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Recomendação de leitura


Caríssimos, passando para recomendar um excelente artigo escrito pelo amigo Sávio Laet no blog In Guardia. E, claro, por extensão, deixando a recomendação de todo o material veiculado por lá.

Festa de Cristo Rei


Ontem iniciei a escrever este artigo, mas não pude concluí-lo, pois tive de me ausentar para resolver algumas coisas. Mas, enfim, disponibilizo-o hoje. Pax.

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Hoje a Igreja celebra a Festa de Cristo Rei e o encerramento do ano da Fé.

Ao falarmos de Cristo Rei, por estarmos já tão habituados à expressão, é muito fácil que ela se nos passe como um título dentre tantos outros sem que nos apercebamos do seu significado profundo. Além disto, por vivermos numa espécie de demagogia, forma deturpada da democracia - mas que vai tomando ares de totalitarismo disfarçado -, a idéia de um Rei nos aparece como algo totalmente estranho. Alguns associam de tal modo a Monarquia com a Tirania que a estranheza por chamar Jesus de Rei parece ser como que recalcada, impedindo desse modo uma reflexão mais séria a este respeito.

Jesus é Rei, ou seja, o Seu modo de governo é uma Monarquia, o que já nos deveria ser o suficiente para nos fazer entender a bondade intrínseca ao Império. Ao reconhecermos a realeza de Jesus sobre o universo, estamos a dizer que Ele é senhor absoluto de tudo quanto existe. Logo, não há lugares, dimensões, aspectos do mundo e da vida que sejam absolutamente autônomos, isto é, que possam esquivar-se do domínio d'Ele. Jesus é o criador de tudo quanto há e, além de ter criado, Ele sustenta na existência todas as coisas, de modo que se por acaso Ele cedesse aos nossos caprichos e retirasse a sua atividade de certas áreas da existência humana, essas mesmas áreas cessariam no mesmo instante de existir.

Hoje advoga-se que a religião deve restringir-se a foro íntimo e que não deve se meter em política, em ciência, etc. Pois bem. Ao dizê-lo, essas pessoas estão a negar que Nosso Senhor seja Rei do universo. E, além disso, se Ele por acaso "se retirasse" de tais campos, no mesmo instante eles deixariam de fazer sentido, pois o Cristo é o próprio Lógos, isto é, é o sentido de tudo quanto existe.

Se Jesus é Rei do universo, toda essa militância por retirá-lo da sociedade não faz o mínimo sentido. Ele possui autoridade sobre tudo e sobre todos. Portanto, a sua vontade deveria ser observada e obedecida em todo o seu Reino. Porém, quando caminhava conosco em Seu corpo mortal, Ele chegou a dizer que esse mundo estava sob o maligno. Há um princípio de revolta no universo que peleja contra Ele e, na medida em que o faz, instaura a falsidade e a mentira no mundo. Cristo é a própria verdade. Isto significa que tudo quanto se insurja contra Ele só pode ser falso. Cristo é o próprio bem. Isto significa que tudo quanto pretenda opôr-se a Ele será necessariamente ruim. Se Deus criou todas as coisas que existem a partir da Sua vontade, qualquer princípio que atente contra esta vontade é um princípio de não-existência, de frustração do ser, de negação e destruição. De fato, é este o intento do demônio que não veio senão para roubar, matar e destruir. E fazemos o papel deste quando, no auge da nossa insignificância, defendemos a autonomia seja da política, ou da ciência, ou do direito, etc. Divorciando de Deus certos aspectos da vida humana, nós estamos, na mesma medida, enxertando nesta vida camadas de mentira, de irrealidade, de inexistência e de frustração. Uma pessoa que se rebela contra a vontade divina contraria o seu próprio ser, impedindo-se a obtenção de uma unidade interior. Rebela-se, portanto, contra si mesmo. Querendo arbitrar sobre uma realidade já dada, ele opta por uma reinterpretação do que já existe, e forçosamente cairá em mentiras e falsidades. Rebelando-se contra Deus, se rebelará contra a raiz do seu próprio ser, e é importante frisar que o mundo não reconhecerá este nosso falso senhorio, de modo que não é pela projeção de nossa mentira no mundo que o mundo passará a ser como o pensamos. Não é por supor que a satisfação egoísta dos nossos desejos nos trará a felicidade que isso irá ocorrer. Na verdade, quando nos esquivamos à vontade divina, o nosso próprio ser mais profundo se nega a aderir a essa nossa disparatada empresa, pois há em nós um algo que é profundamente verdadeiro e que, ainda que não o alcancemos e nem o percebamos, está lá, intocado e totalmente à prova de quaisquer dissimulações e tentativas de manipulação.

