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A batina é indispensável

Pe. Paulo Ricardo - O poder paralelo na Igreja - 2ª Parte

"A Palavra de Deus é um leão que só precisa ser solto" 
Pe. Paulo Ricardo

A verdadeira luta hoje travada

Além de pôr o texto do Pe. Elídio, gostaria de fazer uma recomendação veemente do seu blog. Sempre que o leio é como se um raio de sol me incidisse na alma. A comparação é muito sugestiva e adequada ao efeito que causam em mim alguns dos seus textos. Boa doutrina e boa filosofia residem lá. No final do post, vai o link do blog do padre. 

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Padre Elílio de Faria Matos Júnior

O filósofo Karl Jaspers identificou na Antiguidade o que ele chamou de “tempo-eixo”, um período de tempo entre 800 e 200 a.C., que, da Grécia até o Extremo Oriente, foi capaz de forjar o destino da história subsequente. O que caracterizou esse fecundo período, na verdade, foi a tomada de consciência de que o sentido do mundo não se encerra no próprio mundo. Rompendo com visões rigidamente cosmocêntricas, grandes individualidades na Grécia (os filósofos), em Israel (os profetas), na China e na Índia apontaram para uma Realidade metacósmica e nela viram o fundamento do mundo e do homem.

Notadamente, o globo simbólico de nossa civilização ocidental foi constituído pelo encontro de duas experiências nascidas no tempo-eixo, a saber, a experiência da Revelação em Israel e a experiência da Ideia na Grécia. Em ambas as experiências, o homem e o mundo eram remetidos a um fundamento transcendente, que não estava simplesmente ao dispor das arbitrariedades e decisões humanas. No caso de Israel, a experiência do fundamento transcendente se realizou como acolhimento na fé de Deus que se dirige ao homem (movimento de descida); já no caso da Grécia, a experiência se perfaz no movimento de subida, em que se procura alcançar a razão última do mundo e do homem num supremo esforço de exercício filosófico. Num caso como no outro, o fundamento metacósmico é reconhecido como estando muito além da razão finita do homem – supra intellectum -, o que deu origem ao tema do “Deus inapreensível”, estudado pela teologia e pela filosofia.

 Foi a partir do século II de nossa era que a experiência de Israel, já tornada Cristianismo, e a experiência grega se encontraram e mutuamente se fecundaram para abrir, assim, o globo simbólico de nossa civilização ocidental. Desde então, temos vivido sob o signo do fundamento transcendente (Deus, o Absoluto). Acontece, porém, que a modernidade dita pós-cristã tem pretendido fundar um novo tempo-eixo, em contraposição ao primeiro. Um tempo em que a referência ao fundamento transcendente fosse banida de vez. A própria filosofia em geral, esquecendo-se de sua vocação originária, tem procurado transferir para a imanência a fonte de todo sentido que o homem possa ver nas coisas. Deixando de lado o Absoluto transcendente, oestablishment cultural dito pós-cristão tem procurado transferir a fonte de sentido para o sujeito, para a natureza, para a história, para a cultura, para a linguagem... Num périplo que parece interminável.

A luta que então se trava é a luta entre uma civilização que tem no transcendente sua medida, de um lado, e, de outro, uma civilização que procura a todo custo imanentizar toda medida, critério ou sentido. Todos os outros embates culturais derivam, de certa maneira, dessa luta fundamental. Mas um novo tempo-eixo que deixe de lado o transcendente estaria conforme à dignidade espiritual do homem? Não privaria o homem de sua mais alta expressão, qual seja, a busca do Absoluto? 

60 anos de Ordenação Sacerdotal de Bento XVI - Deo Gratias!


HOMILIA DO PAPA BENTO XVI
Basílica Vaticana 29 de Junho de 2011


Amados irmãos e irmãs!


«Non iam servos, sed amicos» - «Já não vos chamo servos, mas amigos» (cf. Jo 15, 15). Passados sessenta anos da minha Ordenação Sacerdotal, sinto ainda ressoar no meu íntimo estas palavras de Jesus, que o nosso grande Arcebispo, o Cardeal Faulhaber, com voz um pouco débil já mas firme, nos dirigiu, a nós novos sacerdotes, no final da cerimónia da Ordenação. Segundo o ordenamento litúrgico daquele tempo, esta proclamação significava então a explícita concessão aos novos sacerdotes do mandato de perdoar os pecados. «Já não sois servos, mas amigos»: eu sabia e sentia que esta não era, naquele momento, apenas uma frase «de cerimónia»; e que era mais do que uma mera citação da Sagrada Escritura. Estava certo disto: neste momento, Ele mesmo, o Senhor, di-la a mim de modo muito pessoal. No Baptismo e na Confirmação, Ele já nos atraíra a Si, acolhera-nos na família de Deus. Mas o que estava a acontecer naquele momento, ainda era algo mais. Ele chama-me amigo. Acolhe-me no círculo daqueles que receberam a sua palavra no Cenáculo; no círculo daqueles que Ele conhece de um modo muito particular e que chegam assim a conhecê-Lo de modo particular. Concede-me a faculdade, que quase amedronta, de fazer aquilo que só Ele, o Filho de Deus, pode legitimamente dizer e fazer: Eu te perdoo os teus pecados. Ele quer que eu – por seu mandato – possa pronunciar com o seu «Eu» uma palavra que não é meramente palavra mas acção que produz uma mudança no mais íntimo do ser. Sei que, por detrás de tais palavras, está a sua Paixão por nossa causa e em nosso favor. Sei que o perdão tem o seu preço: na sua Paixão, Ele desceu até ao fundo tenebroso e sórdido do nosso pecado. Desceu até à noite da nossa culpa, e só assim esta pode ser transformada. E, através do mandato de perdoar, Ele permite-me lançar um olhar ao abismo do homem e à grandeza do seu padecer por nós, homens, que me deixa intuir a grandeza do seu amor. Diz-me Ele em confidência: «Já não és servo, mas amigo». Ele confia-me as palavras da Consagração na Eucaristia. Ele considera-me capaz de anunciar a sua Palavra, de explicá-la rectamente e de a levar aos homens de hoje. Ele entrega-Se a mim. «Já não sois servos, mas amigos»: trata-se de uma afirmação que gera uma grande alegria interior mas ao mesmo tempo, na sua grandeza, pode fazer-nos sentir ao longo dos decénios calafrios com todas as experiências da própria fraqueza e da sua bondade inexaurível.

«Já não sois servos, mas amigos»: nesta frase está encerrado o programa inteiro duma vida sacerdotal. O que é verdadeiramente a amizade? Idem velle, idem nolle – querer as mesmas coisas e não querer as mesmas coisas: diziam os antigos. A amizade é uma comunhão do pensar e do querer. O Senhor não se cansa de nos dizer a mesma coisa: «Conheço os meus e os meus conhecem-Me» (cf.Jo 10, 14). O Pastor chama os seus pelo nome (cf. Jo 10, 3). Ele conhece-me por nome. Não sou um ser anónimo qualquer, na infinidade do universo. Conhece-me de modo muito pessoal. E eu? Conheço-O a Ele? A amizade que Ele me dedica pode apenas traduzir-se em que também eu O procure conhecer cada vez melhor; que eu, na Escritura, nos Sacramentos, no encontro da oração, na comunhão dos Santos, nas pessoas que se aproximam de mim mandadas por Ele, procure conhecer sempre mais a Ele próprio. A amizade não é apenas conhecimento; é sobretudo comunhão do querer. Significa que a minha vontade cresce rumo ao «sim» da adesão à d’Ele. De facto, a sua vontade não é uma vontade externa e alheia a mim mesmo, à qual mais ou menos voluntariamente me submeto ou então nem sequer me submeto. Não! Na amizade, a minha vontade, crescendo, une-se à d’Ele: a sua vontade torna-se a minha, e é precisamente assim que me torno de verdade eu mesmo. Além da comunhão de pensamento e de vontade, o Senhor menciona um terceiro e novo elemento: Ele dá a sua vida por nós (cf. Jo 15, 13; 10, 15). Senhor, ajudai-me a conhecer-Vos cada vez melhor! Ajudai-me a identificar-me cada vez mais com a vossa vontade! Ajudai-me a viver a minha existência, não para mim mesmo, mas a vivê-la juntamente convoco para os outros! Ajudai-me a tornar-me sempre mais vosso amigo!

Esta palavra de Jesus sobre a amizade situa-se no contexto do discurso sobre a videira. O Senhor relaciona a imagem da videira com uma tarefa dada aos discípulos: «Eu vos destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça» (Jo 15, 16). A primeira tarefa dada aos discípulos, aos amigos, é pôr-se a caminho – destinei, para que vades –, sair de si mesmos e ir ao encontro dos outros. A par desta, podemos ouvir também a frase que o Ressuscitado dirige aos seus e que aparece na conclusão do Evangelho de Mateus: «Ide fazer discípulos de todas as nações…» (cf. Mt 28, 19). O Senhor exorta-nos a superar as fronteiras do ambiente onde vivemos e levar ao mundo dos outros o Evangelho, para que permeie tudo e, assim, o mundo se abra ao Reino de Deus. Isto pode trazer-nos à memória que o próprio Deus saiu de Si, abandonou a sua glória, para vir à nossa procura e trazer-nos a sua luz e o seu amor. Queremos seguir Deus que Se põe a caminho, vencendo a preguiça de permanecer cómodos em nós mesmos, para que Ele mesmo possa entrar no mundo.

