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Beato Rafael e S. João da Cruz



Dia 11 de outubro (daqui a pouco), será canonizado o Beato Rafael, trapista, o que me deixa muito feliz. Os que o conhecem, sabem da sua ternura e do seu amor por Jesus e por sua Santíssima Mãe.

Já em preparação a esta festa, reproduzo aqui um artigo publicado num ótimo blog a ele dedicado e que faz como que um paralelo entre a sua vida e a do doutor S. João da Cruz, a quem este blog do Anjos é confiado. Boa Leitura.

“Sabemos que o Cântico de São João da Cruz é sua obra predileta e, além disso, reflexa fielmente a sua própria alma, pois o cantou e o viveu nos momentos decisivos de sua existência. O Cântico é a oração de um místico poeta que vive do amor de Deus e, por isso, é o poema mais completo e mais próximo de sua experiência. Na realidade, tomado em seu conjunto, tem muito de autobiografia espiritual. O amor que anima a vida inteira de São João da Cruz e inspira seus escritos assume no Cântico toda a força de uma vocação e de uma paixão.

Nesse sentido, alguém de muita autoridade, ao estudar «a experiência do Irmão Rafael à luz dos ensinamentos de São João da Cruz», disse:

«Ao querer comparar estas duas almas (São João da Cruz e o Irmão Rafael), ao tratar de explicar este encontro que se deu entre elas, tem que ter em conta a fortíssima paixão de Deus, que ambos padeceram e que é o segredo de suas vidas entregues. Sem dúvida, essa paixão foi vivida e manifestada com seus próprios matizes existenciais em cada um deles. Cada alma é uma alma. Mas com uma paixão cravada como um dardo no coração de um e de outro, e que é o que provoca o dinamismo vital em suas respectivas vidas.

São João da Cruz foi um de seus grandes amigos. Um de seus guias espirituais. O mais citado em seus escritos. Com ele sintonizou maravilhosamente sua alma endeusada. Ambos foram peregrinos do Absoluto. Sofreram a paixão de Deus. Paixão de amor e de dor. Paixão mística. Só Deus! Só Deus!, foi seu grito na noite. É o pessoal e o social que todos padecemos e que talvez nos acovarde, como um sinal de luz que Deus, por meio de Rafael, nos regala para despertar nossa pobreza de fé, de esperança e de amor. Nada e Tudo. Só Deus!» (Jiménez Duque, B., Espiritualidad del Hermano Rafael, pp.75,85, na Semana de Espiritualidade do Irmão Rafael, Monasterio Cisterciense de San Isidro de Dueñas, Palencia, 1984)”.

Fray Mª Alberico Feliz Carvajal, OCSO
Vida y Escritos del Beato Fray María Rafael Arnáiz Barón
Introducción, pp.52-53

Retirado do blog Irmão Rafael Arnáiz Barón, OCSO.

Pérolas e mais pérolas - Entrevista com o Padre Jesuíta Luís Correia de Lima sobre a Igreja e os homossexuais



IHU On-Line – Por que grande parte dos católicos não encoraja as uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo, quando temos exemplos tão claros de que essas relações são mais leais dos que as relações heterossexuais? (???????????????)

Luís Corrêa Lima – Comecemos pelo inverso, que é menos conhecido. No ano passado, o novo presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha, Robert Zollitsch, declarou-se a favor da união civil homoafetiva. Ele considera uma questão da própria realidade social: se há pessoas com orientação homossexual, o Estado deve adotar uma legislação correspondente. E efetivamente a Alemanha reconhece esta união desde 2002. Convém notar que um presidente de uma conferência nacional de bispos não faria uma declaração destas sem o respaldo dos outros bispos do país, e sem um amplo consenso da igreja local. E isto se dá na terra do papa.

Já na Itália, um importante grupo de jesuíta apóia as uniões gays. Em junho de 2008, a prestigiosa revista da Companhia de Jesus, Aggiornamenti Sociali, publicou o estudo de um núcleo católico de bioética com sede em Milão. Este núcleo defende que a convivência entre duas pessoas do mesmo sexo é benéfica para a vida social. E em uma relação duradoura, devem-se reconhecer direitos e deveres a quem oferece cuidado e sustento ao companheiro, independentemente de que a intimidade entre eles seja sexual ou não. Ao político católico, acrescenta, é justificável votar a favor deste reconhecimento.

Na verdade, nós estamos vivendo uma mudança de paradigma antropológico. Havia uma heterossexualidade universal, ou heteronormatividade, uma suposição de que todo ser humano é feito para o sexo oposto, de que só com alguém de outro sexo se pode constituir uma união sadia, base de uma família respeitável. A homossexualidade foi considerada doença até o início dos anos 1990. Isto ainda está arraigado na sociedade e nas estruturas mentais, que incidem na religião. A Igreja tem dois mil anos, e o peso da tradição é muito forte.

O cardeal Carlo M. Martini, fazendo um balanço de sua vida, declarou: “Entre os meus conhecidos há casais homossexuais, homens muito estimados e sociáveis. Jamais me foi perguntado e nem me teria vindo em mente condená-los”. Demasiadas vezes, prossegue ele, a Igreja tem se mostrado insensível, principalmente com os jovens nesta condição. Certamente Martini foi formado em uma outra mentalidade bem diferente. Ele mudou ao encontrar estes casais, ao ver que eles não são uma ameaça para a sociedade. Isto é que pode fazer as pessoas mudarem, e verem que também as instituições devem mudar.

Confira esta tosca entrevista inteira aqui

Miserere Nobis!!!

A comunidade cristã primitiva era comunista? E as Ordens Religiosas o são?



Com relativa frequência a gente escuta disparates como esse: "mas os primeiros cristãos tinham tudo em comum, o que significa que viviam numa estrutura social similar ao comunismo". Infelizmente, os chamados "comunistas de sacristia" ainda existem aos bocados; são pessoas que pretendem conciliar o ideal socialista com o cristianismo. Para isto, estão sempre a proclamar a sua "preferência pelos pobres", como forma semi-velada dos seus ideais de esquerda. A teologia sofre com isto, pois que o liberalismo expulsa-lhe todo o sagrado, reputando seu conteúdo supranatural ao nível de construções imaginárias de fundamentalistas religiosos no percurso da história. A figura de Jesus também é deturpada, originando a idéia da suposta discrepância entre o Jesus histórico e o Jesus da Fé. O Cristo real, histórico, se assemelharia a um revolucionário que mais não fez senão pregar a igualdade e lutar em favor dos oprimidos do seu tempo.

Há ainda quem diga que o que se vive nas comunidades religiosas, nos conventos e mosteiros, é de mesma natureza que o ideal comunista, o que reafirmaria o caráter cristão da ideologia de Marx.

Sobre estas questões, transcrevo neste espaço parte de uma carta de D. Geraldo de Proença Sigaud, S.V.D, publicada em 1962, cujo trecho a seguir está disponível no site Sacralidade.

"O socialismo ensina a mesma doutrina marxista que o comunismo. Tem o mesmo objetivo, a Revolução, e quer a mesma organização econômica da sociedade. É materialista, rejeita a Religião, a moral, o direito, Deus, a Igreja, os direitos da família, do indivíduo. Quer que todos os meios de produção estejam nas mãos do Estado, e igualmente toda a educação, todos os transportes, as finanças, e que o Estado seja o soberano senhor de todas as forças da nação. Deseja a supressão da diferença entre as classes sociais. Também para o socialismo, a pessoa existe para o Estado, não o Estado para a pessoa." (cf. Leão XIII, Encíclica Rerum Novarum, Edit. Vozes, pp. 5 e 6)

Amados Filhos, provavelmente já tereis ouvido ou lido afirmarem que a Igreja primitiva foi comunista e que as atuais Ordens Religiosas o são.

Depois do que dissemos a respeito d marxismo, compreendereis que somente um ignorante ou uma pessoa de má fé pode afirmar uma mostruosidade tal.

Mas, mesmo se abstrairmos do marxismo, nem a Igreja primitiva praticou, nem as Ordens Religiosas praticam o comunismo. Vede bem que o essencial do comunismo é a negação do direito de propriedade. Ora, examinemos sob este aspecto a Igreja primitiva. Levadas da vontade de seguir de perto o exemplo do Divino Mestre e realizar os conselhos evangélicos, várias famílias cristãs de Jerusalém resolveram viver no voto de pobreza. Para isto venderam tudo o que tinam e entregaram o dinheiro aos Apóstolos para que com ele fosse mantida a comunidade. Notai bem: os indivíduos desta comunidade renunciavam a seus bens porque queriam. Quem não quisesse viver na pobreza, não precisava. Assim disse São Pedro a Ananias: "Conservando o campo, ele não ficava teu? E vendendo-o, não dependia de ti o que farias com o dinheiro?" (At 5,4).

A Igreja permitia que os que quisessem viver sem possuir nada pessoalmente, o fizessem. Mas, de um lado, isto era livre; de outro, o imóvel ou o dinheiro apurado passava a ser propriedade da comunidade. Ficava pois de pé o direito de propriedade da comunidade; não era negado nem transferido ao Estado.