Celebrar, pois, a festa de Cristo Rei é celebrar o fato de que Jesus tem um domínio absoluto sobre tudo e de que a Sua vontade é a condição do bem e da verdade. Por isso Nosso Senhor nos ensinava a pedir: "seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu", pois a vontade divina, se realizada plenamente, significará a realização mais profunda e mais perfeita da felicidade humana e o bem de todas as criaturas.

Porém, fomos feitos criaturas livres e, logo, podemos aceitar ou negar esta vontade. A verdade é que, por mais que a queiramos fazer, há em nós ondas de revolta contra esta vontade. Nosso egocentrismo nos põe em luta contra Deus. Sempre que pecamos estamos justamente a gritar, com os nossos atos, que Deus não reina sobre nós e que não queremos este reinado. E é por isso que o pecado é uma fonte de inferno para nós. Ele é a perpetuação do fracasso na nossa vida e continuamente nos ameaça com a possibilidade de uma frustração eterna. Por isso, se quisermos agir como servos de Cristo Rei, é preciso que nós movamos uma contínua e diligente luta contra os focos de revolta dentro de nós. Identificar tais focos e lutar estratégica e inteligentemente para vencê-los deve ser o grande trabalho dos cristãos, pois, conforme diz a Escritura, "é uma luta a vida do homem sobre a terra", e, por sua vez, diz São Paulo: "Os que são de Jesus Cristo crucificaram a sua carne com suas paixões e concupiscências". São precisamente estas paixões e concupiscências que movem guerra contra Deus.

Quando falamos de reino, naturalmente pensamos em uma organização social, e não estamos errados em fazê-lo. Mas, lembremos que a sociedade se constitui de indivíduos e que os atos destes têm origem no seu interior, como disse Jesus. Portanto, o Reino de Cristo começa na consciência humana. Uma consciência que assente a Ele inteiramente e, nesse assentimento, torna-se livre, pois é a Verdade que liberta, e não o erro. Quando supomos erroneamente que seremos livres quando dermos azo à nossa revolta, estamos fazendo justamente o contrário: optando por prendermo-nos no irreal, e o irreal não liberta. Isso deveria também ser uma lição para os que pensam que a santidade se faz a partir de altas imaginações. Não. A santidade é precisamente um estado de extrema fidelidade à realidade. E a realidade é justamente esta: tudo quanto existe inclui-se dentro do reinado de Cristo; até mesmo o inferno, onde Ele reina por Sua justiça.

Que nós, os cristãos, como súditos de tão Suma Majestade, possamos dedicar a nossa vida a servi-lo e a estender o seu Reino nas consciências. Deste modo, participaremos também do seu Reinado, pois, como diz a Santa Igreja, "servir a Deus é reinar".

A Ele, supremo Rei absoluto de tudo quanto existe, glória e honra eternos! A Ele, amor infinito e gratidão plena. Viva Cristo Rei!

Devemos adiar a Confissão?


É sempre dito que, na vida de um católico praticante, o Sacramento da Penitência ocupa um lugar semi-central. O centro estrito é a Eucaristia; porém, nem sempre estamos aptos a recebê-La, isto é, nem sempre a nossa alma está no estado de Graça. Quando este se perde, a alma se torna obscura e entra num estado de inimizade com Deus. Por causa disso, ela estará impedida de receber Jesus no Sacramento da Eucaristia.

Isso é seríssimo, pois, sendo a Eucaristia o próprio Deus, o católico se verá impossibilitado de receber Aquele que é a razão pela qual ele existe. É óbvio que uma pessoa que não comunga nem por isso está totalmente impossibilitada de Deus. Afinal, nós temos contato com Ele de vários outros modos: oração, meditação, peregrinação, mortificação, estudo, boas obras, etc. Porém, o modo mais perfeito, que deveria ser fonte de todos os outros e para o qual eles ordenam é a Santíssima Eucaristia.

