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Sobre trevas e luz


É… Hoje em dia, com o pseudo-progresso que a sociedade diz ter alcançado, não são poucos os que, considerando a religião mais como um estorvo à evolução dos espíritos do que como caráter essencial de sua constituição e vocação, desejam fadá-la ao passado, ao tempo “da ignorância”, à época medieval, ao tempo da escravidão. Creem estes tolinhos que com o Renascimento, deu-se início o movimento de libertação da humanidade do julgo das trevas da Idade Média, onde a Igreja era o centro das vidas humanas. Entenderam que o antropocentrismo ao invés do teocentrismo era a solução para a emancipação da humanidade. Alguns, mesmo, ousam dizer que o pecado de Adão foi o primeiro grande passo para a independência.... Mas... que independência?.... E como se acreditassem em Adão...

Vivemos num tempo de ignorância extrema. É risonha esta troca que fazem: A Idade Média, tempo luminoso de Fé e progresso é tida como a “Época das Trevas”, enquanto o tempo atual, marcado pelas sombras de um subjetivismo, de um relativismo nojento, é tido como o “Tempo da Luz”. Ora, não são os morcegos os que vêem na escuridão e se ofuscam na luz do dia? Estes mesmos animais são os que dormem de cabeça para baixo, tendo assim, uma visão invertida das coisas. Destes “morcegos” humanos nos advertiu o profeta: “ai daqueles que à luz chamam trevas, e que às trevas chamam luz” (Is 5, 20). É deplorável, mesmo, a baixeza destes que se proclamam os libertadores do povo, ou daqueles que afirmam ter se desfeito dos “tabus” que aprisionavam os homens. É cômico notar que nunca fazem reflexão profunda das coisas, ficam na mediocridade, presos ao mais superficial fenômeno captado pelos seus cegos olhos. Não vêem a trave na própria retina e, por esta janela da alma, deixaram passar tanta escuridão que, sequer, dão conta dela. São facilmente enganados. Tudo o que surja como revolução e dogma científico oposto à Fé é acatado, pois geralmente são apenas vaidade e orgulho condensados com boa dose de crueldade.

De Deus querem se desfazer. Querem acabar com Aquele que os trouxe à existência. Ora, existiria contradição maior que esta? Um homem tentando destruir o seu próprio princípio fundante, na grande ilusão de favorecer sua própria felicidade? São imitadores, marionetes dos que se mostram como grandes. São cultuadores de falsos deuses, idólatras que, forçosamente, são mordidos pela serpente venenosa do pecado. Enquanto não deixarem de visar as coisas rasteiras, como fazem as galinhas, e não olharem ao alto, para Aquele que foi erguido no madeiro, a serpente os levará à morte, e a uma morte muito mais tenebrosa que a morte corporal, a morte da alma. Querem brincar com o Juíz, diante do qual, o mais justo dos homens tem motivo suficiente para tremer. Querem pisar no Sangue derramado em favor dos homens, querem ignorar a aflição do Cristo no Getsêmani... Querem abolir Deus da história, e instaurar de vez, no terreno da própria existência, o reino do outro, que, uma vez expulso da presença de Deus, não se contentou em ir sozinho.

Como são tolos estes morcegos... como são repugnantes, como se tornaram feios e dignos de repulsa. Mas, estes que agora sorriem, afundados já em tantas trevas, incomodados com a Luz dAquele que é a própria Luz refletida através dos Seus servos e amigos no mundo; estes que jazem na mentira, espetados pelos que proclamam a Verdade, se se mantiverem ainda sob o julgo do inferno, não tarde, gritarão às montanhas para que caiam sobre si, numa tentativa desesperada de se ocultar dos olhos dAquele que a tudo vê.

Meu Deus, não permita que eu seja destes, mas que daqueles que brilharão como o sol, no alvorecer da nova vida. Livra-me, Senhor, desde já de toda verdadeira escravidão, que é a do pecado, livra-me das trevas do inferno, incidi Tua Luz em minha alma e escreve a Tua Verdade na minha mente e no meu coração. Ensina-me, Senhor, a participar nesta vida de tua solidão e das tuas dores. Faz-me amar, vence os meus vícios, arranca-me a raiz imunda do amor próprio, e conforma-me contigo, oh Amor Meu...

Sim, Senhor, Tu és a Luz dos meus olhos. Oh, e se o que entra pelos olhos é a Vossa Luz, quão grande será a Luz desta alma... Dá-me esta honra, Senhor, para Vossa maior Glória, para Vosso maior Amor.

Crux in Corde, Corde in Crux

Fábio Luciano Silvério da Silva

A Cruz não é opção, é missão.

Claudemir Leandro


Como estamos a véspera da Exaltação da Santa Cruz venho convidar a refletirmos sobre este mistério o qual segundo as palavras de São Paulo é "escândalo para os judeus e loucura para os pagãos."

Primeira reflexão: Como devemos ver a Cruz?

Recordemos Mateus 16, 21-27. Nesta passagem encontramos elementos riquíssimos que ajudarão a compreendermos este belo mistério. Observemos que Pedro, que antes havia professado de forma tão clara a Divindade de Cristo, logo ao vê-Lo descrevendo seus futuros padecimentos interpela-O com aquelas palavras: Que Deus não te permita isso, Senhor.

Vemos aqui duas posturas. A visão sobrenatural, visão divina - És o Cristo, o Filho de Deus Vivo - e a humana - Isto não te acontecerá. Esta última postura leva a Pedro receber resposta muito dura - Afasta-te, Satanás!

Facilmente vemos uma analogia com a tentação do deserto, quando Cristo expele o próprio Satanás, pois o evangelista usa palavras semelhantes. O que nos leva a cogitar quão duras são as palavras de Cristo a quem ver a Cruz com este olhar humano. Devemos então buscarmos ver a Cruz com este olhar sobrenatural, divino, que assim como foi querido por Deus Pai que seu Filho a vivesse, também quer que nós a vivamos, como vemos nas palavras Deste - Se alguém quer me seguir, renuncie a sim mesmo, tome a sua Cruz e me siga.

Segunda reflexão: A Cruz é necessária?