Depois da palavra sobre o pôr-se a caminho, Jesus continua: dai fruto, um fruto que permaneça! Que fruto espera Ele de nós? Qual é o fruto que permanece? Sabemos que o fruto da videira são as uvas, com as quais depois se prepara o vinho. Por agora detenhamo-nos sobre esta imagem. Para que as uvas possam amadurecer e tornar-se boas, é preciso o sol mas também a chuva, o dia e a noite. Para que dêem um vinho de qualidade, precisam de ser pisadas, há que aguardar com paciência a fermentação, tem-se de seguir com cuidadosa atenção os processos de maturação. Características do vinho de qualidade são não só a suavidade, mas também a riqueza das tonalidades, o variegado aroma que se desenvolveu nos processos da maturação e da fermentação. E por acaso não constitui já tudo isto uma imagem da vida humana e, de modo muito particular, da nossa vida de sacerdotes? Precisamos do sol e da chuva, da serenidade e da dificuldade, das fases de purificação e de prova mas também dos tempos de caminho radioso com o Evangelho. Num olhar de retrospectiva, podemos agradecer a Deus por ambas as coisas: pelas dificuldades e pelas alegrias, pela horas escuras e pelas horas felizes. Em ambas reconhecemos a presença contínua do seu amor, que incessantemente nos conduz e sustenta.

Agora, porém, devemos interrogar-nos: de que género é o fruto que o Senhor espera de nós? O vinho é imagem do amor: este é o verdadeiro fruto que permanece, aquele que Deus quer de nós. Mas não esqueçamos que, no Antigo Testamento, o vinho que se espera das uvas boas é sobretudo imagem da justiça, que se desenvolve numa vida segundo a lei de Deus. E não digamos que esta é uma visão veterotestamentária, já superada. Não! Isto permanece sempre verdadeiro. O autêntico conteúdo da Lei, a sua summa, é o amor a Deus e ao próximo. Este duplo amor, porém, não é qualquer coisa simplesmente doce; traz consigo o peso da paciência, da humildade, da maturação na educação e assimilação da nossa vontade à vontade de Deus, à vontade de Jesus Cristo, o Amigo. Só deste modo, tornando verdadeiro e recto todo o nosso ser, é que o amor se torna também verdadeiro, só assim é um fruto maduro. A sua exigência intrínseca, ou seja, a fidelidade a Cristo e à sua Igreja, requer sempre que se realize também no sofrimento. É precisamente assim que cresce a verdadeira alegria. No fundo, a essência do amor, do verdadeiro fruto, corresponde à palavra relativa ao pôr-se a caminho, ao ir: amor significa abandonar-se, dar-se; leva consigo o sinal da cruz. Neste contexto, disse uma vez Gregório Magno: Se tendeis para Deus, tende cuidado que não O alcanceis sozinhos (cf. H Ev 1, 6, 6: PL 76, 1097s). Trata-se de uma advertência que nós, sacerdotes, devemos ter intimamente presente cada dia.

Queridos amigos, talvez me tenha demorado demasiado com a recordação interior dos sessenta anos do meu ministério sacerdotal. Agora é tempo de pensar àquilo que é próprio deste momento.

Na solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, antes de mais nada dirijo a minha mais cordial saudação ao Patriarca Ecuménico Bartolomeu I e à Delegação por ele enviada, cuja aprazível visita na ocasião feliz da festa dos Santos Apóstolos Padroeiros de Roma, vivamente agradeço. Saúdo também os Senhores Cardeais, os Irmãos no Episcopado, os Senhores Embaixadores e as autoridades civis, como também os sacerdotes, os colegas da minha Missa Nova, os religiosos e os fiéis leigos. A todos agradeço a presença e a oração.

Aos Arcebispos Metropolitanos nomeados depois da última festa dos grandes Apóstolos, será agora imposto o pálio. Este, que significa? Pode recordar-nos em primeiro lugar o jugo suave de Cristo que nos é colocado aos ombros (cf. Mt 11, 29-30). O jugo de Cristo coincide com a sua amizade. É um jugo de amizade e, consequentemente, um «jugo suave», mas por isso mesmo também um jugo que exige e plasma. É o jugo da sua vontade, que é uma vontade de verdade e de amor. Assim, para nós, é sobretudo o jugo de introduzir outros na amizade com Cristo e de estar à disposição dos outros, de cuidarmos deles como Pastores. E assim chegamos a um novo significado do pálio: este é tecido com a lã de cordeiros, que são benzidos na festa de Santa Inês. Deste modo recorda-nos o Pastor que Se tornou, Ele mesmo, Cordeiro por nosso amor. Recorda-nos Cristo que Se pôs a caminho pelos montes e descampados, aonde o seu cordeiro – a humanidade – se extraviara. Recorda-nos como Ele pôs o cordeiro, ou seja, a humanidade – a mim – aos seus ombros, para me trazer de regresso a casa. E assim nos recorda que, como Pastores ao seu serviço, devemos também nós carregar os outros, pô-los por assim dizer aos nossos ombros e levá-los a Cristo. Recorda-nos que podemos ser Pastores do seu rebanho, que continua sempre a ser d’Ele e não se torna nosso. Por fim, o pálio significa também, de modo muito concreto, a comunhão dos Pastores da Igreja com Pedro e com os seus sucessores: significa que devemos ser Pastores para a unidade e na unidade, e que só na unidade, de que Pedro é símbolo, guiamos verdadeiramente para Cristo.

Sessenta anos de ministério sacerdotal! Queridos amigos, talvez me tenha demorado demais nos pormenores. Mas, nesta hora, senti-me impelido a olhar para aquilo que caracterizou estes decénios. Senti-me impelido a dizer-vos – a todos os presbíteros e Bispos, mas também aos fiéis da Igreja – uma palavra de esperança e encorajamento; uma palavra, amadurecida na experiência, sobre o facto que o Senhor é bom. Mas esta é sobretudo uma hora de gratidão: gratidão ao Senhor pela amizade que me concedeu e que deseja conceder a todos nós. Gratidão às pessoas que me formaram e acompanharam. E, subjacente a tudo isto, a oração para que um dia o Senhor na sua bondade nos acolha e faça contemplar a sua glória. Amen.

O primeiro tweet de Bento XVI ^^



Vi no Fratres in Unum

Sobre a Parada Gay - Artigo de Dom Odilo Scherer

Eu não queria nem falar sobre esse tema, porque fico bastante aborrecido e não saberia escrever em tom de respeito pra quem não merece sequer um pingo disso. Não falo dos homossexuais como um todo; de modo algum! Falo do bando de depravados que promoveram essa tal passeata, usando de forma funesta as palavras de Nosso Senhor e ostentando, diabolicamente - esses safados - imagens que fazem referência aos nossos santos. Como não quero ter de xingá-los aqui, pois penso que eu ultrapassaria os limites, ponho o que sobre isso escreveu Dom Odilo Scherer:

(Os grifos são meus)

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Eu não queria escrever sobre esse assunto; mas diante das provocações e ofensas ostensivas à comunidade católica e cristã, durante a Parada Gay deste último domingo, não posso deixar de me manifestar em defesa das pessoas que tiveram seus sentimentos e convicções religiosas, seus símbolos e convicções de fé ultrajados.

Ficamos entristecidos quando vemos usados com deboche imagens de santos, deliberadamente associados a práticas que a moral cristã desaprova e que os próprios santos desaprovariam também. Histórias romanceadas ou fantasias criadas para fazer filmes sobre santos e personalidades que honraram a fé cristã não podem servir de base para associá-los a práticas alheias ao seu testemunho de vida. São Sebastião foi um mártir dos inícios do Cristianismo; a tela produzida por um artista cerca de 15 séculos após a vida do santo, não pode ser usada para passar uma suposta identidade homossexual do corajoso mártir. Por que não falar, antes, que ele preferiu heroicamente sofrer as torturas e a morte a ultrajar o bom nome e a dignidade de cristão e filho de Deus?!

“Nem santo salva do vírus da AIDS”. Pois é verdade. O que pode salvar mesmo é uma vida sexual regrada e digna. É o que a Igreja defende e convida todos a fazer. O uso desrespeitoso da imagem dos santos populares é uma ofensa aos próprios santos, que viveram dignamente; e ofende também os sentimentos religiosos do povo. Ninguém gosta de ver vilipendiados os símbolos e imagens de sua fé e seus sentimentos e convicções religiosas. Da mesma forma, também é lamentável o uso desrespeitoso da Sagrada Escritura e das palavras de Jesus – “amai-vos uns aos outros” – como se ele justificasse, aprovasse e incentivasse qualquer forma de “amor”; o “mandamento novo” foi instrumentalizado para justificar práticas contrárias ao ensinamento do próprio Jesus.

A Igreja católica refuta a acusação de “homofóbica”. Investiguem-se os fatos de violência contra homossexuais, para ver se estão relacionados com grupos religiosos católicos. A Igreja Católica desaprova a violência contra quem quer que seja; não apoia, não incentiva e não justifica a violência contra homossexuais. E na história da luta contra o vírus HIV, a Igreja foi pioneira no acolhimento e tratamento de soro-positivos, sem questionar suas opções sexuais; muitos deles são homossexuais e todos são acolhidos com profundo respeito. Grande parte das estruturas de tratamento de aidéticos está ligada à Igreja. Mas ela ensina e defende que a melhor forma de prevenção contra as doenças sexualmente transmissíveis é uma vida sexual regrada e digna.