Quando estamos impedidos de comungar devemos retomar o estado de Graça e é pela Confissão que nós o retomamos. Acredito que isto esteja claro. Porém, quando adentramos no campo da prática, então nos deparamos com uma infinidade de questões e pormenores: com qual padre devemos nos confessar? Qualquer um vale? E vou me confessar de novo com o mesmo padre e contar os mesmos pecados? Não seria melhor adiar a confissão e me confessar com aquele outro que, pelo menos, não me conhece? Se for o mesmo padre, o que é que ele vai ficar pensando de mim? E se o padre é meu amigo, então me será ainda mais importante o que ele pensa de mim.. Ainda: se o padre é meu amigo ou camarada, então eu tendo a dar menos credibilidade ao que ele fala. Ah, só há um padre e é justamente aquele que não sabe aconselhar.. Não é melhor esperar pelo outro que mais me agrada e que me fala coisas mais inspiradoras? etc...

Os subtefúrgios que encontramos para postergar a confissão são infinitos, mas eles geralmente têm uma mesma raiz: a proteção do nosso ego. Em geral, nós buscamos que aquilo que deveria consistir numa exposição dolorosa - porque expressão do nosso arrependimento - dos nossos pecados se torne, paradoxalmente, um caminho confortável para a retomada da vida sacramental. Nós como que provocamos dor em Deus, mas queremos retomar a amizade com Ele sem passar por desconfortos ou, pelo menos, minorá-los ao máximo. Que tipo de arrependimento é este que o sujeito só pensa em se preservar?

Muitas vezes, a razão para adiar a confissão pode nos parecer muito justa.. Porém, é importante olhar a sério para nós mesmos e flagrar sem dó se, na verdade, não se trata de mais uma fuga do desconforto. Os santos dizem que o amor próprio é o grande inimigo da vida espiritual, consistindo esta num ataque estratégico e ininterrupto a este amor desordenado de nós mesmos. Se assim é, muito melhor seria confessarmo-nos com um padre que já nos conheça, pois, desse modo, estaríamos muito mais pesarosos e envergonhados, ou seja, o nosso amor próprio receberia um golpe ainda mais duro. E isto dificultaria um tanto mais a nossa recaída. Mas o grande determinante ainda nem é este; o ponto central é que, enquanto estivermos no estado de pecado mortal, estamos mortos e é urgente que retomemos a vida. Por isso, não convém adiar, de modo algum, a confissão. Precisamos enfrentar a situação e a dor, encarando-a como parte da Penitência. Se nós tivemos a coragem e a ousadia de ofender a Deus por nossos pecados, preferindo a nossa satisfação ao amor d'Ele, é preciso que agora façamos o esforço contrário: demonstremos que amamos a Deus muito acima da proteção da nossa própria imagem.

Depois, que importa se alguém não cultiva boa impressão de nós? Para quem vivemos? Para Deus ou para a simpatia dos outros? E este é um ponto importantíssimo: enquanto formos cativos da atenção e simpatia das pessoas, estaremos sempre limitados e tendentes à falsidade, à dissimulação, ao respeito humano. A energia interior da autenticidade e da criatividade, a liberdade mais profunda, em suma, não poderá se manifestar e estaremos fadados à mediocridade. Que Deus nos liberte desta divisão interior que é escravidão.

Por fim, o Olavo fala bastante do "senso das proporções". Pois bem.. Coloquemos as coisas numa balança: há alguma comparação entre a Graça Santificante - que receberemos pela confissão bem feita - e o pequeno desconforto que teremos em contar os nossos pecados e em ouvir, no máximo, algumas reprimendas muito justas? Por uma coisa tão pequena, ganharemos a semelhança com Deus, a amizade com Ele. Ora, estas realidades não têm preço.. Ainda que dedicássemos a vida inteira a boas obras e vivêssemos como mendigos penitentes, ainda assim não teríamos a mínima possibilidade de produzir um só lume da Graça Santificante. E, mesmo assim, ela nos está disponível por meio de tão pequeno esforço. Deus no-la dá por tão pouco. Não enganemos a nós mesmos. Não nos exponhamos à condenação eterna por caprichos disparatados.  O quanto vale a nossa reputação? Não vale nada.. Vale menos que um sonho... E mesmo que valesse, o que adianta ganhar a simpatia de todos se viermos a perder a vida? Quando Deus nos oferece a Sua amizade, maluco é quem não a aceitar. Não nos fechemos à misericórdia.