O foi para Cristo conforme Ele mesmo afirma no caminho de Emaús (Lc 24, 26), além disso no que descrevemos acima já mostra a sua necessidade. E só para fortalecer o argumento usamos as palavras de Paulo (At 14,22) - é necessário entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações. E ao lermos o evangelho vemos uma promessa de Cristo instigante: Ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos (...) por causa de mim (...) que não receba, já neste século, cem vezes mais (...), com perseguições. (Mc 10, 29-30).

Ultima reflexão: Quais os benefícios da Cruz?

Já vimos que os sofrimentos, perseguições, tribulações virão certamente e devemos, a exemplo de Cristo, amá-las. Mas a natureza humana, a carne, tem repulsa a eles. É neste ponto que saliento, pois, que esta é uma doutrina difícil de entendimento até para muitos que se dizem católicos e, ainda hoje, escandaliza bastante.

Mas não vos entristeceis, pois são grandes as recompensas e o prêmio é a Vida Eterna. Eis alguns benefícios conforme podemos encontrar no ensinamento da Santa Igreja: A justificação, ou seja, torna-nos conformes à justiça de Deus, que nos faz interiormente justos pelo poder da sua misericórdia. Reconcilia-nos com Deus. Configura-nos com Ele e a Ele nos une na Sua Paixão redentora.

Além disso, não nos esqueçamos que a Eucaristia, o mais augusto dos sacramentos pois nele recebemos o Doador dos sacramentos, só nos foi possível através da bendita Cruz, e é por definição o próprio sacrifício do Corpo e Sangue do Senhor Jesus, que Ele instituiu para perpetuar pelos séculos, até seu retorno, o sacrifío da Cruz.

Não é por menos que a Igreja canta: O crux, ave, spes unica - Salve, ó Cruz, única esperança.

Peçamos a Nossa Senhora das Dores, esta Mãe amável que soube estar tão fielmente aos pés do seu Filho na cruz, que nos conceda a força de não nos afastarmos deste Cristo Crucificado e que saibamos aceitar todas as tribulações e sofrimentos que venham acometer-nos.

Nossa Senhora das Dores - rogai por nós.

Claudemir Leandro

Meus colegas de faculdade...