Quem apela para a Constituição Nacional para afirmar e defender seus direitos, não deve esquecer que a mesma Constituição garante o respeito aos direitos dos outros, aos seus símbolos e organizações religiosas. Quem luta por reconhecimento e respeito, deve aprender a respeitar. Como cristãos, respeitamos a livre manifestação de quem pensa diversamente de nós. Mas o respeito às nossas convicções de fé e moral, às organizações religiosas, símbolos e textos sagrados, é a contrapartida que se requer.

A Igreja Católica tem suas convicções e fala delas abertamente, usando do direito de liberdade de pensamento e de expressão. Embora respeitando as pessoas homossexuais e procurando acolhê-las e tratá-las com respeito, compreensão e caridade, ela afirma que as práticas homossexuais vão contra a natureza; essa não errou ao moldar o ser humano como homem e mulher. Afirma ainda que a sexualidade não depende de “opção”, mas é um fato de natureza e dom de Deus, com um significado próprio, que precisa ser reconhecido, acolhido e vivido coerentemente pelo homem e pela mulher.

Causa preocupação a crescente ambiguidade e confusão em relação à identidade sexual, que vai tomando conta da cultura. Antes de ser um problema moral, é um problema antropológico, que merece uma séria reflexão, em vez de um tratamento superficial e debochado, sob a pressão de organizações interessadas em impor a todos um determinado pensamento sobre a identidade do ser humano. Mais do que nunca, hoje todos concordam que o desrespeito às leis da natureza biológica dos seres introduz neles a desordem e o descontrole nos ecossistemas; produz doenças e desastres ambientais e compromete o futuro e a sustentabilidade da vida. Ora, não seria o caso de fazer semelhante raciocínio, quando se trata das leis inerentes à natureza e à identidade do ser humano? Ignorar e desrespeitar o significado profundo da condição humana não terá consequências? Será sustentável para o futuro da civilização e da humanidade?

As ofensas dirigidas não só à Igreja Católica, mas a tantos outros grupos cristãos e tradições religiosas não são construtivas e não fazem bem aos próprios homossexuais, criando condições para aumentar o fosso da incompreensão e do preconceito contra eles. E não é isso que a Igreja Católica deseja para eles, pois também os ama e tem uma boa nova para eles; e são filhos muito amados pelo Pai do céu, que os chama a viver com dignidade e em paz consigo mesmos e com os outros.

Card. Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo

Projeto de transcrições do Castelo Interior de Sta Teresa D'Avila no Amor e Pobreza


Pessoal, nestas férias, um dos livros que escolhi para ler direito é o Castelo Interior ou Sete Moradas de Sta Teresa D'Avila, Doutora da Igreja e Mestra de Oração e que deveria constar como leitura obrigatória para os católicos. Neste tempo em que eu o estiver lendo, irei fazendo algumas transcrições no meu outro blog, o Amor e Pobreza, que é algo mais pessoal e com uma temática um pouco mais abrangente, se bem que ainda prevaleçam bastante os assuntos que dizem respeito à religião. Este livro a que me refiro pode ser facilmente encontrado na net e baixado (se procurar e não encontrar, me peça). No entanto, caso alguém tenha interesse de ficar acompanhando estas certas transcrições que farei, é só ir lá. Fiquem à vontade para ir, ou para não ir, rs... 

Quero esclarecer que não pretendo transcrever o livro inteiro, rs. Mas apenas certos trechos que eu, segundo critérios meus, claro, considere conveniente pôr lá. É um assunto que muito me interessa e com o qual tenho estado frequentemente em contato. Fica, então, o convite. O Amor e Pobreza é um blog menos formal e onde posto com menos frequência, o que pode mudar um pouco nestas férias, rs... Se, por acaso, eu considerar que é conveniente fazer alguma transcrição para este blog também - como já fiz com a postagem antes dessa - eu farei.

Enfim... aviso dado, convite feito. Independente de irem lá ou não, leiam Sta Teresa. Tenho certeza que ela ajudará a muitos e tirará um sem número de equívocos e frescuras pretensamente espirituais. Pax.

Fábio.

É preciso sair da miséria da nossa terra e pôr os olhos em Cristo


"Assim como dizíamos dos que estão em pecado mortal quão negras e de mau odor são seus cursos de água, assim aqui (ainda que não são como aqueles, Deus nos livre, que isto é só comparação), metidos sempre na miséria da nossa terra, nunca o curso sairá do lodo de temores, de pusilanimidade e covardia: de olhar a se me olham, se me não olham; se indo por este caminho, me sucederá mal; se ousarei começar aquela obra, se será soberba; se é bom que uma pessoa tão miserável trate de coisa tão alta como a oração; se me hão-de ter por melhor não indo pelo caminho de toda a gente; que não são bons os extremos, mesmo em virtude; que, como sou tão pecadora, será cair de mais alto; não irei talvez por diante e farei dano aos bons; uma como eu não precisa de singularidades.

Oh! Valha-me Deus, filhas, quantas almas deve o demônio ter feito perder por este meio! Tudo isto lhes parece humildade e outras muitas coisas que pudera dizer, vem de nunca acabarmos de nos entender; rende-se o próprio conhecimento, e, se nunca saímos de nós mesmos, não me espanto, que isto e mais se possa temer. Por isso digo, filhas, que ponhamos os olhos em Cristo, nosso Bem, e ali aprenderemos a verdadeira humildade, e em seus santos, e enobrecer-se-á o entendimento - como disse -, e não ficará o próprio conhecimento rasteiro e covarde. (...) Terríveis são os ardis e manhas do demônio para que as almas não se conheçam a si mesmas nem entendam Seus caminhos.

Sta Teresa D'Avila, Castelo Interior

É uma estupidez ignorar a beleza da alma e deter-se somente no corpo


"Não é pequena lástima e confusão que, por nossa culpa, não nos entendamos a nós mesmos, nem saibamos quem somos. Não seria grande ignorância, minhas filhas, que perguntassem a alguém quem era e não se conhecesse, nem soubesse quem foi seu pai, nem sua mãe, nem sua terra? Pois, se isto seria grande estupidez, sem comparação é maior a que há em nós quando não procuramos saber que coisa somos e só nos detemos nestes corpos; e assim, só a vulto sabemos que temos alma, porque o ouvimos e porque no-lo diz a fé. Mas, que bens pode haver nesta alma ou quem está dentro dela, ou o seu grande valor, poucas vezes o consideramos; e assim se tem em tão pouco procurar com todo o cuidado conservar sua formosura. Tudo se nos vai na grosseria do engaste ou cerca deste castelo; que são estes corpos."

Sta Teresa D'Avila, Castelo Interior

Monismo - Exposição e Refutação Sumária

Discípulo de Haeckel demonstrando método "científico" de produção da substância primeira que originaria todas as formas de vida por via de evolução.
Pe. Cauly

I. Exposição do sistema monista

Já, por diversas vezes, em nosso estudo sobre a origem e a formação do universo, achamo-nos em frente da teoria moderna, pseudo-científica e materialista do Monismo. Encontramo-la de novo na questão que nos ocupa, a origem e o desenvolvimento da vida; vê-la-emos ainda quando tratarmos da Antropologia. Não poderíamos por demais denunciar e aviltar este sistema de filosofia ateística, de materialismo absoluto, que se apresenta sob a capa da ciência, sem outro alvo do que contradizer a fé.

A teoria monística foi adotada por Strauss, em nome do criticismo teológico; por Spencer e sua escola, em nome do positivismo filosófico e sociológico; foi especialmente erigida em doutrina, em nome das ciências naturais, por Haeckel e seus discípulos, os quais quereriam fazer dela a base única da moral. "Estas novas formas do ateísmo, escreveu Scherer, são das mais perturbadoras e mais pérfidas; chegam tanto melhor a seu fim que para ele se dirigem de modo indireto e disfarçado".

Daremos o resumo do ensino de Haeckel sobre a origem e o desenvolvimento da vida.

I. Os fenômenos da vida se reduzem, em última análise, aos fenômenos que a física e a química estudam na matéria bruta e são suscetíveis de uma explicação mecânica.

II. Os seres vivos tiram a sua origem da matéria bruta por geração espontânea.

III. Não há distinção essencial entre as plantas e os animais.

IV. Há duas espécies de conhecimentos: o conhecimento consciente que existe só nos animais possuindo um sistema nervoso centralizado, e o conhecimento inconsciente que pertence a todo o ser vivo, a toda a célula, até a todo o átomo.

V. A seleção natural que chega para explicar a existência das espécies vivas.

A discussão de todas essas afirmações de Haeckel seria longa: limitemo-nos a pôr em destaque a sua evidente inépcia. Todo este sistema é desprovido de base. Como, por exemplo, assimilar e confundir os fenômenos da vida com as reações físicas e químicas? Onde estão as experiências científicas que fizeram passar a matéria bruta ao estado de vida vegetal ou animal? - Evidentemente o autor do sistema, no ponto de partida, voltará à sua monera, organismo dos mais simples que conheçamos ou que se possam conceber, corpúsculo informe, substância homogênea, mole, albuminosa ou mucosa, sem estrutura, sem órgãos, dotada contudo de propriedades vitais. Por geração espontânea, dela sairá o ser vivo, planta ou animal, homem enfim, por seleção natural, razão suprema explicando a variedade de todas as espécies vivas. Mas essa monera primitiva, onde é que a encontrou?