Para desiludir os comunistas utópicos, devemos dizer que a primeira tentativa de realizar o ideal da pobreza não foi bem sucedida. Consumidos os capitais apurados na venda dos imóveis, criou-se em Jerusalém uma situação difícil, e foi preciso as outras comunidades cristãs enviarem periodicamente esmolas para Jerusalém a fim de sustentarem os irmãos que tinham renunciado a seus bens. Verificou-se que o voto de pobreza só é possível junto do voto de castidade, e que o estado de pobreza evangélica não é possível quando há família, mulher e filhos. Para pessoas casadas o caminho da santidade está no trabalho e na reta administração das riquezas temporais. Mais tarde a Igreja retomou a experiência, primeiro com indivíduos isolados, os anacoretas, depois com pequenas comunidades de eremitas, os cenobitas; só depois que raiou a liberdade para o Cristianismo é que dois grandes Santos organizaram a vida de pobreza evangélica aliada à obediência e à castidade: no Oriente, São Basílio; no Ocidente, São Bento. Mas, se o monge renuncia a toda propriedade pessoal, o mosteiro passa a ser o proprietário. Verifica-se o que se dá muitas vezes na família: se os indivíduos não são donos, a família é a proprietária.

Vejamos agora o valor que tem a afirmação de que as Ordens Religiosas são comunistas ou socialistas.

Ninguém afirmará que as doutrinas filosóficas, sociológicas, teológicas do comunismo se encontram realizadas nas Ordens Religiosas. Tal afirmação é tão absurda, que ninguém a tomaria a sério. Restaria então o tipo de vida econômica das Ordens Religiosas. Perguntamos: o tipo de vida econômica que o comunismo pretende implantar é aquele que as Ordens Religiosas realizam há tantos séculos? Para respondermos com clareza a este absurdo, que no entanto se repete com enfadonha monotonia, vamos analisar um pouco mais de perto o tipo de vida econômica das Ordens Mendicantes. É sabido que são elas que realizam o ideal de pobreza evangélica mais absoluto entre as comunidades religiosas. Verificado que nelas não há sombra do tipo econômico comunista, fica provado que as outras Ordens e COngregações, em que o tipo de pobreza é mais suave, a fortiori não podem ser tachadas de comunistas.

Nas Ordens Mendicantes mais rigorosas, não só os Religiosos individualmente nada possuem de próprio, mas nem mesmo a Ordem, as Províncias ou conventos são os titulares das propriedades. Em lugar deles a Santa Sé ou a Diocese são os proprietários formais. A administração dos bens destinados à Ordem, à Província ou ao convento é realizada por pessoas nomeadas pela Santa Sé ou pela Diocese. Mas, se a propriedade não é nominalmente da Ordem, etc., os frutos do patrimônio que existir, ou as esmolas dadas pelos fiéis, se aplicam formalmente à manutenção daquele convento e daquela comunidade para que são destinados. Assim, os Religiosos não têm os ônus da propriedade e de sua administração, caridosamente suportados pela Autoridade Eclesiástica, mas têm as rendas necessárias para se manterem. É a realização da pobreza de Cristo e da fé na Providência. É o "nihil habentes, et omnia possidentes" (sem posses, nós que tudo possuímos) de São Paulo (2 Cor 6,10). Assim, as Ordens Mendicantes são a mais formal refutação do comunismo. Porque:

a) A renúncia às propriedades é uma afirmação clara da existência do direito de propriedade, pois ninguém renuncia seriamente ao que não existe.

b) Cada comunidade e cada Religioso tem o direito de viver dos frutos do patrimônio e das esmolas que tocam ao convento, e que são administrados pela Autoridade Eclesiástica em favor da comunidade, e não arbitrariamente.

c) O Religioso renuncia ao direito de propriedade voluntariamente. O comunismo nega este direito e confisca as propriedades violentamente.

d) O Religioso abraça a pobreza voluntária para melhor seguir a Nosso Senhor Jesus Cristo e santificar melhor sua alma na esperança da vida eterna. O comunismo diz que destrói a propriedade particular para proporcionar a todos os homens a maior soma de prazeres nesta terra, uma vez que não existe a vida eterna.

e) Na realidade, a pobreza voluntária dos Religiosos os leva a maior liberdade no serviço de Deus. O comunismo, prometendo a maior soma de prazeres, realmente tem por fim escravizar os homens, e depois, por meio da fome, obrigá-los à total apostasia de Deus.

f) A pobreza voluntária das Ordens Religiosas serve a Deus. O comunismo serve a Satanás.

Concluindo , devemos pois dizer que a afirmação de que as Ordens Religiosas realizam o tipo econômico do comunismo é uma verdadeira blasfêmia.

Carta Pastoral Sobre a Seita Comunista - seus erros, sua ação revolucionária e os deveres dos católicos na hora presente. D. Geraldo de Proença Sigaud, S.V.D. Publicada em 6 de janeiro de 1962 na cidade de Diamantina, MG.

Além do que já foi manifesto acima como prova da distância abismal que separa a vida religiosa conventual e monástica do torpe ideal socialista, poderíamos ainda juntar a estrutura hierárquica característica destes ambientes religiosos, coisa totalmente avessa à pretensão igualitária dos comunistas. De fato, o que se vive nos mosteiros e conventos, pelo voto de obediência, é a sujeição dos irmãos consagrados aos seus superiores, num harmônico sistema hierárquico que se funda sobre o reconhecimento da desigualdade acidental dos membros.

Convém ainda fazer notar que, não apenas a comunidade primitiva ou os ambientes de vida consagradas são estranhos ao comunismo, mas toda a religião católica opõe-se a esta funesta ideologia.

Sobre isto, são claríssimas as palavras do Papa Pio XI, também disponíveis na referida carta: "Socialismo religioso, socialismo utópico são termos contraditórios: ninguém pode ser ao mesmo tempo bom católico e verdadeiro socialista"

Fábio.

Segundo Santo Agostinho, o que deveríamos concluir?



É de Santo Agostinho a reveladora afirmação: "Tem-se o Espírito Santo na mesma medida em que se ama a Igreja".

Considerando rigorosamente esta assertiva, o que poderíamos concluir ao assistir o vergonhoso descaso com a Santa Igreja e a Sagrada Liturgia nos tempos de hoje, muitas vezes motivado pelos próprios representantes do Clero, aqueles que deveriam defender a Igreja com a vida?

Terrível a resposta a esta pergunta! Que Deus nos ajude!

Fábio.

Dia de S. Pio de Pietrelcina



No dia deste santo que tanto estimo, transcrevo a este blog alguns ensinamentos de S. João da Cruz, que expressam bem a vida de S. Pe. Pio. O motivo pelo qual faço esta relação não está somente no fato de que eu goste de ambos os santos, mas porque sempre notei na vida íntima do Pe. Pio a realização daquilo que é descrito por S. João da Cruz em sua Subida ao Monte Carmelo. Embora o Pe. Pio não conhecesse, provavelmente, a obra do doutor da noite, aquilo que ele descreve como experiência pessoal está de tal forma tão em harmonia com o caminho explicado por S. João da Cruz, que, creio eu, escrever aqui a via apontada pelo doutor místico incide luz sobre a própria vocação do Pe. Pio que, como sabemos, foi uma vida permeada em mistério. Não vou agora me deter em citações complexas e pormenores da vida mística, mas apenas mostrar as linhas gerais, segundo S. João da Cruz, do verdadeiro cristão amigo da cruz do Senhor. Os trechos são tirados do livro da Edith Stein, "A Ciência da Cruz" que é um estudo da mística sanjuanista.

"Em conversa com um religioso, (S. João) proferiu com insistência as seguintes palavras: "Se a qualquer tempo... alguém - seja ou não superior - vos quisesse convencer de uma doutrina de facilidade e de maior alívio, não lhe deis crédito e não a abraceis, ainda que seja confirmada com milagres. Penitência e mais penitência; desapego de todas as coisas. Se quereis chegar à posse de Cristo, jamais o busqueis sem a cruz. Seguir a cruz pela renúncia a tudo, inclusive a nós mesmos, é nossa vocação, como descalços da Bem-aventurada Virgem; não devemos ceder à nossa moleza e comodismo. Preste-se atenção nisto e não se esqueça de pregá-lo sempre que possível, pois é para nós de grande importância".

"Duas coisas servem de asas à alma para subir à união com Deus: são a compaixão afetiva pela morte de Cristo e pelo próximo. Quando a alma se detiver a compadecer-se da cruz e Paixão do Senhor, recorde-se de que ele esteve na cruz somente para realizar nossa redenção." Isto significa que aquele que se entrega em união amorosa à Paixão de Cristo na cruz, isto é, a um amor de total entrega de si próprio, estará unido à vontade de Deus, pois, pelo amor e pela entrega salvífica de Jesus, realiza-se a vontade salvífica de Deus. A alma unir-se-á ao ser divino (que é o Amor que se doa), seja na mútua doação das Pessoas divinas, na vida interior da Trindade; seja em suas manifestações externas. Assim, a perfeição pessoal, a união com Deus e a ação em favor da união de outros a Deus constituem uma só coisa. O caminho para isso tudo é a cruz. E a pregação da cruz seria vã se não fosse expressão de uma vida de união com o Crucificado." (Comentário, em itálico, da Edith Stein ao trecho escrito por S. João da Cruz)

Estes pequenos trechos resumem bem esta ciência escondida, vivida intimamente por estes amigos da Santa Cruz. Que neste dia, S. Pio de Pietrelcina possa interceder por nós e pela Santa Igreja, ele que foi tão zeloso e tão íntimo do Mistério Eucarístico e que, tão vivamente, amou a Igreja de Nosso Senhor. S. Pio de Pietrelcina, ora pro nobis!