Felipe Camarão

Depois de um penoso ano de cursinho, no qual todo vestibulando é obrigado, de bom ou mau grado, a engolir as abobrinhas servidas por professores marxistóides, recheadas de pornografia e anti-clericalismo, tive a feliz alegria de ingressar na Universidade. Ah!... Universidade!... O sonho de todo estudante desejoso de aumentar seus conhecimentos, de ampliar seus "horizontes interpretativos", como se costuma dizer! Que esperar de uma Universidade, senão um ambiente propício ao desenvolvimento intelectual, a um sadio enriquecimento cultural e a um profundo amadurecimento pessoal, que prepare os jovens para a vida adulta? Pois é, eram essas as esperanças que depositava na Universidade. Entusiasmava-me a alegria de conviver em um bem selecionado círculo de pessoas que, como eu, passaram pela peneira do vestibular. Que alegria! Que realização! Acreditava eu piamente que agora iria poder me livrar das baixíssimas conversas que se travavam no cursinho que me isolavam. Agora, estava num ambiente bem melhor, com pessoas de nível, pensava eu com ar de superioridade!... Pois bem, chegaram os dias de aula. Depois de todas as formalidades e apresentações da primeira semana e de alguns dias para conseguir destrinchar o confuso horário da minha turma (o que me valeu algumas aulas perdidas) encontrei por fim a minha classe. Qual não foi minha surpresa – e porque não alegria?! – ao saber que no meu curso havia várias pessoas que já estavam na segunda faculdade. "Pessoas realmente dedicadas ao estudo e à vida intelectual”, pensei eu. Definitivamente, seria aquele um ambiente no qual eu poderia "enriquecer minha personalidade", onde eu teria a oportunidade de "quebrar muitos paradigmas", como me garantira o coordenador do curso. Dentre os "eremitas" do estudo universitário, que bravamente lutavam pelo segundo diploma, se encontravam advogados, engenheiros, químicos, psicólogos, historiadores e até mesmo – ora quem diria? – um filósofo, como ele mesmo se autodenominara. Minha sala era, então, um ambiente "multi-cultural", como afirmou uma moiçola, que estranhamente ostentava um pedaço de ferro atravessado no nariz, objeto que mais tarde eu descobri ser um tal de "piercing". (Bem que minha boa e setuagenária avó me advertira que eu iria me deparar com coisas estranhas na cidade grande (...Mas na Universidade!...). Foram-se então passando os dias, e eu fui conhecendo meus colegas de classe. Tive logo um susto bem grande quando um dos primeiros rapazes com quem falei, doutorando em Química, se declarou "bruxo", quando lhe perguntei qual era a sua religião. Ora, essa estória de bruxaria até então me parecia superstição e ignorância. Nunca imaginei encontrar ninguém com esse estranho perfil no culto e iluminado ambiente universitário. Era bem verdade que, no cursinho, me ensinaram que os bruxos não eram tão maus assim, que maus mesmo eram os padres que, durante a terrível Idade Média – triste época onde não se podiam quebrar os "paradigmas" de uma sociedade retrógrada e onde o "multi-culturalismo" era rejeitado –, queimavam esses pobres coitados. Mas... Na Universidade moderna, onde reina a ciência e impera a técnica, alguém se declarar bruxo? E mesmo sendo esse alguém doutorando em Química? Estranho. Muito estranho esse meu primeiro contato na faculdade. Mas, "as coisas haveriam de melhorar", pensava eu, sempre otimista. Alguns dias depois desse inusitado fato, conheci outro amigo. Dessa vez o sujeito era historiador. Durante as aulas de Economia percebi uma ligeira inclinação marxista no rapaz, e lhe fui perguntar se ele o era de fato. Ele me respondeu que "sim, mas não um marxista fanático". O rapaz tinha a mente aberta e dizia-se um "marxista pós-moderno", que defendia que ninguém tinha ainda entendido Marx, o qual jamais havia postulado um reles materialismo grosseiro, onde o fator econômico seria determinante das relações humanas. A revolução se daria mesmo "pela educação e pelo respeito à diversidade", garantiu meu interlocutor. Para compreender melhor do que tratava aquela teoria, perguntei-lhe quais eram seus "gurus" intelectuais. "Nietzsche e Foucault", respondeu-me ele imediatamente, e acrescentando, depois de uma breve pausa, que ainda não os havia lido... Achei esquisito que alguém tomasse por guia intelectual um sujeito doido como Nietzsche, mas o que me surpreendeu deveras foi que alguém se declarasse discípulo de alguém que nunca lera... Neste mesmo dia tive a oportunidade de, na volta para casa, num apertado vagão de metrô – um dos símbolos do progresso da técnica que traria felicidade aos homens – conversar com uma moça que cursava psicologia em outra universidade. Ele falava de Freud e Jung, e dizia que, embora não concordasse com eles, era fato cientificamente indiscutível que a psicanálise funcionava na maioria das análises comportamentais. Diante dos meus protestos de que a teoria do Freud era imoral e absurda, a moça dizia que não gostava muito da idéia de que todos sofremos com o complexo de Édipo, mas que não tínhamos como negar que de fato as coisas ocorriam daquela maneira... Eu fiquei intrigado e perguntei como ela podia reconhecer que uma coisa era verdadeira e, ao mesmo tempo, discordar dela. Perguntei ainda se não haveria a possibilidade de os psicanalistas forçarem os dados da realidade, afim de adequá-la às suas teorias. Ela então me respondeu solenemente: "não podemos questionar a autoridade da comunidade científica". Nesse momento tive que descer o trem, pois havia chegado minha estação. E desci do trem com alivio: era absurdo demais para aturar. Depois dessas experiências um tanto frustrantes das primeiras semanas, recuei um pouco no meu ímpeto de desbravar as inteligências universitárias, cujas amizades sempre desejei compartilhar. Passei a observei melhor a minha classe e vi que o nível das conversas não era muito melhor do que as do cursinho. O burburinho da classe girava em torno das "baladas" semanais promovidas pelos veteranos e pelos campeonatos de futebol, sempre passando, para minha indignação, por piadas de baixíssimo nível. O tempo continuou passando e meu entusiasmo com o mundo universitário foi arrefecendo. Eis que um dia soube, por acaso, que tínhamos também um "filósofo" em nossa classe. Essa informação foi como uma re-injeção de ânimo em minha esperança universitária. Logo que vi nosso filósofo, corri para conversar sobre sua formação na área. Eu, que de uns tempos para cá passei a me interessar razoavelmente por filosofia, mormente a filosofia de Aristóteles e São Tomás de Aquino, esperava poder aumentar os conhecimentos que havia conseguido com meus parcos estudos. Ao conversar com meu novo amigo filósofo, lhe perguntei quais eram seus autores preferidos, o que ele havia estudado, etc. Ele me falou que não se prendia a autores, que buscava ter "uma visão mais panorâmica da filosofia". Acrescentou, porém, que recentemente estava estudando Descartes. Ora, eu havia aprendido, em alguns manuais de tomismo, que Descartes marcava uma ruptura com a filosofia perene e, por isto, sempre lhe tive muita reserva. Perguntei ao filósofo se ele não achava estranha a epistemologia cartesiana, que negava a autoridade dos sentidos como ponte entre a inteligência e o mundo exterior. Ele então me disse que, no começo, achou as idéias cartesianas "meio loucas", mas que tudo era "uma questão de interpretação". Adiantou-se em afirmar que, ao negar que o sentidos sejam meios seguros de conhecimento, Descartes não negava a existência do mundo extra-mental, como alguns idealistas delirantes. Disse meu amigo filósofo que o que mais o havia impressionado em Descartes era – pasmem! – o fato de que ele havia conseguido "provar a existência do outro". Essa descoberta -- dizia-me o filósofo -- "era muito importante em política", pois, sendo a existência do outro provada, "não poderíamos mais tratá-lo como objeto, e sim com sujeito". Essa seria uma descoberta "sem dúvida genial", garantiu meu filósofo. Eu, que conheço pouca ou nada de filosofia, protestei, afirmando que, segundo Aristóteles, a existência do outro e dos objetos da percepção sensível não poderia jamais ser provada, já que se tratava de uma evidência. "A evidência se constata, não se prova. Só os loucos tentam provar a evidência", sustentei eu, repetindo o que me ensinou o estagirita. Meu colega continuou afirmando, sem levar muito em conta a opinião de Aristóteles, que "mesmo assim, a posição cartesiana é válida, dada sua importância política". Eu tentei replicar, tentando fazê-lo ver quão absurda é a teoria de que é necessária uma prova de que o outro existe. Ele, dando mostras que não se interessava muito por polêmicas, terminou a conversa com uma frase solene: "no fim, tudo se resume a uma questão interpretativa, onde todos as posições têm seu valor"... E assim terminou – frustradamente – minha epopéia universitária em busca de conversas intelectualmente proveitosas. Tive a infeliz oportunidade de perceber que o homem moderno vive na mais absurda "alienação", a alienação do bom senso, e defende as teorias mais gagás, sem nenhuma relação com a realidade. Logo me veio à cabeça às palavras do Papa, que tanto tem criticado essa cruel "ditadura do relativismo", onde cada um cria sua verdade, de acordo com seus critérios, resumindo todo conhecimento a uma questão de vontade. A ditadura do relativismo, no fundo, é uma negação da razão, uma negação da possibilidade do homem conhecer as coisas objetivamente. O mais engraçado é que, justamente, o mundo moderno se pretende um iluminado filho do racionalismo, uma reação ao obscurantismo medieval, quando reinava o fundamentalismo e a ignorância... Quanto aos meus colegas, apesar da flagrante – e hilariante – superficialidade intelectual, pude ver claramente que eles se julgavam o supra-sumo da intelectualidade brasileira... ...O triste, para o país, é que eles parecem que o são...
Nossa Senhora Aparecida tenha pena do Brasil.


