre, se o senhor tiver tempo de me esclarecer estes pontos, eu gostaria ainda de saber o que se quer dizer precisamente na expressão "gemidos inefáveis". Li há algum tempo que isso poderia se referir, de novo, à tradição apofática caracterizando talvez o silêncio, uma vez que o inefável é o que não pode ser dito.

Desde já, fico grato.

A sua bênção.

Fábio.

__________________________

Caríssimo Padre Marcelo Tenório,

Salve Maria!

Diante das colocações do sr. Fábio, resolvi fazer um comentário não a critério de solução, mas apenas de complemento, visto que o senhor discorreu impecavelmente sobre a questão dos misteriosos “gemidos” carismáticos.

Permita-me iniciar minha exposição.

Quando se trata das sublimes verdades da Revelação Divina, é preciso recorrer, por prudência, aos magistrais ensinamentos dos doutores da Igreja, especialmente à sabedoria angélica de Santo Tomás.

A explicação do Aquinate sobre o dom de línguas dissolve as dúvidas e estabelece as bases para distinguir o verdadeiro fenômeno sobrenatural da glossolalia dos pseudo-carismas, vulgarizados nos círculos delirantes da Renovação Carismática.

Comentando o Capítulo XIV da primeira carta de São Paulo aos Coríntios, Santo Tomás escreveu:

“Quanto ao dom de línguas, devemos saber que como na Igreja primitiva eram poucos os consagrados para pregar ao mundo a Fé em Cristo, a fim de que mais facilmente e a muitos se anunciasse a palavra de Deus, o Senhor lhes deu o dom de línguas” (S. Tomas de Aquino, comentário à primeira Epístola aos Coríntios, Tomo II, p. 178).

Esse ensino é comum a todos os doutores que comentaram o referido trecho da carta de São Paulo.

O dom de línguas, largamente concedido aos cristãos do primeiro século da

Igreja, destinava-se a facilitar o anúncio do Evangelho que precisava ser difundido a todos os povos de todas as línguas existentes. Entretanto, como observa o Aquinate, os Coríntios desvirtuaram o verdadeiro sentido desse dom:

“Porém, os coríntios, que eram de indiscreta curiosidade, prefeririam esse dom ao dom da profecia. E aqui, por ‘falar em línguas o Apóstolo entende que em língua desconhecida e não explicada: como se alguém falasse em língua teutônica a um galês, sem explicá-la; esse tal fala em línguas. E também é falar em línguas o falar de visões tão somente, sem explicá-las, de modo que toda locução não entendida, não explicada, qualquer que seja, é propriamente falar em língua” (S. Tomas de Aquino, comentário à primeira Epístola aos Coríntios, Tomo II, p. 178-179).

Segundo a exposição do ilustre doutor angélico, o falar em línguas pode ser entendido de dois modos:

1) falar em língua desconhecida, porém existente, como sucedeu em Pentecostes, quando São Pedro falou em sua língua e cada um dos presentes entendeu na sua língua pátria.

2) pregação ou oração sobre visões ou símbolos.

Essa doutrina é confirmada pelo Aquinate:

“Suponhamos que eu vá até vós falando em línguas (I Cor 14,6). O qual pode entender-se de duas maneiras, isto é, ou em línguas desconhecidas, ou a letra com qualquer símbolos desconhecidos” (S. Tomas de Aquino, comentário à primeira Epístola aos Coríntios, Tomo II, p. 173).

Por sua clareza inconfundível, a primeira forma de falar em línguas dispensa comentários, visto que consiste em falar, miraculosamente, uma língua existente sem nunca tê-la estudado.

Consideremos, portanto, o segundo modo, que consiste numa simples predicação com linguagem pouco clara, como acontece quando se fala sobre símbolos ou visões em forma de parábolas.

Esclarece São Tomás:

“[...] se se fala em línguas, ou seja, sobre visões, sonhos [...] (S. Tomas de Aquino, comentário à primeira Epístola aos Coríntios, Tomo II, p. 208).

Continua:

[lhes falarei] “‘Em línguas estranhas’, isto é, lhes falarei obscura e em forma de parábolas [...] por figuras e com lábios [...]” (S. Tomas de Aquino, comentário à primeira Epístola aos Coríntios, Tomo II, p. 200).

Segundo a doutrina puríssima de Santo Tomás, quem usa de símbolos nos exercícios espirituais, lucra o mérito da prática de um ato de piedade. Mas, se compreende racionalmente os símbolos que profere durante a ação, lucra, além do mérito da boa obra, o fruto da compreensão intelectual de uma verdade espiritual.

Quando alguém reza a oração do Pai Nosso sem compreender o profundo significado das petições que pronuncia, ganha o mérito da boa ação de rezar. Mas, aquele que reza compreendendo o sentido do que diz, lucra duplamente, isto é, o mérito da ação e o mérito da compreensão de uma verdade espiritual. Por esta razão São Paulo exorta aos que “falam em línguas” (no sentido de usar símbolos em seus atos de piedade) para que peçam o dom de interpretá-las, isto é, de compreender aquilo que diz de modo simbólico, a fim de lucrarem juntamente com a boa ação, o entendimento daquilo que piedosamente executam.

Quanto ao uso público dessas línguas estranhas, o Apóstolo estabelece que não se as use quando não houver intérprete para explicar os símbolos para os que não conseguem atingir sua clara compreensão.

Em seus comentários sobre o versículo em que São Paulo adverte para que, durante o culto público, não se fale em línguas mais que dois ou três, São Tomás ensina que a leitura da Epístola e do Evangelho na Missa, são formas de falar em línguas que a Igreja manteve do período apostólico, fato diametralmente oposto ao que ocorre nas histerias pentecostais.

Eis as palavras do Aquinate:

“É de notar-se que este costume até agora [...] se conserva na Igreja. Por que as leituras, epístola e evangelho temos em lugar das línguas, e por isso na missa falam dois [...] as coisas que pertencem aos dom de línguas, isto é, a Epístola e o Evangelho” (comentário à primeira Epístola aos Coríntios, Tomo II, p. 208).

A interpretação dessas línguas – estranhas ao povo simples – ocorre na Missa após a leitura da Epístola e do Evangelho, quando o padre faz o sermão explicando os símbolos contidos nos textos sagrados que foram lidos.