Será preciso lembrar a história do célebre Bathybius? Em 1868, um sábio professor inglês, Huxley, assinalou, pela primeira vez, uma espécie de muco amorfo, tirado das profundezas do mar, uma alam gelatinosa que podia ser uma produção espontânea do protoplasma, o elemento primordial e universal dos organismos vivos; deu-lhe o nome de Bathybius - que vive nas profundezas - e dedicou-o a seu amigo Haeckel.Este fez dele a base de sua teoria moderna da evolução. Onze anos mais tarde, 1879, este mesmo professor Huxley assistia ao Congresso da Associação Britânica, reunido em Scheffield. O Presidente, no seu discurso de abertura, teve a infeliz idéia de lembrar a descoberta do Bathybius; Huxley pediu a palavra. Foi para zombar do famoso protoplasma e da importância que lhe tinham dado, para confessar que não era mais do que um precipitado gelatinoso de sulfato de cálcio. Milne-Edwards, numa sessão do Instituto, a 15 de outubro de 1882, resumindo os estudos feitos sobre o Bathybus, declarou que não passava de um agregado de mucosidades provindo de esponjas e zoófitos, e que o Bathybius devia voltar para o nada.

Para acabar com o princípio de Haecel, acrescentemos que, mesmo no caso de admitir a existência da mais notável das moneras, dotada de todas as propriedades vitais, ficaria ainda por provar que ela é o produto da geração espontânea.

Que dizer da seleção natural que alguns acham suficiente para explicar a existência das espécies vivas? É verdade que precedentemente Haeckel nos disse que o animal possuindo um sistema nervoso centralizado, tem o conhecimento consciente, e todo o ser vivo, toda a célula, todo o átomo, um conhecimento inconsciente. É ainda verdade que alhures atribui-lhe a memória. Mas todas essas informações ficam sem provas, e o sistema inteiro é tudo quanto há de mais arbitrário e coloca em plena luz a insuficiência do saber de Haeckel, assim como da sua filosofia.

II. Refutação Sumária

Haeckel, como já dissemos, empreendeu dar a seu sistema um caráter científico. Apesar da má sorte do Bathybus, o mestre achou discípulos fiéis que acolheram com entusiasmo as suas estranhas elucubrações. Hoje, a teoria carbogenia - átomo de carbono, que, por uma paixão irresistível pelos átomos de hidrogênio, oxigênio e azoto, se uniu com eles de modo a formar as matérias albuminoides, princípios do protoplasma, da célula e da vida, - a teoria carbogenia, dizemos nós, é um dos dogmas intangíveis do monismo; não querem mais que esse átomo material animado seja uma simples hipótese. Um sábio professor da Sorbonne, o senhor Le Dantec declara que é um fato provado. Apesar desta afirmação, persistimos em repelir o sistema monista, na sua expressão mais completa, como anticientífico, não sendo mais do que uma hipótese e uma teoria em oposição flagrante com o método experimental; e também como antimetafísica, sendo contrário à evidência racional.

1º O monismo é anti-científico:

São sábios que no-lo dizem; são químicos que, à unanimidade, protestam e declaram irrealizáveis e sem esperança as sínteses orgânicas que deveriam ser um caminho certo para a síntese da célula. Recolhamos estas palavras de Berthelot, que parecem escritas para qualificar o método de Haeckel e seus partidários: "A ciência positiva não investiga nem a causa primeira, nem o fim das coisas; mas procede estabelecendo fatos pela observação e pela experiência... Compara-os, deles tira relações, isto é, fatos mais gerais, que são, por sua vez, verificados pela observação e pela experiência e é isto a única garantia de realidade dos primeiros. É a série dessas relações que constitui a ciência positiva. A ciência ideal (a pseudo-ciência) tem por base as opiniões individuais e a liberdade" (Berthelot, La Science idéale et la science positive, Carta a Renan)

O Dr. C. Robin, nas elucubrações de Haeckel, não vê "mais do que uma acumulação poética de probabilidades sem provas, e de explicações sedutoras sem demonstrações". Vacherot vai mais longe: "Mesmo quando a ciência, diz ele, chegaria a explicar-nos, em todos os pormenores, como se devem ter efetuado todas aquelas metamorfoses, apoiando-se sobre um conjunto de fatos autênticos e decisivos, a última palavra da questão ficaria ainda por dizer. A evolução, pela qual se teria conseguido explicar todas as coisas, ficaria ela mesma um mistério inexplicável com os princípios da escola mecanicista. Como pôde a evolução tirar da matéria seres que têm propriedades completamente diferentes? Como pôde efetuar milagres de efeitos sem causas?... É aqui que aparece a impotência das ciências físicas e naturais, e se faz sentir a imperiosa necessidade de procurar alhures a solução do enigma.

2º O monismo haeckeliano é anti-racional.

Encerra, com efeito, uma contradição metafísica. A criação, sendo substituída pelas "fases evolutivas da matéria eterna", achamo-nos em frente da dificuldade inextrincável, inerente à eternidade da matéria e do movimento. Não se concebe uma vida que se cria, um movimento que se imprime de si mesmo, uma força especial inerente à matéria e tornando-a capaz de produzir a harmonia, a ordem incomparável que reina no mundo.

Esta ordem será espontânea, atribuível à única ação das forças físico-químicas, como por exemplo as cristalizações, a superposição dos líquidos segundo a sua densidade? Não se manifesta, pelo contrário, intencional, em vista de alcançar um fim: tais como o mecanismo dos céus, o movimento das estações, a germinação da planta, o organismo dos animais...? Desta ordem evidente, admirável, quem é o autor? O acaso ou um feliz acontecimento mecânico Que espírito razoável poderia pretender tal?

Para furtar-se à conclusão que se impõe, a intervenção de uma Inteligência infinita e todo-poderosa, Spinoza, no século XVII, fundava a teoria do determinismo da natureza; Kant, no século XVIII, falava da manifestação necessária, imanente, inconsciente, de uma harmonia primitiva, indestrutível; Haeckel reduz os fenômenos da vida a um puro mecanismo; Le Dantec, no seu livro do Ateísmo, julga explicar a harmonia universal por um incoercível impulso para a ordem.  Pobre razão humana! Pobre ciência contemporânea que não tem outras respostas a nos oferecer, nestes graves problemas, senão uma causalidade imanente e uma finalidade inconsciente! Como se não voltasse sempre para ser resolvido o eterno problema: uma série infinita de fenômenos precisa de princípio; um movimento perpétuo, de ponto de partida; a passagem à vida, de uma causa; a ordem e a harmonia, de razão superior e ordenadora.

Em presença do mesmo Haeckel, Virchow, seu mestre, pouco suspeito de tendências místicas, emitia esta conclusão: "Não se conhece um só fato positivo que estabeleça que uma massa inorgânica, mesmo da Sociedade Carbono e Cia, se tenha jamais transformado em massa orgânica. Contudo, se eu não quiser acreditar num Criador especial, tenho que recorrer à geração espontânea: a coisa fica evidente: tertium non datur. Não admito a criação e quero uma explicação da origem da vida; emito uma primeira tese, mas, de bom ou de mau grado, preciso chegar à segunda: ergo, admito a geração espontânea. Mas dela não temos prova alguma; ninguém viu uma produção de matéria orgânica; não são os teólogos, são os sábios que a repelem. É preciso pois escolher entre a geração espontânea e a criação; para falar com franqueza, nós sábios (materialistas), teríamos certa preferência pela geração espontânea. Ah! se pudesse surgir uma demonstração qualquer... Mas, julgo que temos ainda que esperar...; com o Bathybius desapareceu mais uma vez a esperança de uma demonstração" (Revue scientifique, 8 de Dez. de 1887)

Pe. Cauly, Curso de Instrução Religiosa, Tomo IV, Apologética Cristã

São João Batista e a Eucaristia


Passei esses dias sem net, mas aqui ponho um texto que une, muito oportunamente, a pessoa de S. João Batista, que celebramos hoje, e a Eucaristia, cuja instituição celebrávamos ainda ontem. O texto é do excelente e altamente recomendável Pe. Ronald Knox e nele há afirmações e sutilezas que, se meditadas, poderão resultar numa compreensão bem mais profunda deste tesouro escondido que é a vida com Cristo. Boa Leitura.

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Pe. Ronaldo Knox

Penso que não me engano se digo que a festa do Corpus Christi é comemorada este ano no dia mais distante em que pode recair: 24 de junho. E assim choca, por uma curiosa coincidência, com a única festa de verdadeira importância com que pode coincidir e sobre a qual prevalece: o nascimento de São João Batista. Na verdade, não é que a joguemos para fora do calendário; celebramos essa festa amanhã. Mas, por uma vez, o grande Precursor vem atrás do seu Mestre.

Não penso que haja nenhum santo a quem possamos imaginar aceitando esta situação de mais bom grado que São João Batista. Nasceu, se podemos dizê-lo, para ser o homem que sempre fica de fora. O próprio Senhor no-lo confirmou: "Pobre João! - disse-. É o maior homem nascido de mulher, e, no entanto, é menos que o último dos que estais aqui, porque o Reino dos céus é para vós, não para ele" (Cfr. Mt 11,11). Situa-se ao lado dos heróis do Antigo Testamento, que viveram na esperança, mas nunca a viram realizada; de Profetas e Reis que suspiraram por longo tempo pela vinda do Messias, mas morreram sem vê-lo. Todos se lançam em corrida para entrar no Reino dos céus, os mais violentos arrebatam-no à força, e ele, João, fica de fora. Lembremo-nos de que o Precursor não tinha morrido quando o Senhor disse isso; estava apenas preso. Mas a verdade é que não estava destinado a ver como se cumpriria a salvação do mundo.