Felipe Camarão - "Meus colegas de faculdade..." MONTFORT Associação Culturalhttp://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=cronicas&artigo=colegas_faculdade&lang=bra Online, 19/09/2008 às 11:27h

S. Pe. Pio chorando durante a Santa Missa

S. Pe. Pio chora enquanto celebra, devido à profunda meditação da Paixão de Nosso Senhor...
Sem comentários...

A INEXCEDÍVEL FORMOSURA DE MARIA, SENHORA NOSSA


Escreve o Padre Euzébio de Nieremberg, referindo-se a outros autores, o seguinte caso admirável. Um clérigo, devotíssimo de Nossa Senhora, considerando quanta seria a formosura daquela soberana Virgem, que excede incomparavelmente a todas as formosuras que Deus criou no Céu e na terra, se ascendeu em fervorosos desejos de a ver. E como os que nascem do amor santo e sincero tem seus atrevimentos e confianças pias, fez instante e continuada petição à mesma Senhora que o deixasse ver sua formosura, para mais a venerar e estimar. Foi-lhe revelado por um anjo, que não se podia ver tão grande Majestade sem que perdesse a vista, por quanto não era decente que olhos que viram a Senhora se empregassem em outros objetos da terra. O clérigo respondeu, como animoso e namorado, que não importava que ficasse cego, contanto que lograsse tal excessiva dita. Mas, advertindo depois que, perdendo a vista, ficava reduzido a pedir esmola de porta em porta para sustento da vida, lhe pareceu que seria conveniente abrir um só dos olhos, para lograr o favor e reservar outro para a sua necessidade. Assim se fez quando a Senhora se dignou aparecer-lhe: e vendo, ainda que só por um relâmpago, tanta graça e tão aprazível beleza; quis mui depressa abrir ambos os olhos, para melhor lográ-la. E já no mesmo instante, tinha a Virgem desaparecido. E o seu devoto, ainda que se achasse meio cego, dizia consigo, com grande mágoa e sentimento: Que teria importado se eu perdesse mil olhos, se mil tivesse? Ó, se durasse mais aquele favor! Assim vos ausentastes, ó Mãe amabilíssima; vi-vos, e não vos vi, ó beleza incrível: com este pinguinho de orvalho me acendestes mais a sede. Ó, já que não ceguei totalmente de ver, cegue eu agora de chorar! Mas vós, ó Sacratíssima Virgem, mais piedosa sois do que eu posso imaginar. Ora, Senhora, vinde ainda outra vez; vinde, ó formosíssima: eu de boa vontade quero cegar de todo; antes o terei por grande interesse. Estes, e outros semelhantes requerimentos fazia aquele devoto: e é tão pia e benigna a Senhora, que admitiu a petição, e a despachou melhoradamente. Porque a mesma luz excessiva, que no primeiro relâmpago o deslumbrou, e lhe cegou um dos olhos, no segundo lhe deixou a vista restituída e clara.

Pe. Manuel Bernardes
(De "Tratados Diversos", pág. 397-398)

Fonte: www.permanencia.org.br

Tu és Pedro!


Renunciar a si mesmo

Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. No evangelho deste domingo escutamos Jesus, que diz: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á.

O que significa «renunciar a si mesmo»? E mais, por que se deve negar a si mesmo? Conhecemos a indignação que suscitava no filósofo Nietzsche esta exigência do Evangelho. Começo respondendo com um exemplo. Durante a perseguição nazista, muitos trens carregados de judeus partiam de todas as partes da Europa para os campos de extermínio. Eram convencidos de embarcar por falsas promessas de serem levados para lugares melhores para o seu bem, enquanto que, ao contrário, eram levados para a destruição. Às vezes, acontecia que em alguma parada do comboio, alguém que sabia a verdade gritava às escondidas para os passageiros: Desçam, fujam. E alguns conseguiam.

O exemplo é um pouco forte, mas expressa algo sobre nossa situação. O trem da vida no qual viajamos vai para a morte. Sobre isso, ao menos, não há dúvida. Nosso eu natural, sendo mortal, está destinado a termianr. O que o Evangelho nos propõe quando nos exorta a renunciar a nós mesmos e a descer deste trem é subir no outro que conduz à vida. O trem que conduz à vida é a fé n'Ele, que disse: «Que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá».

Paulo havia realizado este «transbordar», e o descreve assim: «Já não sou eu quem vive, mas é Cristo que vive em mim». Se assumimos o eu de Cristo, convertemo-nos em imortais, porque ele, ressuscitado da morte, não morre mais. Isso é o que significa as palavras que escutamos: «Aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á». Portanto, está claro que negar-se a si mesmo não é uma operação autolesionadora e renunciadora, mas o golpe de audácia mais inteligente que podemos realizar na vida.

Mas devemos fazer imediatamente uma precisão: Jesus não nos pede para renegar o «que somos», mas «aquilo no que nos convertemos». Nós somos imagem de Deus, somos, portanto, algo «muito bom», como disse Deus mesmo no momento de criar o homem e a mulher. O que temos que renegar não é o que Deus fez, mas o que nós fizemos, usando mal nossa liberdade. Em outras palavras, as tendências más, o pecado, todas essas coisas que são como incrustações posteriores superpostas ao original.

Há alguns anos, descobriram-se no fundo do mar, no mar Jônico, duas massas informes que tinham uma ligeira semelhança com corpos humanos e que estavam recobertas de incrustrações marinhas. Foram levadas à superfície e limpas pacientemente. Hoje são os famosos «Bronzes de Riace» (estátuas gregas de grande beleza, que representam dois homens, e que estão datadas no século V antes de Cristo, N. do T.) custodiados no museu de Reggio Calábria, e estão entre as esculturas mais admiradas da antiguidade.

São exemplos que nos ajudam a entender o aspecto positivo que há na proposta do Evangelho. Nós nos parecemos, no espírito, a essas estátuas antes de sua restauração. A bela imagem de Deus que deveríamos ser está recoberta de sete estratos que são os sete pecados capitais. Talvez seja conveniente trazê-los à memória: soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça. São Paulo chama esta imagem desfigurada de «imagem terrestre», em oposição à «imagem celeste», que é a semelhante a Cristo.

«Renunciar a si mesmo» não é portanto uma operação para a morte, mas para a vida, para a beleza e para a alegria. Consiste também em aprender a linguagem do verdadeiro amor. Imagine, dizia um grande filósofo do século passado, Kierkegaard, uma situação puramente humana. Dois jovens se amam. Mas pertencem a dois povos diversos e falam duas línguas completamente distintas. Se seu amor quer sobreviver e crescer, é necessário que um dos dois aprenda o idioma do outro. Caso contrário, não poderão comunicar-se e seu amor não durará.Assim, comentava, sucede entre Deus e nós. Nós falamos a linguagem da carne, ele o do espírito; nós o do egoísmo, ele o do amor. Renunciar a si mesmo é aprender a língua de Deus para poder comunicar-nos com ele, mas é também aprender a língua que nos permite comunicar-nos entre nós. Não somos capazes de dizer «sim» ao outro, começando pelo próprio cônjuge, se não somos capazes de dizer «não» a nós mesmos. No âmbito do matrimônio, muitos problemas e fracassos do casal dependem de que o homem nunca se preocupou em aprender o modo de expressar o amor à mulher, e a mulher o do homem. Também quando fala de renunciar a si mesmo, o Evangelho, como pode ser visto, está muito menos afastado da vida do que as pessoas acreditam.