Nisto consiste o “falar em línguas”, segundo a autoridade indiscutível de Santo Tomás. E, partindo desta teologia absolutamente segura, porque reconhecida pela Igreja, não há como admitir a confusão desordenada de sons, freqüentes nos cultos pentecostais da Renovação Carismática. Ao contrário, quem examina os escritos dos pais da Igreja sobre o assunto, é levado a concluir que os fenômenos de línguas que ocorrem na RCC são de origem diabólica, e não divina, como se pensa e defende.

E para respaldar essa afirmação, confirmamo-la com os próprios dizeres dos padres da Igreja.

No século II da era cristã, Santo Irineu condenou um herege chamado Marcos que profetizava sob influência demoníaca, seduzindo mulheres que, de modo semelhante ao que ocorre nas reuniões pentecostais, passavam a emitir sons confusos:

“Então, ela, de maneira vã, imobilizada e exaltada por estas palavras e grandemente excitadas [...] seu coração começa a bater violentamente, alcança o requisito, cai em audácia futilidade, tanto quanto pronuncia algo sem sentido, assim como lhe ocorre” (Contra Heresias I, XIII, 3).

Fenômeno semelhante aconteceu com o herético Montano, conforme relata Eusébio:

“Ficou fora de si e [começou] a estar repentinamente em uma sorte de frenesi e êxtase, ele delirava e começava a balbuciar e pronunciar coisas estranhas, profetizando de um modo contrário ao costume constante da Igreja [...] E ele, excitado ao falar de duas mulheres, encheu-as com o falso espírito, tanto que elas falaram “extensa, irracional e estranhamente, como a pessoa já mencionada” (História da Igreja V, XVI: 8,9).

No século III, Orígenes denunciou um tal Celso, que pronunciava sons incompreensíveis:

“A estas promessas, são acrescentadas palavras estranhas, fanáticas e completamente ininteligíveis, das quais nenhuma pessoa racional poderia encontrar o significado, porque elas são tão obscuras, que não têm um significado em seu todo” (Contra Celso, VII:9).

Nota-se, portanto, que a confusão sonora nos ambientes carismáticos se identifica com esses fenômenos denunciados como falsos ou diabólicos pelos pais da Igreja.

Na afirmação constante dos doutores, o dom de línguas consiste em falar línguas estranhas existentes, e não sons desconhecidos por todos os homens. Encontramos essa posição em todos os comentadores dos textos de São Paulo, como por exemplo, em Santo Agostinho, Cirilo de Alexandria, Gregório Nanzianzeno, Santo Ambrósio, São João Crisóstomo, Didaquê Siríaca, etc.

Esse sempre foi o ensino da Igreja iluminada pela luz infalível do Espírito Santo.

Para encerrar essa questão, sem desprezar as objeções correlatas, respondemos a indagação do consulente Fábio que recorda as palavras de São Paulo, cujo teor parece contrariar a idéia de que o dom das línguas é um carisma extraordinário, isto é, concedido apenas a alguns.

Orientando os Coríntios, o Apóstolo expressa seu desejo: “Desejo que todos faleis em línguas”. (I Cor, XIV, 5).

Santo Ambrósio, Doutor da Igreja, ensina que o falar em línguas não se manifesta em todos os cristãos:

“Todos os dons divinos não podem existir em todos os homens, cada um recebe de acordo com a sua capacidade” (Do Espírito Santo II, XVIII, 149).

É compreensível que, em vista da necessidade da propagação da fé a todos os povos, São Paulo manifeste o desejo de que todos tenham o dom de línguas. Mas o Apóstolo sabe que a cada um é dado um dom particular.

Sobre seu estado celibatário, São Paulo diz: “Quisera que todos os homens fossem como eu” (I Cor, VII, 7). Entretanto, imediatamente pondera: “[...] mas cada um recebe de Deus o seu dom particular, um, deste modo; outro, daquele modo".

E esse mesmo princípio pode ser aplicado ao dom das línguas, que se tornava cada vez mais incomum, conforme se difundia a fé entre os povos.

Para não estender demasiadamente esta carta que já vai longe, indico uma resposta dada pelo professor Orlando Fedeli sobre o significado da expresão “gemidos inefáveis”, objeto da dúvida do sr. Fábio.

Noutra oportunidade poderia transcrever as explicações dos doutores sobre esses “gemidos” que, por serem inefaveis e provenientes da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, são inaudiveis e inatingiveis pela razão humana

Ademais, ousar dizer que os “grunhidos” carismáticos são gemigos inefáveis do Espírito Santo é, além de absurdo, uma blasfêmia contra a Sabedoria de Deus. Claro, supondo que um carismático já tenha “ouvido” os gemidos do Espírito Santo para identificá-lo com o gemido confuso dos carismáticos.

Espero que o assunto tenha sido exposto com a devida clareza.

Rogando vossa benção, Padre, despeço-me,

in Corde Jesu, semper

Eder Silva.

A dor de ter ofendido a Deus nas almas santas


Sta Teresa D'Avila, Doutora da Igreja

Parecer-vos-á, irmãs, que estas almas a quem o Senhor se comunica tão particularmente estarão já tão seguras de que hão-de gozá-l'O para sempre, que não terão que temer nem chorar seus pecados; e será um engano muito grande, porque a dor dos pecados cresce tanto mais quanto mais se recebe de nosso Deus. E tenho para mim que esta pena não nos deixará, até que estejamos onde nenhuma coisa no-la possa dar.

É verdade que umas vezes aperta mais que outras, e também é de diferente maneira; porque não se lembra da pena que há-de ter por eles, mas sim de como foi tão ingrata a Quem tanto deve, e a Quem tanto merece ser servido; porque, nestas grandezas que se lhe comunicam, entende muito mais a de Deus. Espanta-se de como foi tão atrevida; chora o seu pouco respeito; parece-lhe coisa tão desatinada o seu desatino, que não acaba nunca de o lastimar, quando se lembra das coisas tão baixas pelas quais deixava uma tão grande Majestade. Muito mais se lembra disto do que das mercês recebidas, sendo elas tão grandes como as ditas e as que estão por dizer; parece que as leva um rio caudaloso e as traz a seu tempo; mas isto dos pecados estão como lodo, pois sempre parece que se avivam na memória e é bem grande cruz.