Fábio Luciano

Absurdo!!!! Missa pela igualdade racial em Maceió

Navegando pelo blog da amiga Laica Católica, deparei-me com alguns links referentes ao senhor bispo de Maceió, Dom Antônio Muniz. Além de videos terríveis, dentre os quais assisti somente a um, encontrei ainda um link para um terrível blog que tratava de algo mais terrível ainda: um sincretismo religioso "à la Geena".

Leitura recomendada somente a quem tiver paciência e estômago. Deus tenha piedade de nós.

Fábio.

Cardeal Ratzinger, sobre o Novo Missal e a Liturgia




O segundo grande acontecimento no início de meus anos de Ratisbona foi a publicação do missal de Paulo VI, com a interdição quase completa do missal anterior, depois de uma fase de transição de cerca de seis meses. O fato de que, depois de um período de experiências que não raro haviam desfigurado profundamente a liturgia, se voltasse a ter um texto litúrgico obrigatório, devia ser saudado como algo de certamente positivo. Mas fiquei pasmo com a interdição do missal antigo, uma vez que nunca ocorrera algo parecido em toda a história da liturgia.

Deu-se a impressão de que isso fosse completamente normal. O missal anterior fora realizado por Pio V em 1570, dando seqüência ao Concílio de Trento; era, pois, normal que, depois de quatrocentos anos e um novo Concílio, um novo papa publicasse um novo missal. Mas a verdade histórica é outra. Pio V limitara-se a mandar reelaborar o missal romano então em uso, como no decurso vivo da história sempre ocorrera ao longo de todos os séculos. Não diferentemente dele, também muitos dos seus sucessores haviam novamente reelaborado esse missal, sem nunca contrapor um missal a outro. Sempre se tratou de um processo contínuo de crescimento e de purificação, em que, porém, a continuidade jamais era destruída.

Não existe um missal de Pio V que tenha sido criado por ele. Existe só a reelaboração por ele ordenada, como fase de um longo processo de crescimento histórico. O novo, depois do Concílio de Trento, tinha outra natureza: a irrupção da reforma protestante ocorrera sobretudo sob a forma de "reformas" litúrgicas. Não havia simplesmente uma Igreja católica e uma Igreja protestante uma ao lado da outra; a divisão da Igreja deu-se quase imperceptivelmente e teve a sua manifestação mais visível e historicamente mais incisiva na mudança da liturgia, que, por sua vez, foi muito diversificada no plano local, tanto que as fronteiras entre o que ainda era católico e o que não mais o era, muitas vezes eram muito difíceis de definir. Nessa situação de confusão, possibilitada pela falta de uma norma litúrgica unitária e pelo pluralismo litúrgico herdado da Idade Média, o Papa decidiu que o Missale Romanum, o texto litúrgico da cidade de Roma, uma vez que seguramente católico, devia ser introduzido em todos os lugares onde não se pudesse reivindicar uma liturgia que datasse de pelo menos duzentos anos antes. Onde isto ocorria, podia-se conservar a liturgia precedente, dado que o seu caráter católico podia ser considerado certo. Não se pode de fato, pois, falar de um interdito em relação aos missais anteriores e até aquele momento regularmente aprovados. Agora, ao contrário, a promulgação da interdição do missal que se desenvolvera ao longo dos séculos, desde o tempo dos sacramentais da antiga Igreja, implicou uma ruptura na história da liturgia, cujas conseqüências só podiam ser trágicas.

Como já ocorrera muitas vezes antes, era totalmente razoável e estava plenamente em linha com as disposições do Concílio que se chegasse a uma revisão do missal, sobretudo em consideração da introdução das línguas nacionais. Mas naquele momento ocorreu algo mais: fez-se em pedaços o edifício antigo e se costruiu um outro, ainda que com o material de que era feito o edifício antigo e utilizando também os projetos anteriores. Não há nenhuma dúvida de que esse novo missal continha em muitas das suas partes autênticas melhorias e um real enriquecimento, mas o fato de que ele tenha sido apresentado como um edifício novo, contraposto ao que se formara ao longo da história, que se proibisse este último e se fizesse de certo modo a liturgia aparecer não mais como um processo vital, mas como um produto de erudição especializada e de competência jurídica, trouxe-nos danos extremamente graves.

Foi assim, de fato, que se desenvolveu a impressão de que a liturgia seja "feita", que não seja algo que existe antes de nós, algo de " dado", mas que dependa das nossas decisões. Segue-se daí, por conseguinte, que não se reconheça esta capacidade decisional só aos especialistas ou a uma autoridade central, mas, em definitivo, cada "comunidade" queira fazer sua própria liturgia. Mas quando a liturgia se torna algo que cada um faz por si mesmo, ela não nos dá mais aquela que é a sua verdadeira qualidade: o encontro com o mistério, que não é um produto nosso, mas a nossa origem e a fonte da nossa vida.

Cardeal Ratzinger, A Minha Vida.

19 de setembro - Dia de Nossa Senhora da Salette


Léon BLoy

"A Santa Virgem tinha pedido Apóstolos. Deram-lhe estalajadeiros. Tinha querido verdadeiros discípulos de Jesus Cristo, desprezando o mundo e a si próprios. Instalaram-se padres negocistas, piedosos contadores encarregados de "aumentar" o pecúlio comum."

"A Revelação da Salette, considerada como uma ruptura do silêncio de dezoito séculos, oferece, ao mesmo tempo, consolo e terror. E não penso aqui nem mesmo na Mensagem, isto é: nas ameaças e nas promessas. Tenho unicamente em vista o incrível acontecimento da Santa Virgem falando com autoridade, na Igreja. Digo que esse fato é consolador por causa do caráter d'Aquela que fala, já que a Igreja a invoca sob o nome de Consolatrix e, também, porque é uma espécie de cumprimento, sob os nossos olhos, da Terceira Palavra de Jesus moribundo. Mas é, ao mesmo tempo, terrível, por causa do silêncio desse mesmo Jesus, que parece implicar. Jesus e Maria não falam juntos. Quando Jesus começa a sua Prédica, Maria se abisma no silêncio e, se dele sai, agora, quererá isso dizer que Jesus não vai mais falar? Eis, ao que me parece, um dos aspectos mais obscuros da Salette. E um dos menos explorados, provavelmente em razão do imenso terror nele contido. Alguns escritores ascéticos, tais como o santo bispo de Lausanne, Amadeu e, sobretudo, no décimo sétimo século, o Venerável Grignion de Montfort, afirmaram que o Reino de Maria está reservado para os últimos tempos. O que faria supor que, nossa Mãe, tendo enfim falado como Soberana, Jesus não tornará a tomar a palavra senão para fazer ouvir o temível ESURIVI, "eu tive fome" (Mt XXV, 35-42) que deve acabar com tudo..."

"Os padres são para Ela (Nossa Senhora da Salette) o que são para Deus e para a Igreja. Cada um deles representa Jesus Cristo, e imagino-a perfeitamente se ajoelhando diante deles, como se ajoelhou diante de seu Filho, quando este lhe veio humildemente pedir permissão para ir sofrer. - "Peço-vos, meus muito queridos filhos, que não desprezeis minha Mensagem. É o meu último esforço para salvar o rebanho de que sois os pastores e de que vos serão pedidas severas contas. Se não lhe disserdes que vim e que sobre ele chorei com amargor, se não lhe repetirdes todas as minhas palavras, quem poderá lhas ensinar? E como vos salvareis, vós e eles? Tudo o que disse a meus dois testemunhos, tudo o que lhe reveie para que o propagassem por todo o meu povo, é infinitamnte precioso e salutar, e não podeis fazer uma separação entre elas sem me ferir bem na pupila do olho e sem traspassar vossas almas... Vós que tanto recebestes de meu Filho, ocupando até mesmo seu divino lugar, vós que deveríeis ser tão santos!, como podereis deixar de chorar comigo, batendo em vossos peitos?! Como ousastes caçoar dos meus avisos e impedir que outros acreditassem neles?!... Dei uma Regra. Que fizeram dela? Foi em vão que dois papas quiseram fazê-la pôr em prática. Meus queridos Apóstolos dos Últimos Tempos, meus doces filhos muito amados, onde estão eles? Tinha-os escolhido. Eu mesma, selecionando-os com cuidado, como os grãos de fermento do Pão dos Anhos. Alguns deles estão bem perto de vós. Se os nomeasse, agora, logo faríeis com que sofressem... Pelo temibilíssimo Nome de vosso Mestre, cuja descida à terra forçais cada dia, suplico-vos para que tenhais medo..."