Meditação sobre a passagem evangélica do XXII domingo do tempo comum

CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 29 de agosto de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, OFM Cap., pregador da Casa Pontifícia, à liturgia do próximo domingo.
XXII Domingo do Tempo Comum
Jeremias 20, 7-9; Romanos 12, 1-2; Mateus 16, 21-27

Enviado por Márcio Batista

Vida Sacramental

Estaremos disponibilizando aos leitores, que ainda são poucos, algumas formações sobre os Sacramentos e a sua vivência constante. Atualmente, ao nosso derredor, podemos assistir a triste banalização da vida sacramental no cultivo de uma falsa mística onde os Sacramentos são meros complementares, onde já não importa a pertença à Santa Religião Católica, mas o critério para saber se o “cristão” é realmente válido tem sido apenas a questão das “experiências” sensíveis. Vivemos num tempo de calamidades litúrgicas, e, não raro, encontramos estes defensores de inovações, as mais ridículas, por aí... É, meu caro.. estão soltos e ensinando o que não sabem... cegos que guiam cegos: ambos cairão no mesmo buraco.

Por isso, é sempre benéfico expor o que a Santa Doutrina ensina sobre os Sacramentos e sua indispensável importância na vida cristã... viram o termo que usei? Indispensável... justamente isto. Não é mero capricho ou mero complementar, é necessidade para o autêntico cristão.

O termo sacramento vem do grego Myisterium que, mais tarde dará origem, tanto ao termo “sacramento” quanto a “mistério”. Percebemos, então, por essas derivações que é próprio dos Sacramentos terem o caráter do mistério. O que caracteriza este mistério não é a impossibilidade de se conhecê-lo, mas justamente o fato de ser inesgotável, de não se encerrar... é preciso reconhecer que, embora seja muito profundo o que se pode saber, é sempre maior o que falta conhecer. Ou, na linguagem sanjoanista, tratamos então das notícias de tais verdades, enquanto a substância deles permanece oculta. A Igreja diz que, aquilo que então era manifesto e visível na vida humana do Cristo, após Sua ressurreição e ascensão, dá-se a partir do mistério, de forma velada, onde devemos ir por Fé. Diz ainda que os Sacramentos são sinais visíveis de graças invisíveis. Sobre esta necessidade de se ir por Fé, S. Paulo nos dá o conceito exato do que é esta virtude teologal: “É o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê” (Heb 11). Podemos traçar um paralelo entre esta passagem e a advertência que Nosso Senhor faz a S. Tomé: “Felizes os que crêem sem ter visto”. Em toda a doutrina e em toda a escritura sempre veremos uma exaltação à Fé. Abraão é chamado o “pai da Fé” porque tendo ouvido de Deus a ordem de sair de sua casa e a promessa da terra prometida, sem exigir nenhuma evidência do cumprimento da promessa divina, lançou-se na viagem. O crer antecede a experiência sensível e mesmo a compreensão. Neste sentido também nos diz S. Paulo: “Crede e compreenderás”. O caso do “sem ter visto” estende-se a toda e qualquer evidência sobre o objeto a ser acreditado. Os sacramentos, por tanto, devem ser cridos, sem exigir-lhes comprovações. Para confirmar-lhes a autenticidade, é bastante a autoridade da Igreja conferida pelo próprio Senhor.

Mas, qual a função dos Sacramentos? Por que são indispensáveis? É possível ser cristão sem observá-los? A resposta, de antemão, damos: é não! O fato de serem indispensáveis, indica que são irrenunciáveis. Ou se os observa, ou não se é cristão. Mas, então, expliquemos um pouco algumas coisas...

Assim como Adão pecou e, por Adão, todos pecaram, assim também a Redenção deveria ser universal. Nosso Senhor, morrendo na cruz, redime a humanidade e o faz de forma atemporal, isto é, aproveitam dos efeitos da Paixão do Senhor os que viviam então contemporâneos ao fato histórico, os homens do passado e, também, todas as gerações futuras. Com relação a estas, se faria a exigência de que, para serem de fato favorecidas pelos méritos de Cristo, se incorporassem na Igreja que Ele mesmo fundou, no Seu corpo místico. Essa tal Igreja é a Igreja Católica que vem desde os Apóstolos. Em verdade, esta Igreja surge, mesmo, aos pés da Cruz, do lado de Cristo, o Novo Adão adormecido. É a Nova Eva, assim como a primeira Eva surgiu do lado do primeiro Adão entregue ao sono. Cristo, no sono da morte, inicia a Igreja ao derramar, do seu lado aberto, Sangue e Água, os símbolos da Igreja: o Sangue é a Eucaristia, o próprio Cristo, vértice e fonte de toda prática religiosa autêntica. A água é o Batismo, pelo qual somos inseridos neste Corpo Místico de Cristo e recebemos a vida da Graça. Os Sacramentos, pois, pela própria vontade e instituição de Cristo, são sinais pelos quais vêm a nós os efeitos da Redenção. É por eles, como que por portas, que nos expomos aos raios salvíficos do Sol da Salvação. Estes sacramentos, pois, estão validamente na Igreja, que foi a quem Jesus deu autoridade para ministrá-los. Funcionam, então, como pontes, ligações estabelecidas entre os homens e Deus.