Sei de uma pessoa que, deixando de querer morrer para ver a Deus, o desejava para não sentir tão habitualmente a pena de quão desagradecida tinha sido a Quem tanto deveu sempre e havia de continuar a dever; e assim lhe parecia não poder haver ninguém cujas maldades pudessem chegar às suas, porque entendia que não haveria a quem Deus tanto tivesse sofrido e tantas mercês tivesse feito. No que toca a medo do inferno, nenhum têm. O de poderem vir a perder a Deus, às vezes aflige muito; mas é poucas vezes. Todo o seu temor é que não as deixe Deus de Sua mão e O venham a ofender, e se vejam em estado tão miserável como se viram em outros tempos, pois de sua própria pena ou glória não têm cuidado; e, se desejam não estar muito tempo no purgatório, é mais para não estarem ausentes de Deus, enquanto ali estiverem, do que pelas penas que hão-de passar.

Eu não teria por seguro, por favorecida que uma alma esteja de Deus, que ela se esquecesse de que nalgum tempo se viu em miserável estado; porque, embora seja coisa penosa, aproveita para muitas coisas. Talvez que, como eu tenho sido tão ruim, me pareça isto, e esta é a causa de o trazer sempre na memória; as que têm sido boas, não terão que sentir; embora sempre haja quebras enquanto vivemos neste corpo mortal. Para esta pena não é alívio nenhum pensar que Nosso Senhor já tem perdoados e esquecidos os pecados; antes acresce à pena ver tanta bondade e fazerem-se mercês a quem não merecia senão o inferno. Penso que foi este um grande martírio em São Pedro e na Madalena; porque, como tinham o amor tão acrescido e tinham recebido tantas mercês e tinham entendida a grandeza e a majestade de Deus, seria bem duro de sofrer, e com muito terno sentimento.

Sta Teresa D'Avila, Castelo Interior

Fé como Experiência Subjetiva - Teoria Condenada Pela Igreja


Eis como eles o declaram: no sentimento religioso deve reconhecer-se uma espécie de intuição do coração, que pôs o homem em contato imediato com a própria realidade de Deus e lhe infunde tal persuasão da existência dele e da sua ação, tanto dentro como fora do homem, que excede a força de qualquer persuasão, que a ciência possa adquirir. Afirmam, portanto, uma verdadeira experiência, capaz de vencer qualquer experiência racional; e se esta for negada por alguém, como pelos racionalistas, dizem que isto sucede porque estes não querem pôr-se nas condições morais que são necessárias para consegui-la. Ora, tal experiência é a que faz própria e verdadeiramente crente a todo aquele que a conseguir. Quanto vai dessa à doutrina católica! Já vimos essas idéias condenadas pelo Concílio Vaticano I. Veremos ainda como, com semelhantes teorias, unidos a outros erros já mencionados, se abre caminho para o ateísmo. Cumpre, entretanto, desde já, notar que, posta esta doutrina da experiência unida à outra do simbolismo, toda religião, não excetuada sequer a dos idólatras, deve ser tida por verdadeira. E na verdade, porque não fora possível o se acharem tais experiências em qualquer religião? E não poucos presumem que de fato já se as tenha encontrado. Com que direito, pois, os modernistas negarão a verdade a uma experiência afirmada, por exemplo, por um maometano? Com que direito reivindicarão experiências verdadeiras só para os católicos? E os modernistas de fato não negam, ao contrário, concedem, uns confusa e outros manifestamente, que todas as religiões são verdadeiras. É claro, porém, que eles não poderiam pensar de outro modo.

Em verdade, postos os seus princípios, em que se poderiam porventura fundar para atribuir falsidade a uma religião qualquer? Sem dúvida seria por algum destes dois princípios: ou por falsidade do sentimento religioso, ou por falsidade da fórmula proferida pela inteligência. Ora, o sentimento religioso, ainda que às vezes menos perfeito, é sempre o mesmo; e a fórmula intelectual para ser verdadeira basta que corresponda ao sentimento religioso e ao crente, seja qual for a força do engenho deste. Quando muito, no conflito entre as diversas religiões, os modernistas poderão sustentar que a católica tem mais verdade, porque é mais viva, e merece mais o título de cristã, porque mais completamente corresponde às origens do cristianismo. A ninguém pode parecer absurdo que estas conseqüências todas dimanem daquelas premissas. Absurdíssimo é, porém, que católicos e sacerdotes que, como preferimos crer, têm horror a tão monstruosas afirmações, se ponham quase em condição de admiti-las. Pois, tais são os louvores que tributam aos mestres desses erros, tais as homenagens que publicamente lhes prestam, que facilmente dão a entender que as suas honras não atingem as pessoas, que talvez de todo não desmereçam, antes, porém, aos erros, que elas professam às claras, e entre o povo procuram com todos os esforços propagar.


Há ainda outra face, além da que já vimos, nesta doutrina da experiência, de todo contrária à verdade católica. Pois, ela se estende e se aplica à tradição que a Igreja tem sustentado até hoje, e a destrói. E com efeito, os modernistas concebem a tradição como uma comunicação da experiência original, feita a outrem pela pregação, mediante a fórmula intelectual.


Por isto a esta fórmula, além do valor representativo, atribuem certa eficácia de sugestão, tanto naquele que crê, para despertar o sentimento religioso quiçá entorpecido, e restaurar a experiência de há muito adquirida, como naqueles que ainda não crêem, para despertar neles, pela primeira vez, o sentimento religioso e produzir a experiência. Por esta maneira a experiência religiosa abundantemente se propaga entre os povos: não só entre os existentes, pela pregação, mas também entre os vindouros, quer pelo livro, quer pela transmissão oral de uns a outros. Esta comunicação da experiência às vezes lança raízes e vinga; outras vezes se esteriliza logo e morre. O viver para os modernistas é prova de verdade; e a razão disto é que verdade e vida para eles são uma e a mesma coisa. E daqui, mais uma vez, se infere que todas as religiões existentes são verdadeiras, do contrário já não existiriam.

Três efeitos Produzidos por Deus na alma que vai adentrando pela via da Santidade


"1- O conhecimento da grandeza de Deus, porque, quantas mais coisas virmos dela, mais se nos dá a conhecer.

2- O próprio conhecimento e humildade, ao ver como coisa tão baixa, em comparação do Criador de tantas grandezas, tem ousado ofendê-l'O, nem como ousa olhar para Ele;

3- Ter em muito pouco todas as coisas da terra, se não forem das que pode aplicar ao serviço de tão grande Deus."