"Mas, não há refúgio para a Indignação de Deus. É uma criatura selvagem e faminta, para quem todas as portas estão fechadas, uma verdadeira criatura do deserto que ninguém conhece. Os leões, no meio dos quais foi gerada, morreram, ceifados à traição pela fome e pelos vermes. Arrastou-se diante de todas as soleiras, suplicando que a albergassem, mas não houve ninguém que tivesse piedade da Indignação de Deus. É bela, no entanto. Mas, inseduzível. E infatigável. Apavora tanto que a terra teme, quando passa. A Indignação de Deus veste andrajos e quase nada tem para esconder sua nudez. De pés descalços, está toda ferida, e há sessenta e três anos* - coisa terrível -, não tem mais lágrimas! Seus olhos são fundos abismos. E sua boca não profere mais nem uma única palavra. QUando encontra um padre, torna-se mais pálida e mais silenciosa, pois os padres a condenam, achando-a mal vestida, excessiva e pouco caridosa. Sabe perfeitamente que, já agora, tudo é inútil! Segurou às vezes criancinhas nos braços, oferecendo-as ao mundo, mas o mundo atirou esses inocentes no montão das imundícies, dizendo-lhe: - "És livre demais para me agradar! Tenho leis, polícia, oficiais de justiça, proprietários!" - "O vencimento está próximo e eu pagarei com toda a exatidão", respondeu a Indignação de Deus."

* Faziam 63 anos da aparição da Salette quando Léon Bloy escreveu isto.

Octávio de Faria, Léon Bloy.

Leia o segredo dito por Nossa Senhora da Salette aqui

O Cristianismo como "Religio Vera"



Cardeal Joseph Ratzinger

O cristianismo não se baseia, de fato, segundo Agostinho e a tradição bíblica, que para ele é normativa, em imagens e pressentimentos míticos, cuja justificação se encontra, em última análise, na sua utilidade política, mas reivindica aquele divino que pode ser percebido a partir da análise racional da realidade. Ou seja: Agostinho identifica o monoteísmo bíblico com as perspectivas filosóficas sobre a fundação do mundo que se formaram, segundo diversas variantes, na filosofia antiga. É isto que se entende quando o cristianismo, a partir do discurso paulino do Areópago em diante, se apresenta com a pretensão de ser a religio vera. O que significa: a fé cristã não se baseia na poesia e na política, essas duas grandes fontes da religião; baseia-se no conhecimento.

Venera aquele Ser que está no fundamento de tudo o que existe, ou "verdadeiro Deus". No cristianismo, a racionalidade se tornou religião e não mais o seu adversário. Para que isso acontecesse, para que o cristianismo se compreendesse como a vitória da desmitologização, a vitória do conhecimento e com ela da verdade, devia necessariamente considerar-se universal e ser levado a todos os povos: não como uma religião específica que reprime as outras em razão de uma espécie de imperialismo religioso, mas como a verdade que torna supérflua a aparência. E é justamente isso que, na vasta tolerância dos politeísmos, devia necessariamente parecer intolerável, ou até como inimigo da religião, como "ateísmo". Não se fundamentava na relatividade e na convertibilidade das imagens; perturbava, portanto, sobretudo a utilidade política das religiões, e punha assim em perigo os fundamentos do Estado, no qual não queria ser uma religião entre as outras, mas a vitória da inteligência sobre o mundo das religiões.

Por outro lado, a esta posição do cristianismo no kosmos de religião e filosofia remonta também a força de penetração do cristianismo. Já antes do início da missão cristã, alguns círculos cultos da antiguidade haviam procurado na figura do "temente a Deus" o laço com a fé judaica, que lhes parecia uma figura religiosa do monoteísmo filosófico correspondente às exigências da razão e ao mesmo tempo à necessidade religiosa do homem. Necessidade esta a que a filosofia sozinha não podia satisfazer: não se reza a um deus apenas pensado. Ali, porém, onde o Deus achado pelo pensamento se deixa encontrar no coração da religião como um Deus que fala e age, o pensamento e a fé são reconciliados.

Naquele laço com a sinagoga ainda havia algo que não satisfazia: o não judeu, de fato, permanecia sempre como um estrangeiro, não podia jamais chegar a uma total pertença. Esse nó é desatado no cristianismo pela figura de Cristo, tal como a interpretou Paulo. Só então o monoteismo religioso do judaísmo se tornou universal, e, portanto, a unidade entre pensamento e fé, a religio vera, se tornou acessível a todos.

Justino, o filósofo, Justino, o mártir (+167), pode servir de figura sintomática deste acesso ao cristianismo: estudara todas as filosofias e por fim reconhecera no cristianismo a vera philosophia. Estava convencido de que ao se tornar cristão não renegara a filosofia, mas só então se tornara filósofo de verdade. A convicção de que o cristianismo seja uma filosofia, a filosofia perfeita, aquela que conseguiu penetrar até a verdade, permanecerá em vigor ainda por muito tempo depois da época patrística. Era ainda absolutamente atual no século XIV, na teologia bizantina de Nicolas Cabasilas. Sem dúvida, não se entendia a filosofia como uma disciplina acadêmica de natureza puramente teórica, mas também e sobretudo, num plano prático, como a arte de bem viver e de bem morrer, que porém só pode ter bom êxito à luz da verdade.

A união da racionalidade e da fé que se realizou no desevolvimento da missão cristã e na construção da teologia cristã trouxe, porém, correções decisivas à imagem filosófica de Deus, duas das quais devem ser principalmente mencionadas. A primeira consiste no fato de que o Deus em que os cristão crêem e que veneram, ao contrário dos deuses míticos e políticos, é realmente natura Deus; nisto ele satisfaz as exigências da racionalidade filosófica.

Mas ao mesmo tempo vale o outro aspecto: non tamen omnis natura est Deus; nem tudo o que é natureza é Deus. Deus é Deus por sua natureza, mas a natureza como tal não é Deus. Cria-se uma separação entre a natureza universal e o Ser que a fundamenta, que lhe dá a sua origem. Só então a física e a metafísica chegam a uma clara distinção uma da outra. Só o verdadeiro Deus que podemos reconhecer por meio do pensamento na natureza é objeto de oração. Mas é mais que a natureza. Precede-a, ela é a sua criatura. A esta separação entre a natureza e Deus acrescenta-se uma segunda descoberta, ainda mais decisiva: não se podia rezar a deus, à natureza, à alma do mundo ou ao que quer que fosse; não era um "deus religioso", como vimos. Agora, e é o que já diz a fé do Antigo Testamento e mais ainda a do Novo Testamento, aquele Deus que antecede a natureza voltou-se para os homens. Não é um Deus silencioso, justamente porque não é só natureza. Entrou na história, veio ao encontro do homem, e assim agora o homem pode encontrá-lo. Pode ligar-se a Deus porque Deus se ligou ao homem. As duas dimensões da religião, que estavam sempre separadas uma da outra, a natureza eternamente dominadora e a necessidade de salvação do homem que sofre e luta, são ligadas uma à outra. A racionalidade pode tornar-se religião, porque o Deus da racionalidade entrou ele próprio na religião. O elemento que a fé reivindica como próprio, a Palavra histórica de Deus, é de fato o pressuposto para que a religião possa agora voltar-se para o deus filosófico, que não é mais um deus puramente filosófico e que tampouco repugna ao conhecimento da filosofia, mas o assume. Aqui se manifesta algo espantoso: os dois princípios fundamentais do cristianismo, aparentemente em contraste, o laço com a metafisica e o laço com a história, se condicionam e se relacionam um com o outro; constituem juntos a apologia do cristianismo enquanto religio vera.

Cardeal Joseph Ratzinger, Cristianismo: a vitória da inteligência sobre o mundo das religiões.

A Igreja Católica, Construtora da Civilização Ocidental - Thomas E. Woods

Embora outros blogs já tenham disponibilizado estes videos, também o faço, na esperança de que alguém que ainda não os tenha visto, possa assisti-los.





Jesus infante em nosso exílio


"Ao ver-vos, meu Jesus, deixar da Mãe os braços, e com seu terno auxílio
Tatear vacilando uns mal seguros passos em nosso pobre exílio,
Quisera desfolhar amor pelo caminho, a mais purpúrea rosa
P'ra que este pé gentil pousasse de mansinho sobre uma flor mimosa"

(Sta Teresinha de Lisieux)

Download do livro Dominus Est


Quem desejar fazer o download do livro recomendado pela Magna, Dominus Est (É o Senhor), basta clicar aqui.

14 de Setembro - dia da exaltação da Santa Cruz

Disponibilizo aqui um texto um tanto pesado, do livro Imitação de Cristo. Neste dia da exaltação da Santa Cruz, meditemos sobre este aspecto tão central da nossa fé, ao mesmo tempo que tão amaciado e distorcido pelos discursos mornos dos liberais... Eis aqui autêntica doutrina sobre a Santa Cruz. Boa Leitura...