Esta autoridade, de forma absurda, é negada pelos protestantes à força de omissões que fazem dos textos sagrados. Mas, convém saber que ela se fundamenta nas palavras do próprio Jesus. Por exemplo, Jesus diz a Pedro e aos Apóstolos (hierarquia da Igreja e não a qualquer um): “A quem perdoardes os pecados, ser-lhe-ão perdoados. A quem os retiverdes, serão retidos”, “Dou-vos o poder de ligarem e desligarem, unirem e desunirem. O que vocês ligarem na terra será ligado no Céu, e o que vocês desligarem na terra, será desligado no Céu”. Por fim, Nosso Senhor ainda diz à Sua Igreja: “Quem vos ouve, a Mim ouve. Quem vos rejeita, a Mim rejeita”. Prova disto, é quando fala a S. Paulo, no episódio de sua conversão: “Saulo, por que me persegues?”
Cristo identifica-se com Sua Igreja bendita, Sua esposa, a quem tanto ama e por quem deu Sua vida. Portanto, aqui compreendemos bem três verdades: que os sacramentos foram instituídos pelo próprio Jesus, que a autoridade para ministrá-los foi dado somente à Igreja Católica e que é por eles que vêm a nós os efeitos redentores da Paixão. No entanto, veremos que em um deles, embora seja bem recomendável, não se torna estritamente necessário que se dê por um representante da Igreja... Mais à frente trataremos desta questão.

Importa saber que para estarmos em comunhão com Cristo é preciso ter vida sacramental, isto é, freqüência nos Sacramentos....

Bem, como introdução acho que já está bom. Cabe-nos, então, tão logo quanto pudermos, expor de forma clara e objetiva quantos e quais são os Sacramentos e as características particulares e essenciais de cada um, bem como as associações que se dão entre alguns deles.
Até a próxima oportunidade.

Que Deus os abençoe, em Maria.

Fábio Luciano Silvério da Silva

Contra a falsa noção de ecumenismo

Hoje em dia, tempo de relativismo, onde o termo “ecumenismo” tem sido solto por aí, muitas vezes com uma conotação que ele não tem, muitos têm se dado a reconsiderações sobre o papel da Igreja Católica. Parece que, enfim, a partir do Concílio Vaticano II, por uma falsa hermenêutica (interpretação) já condenada por Bento XVI, há quem esteja interessado em espalhar uma falsa noção de ecumenismo, que mais se identificaria com o sincretismo, filho do relativismo e do indiferentismo religioso, reinantes no mundo contemporâneo. E ainda dizem que a chamada Idade Média é que era a Idade “das trevas”. Mas, vamos ver o que a Igreja diz sobre este tema...

Primeiro, não se pode falar em ecumenismo com religiões não cristãs. Neste caso, temos um diálogo inter-religioso. Nestas relações com movimentos religiosos diferentes, cristãos ou não, a Igreja tem duas políticas de ação: a chamada comunicatio in spiritualibus e a Comunicatio in Sacris. Na primeira, há uma comunhão de oração, de espiritualidade. Esta é utilizada com mais freqüência. Com relação à segunda, há já uma unidade de celebração, e os critérios para tal são muito mais estritos, satisfazendo-os apenas algumas Igrejas Ortodoxas de legítima sucessão apostólica e uso dos sacramentos.

Em se tratando puramente de Ecumenismo, podemos apenas atribuir o reto uso deste prática entre a Igreja e outros movimentos que se professem cristãos. Mas, eis aí justamente a questão. Muitos têm mal interpretado esta relação como se houvesse uma “igualdade” entre as duas interpretações das coisas sagradas. Mais uma vez, esta “igualdade luterana” tem se infiltrado sorrateiramente nos ambientes, mesmo cristãos, e espalhado seus venenos. Não é assim. Não se trata da falsa noção de que o ecumenismo serve para uma possível evolução das visões acerca de Deus. Isto implicaria uma teoria já condenada pelo Papa Bento XVI segundo a qual nenhum sistema ou filosofia poderia afirmar-se capaz de dar conta de toda a realidade, sendo assim, dotada apenas de uma visão parcial. Dentro desta perspectiva, diferentes interpretações seriam, então, complementares. Cristo, desse modo, completaria aquilo que fora iniciado por Buda, por Krishna, etc., ou mesmo, uma Igreja se focaria num aspecto do Cristo, enquanto outra se debruçaria sobre um outro, fazendo assim com que tal união “ecumêmica” as fizesse evoluir. Ora, tudo isto é contrário à Fé e nada disso se inclui na proposta católica de ecumenismo. Algo que evolui é porque nunca foi perfeito. A reta noção de ecumenismo inclui, necessariamente, dois aspectos comumente desconsiderados:

Que não haja um tal indiferentismo entre a Igreja Católica e os demais sistemas. Ter este indiferentismo seria pecar contra a Fé, negar a realidade objetiva e apelar, mais uma vez, para o subjetivismo, onde a opinião pessoal teria precedência de valor em relação à realidade exterior. Isto é heresia, e não corresponde com o próprio conceito de Verdade, que é única e absoluta. Já vimos que não convém considerar que, uma vez que exista este real, cada sistema religioso lhe abarcaria uma parte. O dado revelado o foi de forma absoluta. Jesus é a total verdade sobre o Pai: “ninguém conhece o Pai senão o Filho”. Cristo é a Verdade que deu-se totalmente. Não há outras além dEle. E é óbvio que, existindo de fato, não lhe correspondem as inúmeras interpretações, muitas delas opostas, sobre uma mesma realidade objetiva. Cristo é um só e, como católicos, devemos crer que a plenitude da Revelação está somente na Igreja Católica, fundada por Ele mesmo. Qualquer um, então, que deseje fazer um diálogo ecumênico, de acordo com o que ensina a Santa Igreja, jamais deve vestir-se desta indiferença com relação à Verdade. Deve saber, de antemão, que dispõe de doutrina plena, de Verdade irrefutável, de Revelação Infalível.

O diálogo ecumênico jamais acontece, legitimamente, sem que haja a exposição da Verdade, isto é, da interpretação católica, munida da autoridade do próprio Cristo, seu Esposo. Sabendo que todos os homens são ordenados para a Verdade, para o Bem e para a Beleza, a exposição da doutrina católica, luminosa em si, perfeita, belíssima e sumamente verdadeira, pois ensinada por um Deus, despertará, se mostrada em sua autenticidade, a concordância do ouvinte. Sempre consideramos que a Santa Igreja satisfaz os mais profundos anseios do homem. Ela é de fato a Cidade de Deus, querida e fundada por Seu Filho. Aqueles que lhe resistem faltam com a sinceridade ou não abrem os olhos o bastante para verem.