São João percebia-o, pressentia-o. As multidões que costumavam ir a ele, desejosas de ser batizadas, tinham quase desaparecido, e os seus discípulos queixavam-se de que Jesus de Nazaré, esse profeta novo, lhe tirara os seus ouvintes, apoderara-se dos seus métodos e o vinha eclipsando. E São João replicava com as palavras que citei acima: Importa que ele cresça e eu diminua. O seu destino - disse - era ser como o padrinho numa cerimônia de casamento: todo o interesse converge para o noivo e a noiva, todas as aclamações são para os dois, e ele há de prestar-lhes a sua companhia... Com inveja?, mal-humorado? Não, mas alegrando-se de ouvir a voz do esposo (cfr. Jo 3,29) Tinha aprendido a pôr-se de lado e abrir caminho para Cristo. Por isso vo-lo proponho hoje como um dos santos do Santíssimo Sacramento.

Não pôde viver para chegar à Última Ceia e receber o corpo de Jesus das mãos do próprio Jesus. Não pôde viver para esperar com a Virgem e os Apóstolos a vinda do Espírito Santo no Cenáculo. Mas deixou-nos essa frase preciosa que nunca devemos esquecer quando esperamos que o Senhor venha a nós na sagrada comunhão: Importa que ele cresça e eu diminua.

Se lermos o último versículo do primeiro capítulo de São Lucas, encontraremos as palavras: O menino foi crescendo, referidas a São João Batista. Se lermos um pouco mais adiante, no versículo 40 do capítulo seguinte, encontraremos de novo as mesmas palavras: O menino crescia, mas desta vez referidas a Cristo. Tomemos esses dois versículos juntos e teremos toda a biografia de São João. Exatamente, São João cresceu; internamente, na sua alma, não cresceu nunca: era o menino-Jesus Cristo, seu primo, que crescia dentro dele. O grão de trigo que cai no sulco e morre, para produzir muito fruto, foi semeado no coração de São João Batista, e o que brotou não foi São João, mas o Verbo de Deus: Jesus Cristo.

A imagem do grão de trigo leva-nos à parábola das sementes que o semeador lança a mãos-cheias e que produzem frutos maiores ou menores consoante o terreno em que caem e as vicissitudes que se seguem. Saiamos ao campo nesta época do ano e observemos algum pedaço de terra que tenha sido semeado em data recente. Que encontraremos? Um mar verde que deleita os olhos como faz o mar com as suas ondas de diversas tonalidades de luz. Mas aproximemo-nos um pouco mais e olhemos de perto. Que vemos? No meio do trigo que cresce..., urtigas, cardos, ervas daninhas, toda uma vegetação silvestre. Eram as antigas donas do terreno, até que um dia chegou o agricultor e espalhou pelo solo o misterioso tesouro do bom grão. Houve uma luta entre as plantas originais, velhas e fortes, e as sementes intrusas, uma luta para decidir qual das duas espécies desfrutaria da riqueza da terra, qual cresceria mais alto e roubaria o sol à outra. E a plantação introduzida pelo homem ganhou a batalha.

É uma imagem das nossas almas, ou melhor, oxalá o seja. É a imagem de uma alma em que a graça divina venceu, da alma de um santo ou de alguém perto de ser santo. O salmista põe na boca de Deus todo-poderoso estas palavras dirigidas ao seu Filho: Dominare im medio inimicorum tuorum, "domina entre os teus inimigos" (Sal 109,2). Esta deve ser a nossa oração, cada vez que o Senhor vem a nós na sagrada comunhão.

Queremos que Ele domine as nossas almas, sempre cheias de inimigos seus: o orgulho, a cobiça, a sensualidade, o ressentimento, que estão empenhados em disputar-lhe cada polegada de terreno. Somos criaturas caídas: os espinhos e abrolhos brotam em nós sem cessar. E a graça chega como um intruso, disposto a lutar pela sua supremacia em paragens hostis. Ora, a mais santificada das almas humanas não é melhor que esse campo de trigo do que falamos: olhemos sob a sua superfície e veremos ali todas as paixões humanas, abatidas, mas não plenamente desarraigadas. Se é assim com as melhores, que será com as nossas?

Profundamente enraizado na nossa natureza, misteriosamente prolífico, estendendo-se numa rede de ramificações sutis, encontra-se o instinto de auto-afirmação. Vemo-lo na sua forma mais crua nas crianças, no seu desejo de brilhar, que às vezes é divertido, mas às vezes irrita. Chegam os dias do colégio e os professores e os colegas esforçam-se por extirpar esse evidente defeito. Depois que crescemos, talvez os convencionalismos sociais nos obriguem a disfarçá-lo; afinal, não fica bem exibirmo-nos. Mas sabemos que está aí. Como são poucas as pessoas que aceitam com equanimidade, mesmo externamente, que não lhes peçam conselho, ou, se lhes pedem, que não se faça caso dele; que sejam preteridas quando se trata de preencher um cargo; que os seus rivais profissionais adquiram fama na mesma especialidade em que elas pensavam conquistá-la! E se olharmos para o interior do nosso coração, o sentimento amargo de termos sido maltratados, quando se fere a nossa importância, jaz às vezes muito mais lá no fundo de nós mesmos do que poderíamos imaginar. Não é caso para desesperar, mas devemos reconhecer que é talvez o sinal mais certo de que estamos muito longe de ser santos.

E uma das razões, sem dúvida, de que o Senhor venha a nós na sagrada comunhão é a de fazer com que afirmemos mais a pessoa de Cristo, e, em consequência, afirmemos menos as nossas próprias pessoas. E se o instinto de auto-afirmação continua a ter força dentro de nós, podemos estar certos de que Cristo ainda não domina entre os seus inimigos. É esse "eu" que infecta até mesmo as nossas orações e as nossas virtudes, que faz com que queiramos ser puros para nos podermos sentir puros, ser humildes para ter a liberdade de criticar o orgulho dos outros, mortificar-nos para nos podermos gloriar da nossa austeridade, em vez de querermos simplesmente que se cumpra a vontade de Deus em nós e em todos os outros. É esse "eu" que leva tão a mal todos os seus fracassos e decepções, que pergunta por que "isto" há de ser poupado aos outros e acontecer-me "só a mim".

Devemos procurar humilhar-nos de vez em quando, tomar consciência do pouco que progredimos, pensando na figura de São João Batista. Quando o sacerdote ergue diante de nós a Sagrada Hóstia antes de nos dar a comunhão, repete as palavras do Precursor: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1,29). E quando São João disse isso, sabia que estava encaminhando  os pensamentos dos seus discípulos para outro Mestre e que ele os perderia, que perderia gradualmente toda a sua popularidade, mas não se importava. Via fechar-se para ele o Reino dos céus - mais exatamente a manifestação terrena desse Reino -, tal como uma criança que amassa o nariz contra a vitrine onde se expõem os brinquedos que deseja; mas não se queixava. Importa que ele cresça e eu diminua. Era preciso que Cristo fosse cada vez mais e mais, e ele cada vez menos e menos; que houvesse cada vez menos dele para que houvesse cada vez mais de Cristo.

Pe. Ronald Knox, Reflexões Sobre a Eucaristia

Duas recomendações

Passando rapidinho pra deixar duas recomendações aos queridos leitores:

1- O excelente artigo do excelente Prof. Angueth: "Arcebispo de Maringá se desculpa por Brasil ser católico: vamos ajudá-lo" - leiam-no.

2- A aula sobre as Moradas do Castelo Interior de Sta Teresa D'Avila. Eu ainda não tive tempo de assistir, mas, o simples fato de tratar do assunto já nos autoriza, creio, a supor que será uma ótima aula. O tema é baseado, como dissemos, nos escritos de uma Santa que é doutora da Igreja e Mestra de oração. Assistam. Excelente para aprofundar o conhecimento sobre a autêntica vida espiritual e sobre a natureza humana de um modo geral. Disponível aqui.

Ad Iesum Per Mariam

Fábio

Fizestes da Minha casa um covil de ladrões...


"A minha casa é uma casa de orações, mas vós fizestes dela um covil de ladrões."

Esta é a frase que Jesus diz aos fariseus e aos que usavam o Templo como lugar de comércio, pervertendo o sentido original da casa de Deus e causando uma inversão na hierarquia dos valores. Jesus, movido de zelo, derruba as barracas e expulsa os vendilhões. Ele é Deus e, como tal, tem o direito de fazê-lo. Vem purificar o culto, as intenções para com Deus, nos ensinar como Deus quer ser servido e reafirmar o primado do amor a Ele.

É próprio da virtude da justiça repôr em ordem aquilo que foi bagunçado. No templo, em Jerusalém, as pessoas perdiam de vista a primazia do sagrado em virtude do faturamento e comercialização dos materiais de culto. Se o templo era um lugar de sacrifícios, nada mais oposto que a instrumentalização do divino em função da auto-promoção. Quando se faz isto, causa-se uma desordem e naturalmente atenta-se contra a virtude da justiça, cujo imperativo é amar a Deus sobre todas as coisas e, portanto, fazer tudo gravitar em torno dEle.

No templo, porém, parecia haver qualquer distração, como se o comércio assumisse um valor em si. Certos aspectos culturais eram legítimos, como, por exemplo, a venda de animais para o sacrifício ou a troca das moedas romanas que ostentavam a face de César. No entanto, o fim primordial para o qual convergem todas essas práticas parecia ter sumido do horizonte, e o templo surgia no coração daqueles sujeitos como uma oportunidade sobretudo rentável. Tinha-se, então, o primado dos próprios interesses, a idolatria de si mesmo, a exclusão do verdadeiro espírito de sacrifício, a extinção da devoção, e tudo isso em pleno Templo como a afrontar a dignidade de Deus, de Quem, no entanto, não se deve zombar.