Da estrada real da Santa Cruz, Tomás de kempis

A muitos parece dura esta palavra: Renuncia a ti mesmo, toma a tua cruz e segue a Jesus Cristo (Mt 16,24). Muito mais duro, porém, será de ouvir aquela sentença final: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno (Mt 25,41). Pois os que agora ouvem e seguem, docilmente, a palavra da cruz não recearão então a sentença da eterna condenação. Este sinal da cruz estará no céu, quando o Senhor vier para julgar. Então todos os servos da cruz, que em vida se conformam com Cristo crucificado, com grande confiança chegar-se-ão a Cristo juiz.

Por que temes, pois, tomar a cruz, pela qual se caminha ao reino do céu? Na cruz está a salvação, na cruz a vida, na cruz o amparo contra os inimigos, na cruz a abundância da suavidade divina, na cruz a fortaleza do coração, na cruz o compêndio das virtudes, na cruz a perfeição da santidade. Não há salvação da alma nem esperança da vida, senão na cruz. Toma, pois, a tua cruz, segue a Jesus e entrarás na vida eterna. O Senhor foi adiante, com a cruz às costas, e nela morreu por teu amor, para que tu também leves a tua cruz e nela desejes morrer. Porquanto, se com ele morreres, também com ele viverás. E, se fores seu companheiro na pena, também o serás na glória.

Verdadeiramente, da cruz tudo depende, e em morrer para si mesmo está tudo; não há outro caminho para a vida e para a verdadeira paz interior, senão o caminho da santa cruz e da contínua mortificação. Vai para onde quiseres, procura quanto quiseres, e não acharás caminho mais sublime em cima nem mais seguro embaixo que o caminho da santa cruz. Dispõe e ordena tudo conforme teu desejo e parecer, e verás que sempre hás de sofrer alguma coisa, bom ou mau grado teu; o que quer dizer que sempre haverás de encontrar a cruz. Ou sentirás dores no corpo, ou tribulações no espírito.

Ora serás desamparado de Deus, ora perseguido do próximo, e o que é pior não raro serás molesto a ti mesmo. E não haverá remédio e nem conforto que te possa livrar ou aliviar; cumpre que sofras quanto tempo Deus quiser. Pois Deus quer ensinar-te a sofrer a tribulação sem alívio, para que de todo te submetas a ele e mais humilde te faças pela tribulação. Ninguém sente tão vivamente a paixão de Cristo como quem passou por semelhantes sofrimentos. A cruz, pois, está sempre preparada e em qualquer lugar te espera. Não lhe podes fugir, para onde quer que te voltes, pois em qualquer lugar a que fores, te levarás contigo e sempre encontrarás a ti mesmo. Volta-te para cima ou para baixo, volta-te para fora ou para dentro, em toda parte acharás a cruz; e é necessário que sempre tenhas paciência, se queres alcançar a paz da alma e merecer a coroa eterna.
 
Se levares a cruz de boa vontade, ela te há de levar e conduzir ao termo desejado, onde acaba o sofrimento, posto que não seja neste mundo. Se a levares de má vontade, aumenta-lhe o peso e fardo maior te impões; contudo é forçoso que a leves. Se rejeitares uma cruz, sem dúvida acharás outra, talvez mais pesada.
 
Pensas tu escapar àquilo de que nenhum mortal pôde eximir-se? Que santo houve no mundo sem tribulação? Nem Jesus Cristo, Senhor Nosso, esteve uma hora, em toda a sua vida, sem dor e sofrimento. Convinha, disse ele, que Cristo sofresse e ressurgisse dos mortos, e assim entrasse na sua glória (Lc 24,26). Como, pois, buscas tu outro caminho que não seja o caminho real da santa cruz?

Toda a vida de Cristo foi cruz e martírio; e tu procuras só descanso e gozo? Andas errado, e muito errado, se outra coisa procuras e não sofrimentos e tribulações; pois toda esta vida mortal está cheia de misérias e assinalada de cruzes. E quanto mais uma pessoa faz progressos na vida espiritual, tanto maiores cruzes encontra, muitas vezes, porque o amor lhe torna o exílio mais doloroso.
 
Mas, apesar de tantas aflições, o homem não está sem o alívio da consolação, porque sente o grande fruto que lhe advém à alma pelo sofrimento da cruz. Pois, quando de bom grado a toma às costas, todo o peso da tribulação se lhe converte em confiança na divina consolação. E quanto mais a carne é cruciada pela aflição, tanto mais se fortalece o espírito pela graça interior. E, às vezes, tanto se fortalece, pelo amor das penas e tribulações que, para conformar-se com a cruz de Cristo, não quisera estar sem dores e sofrimentos, pois julga ser tanto mais aceito a Deus, quanto mais e maiores males sofre por seu amor. Não é isto virtude humana, mas graça de Cristo, que tanto pode e realiza na carne frágil, que o espírito com ardor abraça e ama o que a natureza aborrece e foge.
 
Não é conforme à inclinação humana levar a cruz, amar a cruz, cartigar o corpo e impor-lhe sujeição, fugir às honras, aceitar as injúrias, desprezar-se a si mesmo e desejar ser desprezado, suportar as aflições e desgraças e não almejar prosperidade alguma neste mundo. Se olhares somente a ti, reconheces que de nada disso és capaz. Mas, se confiares em Deus, do céu te será concedida a fortaleza, e sujeitar-se-ão ao teu mando o mundo e a carne. Nem o infernal inimigo temerás, se andares escudado na fé e armado com a cruz de Cristo.
 
Portanto, como bom e fiel servo de Cristo, dispõe-te a levar a cruz do teu Senhor, por teu amor crucificado. Prepara-te a sofrer muitos contratempos e incômodos nesta vida miserável, pois em todaa parte, onde quer que estiveres, ou te esconderes, os encontrarás. Convém que assim seja e não há outro remédio contra a tribulação da dor e dos males senão sofrê-los com paciência. Bebe, generoso, o cálice do Senhor, se queres ser seu amigo e ter parte com ele. Entrega a Deus as consolações, para ele dispor delas como lhe aprouver. Tu, porém, dispõe-te a suportar as tribulações e considera-as como as consolações mais preciosas, porquanto não têm proporção as penas do tempo com a glória futura (Rom 8,18) que havemos de merecer, ainda que tu só as devesses sofrer todas.

Quando chegares a tal ponto que a tribulação te seja doce e amável por amor de Cristo, dá-te por feliz, pois achaste o paraíso na terra. Enquanto o padecer te é molesto e procuras fugir-lhe, andas mal, e em toda parte te persegue o medo da tribulação.
 
Se te resolveres ao que deves, isto é, a padecer e morrer, logo te sentirás melhor e acharás paz. Ainda que fosses arrebatado, com S.Paulo, ao terceiro céu, nem por isso estarias livre de sofrer alguma contrariedade. Eu, diz Jesus, mostrar-lhes-ei quanto terá de sofrer por meu nome (At 9,16). Não te resta, pois, senão sofrer se pretendes amar e servir a Jesus para sempre.
 
Oxalá fosses digno de sofrer alguma coisa pelo nome de Jesus! Que grande glória resultaria para ti, que alegria para os santos de Deus, e que edificação para o próximo! Pois todos recomendam a paciência, ainda que poucos queiram praticá-la. Com razão devias padecer, de bom grado, este pouco por amor de Cristo, quando muitos sofrem pelo mundo coisas incomparavelmente maiores.
 
Fica sabendo e tem por certo que tua vida deve ser uma morte contínua, e quanto mais cada um morre a si mesmo, tanto mais começa a viver para Deus. Só é capaz de compreender as coisas do céu quem por Cristo se resolve a sofrer toda adversidade. Nada neste mundo é mais agradável a Deus nem mais proveitoso a ti, que o sofrer, de bom grado, por Cristo. E se te dessem a escolha, antes deverias desejar sofrer adversidade, por amor de Cristo, do que ser recreado com muitas consolações porque assim serias mais conforme a Cristo, e mais semelhante a todos os santos. Porquanto não consiste nosso merecimento e progresso espiritual em ter muitas doçuras e consolações, mas em sofrer grandes angústias e tribulações.
 
Se houvera coisa melhor e mais proveitosa para a salvação dos homens do que o padecer, Cristo, de certo, o teria ensinado com palavras e exemplo. Pois claramente exorta seus discípulos e quantos o desejam seguir a que levem a cruz, dizendo: Quem quiser vir após mim renuncie a si mesmo, tome sua cruz, e siga-me (Lc 9,23). Seja, pois, de todas as lições e estudos este o resultado final: Cumpre-nos passar por muitas tribulações, para entrar no reino de Deus (At 14,21).
 
Tomás de Kempis, Imitação de Cristo, Cap. XII, Livro II. 

A Humildade - Josef Pieper


Um dos bens em que o homem, segundo a natureza, procura a plena realização da sua existência, é a excellentia, a superioridade, a primazia, o fazer-se valer. A virtude da temperança, da disciplina e da medida, enquanto vincula esse impulso natural à ordenação da razão, chama-se humildade. A humildade consiste em avaliar-se da maneira que corresponde à realidade. Com isso está quase tudo dito.