Enfim, o ecumenismo não tem nada a ver com esta troca religiosa que muitos pregam hoje em dia. O ex frei Leonardo Boff, em um artigo seu, parabeniza um grupo de freiras que, tendo estabelecido morada numa tribo indígena, após 50 anos, não converteram sequer um índio. Afirma ele que isto é que é respeito pela cultura e que é, de fato, o Evangelho. Mas não foi isto o que Nosso Senhor nos ordenou: “Ide e ensinai a toda criatura e batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. As irmãs, agindo da forma como agiram, pecam gravemente contra a Fé, negam o batismo para os índios, sem o qual não podem adquirir a vida da graça. Igualam a sua fé com a crença pagã dos nativos e, então, no final de tudo, ainda acreditam serem boas cristãs por isso... é lamentável. Vários papas e doutores, entre eles Sto Agostinho, já haviam criticado essa falsa noção de liberdade que mais corresponde à “liberdade de condenação”, totalmente oposta à proposta do Evangelho.

Que nós não caiamos neste erro de relativizar as coisas. Em verdade, o mundo atual gosta de fazer isto, de misturar tudo, de criar inovações e novidades. Mas Nosso Senhor, seriamente, nos ordena: “não vos conformeis com este mundo”.

Fábio Luciano

Sobre o desenvolvimento do cânon

De vez em quando, temos visto alguns hereges protestantes insistirem em ofender a Santa Igreja em alguns pontos estratégicos onde, sabendo repeti-los, não resistem, porém, a uma argumentação mais séria. São, por vezes, opiniões gratuitas, descontextualizadas, movidas tão somente de ódio e malícia, sem qualquer objetividade. Uma destas questões trata sobre a lista dos livros canônicos, onde afirmam que a Igreja fez acréscimos, introduzindo no conjunto dos livros inspirados, outros contendo doutrinas contraditórias com a ensinada por Nosso Senhor. Nada disso, porém, corresponde à verdade e importa que tratemos, de forma clara, sobre a origem desta escolha, sobre o critério utilizado para reconhecer a canonicidade dos livros contidos na Bíblia.

Antes, porém, convém refletirmos sobre alguns aspectos da Igreja e da Verdade revelada. Primeiramente, católicos e protestantes estão em consenso sobre o evento da Revelação. Realmente, Deus revelou-se ao mundo por meio de Seu Filho Jesus Cristo. Ora, Deus é absoluto e uno. Consequentemente, a Verdade é também una e absoluta, ela é exterior ao homem, ela é dada ao homem. Não é assim, porém, que entendem os protestantes que, liderados por Lutero na Reforma Protestante, passaram a defender o valor do “Livre Exame”, isto é, retiraram toda a objetividade da religião e passaram a tratar-lhe apenas de forma subjetiva. Segundo Lutero, ao ler a Bíblia, cada fiel teria a inspiração direta do Espírito Santo. Em consequência, sua interpretação seria infalivelmente a certa. A verdade de Lutero é puramente subjetiva. Isto, porém, tem conseqüências desastrosas: primeiro, tira toda a objetividade das coisas. Segundo, mostra que não há verdade, pois, se há duas interpretações diferentes válidas, então haverão mil interpretações diferentes válidas, sem falar que muitas delas serão contraditórias. Ora, o Espírito Santo é um e não se opõe a si mesmo ou, como dizia Jesus, um reino não pode se dividir contra si mesmo. Em terceiro lugar, ao retirar qualquer autoridade exterior ao próprio homem, Lutero faz do homem o próprio verbo, pois, então, o pensamento do homem seria precedente à realidade ou, antes, criaria a realidade. Esta seria a conseqüência da sua interpretação. Mas, em toda a história, a única pessoa que ao pensar cria o mundo é o Verbo de Deus. Quanto ao homem, Sto Tomás de Aquino qualificava como pensamento verdadeiro aquele que corresponde ao objeto do conhecimento, isto é, ao real. Neste sentido, se fala de visão objetiva. Vemos, então, que o “achismo” de Lutero é responsável, enfim, pelo grande número de igrejolas que nascem aqui e acolá por pessoas que, em sua vaidade, acham que são o verbo de Deus. No fim, percebemos como isto tudo é ridículo.

Se Deus revelou-se (o que é fato), logicamente cuidaria para que a Revelação permanecesse íntegra, e assim o fez. Cristo, Verbo de Deus, funda Sua Igreja e confia Sua Verdade, que é Ele mesmo, aos Apóstolos e à Igreja que cuidaria de transmitir esta Verdade a todo o mundoaos apSua Igreja e confia Sua Verdadeçolverdadeiro aquele que corresponde ao objeto do conhecimento, segundo a própria ordem de Jesus: "Ide e anunciai a todos os povos"... "Quem vos ouve, a mim ouve. Quem vos rejeita, a mim rejeita". "Batizai a todos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo", "Eis que esto convosco até o confim dos tempos". Primeiro, será que Deus esperaria 1.500 anos para dar a reta interpretação da Sua Verdade? Se assim fosse, Ele teria encarnado justamente neste tempo. Segundo, devemos reconhecer a autoridade do Cristo dada à Sua única Igreja: "dou-vos o poder de ligarem e desligarem, unirem e desunirem. O que vocês ligarem na terra, será ligado nos Céus. O que desligarem na terra, será desligado nos Céus". Também é oposto à Verdade a suposição de que a Igreja teria se corrompido depois de algum tempo, pois o próprio Cristo prometeu: "as portas do inferno não prevalecerão contra a minha Igreja" e, como já foi expresso, "eis que estou convosco todos os dias até o fim dos tempos". Há ainda outra promessa de Jesus com relação ao Espírito Santo, que seguiria formando a Igreja: "Enviarei a vós o Paráclito e Ele vos recordará tudo quanto vos ensinei" e "muitas coisas tenho ainda a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora", donde deduz-se que Cristo permaneceria guiando e conduzindo a Sua Igreja. Dizer que ela se corrompeu é dizer que Jesus mentiu, o que é ilógico. A Igreja é o Corpo Místico de Cristo e, em virtude dEle, ela é perfeita. É também a Sua amada Esposa, com quem se faz uma só carne, conforme o próprio Cristo diz a S. Paulo que, então, a perseguia: "Saulo, Saulo, por que me persegues?" Eis a profunda identificação de Cristo com Sua Esposa, a Igreja. É logicamente absurdo supor que Cristo seria infiel à Sua esposa. Por aí, compreende-se o pecado gravíssimo em que estão submersos estes hereges conhecidos como protestantes. Daí, com a autoridade dada pelo próprio Cristo, a Igreja poder proclamar infalivelmente, no IV Concílio de Latrão: "Não há Salvação fora da Igreja". É esta é a única via construída por Cristo para a Salvação do homem. E é nela que estão os Sacramentos, que trazem a nós os efeitos da Paixão de Nosso Senhor. Dito isto, passemos ao caso dos cânones da Bíblia.