Depois da intervenção enérgica de Nosso Senhor, os apóstolos se lembram das palavras da Escritura: "O zelo por tua casa me consome". Era por zelo e, portanto, por amor que Jesus os acusava de erro e os chamava ao amor primeiro, à prevalência da oração, à devoção autêntica, ao verdadeiro louvor que somente poderia ser dado pelos que se faziam como crianças, isto é, pequenos diante de Deus.

Eu penso que chegamos, hoje, a um estado de coisas muito mais grave do que o que havia no templo de Jerusalém. E, considerando que atualmente fazemos parte da Igreja fundada por Aquele que purificou o Templo, o descaso que somos obrigados a contemplar na Sua casa ganha, agora, uma dimensão ainda mais absurda. Aquela idolatria ou aquele desprezo pelo Dono da Casa em função dos próprios interesses é uma irrazoável usurpação e o temos visto, hoje, no descaso com a Liturgia, no barulho das igrejas, nas músicas ideológicas, na adesão a uma religião naturalista e anti-metafísica, no abandono das promessas de Cristo pelos devaneios de Marx, no primado da ação sobre a contemplação, na invenção de um culto ao modo humano em detrimento daquilo que é dado por Deus e independe aos diferentes contextos, sendo, portanto, universal.

"A minha casa é uma casa de oração; mas vós fizestes dela um covil de ladrões". Ladrões porque roubam aquilo que é direito de Deus! Ladrões porque usam da religião para frontalmente contrariar aquilo que o fundador do Catolicismo instituiu. Ladrões porque dificultam, a partir de um poder paralelo - como o denunciava o valente Pe. Paulo Ricardo - que se ponha ordem ao caos, que a verdadeira suprema autoridade da Igreja exerça sem impedimentos aquilo que lhe convém por direito, que as almas sejam bem orientadas, que Nosso Senhor, enfim, reine absoluto na nossa sociedade. Usurpação é roubo...

Precisamos redescobrir que a casa de Deus não é uma boate, não é uma casa de shows onde nos encontramos para dançar e jogar conversa fora. A casa de Deus é, sempre e em todo momento, um lugar de oração, de respeito, de silêncio e de sacrifício. É o monte santo do Senhor e, como tal, nos separa, por força, da baixeza do mundo; é o lugar onde não podemos entrar sem retirar as sandálias; é onde absolutamente não nos é dado ser protagonistas, sendo, como diz Jacó, a terrível casa de Deus, onde Ele, de fato, habita. Precisamos redescobrir que, sendo Monte Santo, a Igreja é o verdadeiro Monte Calvário, onde ocorre o Sacrifício do Senhor. Subir neste monte é, portanto, imitar o Seu sacrifício, pondo o interesse de Deus em primeiro plano e lhe respeitando o posto de Verdadeiro Rei, diante do qual assumimos a nossa verdadeira natureza, somos libertados do erro e da mentira, e somos apresentados, enfim, à alegria da Sua Presença e da Sua visão. O Monte Santo, onde nos encontramos com Ele, é o lugar em que O devemos imitar, abandonando-nos ao Seu amor.

Purifiquemos a casa de Deus. E se não o podemos fazer efetivamente nos templos físicos, não sejamos nós participantes das algazarras e das troças que estes ladrões promovem contra o Sagrado. A casa de Deus é um lugar de oração e, portanto, de silêncio e profundo respeito. Que o zelo pela casa do Senhor também nos consuma.

Deus seja louvado.

Ad Iesum Per Mariam

Fábio.

A luta pela fé! A aventura da fidelidade! O enfrentamento da apostasia! A coragem de amar a Deus!

"Vai encarar, seu fresco?"

Nós chegamos, meus caros, a um tempo particularmente difícil. A Igreja, durante estes mais de dois mil anos, nunca enfrentou uma crise semelhante à que agora se apresenta. Alguns podem afirmar que, em outros momentos, ela já foi mais violentamente perseguida; sim, é fato. Mas nunca houve, dentro dela, confusão que sequer se assemelhasse à que agora nós presenciamos. Os próprios católicos vão desorientados neste processo. E aqui eu não faço referências apenas ao clero - que, porém, dá mostras claras de despreparo -, mas aos católicos distribuídos em todos os setores da sociedade. É claro que, também, não quero generalizar. Existem, óbvio, vários que buscam ser fiéis, dia a dia, ao ensino de sempre da Santa Madre Igreja; isto implica uma constante formação a respeito da sua doutrina e uma contínua vivência dos sacramentos, em especial da Comunhão e da Confissão.

Diz o livro de Oséias que o povo de Deus se perde por falta de conhecimento. No início do livro "Do liberalismo à Apostasia", Mons. Marcel Lefebvre dizia aos seminaristas que, se eles não lessem e estudassem continuamente, acabariam por se tornar traidores. De fato, chegamos a um momento em que devemos, tanto quanto possamos - e eu diria até que ainda mais que antes - estudar, literalmente estudar o que a Igreja ensina. Antigamente, ouvir um padre e seguir-lhe os conselhos era garantia de trilhar caminho correto. Hoje, porém, é preciso procurar bastante e com muito critério para que encontremos um padre absolutamente confiável no seu discurso. É triste dizê-lo, mas é a verdade.

Quando até os mestres não conhecem e não divulgam a verdade, tem-se aí um grande problema. Tenho dito frequentemente que somente nos dias de hoje é que podemos contemplar o triste espetáculo de pessoas que se dizem católicas, mas que não conhecem os rudimentos da fé. Há sujeitos que passam por "retiros" de finais de semana e que, porque fizeram quaisquer experiências emocionais subjetivas, saem crentes de que se tornaram fiéis católicos de elite. E, mesmo depois disso, muitos permanecem totalmente desinteressados com relação aos dogmas da Igreja e à sua doutrina. O que se vê é uma espécie estranha de fideísmo que, em geral, não é suficiente para dar constância a ninguém, nem fazê-lo católico.

De outro lado, temos visto os supostos pais de almas, padres e bispos, fazendo todo tipo de agitações, de militâncias ideológicas em favor da água, das plantas, dos dinossauros, dos cogumelos, dos jacarés que são transformados em bolsas, etc., mas que, infelizmente, não se preocupam com as almas. Cai-se num tosco fenomenismo e utilitarismo e despreza-se a metafísica, o caráter espiritual da liturgia e a prevalência da contemplação sobre a ação. Cada dia mais, seminaristas escrevem livros de cunho esquerdista e elaboram teses em defesa das filosofias mais estapafúrdias; isso enquanto ignoram solenemente o tomismo, filosofia na qual deveriam ser bem formados. Resultado? Depois da ordenação, ouvimos homilias sem substância ou festival de disparates, catequeses de gosto revolucionário, rebeldia travestida de religião, instrumentalização da fé em função do erro.

Em todo este contexto, nós devemos encarar o desafio de manter a fidelidade à Igreja, de estudar a sua doutrina, de não querermos nos unir ao círculo dos zombadores que brincam com a liturgia e pervertem, nas catequeses, as almas das crianças, ensinando-lhes o erro e fazendo-as duvidar das verdades mais sublimes da Fé. E neste meio, se nos decidirmos pelo legítimo catolicismo, teremos de enfrentar as perseguições - por mais sutis ou dissimuladas que sejam - os olhares atravessados, e receberemos, por certo, diversos títulos nada honrosos, calúnias e julgamentos de intenção.

Mas aí é que está, também, a aventura amorosa que Nosso Senhor nos concede passar. Os Apóstolos Pedro e João agradeciam a Deus por terem sido dignos de serem açoitados por amor do Seu nome. Aproveitemos, portanto, a ocasião, e ardamos de zelo pelo Senhor. Para tal, repito, estudemos. Há muitas pessoas que andam por aí desanimadas da Fé simplesmente porque foram enganadas e passaram a duvidar da autenticidade da Igreja. Estudem e retomarão o vigor! Conheçam esta beleza que é a Igreja e serão almas de elite. Aprofundem-se na sua doutrina, na sua filosofia, nos seus argumentos morais, e perceberão que não há razão para pusilanimidade, para vergonha, para constrangimento. Ao contrário! Armem-se e à guerra!

É preciso alastrar, de novo, o amor à Verdade, à luz, à bondade, à retidão. Chega de teorias desvairadas que tratam os homens como se fossem todos bestas covardes e lamacentas. Não! Amor à grandeza, como dizia o saudoso Prof. Orlando Fedeli! Combatamos o bom combate e inflamemos os que estão ao nosso redor! Que percebam, pela integridade da nossa vida, as chispas daquele fogo a arder na nossa alma e possam ter um vislumbre daqueles olhos que convidam: "vem, tu também, e segue-me".

O que a Igreja necessita urgentemente - e toda a criação geme em dores de parto por isso - é que os cristãos larguem essa capa de culpa sem fundamento, esse véu mentiroso de inferioridade, e barrem, em nome de Cristo e armados pela Sua Cruz, essa algazarra da iniquidade e essa zombaria com Deus e com as almas. Dizia Nosso Senhor: "infeliz daquele para quem eu for pedra de escândalo e ai daquele sobre quem esta pedra cair". No combate, a Verdade é invencível e todo aquele que contra ela se levanta, haverá de quebrar-se. Armemo-nos do vigor de novos cruzados, pois a nós não foi dado um espírito de timidez, mas de audácia. 