Fábio.

Uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja porque um só Senhor.

Sobre a contemplação na vida leiga


Aquele que estiver esperando por alguém que venha e, de mão beijada, alimente-o com a vida contemplativa vai ter de esperar um bom tempo, especialmente nos Estados Unidos. Tal pessoa faria melhor se renunciasse à própria inércia, rezasse pedindo um pouco de imaginação, pedisse ao Senhor que desperte sua liberdade criativa e considerasse algumas das seguintes possibilidades.

1- Sacrificando oportunidades econômicas aparentemente boas, pode ser possível mudar-se para o interior, ou para uma cidade pequena, onde se tenha mais tempo para pensar. Isso talvez possa implicar a aceitação de um relativo empobrecimento. Nesse caso, tanto melhor para a vida interior. O sacrifício pode ser uma verdadeira libertação da luta impiedosa que é a fonte da maior parte de nossas preocupações. Existem, evidentemente, trabalhos que, por sua própria natureza, mantêm o trabalhador isolado ou afastam-no das trilhas mais batidas. Contudo, nem todos têm liberdade para escolher a carreira de guarda florestal ou de vigia de farol marítimo. Nem todos querem passar a vida como vigia noturno, e por boas razões. Mas o que há de errado em cuidar de um sítio?

2- Onde quer que se esteja, é sempre possível beneficiar-se das partes do dia que são calmas porque o mundo não as valoriza. Entre essas partes estão as primeiras horas da manhã. Mesmo quando não é possível estar a algumas centenas de quilômetros da cidade grande, se uma pessoa for capaz de levantar-se às quatro ou cinco da manhã, pode ter toda a cidade só para si e experimentar algo da paz da solidão. Além disso, o amanhecer é, por natureza, um período pacífico, misterioso e contemplativo - uma hora em que todos os seres pausam naturalmente e olham com assombro para o lado leste do céu. É um momento de vida nova, de um novo começo e, portanto, uma hora importante para a vida espiritual, pois esta não é senão uma perpétua renovação interior. É sempre preferível ir à missa da manhã, ainda que as missas da tarde sejam mais esplêndidas e solenes. Na missa da manhã, as coisas estão mais calmas, mais sóbrias e mais austeras. Os pobres vão às missas da manhã porque têm de estar mais cedo no trabalho. Cristo está mais verdadeiramente com os pobres e a presença espiritual d'Ele faz das missas deles as mais contemplativas.

Deveria ser óbvio demais dizer que o domingo é, por natureza e pela tradição cristã, reservado como um dia de contemplação. O costume puritano tende a fazer o domingo parecer um tipo negativo de "Sabbath", caracterizado principalmente pelas coisas que "não podemos" fazer. A inevitável reação contra isso enfatizou as recreações legitimas, porém mais ou menos insignificantes, que fizeram do domingo um dia de descanso tanto para o corpo quanto para o espírito. É evidente que, se você passa toda a manhã do domingo dormindo, perde algo muito mais importante do que o sono. O domingo não é um dia de contemplação por ser um dia sem trabalho, um dia em que as lojas, os bancos e os escritórios não funcionam, mas porque é um dia consagrado pelo mistério da Ressurreição. O domingo é o "Dia do Senhor", não no sentido de ser necessário que, uma vez por semana, se reserve um dia para parar e pensar no Senhor, mas porque rompe, com uma explosão de luz proveniente de uma eternidade sagrada, o incessante ciclo "secular" do tempo. Não é só para descansar e retornar ao trabalho na segunda-feira que paramos de trabalhar e de nos agitar no domingo, mas para recolher nossos pensamentos, perceber a relativa insignificância dos negócios seculares que ocupam os outros seis dias da semana e experimentar a satisfação de uma paz que ultrapassa todo o entendimento e que nos é dada por Cristo. O domingo nos recorda da paz que deve permear toda a semana, se nosso trabalho está adequadamente orientado.