Sta Teresa D'Avila, Castelo Interior.

**

Em contrário, poderíamos dizer que os efeitos de uma falsa mística contemporânea seriam:

1- A redução de Deus às próprias suposições, imaginações e criações subjetivas. Este erro é perfeitamente expresso pela corrente expressão: "Deus fala no meu coração".

2- A preocupação com a própria estima, recorrendo a métodos de sugestão para sobrelevar o próprio valor e ver-se a si mesmo como objeto particular da predileção divina.

3- Esquecer que vivemos, por ora, num exílio e passar a ver o mundo, na prática, como morada definitiva, tendo terror de um porvir e buscando construir o céu no mundo, como exilados que, ébrios pela busca de prazeres terrenos, ignoram a Pátria de onde vieram. Para estes foi que Jesus disse: "Ai de vós que rides..."

**

Se compararmos estes dois esquemas, notaremos o seguinte: na autêntica espiritualidade, o sujeito está sempre aberto à transcendência e cada vez mais desapegado do que é imediato e sensível.

Na falsa mística, ocorre justamente o contrário: há a absoluta prevalência do subjetivismo e o expurgo da metafísica.

Façamos, pois, um exame de consciência, lembrando que a falsa mística pode até aderir a um ou outro ponto da verdadeira, porém distorcendo-o, como é típico da gnose.


"Eu suspiro por maravilhas diferentes
Por outro mundo de esplendores mais sublimes
Que os do oceano, das montanhas e dos vales"
Sta Teresinha de Lisieux

Pax.

Pe. Demétrio sobre as invenções na Santa Missa

Dias e Horário do Grupo Anjos de Adoração


Para aquelas pessoas que moram próximas a nós e quiserem nos conhecer para além deste blog, o Grupo de Resgate Anjos de Adoração - GRAA está se reunindo, agora, aos sábados; não mais às quartas. E mudamos o local de nossas reuniões para a Casa dos Padres, onde podemos gozar de maior tranquilidade, mantendo, é claro, a nossa proximidade com Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento. Estamos iniciando impreterivelmente às 19:30. Os que residem por perto, participem!

Grupo de Resgate Anjos de Adoração - GRAA

Somos muito mentirosos... Mas é a Verdade que nos salva


Há uma afirmação do Nietzsche que eu considero fenomenal. Lá pelo meio do Além do Bem e do Mal, um livro de aforismos, ele afirma que nós somos muito mentirosos ou, se quisermos dizê-lo de modo mais aceitável e mais hipócrita, somos mais artistas do que pensamos. Ele nos acusa de uma grande falta de sinceridade, e qualquer um que conheça minimamente o que é o homem, haverá de concordar com o filósofo ateu. Nós, de início, tendemos a ser muito falsos, preocupados somente com o nosso ganho. Para tal, forjamos todo tipo de coisas, chegando às raias de nos enganarmos a nós mesmos.

Conforme vimos nos noticiários, ontem a cantora Amy Winehouse morreu. E, agora, observando a triste vida dessa figura, como não dizer que foi uma pobrezinha que viveu o tempo todo se enganando? Ou alguém realmente vai defender que uma pessoa passa por uma overdose de drogas porque deseja um contato com a verdade? Que me perdoem os cultores  do Santo Daime, mas isto é conversa mole. Somos muito mentirosos, e, ao invés de admitir a nossa indigência, preferimos não raro sorrir para o mundo, ostentando uma alegria que não possuímos. Nos contentamos com os caricatos e, de tanto fazê-lo, há quem termine acreditando na própria mentira.

Isto me faz lembrar o que diz o Apóstolo João, a certa altura do seu evangelho. Jesus pregava e várias pessoas se convertiam. Mas Jesus, acrescenta o Apóstolo, não se fiava neles, pois sabia o que havia no interior dos homens. De nada vale uma encenação, ou uma resolução que logo amanhã já será outra. Somos muito mentirosos! E a coisa é tal que é preciso amadurecermos um bocado para alcançar certos níveis de sinceridade, porque isto supõe um conhecimento substancial de nós mesmos. Em certo momento, Jesus dirá: "Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará". Obviamente, Jesus falava de Si mesmo, mas podemos também entendê-lo como uma opção fundamental pela verdade que se imprime na alma convertida; uma ausência de duplicidade. E isto não é qualquer coisa que se produza do dia para a noite. Para sair da alienação da mentira, é preciso aderir a Cristo de modo visceral, deixando-O lutar livremente contra os seus adversários em nós: "Pravaleça, Senhor, contra os Vossos inimigos", dizia o Salmista. Não podemos nos dar ao luxo de fazer do nosso projeto de santidade um mero teatro, uma encenação que nos massageie o ego e nos permita posar de beatos. A santidade só se constrói pelo encontro do nosso eu verdadeiro, íntimo, com o verdadeiro Cristo. É por isso que a santidade fora da Igreja é, por definição, impossível. Por santidade, eu não me refiro ao bom mocismo nem à mera cordialidade. Pois bem, se julgamos que a partir de um caricato lograremos êxito nesta empreitada difícil, terminaremos ouvindo aquele dolorido "não vos conheço" pelo simples fato de não termos sido nós mesmos. Isto é seríssimo. Em suma, a hipocrisia é mera e tola perda de tempo.

É por isto que, em todos os santos, encontraremos a doutrina de que precisamos conhecer a Deus, sem O qual nada podemos, e também a nós mesmos, o que não se faz pela adesão a teorias freudianas ou jungianas, como o querem alguns monges e padres moderninhos, mas somente pela intimidade com o próprio Deus. É o que alguém chamou de "maiêutica cristã", ou "conhece-te a ti mesmo em Deus". Teorias estranhas não apenas não ajudam, como acrescentam empecilhos. E eu o digo por mim, pois foi-me muito difícil e demorado libertar-me dos malditos sofismas freudianos aos quais, um dia, eu dei bastante crédito.