Não pensemos, caríssimos, que tudo isto é palavreado e conversa de efeito. Essas hipocrisias são características dos inimigos de Nosso Senhor, que precisam encontrar todo tipo de mentiras para fazer aceitar, a contra gosto, os seus devaneios. Cristo é a verdade e Ele, por Si mesmo, é belo e forte, e atrai, e converte. Dizia S. Paulo que cuidava para não usar de artifícios humanos, para não desvirtuar a Cruz de Cristo. Basta que sejamos transparentes e límpidos como a água cristalina! Para tal, cuidemos da pureza das nossas almas e de estar alimentados com o pão do céu, "o pão seco dos fortes" como o chamou Sta Edith Stein, o maná que cai sobre o deserto do exílio, o alimento que permite vencer o mundo.

Medo, dor, prazeres egoístas e providos de traições, apegos e desejos de honrarias, tudo isto abandona-se, despreza-se e, como diz S. Paulo, tem-se a preço de nada diante de Cristo e do Seu conhecimento. Não cabem na porta estreita e impedem a verdadeira alegria, que somente surge na nudez e na gratuidade do amor. Se nos despirmos convenientemente dessas coisas, adquiriremos uma agilidade tal que, antes do primeiro movimento dos inimigos da verdade, já os teremos fulminado. Sigamos, caríssimos! Força! Ninguém combate sozinho. Os católicos vivem, já, na comunhão dos santos. São muitos os que lutam no seu anonimato e na ordinariedade de suas vidas. E nada disso é fantasia. Convençamo-nos de Cristo, entusiasmemo-nos por Ele, defendamos a Sua Igreja, e imitemos a disposição de Sto Atanásio: "Se o mundo for contra a verdade, Atanásio será contra o mundo". E jamais esqueçamos Aquele que disse: "Coragem, eu venci o mundo". É por Ele que lutamos.

Rezemos muito e sejamos fiéis católicos íntegros, sem capitular em nenhum ponto da Fé. Isso é de absoluta importância. Ninguém pense ser forte sem Cristo. Sem Ele, nada podemos. Não basta encenar. A via é íngreme mesmo... Mas tudo podemos nAquele que nos fortalece. N'Ele, vencemos o mundo. É preciso se entusiasmar de novo por Nosso Senhor e deixar essas frescuras de medinhos e culpinhas. O passado da Igreja é glorioso! Amemos o bem, a verdade, a beleza, a grandeza, a pureza! E o façamos em plena luz do dia!

Ad Iesum Per Mariam

Fábio

"Se o sal perder o sabor, com que havemos de salgar?" - Chesterton


O santo é remédio por ser antídoto. Realmente é esta a razão por que o santo é tantas vezes mártir: tomam-no por veneno por ser teriaga. Em geral sucede restabelecer ele a saúde do mundo exagerando aquilo que o mundo despreza: um elemento qualquer, que não é, de modo nenhum, sempre o mesmo em todas as épocas. No entanto, cada geração procura o seu santo por instinto, não o que ela quer, mas o de que precisa. Com certeza é este o significado destas palavras, tão mal compreendidas, dirigidas aos primeiros santos - "Vós sois o sal da terra" - que levaram o imperador da Alemanha a proclamar, com a maior seriedade, que os seus rotundos alemães eram o sal da terra, querendo dizer com isso que eram os mais fortes e, por conseguinte, os melhores do mundo. O sal, todavia, serve para condimentar e conservar a carne não por lhe ser semelhante a ela, mas por ser muito diferente dela. Cristo não disse aos Seus Apóstolos que eram unicamente excelentes pessoas, ou as únicas pessoas excelentes, mas que eram pessoas excepcionais, permanentemente discordantes e incompatíveis; o texto a respeito do sal da terra é em verdade tão vivo e penetrante como o gosto do sal. Por serem pessoas excepcionais, é que não deveriam perder a sua qualidade excepcional. "Se o sal perder o sabor, com que havemos de salgar?" é uma pergunta muito mais aguda do que qualquer lamentação a respeito do preço da melhor carne. Se o mundo se tornar demasiado mundano, pode ser censurado pela Igreja; mas, se a Igreja se tornar demasiado mundana, não pode ser censurada por mundana pelo mundo.

G. K. Chesterton, Biografia de Sto Tomás de Aquino

O Poder Paralelo dentro da Igreja - Pe. Paulo Ricardo

Eu vi que vários blogs divulgaram esse video, mas eu ainda não o tinha visto.
Ponho-o, então, aqui também. Importante para entender muita coisa. Pe. Paulo Ricardo tem feito um bem enorme. Que Deus o fortaleça e o mantenha fiel.

I "Consagra-te" com o Pe. Paulo Ricardo


Neste encontro, que acontecerá em Várzea Grande-MT (ao lado de Cuiabá), o Pe. Paulo Ricardo estará pregando sobre a "Consagração Total à Santíssima Virgem" tal como nos propõe S. Luís Maria Grignion de Montfort no seu Tratado da Verdadeira Devoção.

Para maiores informações clique aqui.

Dom Estêvão Bettencourt e o Magistério da Igreja sobre as Profecias para o fim do mundo


Dom Estêvão Bettencourt

Aos apóstolos que perguntavam quando se consumariam as suas expectativas messiânicas, respondeu o Senhor:

"Não toca a vos ter conhecimento dos tempos e momentos que o Pai fixou por Sua própria autoridade" (At 1,7)

E a Igreja deseja que se respeite o plano divino de deixar oculta aos homens a época da parusia, admoesta a que não se pergunte, mais ou menos futilmente, à fantasia humana o que o próprio Deus explicitamente Se recusou revelar. Diante de tudo o que se tem propalado sobre o assunto, ela será sempre um baluarte de paz, exortando os homens a que, sem se deixar perturbar por "rumores", se empenhem com zelo por fazer a cada momento o que é, certa e indubitavelmente, da vontade de Deus. Foi para assegurar essa tranquilidade de alma que a Igreja mais de uma vez se viu obrigada a se pronunciar contra os pregadores de "novidades".

Vão aqui transcritos duas declarações do Magistério da Igreja dirigidas aos que anunciam a doutrina do Evangelho.

Um Concílio regional de Milão em 1365 assim admoestava:

"Não apregoem como coisas certas a época da vinda do Anticristo e a data do juízo final, já que pelos lábios do Senhor foi dito: "Não toca a vós ter conhecimento dos tempos e momentos". Nem ousem, a partir das Escrituras Sagradas, procurar adivinhar o futuro e indicar determinado dia para determinado acontecimento. Também não afirmem temerariamente ter-lhes sido isso revelado por Deus."

O 5º Concílio Universal de Latrão, em 1516, decretou:

"Mandamos a todos os que estão, ou futuramente estarão, incubidos da pregação, que de modo nenhum presumam afirmar ou apregoar determinado juízo. Com efeito, a Verdade diz: "Não toca a vós ter conhecimento dos tempos e momentos que o Pai fixou por Sua própria autoridade". Consta que os que até hoje ousaram afirmar tais coisas mentiram e, por causa deles, não pouco sofreu a autoridade daqueles que pregam com retidão. Ninguém ouse predizer o futuro apelando para a Sagrada Escritura, nem afirmar o que quer que seja, como se o tivesse recebido do Espírito Santo ou de revelação particular, nem ouse apoiar-se sobre conjeturas vãs ou despropositadas. Cada qual deve, segundo o preceito divino, pregar o Evangelho a toda criatura, aprender a detestar o vício, recomendar e ensinar a prática das virtudes, a paz e a caridade mútua, tão recomendada por nosso Redentor."

Textos encontrados em Huerter, Theologiae Dogmaticae Compendium III nº 694 em nota. Veja-se também Hefeli - Le clerq, Histoire des Conciles VIII 1. Paris 1917, 526.

Dom Estêvão Bettencourt, A Vida que Começa com a Morte.

Há 75 anos, morria o grande G. K. Chesterton


Hoje, dia 14 de junho, completam-se os 75 anos desde a morte deste homem, grande no tamanho, grande na bondade, grande na inteligência; de fato, um dos maiores pensadores do Sec. XX. Considerado o Apóstolo do Senso Comum, creio firmemente que Chesterton é leitura obrigatória nos dias de hoje, sobretudo porque é um tempo das maiores bizarrices e da grande promoção das teorias mais fajutas e dos sistemas filosóficos mais falsos e cafajestes; em suma, dias de uma grande mediocridade intelectual que, justamente por ser mediocridade, é tida como qualquer coisa que preste e aplaudida aos quatro cantos, nas academias, nos jornalecos, nas mesinhas de bar onde se juntam os pseudos de toda conta. Faço o meu apelo do modo mais veemente que posso: Leiam G.K Chesterton. E Leiam-no urgentemente!

Visitem o blog do Prof. Angueth, um dos homens que mais contribuem para a difusão do pensamento deste gigante ignorado por quem não lhe seria páreo sequer para o mindinho do pé. E se acham que exagero, leiam Chesterton e constatem! 

Grandeza - Prof. Orlando Fedeli


Ter o olhar voltado para as claras estrelas
Não temer as duras batalhas, mas querê-las.

Águia fitando o sol, viver para as alturas,
desprezando as coisas baixas, vis e obscuras.

Amar só os horizontes vastos e azuis.
Odiar os negros charcos e os mortos pauis.

Ter a alma sem medo, covardias, tremores,
valente e forte como o rufar dos tambores.

Ter na alma claras notas de clarins de prata,
e nos lábios um canto ardente que arrebata.

Ser impelido pelos ventos da epopéia,
longe das calmarias podres de vida atéia.

Entre nuvens de fumo, de ódio e de poeira,
ousada e desafiante, desfraldar bandeira.

Qual falcão atacar, desprezando o perigo,
tendo olhos só para Deus e para o inimigo.

Não temer jamais nem as armas, nem as vaias,
nem o combate franco, nem as vis tocaias.