Partindo dessa definição, dificilmente se compreende como é que o conceito de humildade pôde transformar-se num objecto de luta. Se prescindíssemos das potências demoníacas, dirigidas contra o bem, e especialmente contra este aspecto da fisionomia cristã do homem, só seria possível essa transformação se o conceito de humildade se tivesse extinguido na própria consciência cristã. Em todo o tratado de São Tomás sobre a humildade e o orgulho, não se encontra uma só frase que possa dar azo a sugerir que uma atitude de constante autodiminuição, de inferiorização do próprio ser ou das próprias possibilidades, tenha, em princípio, alguma coisa a ver com a humildade ou com qualquer outra virtude cristã.

Magnanimidade
 
Nada há que indique um caminho mais claro para a verdadeira compreensão da humildade que este princípio: a humildade e a magnanimidade (magnanimitas) não são antitéticas, não se excluem uma à outra, mas são pelo contrário afins e complementares, contrapondo-se ambas ao mesmo tempo ao orgulho e à pusilanimidade.
 
E na verdade, que significa magnanimidade? Magnanimidade é o vôo, a tendência do espírito para os grandes feitos. É magnânimo quem exige grandes coisas do seu coração e se torna digno delas. O magnânimo é em certo sentido “difícil de contentar”; não estabelece contacto com tudo o que lhe surge no caminho, mas apenas com o que é grande. Mais que tudo, a magnanimidade deseja as grandes honras; “o magnânimo lança-se para as acções que são dignas da maior honra”. Na Summa Theologica lê-se: “É reprovável desprezar as honras, de modo a descurar aquilo que as merece”. Por outro lado, o magnânimo não se sente atingido pela desonra; ele despreza-a como não sendo digna da sua atenção. O magnânimo olha com desprezo para tudo o que é mesquinho. Nunca actuará de modo reprovável, só para evitar o desagrado de alguns. As palavras do Salmo XIV: “Aos seus olhos, o perverso nada vale”, segundo São Tomás referem-se ao magnânimo “desprezo pelos homens” do justo. Sinceridade destemida é a marca da magnanimidade: nada há que mais odeie do que ocultar, por medo, a verdade. O magnânimo evita peremptòriamente as palavras aduladoras e as dissimulações, pois ambas são fruto de um coração mesquinho. O magnânimo não se queixa, porque o seu coração não se deixa vencer por qualquer mal externo. O magnânimo traz consigo a indestrutível firmeza da sua esperança, uma confiança desmedida, quase temerária, e no seu coração sem medo reina uma paz imperecedoira. O magnânimo não cede ao aperto das preocupações, nem aos homens, nem aos acontecimentos: só perante Deus se inclina.

É com pasmo que reconhecemos que esta imagem da magnanimidade se encontra passo a passo desenhada na Summa Theologica de São Tomás de Aquino. Tornava-se necessário recordar isto. Porque no tratado sobre a humildade diz-se diversas vezes: a humildade não contradiz a magnanimidade. Agora poder-se-á medir o que esta frase, expressa como aviso e prevenção contra fáceis erros, quer na verdade dizer. Nada mais do que isto: que uma “humildade” demasiado mesquinha e débil para saber suportar a tensão interior da sua convivência com a magnanimidade, não pode ser humildade autêntica.

Soberba

A mentalidade ordinária das pessoas inclina-se a descobrir no magnânimo um soberbo, e, portanto, do mesmo modo, a enganar-se acerca da verdadeira essência da humildade. “É um soberbo”, proclama-se depressa e facilmente. Mas muito poucas vezes essa locução coincide, na realidade, com a verdadeira soberba (superbia). Antes de mais nada, a soberba não é um modo de comportamento ordinário nas relações entre as pessoas. A soberba refere-se às relações do homem com Deus: é a negação, contrária à realidade, da relação de dependência da criatura para com o Criador: é um desconhecimento da criaturalidade do homem, da sua condição de criatura. Em todos os pecados há este duplo aspecto: a aversio, aversão a Deus, e a conversio, a conversão, o apegamento aos bens efêmeros. O elemento formal determinante é o primeiro: a aversão a Deus. E esse, em nenhum outro pecado é tão explícito e formal como na soberba. “Todos os outros pecados fogem de Deus, e só a soberba se opõe a Deus”. É só dos soberbos que a Sagrada Escritura diz que Deus lhes resiste (Tiago 4, 6).
 
Humildade como comportamento social
 
A humildade também não é, em primeiro lugar, uma atitude externa nas relações da convivência humana. A humildade é, sobretudo, uma atitude do homem perante a Deus. Aquilo que a soberba nega e destrói, a humildade reafirma e consolida: a condição de criatura do homem. Esta condição constitui a essência mais profunda do homem. Portanto, a humildade, como “sujeição do homem a Deus”, é a adesão, o sim de assentimento a esta condição originária e essencial.

Em segundo lugar, a humildade não consiste num comportamento exterior, mas numa atitude interior, nascida da decisão da vontade. Consiste naquela atitude que, fixa em Deus e consciente da sua condição de criatura, reconhece a realidade graças à vontade divina. É principalmente a simples aceitação disto: que o homem e a humanidade não são Deus, nem “como Deus”. E é aqui que aflora a ligação escondida que une a humildade, virtude cristã, com o Dom - talvez também cristão - do humor.
Será possível evitar dizer agora - em terceiro lugar -, por fim e francamente, que a humildade, para além de tudo quanto já se disse, também é uma atitude do homem para com o homem, e principalmente atitude de humilhação voluntária e recíproca? Vejamos.

São Tomás de Aquino levantou a questão da atitude de humildade dos homens para com os homens, e respondeu da seguinte maneira: “Observa-se nos homens uma dupla realidade: aquilo que é de Deus, e aquilo que é do homem... A humildade, no entanto, no sentido mais próprio, é a reverência do homem submetido a Deus. É por isso que o homem, olhando para aquilo que lhe é próprio, tem que submeter-se ao seu próximo, olhando para aquilo que esse tem de Deus em si. Mas a humildade não exige que alguém submeta aquilo que nele há de Deus, àquilo que parece haver de Deus no próximo... Do mesmo modo, a humildade não exige que alguém submeta aquilo que tem em si de próprio, ao que nos outros é próprio dos homens”.

Josef Pieper
 
Fonte

Mais uma vez "dodói"... Voltando..

Amigos, mais uma vez estive "dodói" por uns dias, pelo que fiquei impossibilitado de atualizar as postagens e responder os comentários. Com a graça de Deus, retomemos!

Corde in Crux, Crux in Corde.

Fábio.

Um dos textos mais falaciosos que já vi... Trata de uma suposta "Liturgia Afro"...


Eu, particularmente, nunca vi um texto com tantas falácias, uma atrás da outra!

Este "achado" foi escrito pelo Padre Gabriel Gonzaga Bina, pároco da paróquia de Nossa Senhora Aparecida em Santa Isabel - SP, mestre em Teologia Dogmática com especialização em Liturgia e professor na Faculdade Paulo VI na Diocese de Mogi das Cruzes.

Esta "sumidade da estranheza litúrgica" está disponível no site da CNBB, no seguinte link:

Depois dessa, incluo mais um "marcador" nas postagens deste blog. Este levará o sugestivo nome de "Pérolas"

Infiltração de certos erros na doutrina católica

Papa Pio XII

Os teólogos e filósofos católicos, que têm o grave encargo de defender e imprimir nas almas dos homens as verdades divinas e humanas, não devem ignorar nem desatender essas opiniões que, mais ou menos, se apartam do reto caminho. Pelo contrário, é necessário que as conheçam bem; pois não se podem curar as enfermidades antes de serem bem conhecidas; ademais, nas mesmas falsas afirmações se oculta por vezes um pouco de verdade; e, por fim, essas opiniões falsas incitam a mente a investigar e ponderar com maior diligência algumas verdades filosóficas ou teológicas.

Se nossos filósofos e teólogos somente procurassem tirar esse fruto daquelas doutrinas, estudando-as com cautela, não teria motivo para intervir o magistério da Igreja. Embora saibamos que os doutores católicos em geral evitam contaminar-se com tais erros, consta-nos, entretanto, que não faltam hoje os que, como nos tempos apostólicos, amando a novidade mais do que o devido e também temendo que os tenham por ignorantes dos progressos da ciência, intentam subtrair-se à direção do sagrado Magistério e, por esse motivo, acham-se no perigo de apartar-se insensivelmente da verdade revelada e fazer cair a outros consigo no erro.

Existe também outro perigo, que é tanto mais grave quanto se oculta sob a capa de virtude. Muitos, deplorando a discórdia do gênero humano e a confusão reinante nas inteligências dos homens e guiados por imprudente zelo das almas, sentem-se levados por interno impulso e ardente desejo a romper as barreiras que separam entre si as pessoas boas e honradas; e propugnam uma espécie de "irenismo" que, passando por alto as questões que dividem os homens, se propõe não somente a combater em união de forças contra o ateísmo avassalante, senão também a reconciliar opiniões contrárias, mesmo no campo dogmático. E, como houve antigamente os que se perguntavam se a apologética tradicional da Igreja constituía mais impedimento do que ajuda para ganhar almas a Cristo, assim também não faltam agora os que se atreveram a propor seriamente a dúvida de que talvez seja conveniente não só aperfeiçoar mas também reformar completamente a teologia e o método que atualmente, com aprovação eclesiástica, se emprega no ensino teológico, a fim de que se propague mais eficazmente o reino de Cristo em todo o mundo, entre os homens de todas as civilizações e de todas as opiniões religiosas.