Somente com a graça de Deus chegaremos ao termo do caminho. E compreendê-lo faz uma grande diferença porque nos faz evitar trilhar caminho falso, que é qualquer um em que Deus não esteja por fundamento, e nos impede de despender esforços vãos. A falsidade do homem que busca a própria promoção utilizando-se de Deus como de um instrumento só mostra que, no fundo, ele não O leva a sério. Deus, nesse caso, é somente mencionado como estratégia para a conquista de honrarias as mais vãs possíveis. Em nada disso há a negação fundamental que Jesus pôs como condição para o discipulado: "quem quiser me seguir, negue-se a si mesmo..." O culto do homem e a busca frenética de satisfação dos prazeres a que assistimos hoje, sob o pretexto de que não podemos aderir a uma proposta pessimista e medieval, toma, como princípio, uma atitude que é antípoda ao convite de Cristo. Todo o modernismo tem essa revolta por raiz: em função do subjetivo atual, renuncia-se a tradição e o metafísico.

Mas, se formos sinceros e colocarmos Deus no centro, rechaçaremos qualquer religião ou caminho que não provenha d'Ele, o que equivale a reconhecer a falsidade do discurso da auto-suficiência humana. O subjetivo do homem, a sua opinião, serão, então, postos em segundo plano, em função de uma verdade que nos transcende e independe de nós. É aí que fazemos o exercício primordial da negação de nós mesmos e, ao fazê-lo, provocamos um encontro do nosso eu com a Verdade, donde resulta a liberdade prometida por Nosso Senhor.

Mas, para chegar aí, precisamos deixar de ser falsos, o que significa morrer em nosso falso eu. Essa é a morte da qual resulta a vida. Precisamos ser verdadeiros com Deus e conosco. Que Deus nos conceda a Sua graça porque sozinhos nada podemos, nós que, como diz Sta Teresa, somos a própria vaidade.

Fábio

Modéstia no falar




"Primeiramente, a matéria das nossas palavras há de ser plana,onde não ache tropeços à consciência, e limpa, onde não haja sombras e manchas contra a pureza do coração. Ó grande engano o nosso! Nós não queremos falar coisas boas, e queremos falar bem?" (O valor do silêncio, Pe. Manuel Bernardes)

"Se lhe apresentassem na sua mesa o pão ou qualquer outro manjar, em um prato ou vaso que houvesse servido em coisas que não são para nomear, quanto se indignaria contra o seu criado, por esta grosseria e desatenção. E quem duvida que muito mais repreensível é que a língua de um fiel, que serve de patena ao verdadeiro corpo de Cristo quando comunga, sirva de instrumento a palavras torpes e indecentes?

Quem usa de semelhante linguagem, por mais que se desculpe, dizendo que lhe não entra da boca para dentro, e que é só para rir e passar o tempo, dá claro indício de que o seu interior está corrupto. Porque oráculo é de Cristo Senhor nosso que a boca fala conforme o de que abunda o coração: Ex abundantia enim cordis os loquitur; e outra vez disse: Que do coração saem os maus pensamentos; e claro é que o que vem à língua primeiro esteve no pensamento; e ainda Sêneca assentou que o modo com que cada um fala é o translado ou cópia do seu espírito: Imago mentis sermo est; qualis vir, talis oratio... Logo, quem é acostumado a falar descomposturas, com que verdade afirma que lhe não entram no coração?

Escreve Estrabão que há na Índia um gênero de serpentes com asas como de pergaminho, que, voando de noite, sacodem uns pingos de suor tão pestífero que onde caem causam corrupção.Tais me parecem os que entre conversação soltam palavras e chistes descompostos; que são estes senão pingos de suor asquerosíssimo, que onde caem geram maus pensamentos e corrompem os costumes dos ouvintes? E se estes são gentes de tenra idade, a corrupção é mais pronta e mais certa, porque meninos são tábuas rasas onde o bem e o mal se pintam facilmente; pelo que mais respeito se deve ter a um menino, para não falar ruins palavras em sua presença, do que a homens de cãs veneráveis, porque estes sabem conhecer e reprovar o mal e aqueles não; neste caso ficará quem falou mal temeroso de achar repreensão, naquele outro ficará contente de achar imitadores. (Tratado da Castidade, Pe. Manuel Bernardes)




A Ir. Lúcia que foi apresentada ao mundo - Uma fraude?

Triste dizer, mas parece que sim... Seríssimo, isso.

Notem, sobretudo, as diferenças no queixo e nos dentes. De fato, são duas pessoas diferentes.

Vejam o video abaixo, onde o Prof. Olavo de Carvalho comenta sobre a fraude.


Neste outro video, produzido por alguém totalmente alheio à polêmica, vêem-se fotos de ambas, como se fossem a mesma pessoa. Do inicio até os 48 segundos, as imagens são da verdadeira. A partir daí, são da outra. E aí? O que dizer? Depois disto, eu me convenço de que o 3º Segredo de Fátima realmente não foi revelado de todo.

Filme do livro "Diálogo das Carmelitas"

Acabei de ler o livro "Diálogo das Carmelitas", disponibilizado pelo blog A Grande Guerra e que pode ser baixado neste link. Depois, fui dar uma pesquisada e fiquei a saber que há peças de teatro que reproduzem a história. Porém, o legal mesmo é ver que há um filme da obra; a película traz o nome "Assim Deus mandou". Disponibilizo-o aqui. Pax.



Quem quiser baixar por partes, aqui há a primeira parte do filme no Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=Lx6LWCewQ_I&feature=related