O domingo é um dia contemplativo não só por exigir a Lei da Igreja que todo cristão vá assistir à missa, mas porque todos que celebram o dia espiritualmente, cristãos ou não, e o aceitam por seu valor evidente, abrem o coração para a luz de Cristo, a luz da Ressurreição. Ao fazê-lo, crescem em amor e em fé, tornando-se capazes de ver um pouco mais do mistério de Cristo. É certo que podem não ter idéia do que está acontecendo, mas a graça de Deus produz efeito em seus corações. O domingo é então um dia de graça, um dia de luz, no qual a luz nos é dada. A simples fidelidade a esse dever, o simples reconhecimento desse dom de Deus, ajudará o leigo perturbado a dar os primeiros passos no caminho de um tipo de contemplação.

4- Onde quer que se busque a luz da contemplação, essa mesma busca compromete o buscador com certo grau de disciplina espiritual. Isso é tão verdadeiro fora da clausura quanto dentro dela. Porém, para o homem ou a mulher comprometidos com todas as obrigações e dificuldades da vida secular, seria um erro viver no mundo como um monge, ou uma monja, em clausura. Tentar isso seria uma ilusão. O primeiro sacrifício do leigo que vive no mundo é a aceitação do fato de não ser um monge e, consequentemente, a aceitação de uma vida de oração que deve ser correspondentemente humilde e pobre. A vida ativa e as boas obras têm um grande papel na vida "contemplativa" levada no mundo e é muito provável que o homem de oração fora da clausura seja aquilo que chamamos de "contemplativo disfarçado". Se, atormentado pela sede de experiências espirituais mais claras e elevadas, ele tentar forçar-se, por meios violentos e mal pensados, a alcançar um "grau de oração" mais alto, isso só lhe causará prejuízo.

A disciplina do contemplativo que vive no mundo é, em primeiro lugar, a disciplina de fidelidade aos deveres de seu estado - às obrigações de chefe de família, de membro de uma profissão, de cidadão. Essa disciplina e esses deveres podem exigir sacrifícios bastante grandes. Em certos casos, algumas dificuldades das pessoas que estão no mundo certamente exigem delas sacrifícios bem maiores do que os que encontrariam em um claustro. Em todo caso, a vida contemplativa delas será aprofundada e elevada pela profundidade de seu entendimento e de seus deveres. Também aqui, o mero conformismo e cumprimento exterior não são o bastante. Não é suficiente "ser um bom católico". Deve-se penetrar o sentido interior da própria vida em Cristo e perceber o pleno significado das exigências desta. Não se devem cumprir as próprias obrigações como uma questão de mero formalismo. Esse cumprimento deve advir de uma decisão real e pessoal de oferecer a Deus o bem que se faz, em Cristo e por Cristo. A virtude de um cristão é algo criativo e espiritual, não o simples cumprimento de uma nova lei. Deve, portanto, estar penetrada e preenchida pela "novidade", pela semelhança de Cristo, que é proveniente da ação do Espírito de Deus no coração e que eleva o mínimo bem praticado pelo cristão a um plano completamente espiritual. Desnecessário dizer que isso é mais que uma questão de verbalizar a própria "pureza de intenção".

5- Segue-se disso que, para o cristão casado, a vida matrimonial está essencialmente ligada à contemplação. Isso é inevitável. É por seu matrimônio que ele dá testemunho do amor de Cristo pelo mundo e experimenta esse amor. Seu matrimônio é o centro sacramental de onde irradia a graça para todos os departamentos de sua vida e, consequentemente, é esse que permite que seu trabalho, seu lazer, seus sacrifícios e mesmo suas distrações se tornem, em alguma medida, contemplativos. Pois é por seu matrimônio que todas essas coisas estão ordenadas a Cristo e centradas em Cristo. Deve-se enfatizar, acima de tudo, que, para o cristão casado, até o amor conjugal, e especialmente o amor conjugal, entra em sua contemplação. De fato, é esse amor que dá caráter específico à contemplação.

A união de marido e mulher no amor nupcial é um ato simbólico e sagrado, cuja própria natureza significa o mistério da união de Deus e do homem em Cristo. Ora, esse mistério é a própria substância, o próprio coração da contemplação. Portanto, o amor conjugal é uma espécie de expressão simbólica e material do desejo do homem por Deus e do desejo de Deus pelo homem.É uma maneira direta, simples e experiencial de expressar a necessidade do homem de ser sumamente e completamente um. É uma representação inocente, decorrente do estado de divisão do próprio homem e de sua sede de união com seu outro eu. Os Padres gregos acreditavam que, antes da queda, Adão e Eva eram, real e literalmente, dois em uma só carne, ou seja, eram um só ser. Acreditavam que a natureza humana, unida a Deus, era inteira e completa em si mesma, mas, depois da queda, o ser humano foi dividido em dois e, daí em diante, tem buscado recuperar sua unidade perdida por meio do amor sexual. Mas este desejo é sempre frustrado pelo pecado original. O fruto do sexo não é a perfeição, não é a completude, mas somente o nascimento de outro Adão ou de outra Eva, outro ser frágil, exilado e incompleto. A criação, por sua vez, chega à idade adulta e, devorada pelo antigo desejo de completude, casa-se, reafirma o obscuro mistério de amor e desesperança e traz ao mundo novos seres incompletos e frustrados, até que finalmente morre, incompleta.