Se tais propugnadores não pretendessem mais do que acomodar, com alguma renovação, o ensino eclesiástico e seus métodos às condições e necessidades atuais, não haveria quase nada que temer; contudo, alguns deles, arrebatados por imprudente "irenismo", parecem considerar como óbice para restabelecer a unidade fraterna justamente aquilo que se fundamenta nas próprias leis e princípios legados por Cristo e nas instituições por ele fundadas, ou o que constitui a defesa e o sustentáculo da integridade da fé, com a queda do qual se uniriam todas as coisas, sim, mas somente na comum ruína.

Os que, ou por repreensível desejo de novidade, ou por algum motivo louvável, propugnam essas novas opiniões, nem sempre as propõem com a mesma intensidade, nem com a mesma clareza, nem com idênticos termos, nem sempre com unanimidade de pareceres; o que hoje ensinam alguns mais encobertamente, com certas cautelas e distinções, outros mais audazes propalarão amanhã abertamente e sem limitações, com escândalo de muitos, em especial do clero jovem, e com detrimento da autoridade eclesiástica. Mais cautelosamente é costume tratar dessas matérias nos livros que são postos à publicidade, já com maior liberdade se fala nos folhetos distribuídos privadamente e nas conferências e reuniões. E não se divulgam somente estas doutrinas entre os membros de um e outro clero, nos seminários e institutos religiosos, mas também entre os seculares, principalmente aqueles que se dedicam ao ensino da juventude.

Pio XII, Humani Generis 

A Igreja e a questão social


Papa Leão XIII

10. É com tôda a confiança que Nós abordamos êste assunto, e em tôda a plenitude de Nosso direito; porque a questão de que se trata é de tal natureza, que, a não se apelar para a religião e para a Igreja, e impossível encontrar-lhe uma solução eficaz. Ora, como é principalmente a Nós que estão confiadas a salvaguarda da religião e a dispensão do que é de domínio da Igreja, calarmo-nos seria aos olhos de todos trair o Nosso dever. Certamente uma questão desta gravidade demanda ainda de outros a sua parte de atividade e de esforços: isto é, dos governantes, dos senhores e dos ricos, e dos próprios operários, de cuja sorte se trata. Mas, o que nós afirmamos sem hesitação, é a inanidade da sua ação fora da Igreja. É a Igreja, efetivamente, que haure no Evangelho doutrinas capazes ou de pôr termo ao conflito ou ao menos de o suavizar, expurgando-o de tudo o que ele tenha de severo e áspero; a Igreja, que não se contenta em esclarecer o espírito de seus ensinos, mas também se esforça em regular, de harmonia com eles a vida e os costumes de cada um; a Igreja, que, por uma multidão de instituições eminentemente benéficas, tende a melhorar a sorte das classes pobres; a Igreja, que quer e deseja ardentemente que todas as classes empreguem em comum as suas luzes e as suas forças para dar à questão operária a melhor solução possível; a Igreja, enfim, que julga que as leis e a autoridade pública devem levar a esta solução, sem dúvida com medida e com prudência, a sua parte do concurso. Não luta, mas concórdia das classes.

11. O primeiro princípio é que o homem deve aceitar com paciência a sua condição: é impossível que na sociedade civil todos sejam elevados ao mesmo nível. É, sem dúvida, isto o que desejam os socialistas; mas contra a natureza, todos os esforços são vãos. Foi ela, realmente, que estabeleceu entre os homens diferenças tão múltiplas como profundas; diferenças de inteligência, de talento, de habilidade, de saúde, de força; diferenças necessárias, de onde nasce espontaneamente a desigualdade das condições. Esta desigualdade, por outro lado, reverte em proveito de todos, tanto da sociedade como dos indivíduos; porque a vida social requer um organismo muito variado e funções muito diversas, e o que leva precisamente os homens a partilharem estas funções é, principalmente, a diferença de suas respectivas condições. Pelo que diz respeito ao trabalho em particular, o homem, mesmo no estado de inocência, não era destinado a viver na ociosidade, mas, ao que a vontade teria abraçado livremente como exercício agradável, a necessidade lhe acrescentou, depois do pecado, o sentimento da dor e o impôs como uma expiação: 'A terra será maldita por tua causa; é pelo trabalho que tirarás com que alimentar-te todos os dias da vida' (Gen 3, 17). O mesmo se dá com todas as outras calamidades que caíram sobre o homem: neste mundo as calamidades não terão fim nem tréguas, porque os funestos frutos do pecado são amargos, acres, acerbos, e acompanham necessariamente o homem até o derradeiro suspiro. Sim, a dor e o suspiro são o apanágio da humanidade, e os homens poderão ensaiar tudo, tudo tentar para os banir; mas não o conseguirão nunca, por mais recursos que empreguem, e por maiores forças que para isso desenvolvam. Se há quem, atribuindo-se o poder fazê-lo, prometa ao pobre uma vida isenta de sofrimentos e de trabalhos, toda de repouso e de perpétuos gozos, certamente engana o povo e lhe prepara laços, onde se ocultam, para o futuro, calamidades mais terríveis que as do presente. O melhor partido consiste em ver as coisas tais quais são, e, como dissemos, em procurar um remédio que possa aliviar os nossos males. O erro capital na questão presente é crêr que as duas classes são inimigas natas uma da outra, como se a natureza tivesse armado os ricos e os pobres para se combaterem mutuamente num duelo obstinado. Isto é uma aberração tal, que é necessário colocar a verdade numa doutrina contrariamente oposta, porque assim como no corpo humano os membros, apesar da sua diversidade, se adaptam maravilhosamente uns aos outros, de modo que formam um todo exatamente proporcionado e que se poderá chamar simétrico, assim também, na sociedade, as duas classes estão destinadas pela natureza a unirem-se harmoniosamente e a conservarem-se mutuamente em perfeito equilíbrio. Elas tem imperiosa necessidade uma da outra: não pode haver capital sem trabalho, nem trabalho sem capital. A concórdia traz consigo a ordem e a beleza; ao contrário, dum conflito perpétuo só podem resultar confusão e lutas selvagens. Ora, para dirimir este conflito e cortar o mal na sua raiz, as Instituições possuem uma virtude admirável e múltipla.

E, primeiramente, toda a economia das verdades religiosas, de que a Igreja é guarda e intérprete, é de natureza a aproximar e reconciliar os ricos e os pobres, lembrando às duas classes os seus deveres mútuos e, primeiro que todos os outros, os que derivam da justiça.

Papa Leão XIII, Rerum Novarum, 15 de maio de 1891

8 de setembro, natividade da Santíssima Virgem Maria



Das grandezas de Maria, S. Luíz Maria Grignion de Montfort

Como o novo Adão ao seu paraíso terrestre, assim desceu Deus Filho ao seio virginal de Maria para aí achar as suas delícias e operar, às escondidas, maravilhas de graça. O Deus feito homem encontrou a sua liberdade em se ver aprisionado no seio dela; fez brilhar a sua força, deixando-se levar por essa jovem virgem. Achou a sua glória e a de seu Pai, escondendo os seus esplendores a todas as criaturas da terra, para só os revelar a Maria; glorificou a sua independência e majestade, dependendo desta amável virgem na sua concepção, nascimento, apresentação no templo, na sua vida oculta de trinta anos e, até, na sua morte. Maria devia assistir a essa morte, porque Jesus quis oferecer com ela um mesmo sacrifício e ser imolado à vontade de Deus pelo consentimento de Abraão. Foi Ela que o amamentou, nutriu, sustentou, criou e sacrificou por nós... Ó admirável e incompreensível dependência de um Deus! Nem o Espírito Santo a pôde ocultar no Evangelho para nos mostra o seu valor e glória infinita, embora tenha escondido quase todas as maravilhas operadas pela Sabedoria encarnada durante a sua vida oculta. Jesus Cristo deu mais glória a Deus Pai pela sua submissão a Maria durante trinta anos do que lhe teria dado se convertesse toda a terra operando os maiores prodígios. Oh! Quão altamente glorificamos a Deus, quando nos submetemos, para lhe agradar, à Virgem Santíssima, a exemplo de Jesus Cristo, nosso único modelo!

Se examinarmos de perto o resto da vida de Jesus, veremos que Ele quis iniciar os seus milagres por Maria. Santificou São João no seio de sua mãe, Santa Isabel, pela palavra de Maria. Logo que Ela falou, João ficou santificado; e este foi o primeiro milagre de Jesus na ordem da graça. Nas bodas de Caná, Jesus mudou a água em vinho, atendendo ao humilde pedido de sua Mãe; e este foi o seu primeiro milagre na ordem natural. Começou e continuou os seus milagres por Maria; por Ela os continuará até ao fim dos séculos.