Pequim Prepara Nova Ordenação Episcopal Ilícita



CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 19 de julho de 2011 (ZENIT.org) – As autoridades chinesas anunciaram que continuarão as ordenações ilícitas de bispos, sem mandato do Papa, apesar de a Santa Sé ter confirmado a excomunhão do último bispo ordenado nestas circunstâncias.
Depois das três ordenações ilegais dos últimos 3 meses, um novo bispo ilegítimo “oficial” - ou seja, reconhecido pela Associação Patriótica dos católicos chineses – deveria ser ordenado nos próximos dias na diocese de Harbin, cujo território cobre a província de Heilongjiang, no norte do país, segundo informou Églises d'Asie.
Nesta província, já existe um bispo “não-oficial”, Dom Wei Jingyi, pastor da diocese de Qiqihar, figura conhecida entre a comunidade “clandestina” pelos seus esforços de reconciliação com os bispos “oficiais”, continua informando a agência das Missões Estrangeiras de Paris.
O candidato eleito para a ordenação ilícita parece ser, segundo esta fonte, o Pe. Yue Fusheng, de 47 anos, “administrador” da diocese há vários anos.
Em dezembro passado, na reunião realizada em Pequim, ele foi eleito como um dos vice-presidentes da Associação Patriótica e recentemente havia sido eleito bispo de Harbin, em uma dessas eleições cujos resultados são conhecidos com antecipação pelas autoridades comunistas. Roma lhe comunicou que sua candidatura ao episcopado não é aprovada pelo Papa.
“Segundo diferentes observadores, esta nova ordenação ilícita será a oportunidade para ver até onde estão dispostas a chegar as autoridades chinesas para obrigar os bispos que contam tanto com o reconhecimento de Roma como com o de Pequim a participar da cerimônia”, escreveÉglises d'Asie.
A última ordenação em Shantou, de 14 de julho, havia dado lugar a cenas nas quais se havia visto a polícia buscar, usando a força das armas, bispos que haviam se escondido para escapar das autoridades.
No documento da Santa Sé, declarando excomungado o bispo ilegítimo, são reconhecidos como “meritórios diante de Deus” estes atos de resistência, que merecem o “apreço de toda a Igreja”. “A mesma consideração se aplica também aos sacerdotes, pessoas consagradas e cristãos que defenderam seus pastores, acompanhando-os nestes difíceis momentos, mediante a oração, e compartilhando seu íntimo sofrimento”, afirmava o comunicado vaticano.
Fonte: Zenit
**
Rezemos muito pela Igreja na China.

Música Sacra deve levar à Nostalgia do Transcendente



Entrevista ao cardeal Zenon Grocholewski

ROMA, quarta-feira, 1º de junho de 2011 (ZENIT.org) - A música sacra tem de levar a viver algo de transcendente, diferente da completa banalidade dos cantos que não se adaptam à oração e que são apenas barulho.
É o que afirma o cardeal Zenon Grocholewski, prefeito da Congregação para a Educação Católica e grão-chanceler do Pontifício Instituto de Música Sacra, nesta entrevista a ZENIT, durante um congresso em Roma.
ZENIT: Como se harmoniza a música sacra com as novas tendências?
Cardeal Grocholewski: O problema não é fácil. Trata-se, por um lado, de unir a tradição da Igreja e, por outro, de dar possibilidades às novas contribuições musicais. Por isso Pio X fundou o Instituto, para estudar a problemática. Aqui estudam pessoas do mundo todo. É para formar as pessoas e sensibilizá-las quanto ao papel da música sacra.
ZENIT: Como a música sacra se integra na liturgia?
Cardeal Grocholewski: A música sacra é uma parte integrante da liturgia, e, portanto, tem que ser uma oração que expressa aquele momento. Ela não é um acessório, ela é essencial. Neste congresso, falaram mais de cem pessoas, dos mais variados ambientes, e elas deram uma contribuição para entender como conciliar a tradição com elementos novos que podemos agregar.
Hoje observamos uma completa banalidade desses cantos que não se adaptam à oração, que são apenas barulho. A liturgia precisa também de silêncio.
Por outro lado, o canto é oração coerente com a eucaristia. Na verdade, no passado, grandes músicos fizeram composições estupendas referentes à missa, como Giovanni de Palestrina. Todos fizeram muitas coisas estupendas propícias à oração.
ZENIT: Hoje talvez fosse necessário voltar a ter um pouco mais de música sacra nas igrejas, não?
Cardeal Grocholewski: Sim, seria preciso reforçar a compreensão da música sacra. Há novas composições, muitas vezes eu as ouço nas igrejas, completamente novas e muito bonitas. Por exemplo, no ano passado eu estive em Marselha, onde tinha celebrado para alguns juristas numa igreja que quase foi demolida, porque não havia fiéis.
Chegou um padre novo, e, agora, aos domingos, aquela igreja está cheia. Entre outras coisas, por causa do canto e da oração. São composições dele. Esse padre, antes de entrar no seminário, cantava nos cabarés de Paris, depois se converteu e se ordenou padre. Eu fiquei fascinado de ver que composições dele expressam a oração! Isso é oração e aquela igreja enche!
Na saída, perguntei às pessoas e muitas me diziam que vinham de longe “porque aqui se reza, o padre prega e nós o entendemos, e há uma bela música”.
ZENIT: O senhor falou de sacralidade. O que é sacralidade?
Cardeal Grocholewski: A sacralidade se expressa na medida em que se manifesta a oração, como nostalgia por algo, na medida em que se expressa a transcendência. Eu acho muito importante. Hoje, por exemplo, algumas músicas modernas, que escutamos na televisão, não têm nada de transcendental, são pura diversão aqui na terra, não têm nostalgia de nada.
Claro, não é fácil de definir, não é uma coisa física, material, se bem que existe sensibilidade na Igreja, que sabe reconhecer quando uma coisa é sacra ou não é.
ZENIT: Em alguma oportunidade, um prelado dizia que a música na liturgia nos leva a viver o que será o paraíso. O que a música sacra nos dá?
Cardeal Grocholewski: Muitas coisas belas sobre a música sacra foram escritas por Ratzinger antes de ser Papa. Agora saiu uma opera omnia de Ratzinger, e na Itália saiu um volume justamente sobre a liturgia, com 200 páginas sobre música sacra. São coisas muito bonitas. Com razão, Bento XVI sublinha que a música sacra tem que nos levar para outro mundo, para uma nostalgia do transcendente.
Não é mero som que nos tira da realidade. O Papa fala que quando se perde esse horizonte transcendente da vida humana, tudo se reduz ao terreno, mesmo a música e a profundidade do pensamento. A música tem que abrir espaço para o transcendental.
ZENIT: Há certo consenso na Igreja de que o órgão é o instrumento sacro por excelência, sem excluir outros?
Cardeal Grocholewski: Acho que sim, eu acho que, quando uma pessoa entra numa igreja, o órgão cria uma atmosfera, dá certa plenitude. Em muitas igrejas modernas, inclusive importantes, procura-se conservar o órgão.
ZENIT: O senhor daria algum conselho aos párocos, especialmente aos mais jovens?
Cardeal Grocholewski: Eu acho que precisamos sensibilizar as pessoas para a música sacra, aquela que é oração. Claro que não é possível criar um lindo coro em cada paróquia. Mas é necessário sensibilizar as pessoas sobre a sacralidade do canto que se interpreta na igreja.