Embora esta questão inclua os dois Testamentos, ela é mais complexa com relação ao Antigo. De fato, existiram dois cânones: o de Alexandria, também conhecido como "Versão dos Setenta" (Septuaginto) que é o verdadeiro e sempre foi usado pela Igreja, desde o tempo dos Apóstolos. E há também o da Palestina, em hebraico, assumido somente pelos fariseus. Eles foram escolhidos em reuniões onde os participantes julgavam criteriosamente quais os livros que deveriam compor a Sagrada Escritura. No primeiro caso, a tradução era grega, do séc. III a.C., e setenta e dois sábios judeus haviam se reunido em Alexandria, no Egito, por causa da diáspora. Os Apóstolos se utilizavam desta Bíblia e, das referências feitas ao Antigo Testamento pelo Novo, trezentas citações reafirmam o uso da Bíblia dos setenta.

O Cânon da Palestina aconteceu em virtude de uma reunião ocorrida em, mais ou menos, 100 d.C., na cidade de Jâmnia, e os critérios para a escolha dos livros canônicos era os seguintes: o livro que fosse escrito fora de Israel já era excluído da relação. Também não podia conter textos em aramaico ou em grego, somente em hebraico. Enfim, não podia ter sido escrito após a época de Esdras (458-428 a.C.). Vê-se que eram critérios densamente nacionalistas. Os livros existentes no cânon dos setenta e excluídos do de Jâmnia são chamados de deuterocanônicos e são, basicamente, sete: Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico, Sabedoria, I e II Macabeus, e algumas partes gregas de Ester e Daniel.

Vê-se, por isto, que a escolha do primeiro cânon, isto é, o de Alexandria, era o usado por Nosso Senhor e os Apóstolos e é também o mais antigo, enquanto o da Palestina, sendo mais recente, assumia como critérios para a validade dos livros, o simples nacionalismo. Assim sendo, não há lógica dizer que os católicos, que mantêm o primeiro cânon, fizeram algum acréscimo mas, antes, que os reformadores, seguindo então o cânon de Jâmnia, REDUZIRAM a lista de livros canônicos. Aliás, isto já não deve surpreender-nos, pois vimos como os protestantes, crendo estarem auxiliados diretamente pelo Espírito Santo, têm feito coisas ridículas em toda a história de seu triste movimento.

Com relação ao Novo Testamento, a coisa simplifica um pouco. É sabido que houveram muitos escritos e que, diante da novidade cristã, muitos se entusiasmavam em escrever algo. No entanto, muitos destes escritos, provindos de pouca compreensão da Fé, continham heresias, algumas bem absurdas. Além dos livros escritos pelos Apóstolos, estes sim confiáveis, outras pessoas, de diferentes comunidades também dedicavam-se a escrever. E era comum que, para certificar-se de que alguém iria ler aquilo, os escritores usassem nomes de pessoas conhecidas do Cristianismo. Neste sentido há, por exemplo, o Apocalipse de S. Pedro, o Evangelho de Sta Maria Madalena, o Evangelho de Tomé, entre outros. Os Apóstolos, bem instruídos com relação à doutrina de Nosso Senhor, assumiram como critério para a validade de tais livros justamente a integridade da doutrina.

Temos que compreender que, antes do surgimento da bíblia do Novo Testamento, a Igreja já transmitia as verdades da Fé pela Tradição, uma das fontes de Revelação que a Igreja Católica observa. É por isto que o Apóstolo diz que a Fé vem pelo ouvir. Demorou-se muitos anos até que se compusesse os livros do Novo Testamento, e, até lá, a evangelização era feita pela voz. A Bíblia neo-testamentária só foi possível por causa da tradição. Foi ela que manteve a integridade da doutrina ensinada por Nosso Senhor. Interessante que os protestantes negam a Tradição, mas usam do livro dos Atos que é já o início da Tradição da Igreja. Se, como vimos, Nosso Senhor iria continuar a formar Sua Igreja, é óbvio que nem tudo estaria na Bíblia e que, aliás, a Bíblia seria filha da Igreja e não mãe dela. Foi a Igreja que formou os livros canônicos do Novo Testamento. Os demais eram chamados de apócrifos e, até hoje, gravitam por aí, fazendo muito uso deles os movimentos de cunho gnóstico, na tentativa de fundamentar seus disparates. Dentre estes apócrifos, havia alguns que mostravam um Jesus excêntrico que nunca piscava os olhos, ou que não deixava marcas no chão quando andava, ou que não precisava trocar de roupa porque esta crescia com Ele, ou que não precisava se alimentar. É também dos apócrifos esta teoria, mais ou menos disseminada entre nós, de supostos milagres feitos por Jesus em Sua infância. De fato, tais escritores não compreendendo a vocação de vida ordinária de Jesus, não podiam conceber que Deus feito homem pudesse viver de forma comum a Sua infância. Seria um absurdo se tais livros entrassem no conjunto da Bíblia, pois, se Cristo deve ser o nosso modelo, imaginem só pessoas por aí esforçando-se para nunca piscarem os olhos, ou então, nos confessionários, admitindo tristemente que tinham caído na tentação de trocar de roupa... É absurdo.

Enfim, acho que ficou claro essa questão. Os católicos, diante destas investidas protestantes, não devem temer e nem ficar contrariados. Estão na Igreja certa. Revistam-se do escudo da Fé para apagar os dardos inflamados do inimigo e munam-se do estudo da Santa Igreja para estarem prontos para responderem a razão de nossa Fé. Em especial nestes dias, onde as trevas avançam, faz-se necessário que sejamos luzeiros no meio de uma sociedade perversa e maliciosa que tende a se incomodar com aqueles que professam a Verdade única e absoluta, ou seja, nós, cristãos Católicos Apostólicos Romanos.

“Homens de estudo e homens de oração... mas antes, homens de oração”.

Fábio Luciano Silvério da Silva
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