Sendo o Espírito Santo estéril em Deus, isto é, não produzindo nenhuma outra Pessoa divina, tornou-se fecundo por Maria, a quem desposou. Foi com Ela e nela e dela que formou a sua obra prima: um Deus feito homem, e que forma todos os dias até ao fim dos séculos, os predestinados e os membros do corpo que tem por cabeça o adorável Jesus. É por isso que, quando mais numa alma Ele encontra Maria, sua amada e inseparável esposa, tanto mais operante e poderoso se torna para produzir Jesus Cristo nessa alma e essa alma em Jesus Cristo.

Não se quer dizer com isto que a Santíssima Virgem dê ao Espírito Santo a fecundidade, como se Ele a não tivesse. Ele é Deus e, por isso, possui a fecundidade (ou a capacidade de produzir) tal como o Pai e o Filho, embora a não transforme em ato, produzindo outra pessoa divina. O que se quer dizer é que o Espírito Santo reduz a ato a sua fecundidade por intermédio da Santíssima Virgem. Mas o Espírito Santo quer servir-se dela, embora disso não tenha uma necessidade absoluta, para produzir nela e por Ela Jesus Cristo e os seus membros. Mistério de graça, escondido mesmo aos cristãos mais sábios e mais espirituais!

O procedimento que as três Pessoas da Santíssima Trindade tiveram na Encarnação e primeira vinda de Jesus Cristo, têm-no ainda todos os dias, duma maneira invisível, na Santa Igreja, e tê-lo-ão até à consumação dos séculos, na última vinda de Jesus Cristo.

Deus Pai juntou todas as águas, e chamou-lhes mar; juntou todas as suas graças, e chamou-lhes Maria. Este grande Deus tem um tesouro ou celeiro riquíssimo, onde encerrou tudo o que tem de belo, de resplandecente, de raro e precioso, incluindo o seu próprio Filho. E este tesouro imenso não é outro a não ser Maria, a quem os santos chamam o tesouro do senhor, de cuja plenitude os homens são enriquecidos.

São Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem

MISSA DOS EXCLUÍDOS


Alguns pontos curiosos escritos na folha de leituras e orientações para a Santa Missa. (Comentários meus em negrito itálico)

“Cada comunidade poderá adequar o roteiro de celebração a sua realidade (sic) (Missa como sacrifício, então, só no matadouro), com símbolos (que tal uma foice e um martelo?) e participação dos excluídos (ah.. ainda bem que tem espaço pra católico verdadeiro, porque somos os únicos excluídos nessa bagunça toda), usando de criatividade (que tal uma roda de capoeira no ofertório? Ficaria legal...), com danças (se vira nos trinta), encenações (Fantasma da Ópera no ato penitencial, por favor...), poesia (havia uma pedra no meio do caminho...), cartazes (Filma eu Galvão!), etc. Importante abrir espaço a artistas populares (Põe o pessoal do Hip-Hop pra dançar no “Santo”), crianças e adolescentes, jovens e outros grupos.”

“Para criar ambientes ou fazer a procissão de entrada: cartazes do Grito (não gosto de filme de terror), símbolos do grito (uma goela aberta!), faixa (Eu sou faixa vermelha, serve?), painéis, lemas dos gritos anteriores” (tipo: “a gente não ‘temos’ o que fazer!”, “nós só quer incomodar”, “Viva Marx e seu profeta Che” e “Você contribói para o meu viver!”)

“Gritos de todos e todas nós aqui presentes (Kiai!), no desejo da terra prometida pela qual tanto lutamos.” (Vamos pra Cuba, ehhhh!!!)

“Na Bíblia o grito dos excluídos não deixa que nossa fé se torne espiritualista ou alienada (comento abaixo). No grito dos excluídos, o Deus verdadeiro libertação! (sic).

(Há aqui uma explícita identificação entre “espiritualismo” e “alienação”. Segundo o filósofo Louis Jugnet, no seu livro “Doutrinas Filosóficas e Sistemas Políticos”, o espiritualismo é uma derivação do realismo que concebe a existência do mundo material e, acima dele, a do mundo imaterial ou espiritual. Mas parece que a pessoa que escreveu estes disparates duvida da existência do mundo imaterial, considerando-lhe fruto da alienação. Seria ele, então, materialista? Se sim, o que faz na Igreja? E ainda por cima, pretendendo orientar sobre as regras litúrgicas? Realmente, é o fim do mundo! Como um cara que nem sabe escrever, não apenas pretende, mas consegue exercer influência no culto divino?... Depois disso, alguém duvida de que a fumaça de satanás tenha entrado na Igreja, como bem o disse Paulo VI?
E que "Deus verdadeiro" é esse? Vá pra Universal, meu caro, e “pare de sofrer”...)

Canto de entrada: “Baião das comunidades” (das comunas...)

“A força da transformação está na organização popular”. (E Deus, onde fica? Ah, esqueci! Cristo é Marx pra vocês, né?)

“Perdão, Senhor, quando nossa vida do dia-a-dia não corresponde ao nosso discurso e somos incoerentes nas nossas práticas e ações (e nas palavras também) em relação a participação (sic) (alguém já falou da crase a esse rapaz?) de todos e todas nas decisões política e econômica do país, na defesa do planeta (Uau!!! Liga da Justiça!) e na igualdade entre homens e mulheres” (Viva à transferência de sexo! Vamos deixar tudo igual!).

“Perdão quando nossas organizações se tornam fim em si mesmo (será que ele está se referindo à Igreja? Sinceramente, não sei), e esquecem de servir à causa mais ampla de organização do povo” (Quer organizar sem ordenar? Poxa, muito coerente você).

Uma pessoa com um cartaz escrito Igreja dos Pobres” (Ainda estes dias, escutávamos a ordem de não fazer acepção de pessoas... Ah, vamos ficar só com o que nos interessa… Afinal, a grande regra da hermenêutica suprema que permite interpretar o verdadeiro sentido da Bíblia é porcaria de Marx, que consideram como o logos das massas).

“Sugestão: uma pessoa traz a Bíblia e fitas coloridas saem da mesma, sendo que cada pessoa, com roupa típica (não esqueçam os biquinis se houverem havaianos) segura uma das fitas (brincadeira de criança, como é bom, como é bom!). As vestimentas apontam para culturas populares de resistência (e os acessórios, pode? Tipo... um fuzil da resistência!)

Partilha da Palavra:
“No Evangelho de Lucas, Jesus cura o homem de mão seca. Mãos significam trabalho. Mão doente, trabalho também doente. As pessoas sentem o peso do trabalho explorado (aff...), precário, excessivo. Curar as mãos significa libertar o trabalho para que ele realize o ser humano (realmente, é o trabalho que vai realizar o ser humano...). Curar as mãos significa também o agir solidário, ação libertadora (Aff... estou desconfiado: isto está parecendo a Teologia da Libertação. Kkk.. quase não dá pra perceber). Jesus liberta para a ação. Por isso, os doutores de ontem e hoje não olham com bons olhos estes gestos libertadores de Jesus (é.. os doutores não, só os ingênuos que caem nessa lorota de vocês...).

Oração da comunidade:
“Para que os companheiros (Quem escreveu isso, o Lula?) tratem com respeito e dignidade todas as mulheres, sem exercer nenhum tipo de dominação e violência, pois em Cristo não pode haver submissão de um pelo outro, mas amor recíproco.” (“As mulheres sejam submissas aos seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador” (Ef 5,22-23). Esse Paulo, realmente, é um fascista…)

Canto de ofertório: Quem disse que não somos nada (ritmo afro) (sic) (Chama o pessoal do Candomblé e o povo do É o Tchan também. Pena que Michael Jackson morreu, senão estaria lá também pra dançar “They don’t care about us”.. nossa, ver o Moonwalk ao vivo.. que emoção!)

Pai-Nosso Ecumênico (versão CONIC) (Prefiro a versão Jesus)
 
Pai-Nosso, que estás no céu, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dá hoje. Perdoa as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. E não nos deixeis cair em tentação (2ª pessoa do singular ou do plural? Decida-se...), mas livra-nos do mal, pois teu é o Reino, o poder e a glória, para sempre. Amém!
 
Comunhão (fazer a partilha de alimentos no final da celebração em sinal de festa) (Eu levo os chicletes!)
 
Compromisso: Um grupo dá um depoimento de como sua luta local está ligada à luta por um Brasil melhor (Eh... eu treino Jiu Jitsu e, cada vez que eu quebro um braço de alguém, eu ofereço pela vida do Lula e pelos meus companheiros que também estão nessa luta aí, ajudando o Brasil... A gente tem o objetivo de quebrar 40 braços até o fim do mês, pra ver se as coisas melhoram, né... Mas é luta.. é luta...) e convida a todos para somar forças neste grande mutirão de mudança (quem for da direita, vem para a esquerda, e quem for da esquerda, vem para a direita... O importante é mudar! É isso aí, a vida é movimento... vamo se mexer!), para que a vida esteja em 1º lugar (Deixa o Rubinho uma vez só!).
 
Canto final
Traga a bandeira de luta. (Que cor? Ah, vermelha, claro! E põe uma estrelinha também!)

Enfim, seria mais cômico se não fosse trágico. Estão a brincar com a Liturgia.. Miserere Nobis...

XV dos Excluídos – 07 de Setembro de 2009.
Comentários: Fábio Luciano.
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