Fonte: Zenit

Reconhecimento Canônico da Fraternidade O Caminho


É com imensa alegria que comunicamos que no dia 31 de julho de 2001, às 10h em Franca (Interior de SP), a Fraternidade “O Caminho” será reconhecida como Associação Privada de Fiéis. O reconhecimento será dado por Sua Excelência Reverendíssima Dom Pedro Luiz Stringhinni, Bispo da Diocese de Franca, que presidirá a Santa Missa em ação de graças.

Local: Centro de Evangelização Cenáculo

Av. Dom Pedro I, 1040, Jd. Petrâglia, Franca – SP

A Fraternidade tem se destacado pela correta doutrina litúrgica e pela zelosa prática na celebração da Santa Missa.

Diálogo de uma freira com um livre pensador


Este texto já é bastante antigo, mas, recomendando-o hoje a uma amiga, eu o reli e o achei fenomenal. Segue, então:

**
O que se vai ler é o diálogo ultimamente travado entre uma freira, abadessa ou priora de certa comunidade, nesta capital, e um jornalista que entendeu oportuno entrevistá-la.


Freira — Diz o senhor que tem qualquer cousa a tratar comigo. Pode falar.

Jornalista — Reverenda madre, eu quisera obter informações que me habilitassem a escrever com acerto sobre o seu convento, e dele dar ao público uma notícia que não se apartasse da verdade.

F. — Notícia ao público! E que temos nós com o vosso público, isto é, com o mundo de que voluntariamente nos afastamos, cortando até mesmo os laços de família que a ele nos prendiam?

J. — Não ignoro que menosprezais o mundo, mas não é menos certo que ele vos não menospreza e que se ocupa convosco. Vossa existência murada é um incentivo para a curiosidade. Por trás das chapas e das grades farejamos uns mistérios que ardemos por descobrir. Neste século de publicidade tendes o atrativo do que se recata e esconde. Natural é, pois, a trêfega indagação que ao redor desta casa vagueia, e da qual nós, os homens de imprensa, somos os órgãos naturais. Não seria, pois, preferível dizer-lhes logo o que é, por não deixarmos lugar a conjecturas talvez errôneas e nocivas?

F. — Se assim é como dizeis, o que de melhor poderíeis fazer seria explicar-lhe, ao vosso público, que por trás destes muros e nesta associação religiosa não há outros mistérios senão os da nossa religião, exarados no catecismo. Como vivemos e o que fazemos consta, outrossim, da nossa regra monástica, que muitas vezes se tem publicado.

J. — O público, ou, se preferir, o mundo não pode compreender por que, quando em torno de vós tudo se move e se agita, assim persistis na imobilidade do claustro.

F. — Não me pareceis lógico afirmando a nossa imobilidade, quando há pouco parecíeis de todo ignorar qual o nosso gênero de vida; e singularmente vos enganais acreditando que vivemos ociosas. Ainda mesmo supondo que não trabalhemos materialmente, o que não é bem verdade, ainda assim grande e importante seria a nossa tarefa. As mãos que se erguem para o céu fazem um imenso trabalho: não foi um santo, mas um dos vossos, Victor Hugo, quem o escreveu nos Miseráveis.

J. — Muito folgo, reverenda madre, que me citeis, não padres da Igreja, que não leio, mas pensadores profanos, o que mostra que os tendes lido, ao menos alguns, e isto nos abre um terreno, conhecido por nós ambos e em que sem constrangimento nos poderemos encontrar.


F. — Antes de professar li o que intitulais pensadores profanos, e estimo que isso vos traga qualquer vantagem para nos entendermos. Permiti, porém, que assinale uma das vossas fraquezas habituais. De ordinário, em vossa profissão de jornalista, quando, por exemplo, tendes de atacar a administração militar, procurais livros e autores que especialmente se ocupem da matéria. Tratados de ciência naval não faltariam na vossa biblioteca se tivésseis de escrever sobre marinha... Mas como é que todos discutis assuntos religiosos, sem conhecer ao menos os rudimentos da fé e da disciplina católica? Não falaríeis, certamente, sobre a literatura francesa do século décimo oitavo sem leitura de Voltaire; e vós mesmos, que vos propondes escrever sobre a vida monástica, jamais tendes lido um dos bons tratadistas que vos diriam o que ela seja!


J. — De boa mente confesso que aí não vos falta alguma razão, desde que a censura se dirija a mim, ou a qualquer outro publicista de penúltima classe; mas não acredito que seja fundada em relação aos verdadeiros cientistas.


F. — Haeckel, verbi gratia, o emérito propugnador do monismo, não o tendes por cientista às direitas? Pois bem, ainda outro dia ele assombrava o mundo religioso, revelando, em uma polêmica, a mais estupenda ignorância dos dogmas católicos, por isso que confundia a Encarnação do Verbo com a Imaculada Conceição de Maria. Os vossos governos, aliás, fomentam essa ignorância, proibindo que em país de católicos se ensine a doutrina católica.


J. — Isto se faz para assegurar a liberdade de consciência.


F. — Perdão: então não apanhastes o meu argumento, ou antes fui eu quem não se fez compreender. O que digo é que, independentemente de qualquer intimativa, coação ou sedução religiosa, a doutrina cristã deveria ser ensinada em vossas escolas como elemento essencial e indispensável para a compreensão da atual ordem de cousas, da civilização ambiente. Que fazeis para entender a vida grega e romana? Ler e reler a Cité Antique, de Fustel de Coulanges, ou qualquer outro autorizado especialista. Em Constantinopla, nada entenderíeis da cidade otomana e de seus usos, se de todo estranho vos fosse o Alcorão. Pois bem! viveis em uma sociedade católica — eis o fato — e sonegais aos vossos alunos o único livro que lho poderia explicar.


J. — Percebo agora, reverenda madre, a força de vosso raciocínio, e não vos negarei que, conquanto especioso, não acho de pronto com que o refutar. E igualmente vos dou o parabéns pela agudeza dialética que exibis e que, com franqueza, não pensava encontrar neste retiro, onde fora de supor que no misticismo se embotasse o gume da razão.


F. — A devoção mais fervorosa não é incompatível com o cultivo das letras; e, se acaso vos não tivera esquecido a história literária, bem presente vos seria a nossa matriarca Santa Teresa de Jesus, cujas obras ao mesmo tempo exornam a literatura sacra e enaltecem a prosa e a poesia espanholas do século décimo sétimo.