E, não fugindo nem da arena, nem do sorriso.
ver, na morte e cruz, as portas do Paraíso.

Jamais calcular o número do inimigo.
Mas contar só com Deus, com Santiago e consigo

Por justo combater, mesmo que solitário,
sem ver o número, enfrentar o adversário.

Viver abrasado de amor pela verdade,
Encantado pela beleza e poesia,
mantendo no coração a fidelidade
aos ecos longínquos de uma canção bravia.

Escutar, escutar sempre os clarins de glória,
chamando ao combate, proclamando a vitória.

Amar a solidão do deserto ou do mar
ser fiel até a morte e jamais capitular.

Não temer ser desprezado e tido por nada,
não querer senão o triunfo da cruzada.

Ter uma alma agressiva que não retroceda.
Não ter no coração nem baixeza, nem lama,
mas de heroísmo, ser ardente labareda,
ser da verdade arauto, da pureza, chama.

Viver sempre enamorado pela proeza,
a alma sempre firme ancorada na certeza
sedenta de Deus, de infinito e de grandeza.
Orlando Fedeli
São Paulo, 1975


***
Que saudades do professor...

S. João da Cruz aos curiosos ávidos de comunicações sobrenaturais, sejam carismáticos ou ingênuos crédulos de vidências sem fim

Srs. Cláudio Heckert e Ironi Spuldaro, vou orar em línguas: Shut Up!

S. João da Cruz, Doutor da Igreja, Místico

Declara-se por que não é lícito, sob a lei da graça, interrogar a Deus por via sobrenatural, como o era na lei antiga. Prova-se com uma citação de S. Paulo.

No capítulo anterior dissemos como não é vontade de Deus que as almas queiram receber por via sobrenatural graças extraordinárias de visões, palavras interiores, etc. Por outra parte vimos nesse mesmo capítulo, e o provamos com testemunhos da Sagrada Escritura, como na antiga lei este modo de tratar com Deus era usado e lícito; e não somente era lícito, mas ainda o próprio Deus o mandava, repreendendo o povo escolhido quando o não fazia. Em Isaías, podemos observar como Deus admoestou os filhos de Israel porque desejavam descer ao Egito sem primeiramente consultar o Senhor: "E não tendes consultado o meu oráculo" (Is 30,2)

Também lemos em Josué que, sendo enganados os mesmos filhos de Israel pelos gabaonitas, censurou-os o Espírito Santo nestes termos: "Tomaram os israelitas dos seus víveres, e não consultaram o oráculo do Senhor" (Js 9,14). Igualmente vemos, na Sagrada Escritura, que Moisés sempre consultava o Senhor, e o mesmo fazia o rei Davi, e todos os outros reis de Israel em suas guerras e necessidades, bem como os sacerdotes e antigos profetas. Deus lhes respondia falando-lhes sem se desgostar. Assim era conveniente e se eles não interrogassem seria mal feito. Qual o motivo, pois, de não ser agora, na nova Lei da graça, como era antigamente?

Respondo: se essas perguntas feitas a Deus eram lícitas na antiga Lei, e se convinha aos profetas e sacerdotes desejarem visões e revelações divinas, a causa principal era não estarem bem assentados os fundamentos da fé, nem estabelecida a Lei evangélica. Assim era mister interrogar a Deus e receber as suas respostas, fosse verbalmente, ou por meio de visões ou revelações, fosse em figuras ou símbolos, ou, afinal, por sinais de qualquer outra espécie. Porque todas essas palavras e revelações divinas eram mistérios da nossa fé, referentes ou relacionadas a ela. Ora, não sendo as realidades da fé próprias da criatura humana, mas de Deus, reveladas por sua própria boca, era necessário que os homens fossem conhecê-las em sua mesma fonte. Eis porque o Senhor os repreendia quando não o consultavam; e com as suas respostas os encaminhava, através dos acontecimentos e sucessos, para a fé, por eles ainda desconhecida por não estar ainda fundada. Agora, já estabelecida a fé em Cristo, e a Lei evangélica promulgada na era da graça, não há mais razão para perguntar daquele modo nem aguardar as respostas e os oráculos de Deus, como antigamente. Porque em dar-nos, como nos deu, o seu Filho, que é a sua Palavra única (e outra não há), tudo nos falou de uma vez nessa Palavra, e nada mais tem para falar.

Este é o sentido do texto em que S. Paulo quer induzir os hebreus a se apartarem daqueles primitivos modos de tratar com Deus conforme a lei de Moisés, e os convida a fixar os olhos unicamente em Cristo, dizendo: "Tudo quanto falou Deus antigamente pelos profetas a nossos pais, de muitas formas e maneiras, agora, por último, em nossos dias, nos falou em seu Filho, tudo de uma vez" (Hb 1,1). O Apóstolo dá-nos a entender que Deus emudeceu por assim dizer, e nada mais tem para falar, pois o que antes falava por partes aos profetas, agora nos revelou inteiramente, dando-nos o Tudo que é seu Filho.

Se atualmente, portanto, alguém quisesse interrogar a Deus, pedindo-lhe alguma visão ou revelação, não só cairia numa insensatez, mas agravaria muito a Deus em não pôr os olhos totalmente em Cristo sem querer outra coisa ou novidade alguma. Deus poderia responder-lhe deste modo dizendo: "Se eu te falei já todas as coisas em minha Palavra, que é meu Filho, e não tenho outra palavra a revelar ou responder que seja mais do que ele, põe os olhos só nele; porque nele disse e revelei tudo, e nele acharás ainda mais do que pedes e desejas. Porque pedes palavras e revelações parciais; se olhares o meu Filho acharás nele a plenitude; pois ele é toda a minha palavra e resposta, toda a minha visão, e toda a minha revelação. Ao dar-vo-lo como irmão, mestre, companheiro, preço e recompensa, já respondi a todas as perguntas e tudo disse, revelei e manifestei. Quando no Tabor desci com meu espírito sobre ele dizendo: "Este é meu Filho amado em quem pus todas as minhas complacências, ouvi-o" (Mt 17,5), desde então aboli todas as antigas maneiras de ensinamentos e respostas, entregando tudo nas suas mãos. Procurai, portanto, ouvi-lo; porque não tenho mais outra fé para revelar, e nada mais a manifestar. Se antes falava, era para prometer o meu Cristo; se os meus servos me interrogavam, eram as suas perguntas relacionadas com a esperança de Cristo, no qual haviam de achar todo o bem (como o demonstra toda a doutrina dos evangelhos e dos apóstolos). Mas interrogar-me agora e querer receber minhas respostas como no Antigo Testamento, seria de algum modo pedir novamente Cristo e mais fé; tal pedido mostraria, portanto, falta desta mesma fé já dada em Cristo. E assim seria grande agravo a meu amado Filho, pois, além da falta de fé, seria obrigá-lo a encarnar-se novamente, vivendo e morrendo outra vez na terra. Não acharás, de minha parte, o que pedir-me nem desejar, quanto a revelações ou visões; considera-o bem e acharás nele, já feito e concedido tudo isto e muito mais ainda.

Queres alguma palavra de consolação? Olha meu Filho, submisso a mim, tão humilhado e aflito por meu amor, e verás quantas palavras te responde. Queres saber algumas coisas ou acontecimentos ocultos? Põe os olhos só em Cristo e acharás mistérios ocultíssimos e tesouros de sabedoria e grandezas divinas nele encerrados, segundo o testemunho do Apóstolo: "Nele estão encerrados os tesouros da sabedoria e da ciência" (Cl 2,3). Esses tesouros da sabedoria ser-te-ão muito mais admiráveis, saborosos e úteis que tudo quanto desejarias conhecer. Assim glorificava-se o mesmo Apóstolo quando dizia: Porque julguei não saber coisa alguma entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado (1Cor 2,2). Enfim, se for de teu desejo ter outras visões ou revelações divinas, ou corporais, contempla meu Filho humano e acharás mais do que pensas, conforme disse também S. Paulo: "Porque nele habita toda a plenitude da divindade corporalmente" (Cl 2,9).

Não convém, pois, interrogar a Deus por via sobrenatural, nem é necessário falar-nos desse modo; tendo manifestado toda a fé em Cristo, não há mais fé a revelar nem jamais haverá. Querer receber conhecimentos por via extraordinária é, conforme dissemos, notar falta em Deus, achando não nos ter dado bastante em seu Filho. Mesmo quando se deseja essa via sobrenatural dentro da fé, não deixa de ser curiosidade proveniente de fé diminuta. Assim não havemos de querer nem buscar doutrina ou outra coisa qualquer por meio extraordinário. Quando Jesus expirando na cruz exclamou: "Tudo está consumado" (Jo 19,30), quis dizer terem-se acabado todos esses meios, e também todas as cerimônias e ritos da Lei antiga. Guiemo-nos, pois, agora pela doutrina de Cristo-homem, de sua Igreja e seus Ministros, e por este caminho, humano e visível, encontraremos remédios para nossas ignorâncias e fraquezas espirituais, pois para todas as necessidades aí se acha abundante remédio. Sair desse caminho não só é curiosidade, mas muita audácia; não havemos de crer, por via sobrenatural, senão unicamente o que nos é ensinado por Cristo, Deus e homem, e seus ministros, homens também. É isto o que nos diz S. Paulo nestas palavras: se algum anjo do céu vos ensinar outra coisa fora do que nós, homens, vos pregamos, seja maldito e excomungado (Gl 1,8).

S. João da Cruz, Subida ao Monte Carmelo, Livro II, Cap. XXII
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