J. — Teresa de Cepeda e Ahumada foi, reverenda madre, um poderoso engenho sobreexcitado pela histeria, e que, excepcional em tudo, não pode ser trazido como regra.


F. — Nem eu vos digo que Santa Teresa deva ser tomada por espécimem comum da intelectualidade monástica; da mesma sorte que para espécimem da vossa inteligência há fora, no mundo, erradamente se apontariam extraordinários intelectos. Na canonização de Santa Teresa, em 1622, Cervantes compôs uma ode, que foi lida por Lope de Vega. Ora, entre vossos romancistas e dramaturgos não vejo quem com esses dois vultos possa suportar o confronto.


J. — Está bem, reverenda madre, e peço que a mal não tomeis aquilo que me escapou no tocante à histeria: falo como homem do meu século, ao qual repugna o sobrenatural.


F. — Duplo engano, meu filho. Em primeiro lugar não há confundir histeria com o que chamais a exaltação da nossa santa. Vossos hospitais estão cheios de histéricas, e é singular que lá esse estado nervoso só conduza a disparates e loucuras, ao passo que na monja incomparável tão acima se elevou das melhores capacidade contemporâneas. Sei que há uma escola, ou antes um grupo, para o qual todo gênio é uma efermidade mental. Napoleão foi um epiléptico... Quero crer que o perfeito equilíbrio mental seja para esses tais a mais pacata mediocridade; e neste sentido lhes concedo que hoje tantos se exibam perfeitamente equilibrados.


J. — Este seria o meu primeiro erro; e o segundo...


F. — O segundo é supordes que ao vosso século repugna o sobrenatural. Pura ilusão! Sobrenatural e preternatural (que não são o mesmo) coexistem convosco, e neles estais e viveis imersos. O milagre permanente de Lourdes desafia todos os dias os vossos cientístas, que, não podendo negar os fatos, só têm para explicá-los uma palavra: — sugestão. O preternatural? Mas acaso ignorais que nesta cidade, quotidianamente, se evocam mortos, e milhares de pessoas, aos torvos de espíritos que por eles se apresentam, pedem o segredo da saúde e o da felicidade terrena, com sacrifício da futura? Nunca, eu vo-lo asseguro, nunca tão impregnado de sobrenatural e de preternatural esteve quanto agora o gênero humano. Nesta crise de fé, Deus amiúda os milagres, e para derribar a inconsistente fábrica do materialismo estavam reservadas aos nossos tempos as experiências dos ocultistas.


J. — Consenti, reverenda madre, que vos observe estarmos já muito longe do objeto que me induziu a importunar-vos. Não me dais licença para visitar agora o convento?


F. — Não. Vê-lo-eis depois, quando o tivermos deixado aos profanadores que dele vão fazer um hotel, segundo ouço dizer1. Onde se rezava, há de haver festins e dissoluções... Tanto peior para vós! Nós continuaremos ociosas, como dizeis, ou trabalhando, como dizia Victor Hugo, com mãos e olhos alçados para o céu, que é donde baixa a complacência para os que oram e a misericórdia para os que pecam.


J. — Não receais que, mal guiada por vossos inimigos, a opinião se transvie a vosso respeito?


F. — A opinião? Não a conhecemos nem a tememos. Costumais lamentar, e quero crer que sinceramente, a privação de liberdade que nos impusemos... Mas acabais de proferir o nome de um tirano à cujo domínio estamos subtraídas: — a opinião. Dela tremeis todos, desde o primeiro magistrado da República até o último cidadão: e nós impassíveis a afrontamos, melhormente eu diria — nem sequer a avistamos. Morrem às nossas portas essas ondas lodosas que chamais escândalo. Nossos caluniadores, não podemos pessoalmente amá-los, pois não sabemos quem sejam, mas todos os dias rezamos por eles, de ordem expressa de Jesus: Orai pelos que vos perseguem e caluniam.


J. — Mas, se indiferente vos pode ser o aleive em circunstâncias normais, haveis de convir que em quadras agitadas ele pode motivar o esbulho, o desacato, a violência...


F. — Escutai, meu filho. Quando o sacrifício se faz martírio, tanto maior a graça de Nosso Senhor. lede a história da revolução francesa, e lá encontrareis, em um dos capítulos do terror, a execução das carmelitanas de Compiègne. Morreram contentes, entoando o Te Deum. A priora, uma nobre velha, reservara-se para o fim, não por prolongar de minutos a existência, mas para confortar com sua presença as mais novas, entre as quais algumas na flor da juventude. Morreram todas como os mais bravos dentre os homens! Se em uma de vossas revoluções, que tão amiúde se sucedem, alguma se lembrar de nos bater à porta, achar-nos-á junto do altar; e deste para o céu o caminho é curto, ainda que seja através do apupo e do martírio.


J. — Ninguém, felizmente, em nossa terra, reverenda madre, pensa em prejudicar-vos e menos ainda em perseguir-vos. A tolerância é um dogma da verdadeira democracia...


F. — Sei disso... Vós, por ora, nos tolerais como quem tolera o vício ou o desvairo das ruins paixões. Seja como for, será o que Deus quiser! Se nos tolerardes, como nos Estados Unidos, havemos de conquistar mansa e irresistivelmente as consciências; se nos perseguirdes, como na França e em Portugal, por nós clamarão, diante de Deus, a ignomínia e os sofrimentos a que nos submeterdes.


J. — Mais ou menos o que havemos dito formaria um artigo interessante, pela pintura de dois estados d'alma tão diversos quanto o vosso e o meu. Não haveria, talvez, mal em publicá-lo... E, neste caso, não me fixareis algum ponto, que particularmente desejareis que se soubesse?


F. — Sim. Dizei lá fora que, com amor fraterno, nós vos amamos a todos — aos que nos defendem e protegem, bem aos que nos injuriam e detraem... Dizei-lhes que a nossa prece é uma catedral que não se acaba, e que nas ogivas destas mãos continuamente alçadas há o labor de uma construção que não percebeis, porque não olhais para o céu!
  1. 1.Segundo indica este trecho, o convento onde se teria dado este suposto diálogo seria o da Ajuda, em cujo terreno foi construída a atual Cinelândia, no Rio de Janeiro.
Fonte: Permanência
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...