A vinda de Cristo, porém, exorcizou a futilidade e o desespero dos filhos de Adão. Cristo uniu-se à natureza humana, uniu Deus e o homem em si mesmo, em uma só Pessoa. em Cristo, realiza-se a completude para a qual nascemos. Nele, não há mais dar-se ou receber em matrimônio, pois nele todos são um na perfeição da caridade.

Thomas Merton. A experiência interior. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p.198-203.

Marxismo - A Destruição das Famílias

O que a contemplação não é e o que a impede


Não se deve exagerar e distorcer a contemplação, ou fazer com que pareça algo muito grande. Ela é essencialmente simples e humilde. Ninguém pode entrar nela se não for pelo caminho da obscuridade e do esquecimento de si. Além disso, ela também implica grande disciplina; acima de tudo, a disciplina da virtude cotidiana. Implica justiça para com os outros, veracidade, trabalho duro, desapego de si, devoção aos deveres de seu próprio estado de vida, obediência, caridade e auto-sacrifício. Ninguém deve se iludir com as aspirações contemplativas se não está determinado a assumir, em primeiro lugar, os labores e as obrigações comuns da vida moral.  A contemplação não é uma espécie de mágica, um atalho fácil para a felicidade e a perfeição. No entanto, ao nos conduzir a um contato com Deus em um relacionamento pessoal e direto de amizade misteriosamente experimentada, a contemplação traz, necessariamente, aquela paz que Cristo prometeu e que "o mundo não pode dar". Pode haver muita desolação e sofrimento no espírito contemplativo, mas há sempre mais alegria que tristeza, mais segurança que dúvida, mais paz que desolação. O contemplativo é aquele que encontrou aquilo que todos os homens buscam de um modo ou de outro.

(...) Os grandes obstáculos à contemplação são a rigidez e o preconceito. Quem pensa saber de antemão o que é a contemplação impede a si mesmo de descobrir a verdadeira natureza desta, pois é incapaz de "mudar de idéia" e aceitar algo completamente novo. O indivíduo que pensa que a contemplação é elevada e espetacular não pode receber a intuição de uma Realidade suprema e transcendente, mas ao mesmo tempo imanente ao próprio eu comum dele. Aqueles que precisam ser exaltados e aqueles para quem o misticismo é o ápice da ambição humana nunca serão capazes de sentir a libertação, concedida somente aos que renunciam ao sucesso. E como nós, em sua grande maioria, somos rígidos e apegados às nossas próprias idéias, convictos de nossa própria sabedoria, orgulhosos de nossas capacidades e profundamente comprometidos com nossa ambição pessoal, desejar a contemplação é perigoso para qualquer um de nós. Entretanto, se realmente queremos nos libertar desses pecados, o desejo pela liberdade contemplativa e pela experiência da realidade transcendente provavelmente surgirá em nós por si mesmo, naturalmente.

Thomas Merton. A experiência interior. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 167-168.

A verdadeira contemplação não é tensa nem obsessiva


Não há tensão na verdadeira contemplação, pois, se o dom é verdadeiro, não dependemos dele; não somos escravizados pela "necessidade" de experimentar alguma coisa. O contemplativo não busca confirmação da confiança em si mesmo, em sua virtude, em seu estado ou em sua "oração". A confiança dele está em Deus, não em si mesmo. A paz e o "repouso" da contemplação são frutos de uma fé viva na ação da graça divina. O contemplativo é capaz de abandonar a si mesmo e a tudo o mais, por saber que tudo o que realmente importa em sua vida está nas mãos de Deus; por saber que não tem de "pensar no amanhã". Ele percebe completamente que a mensagem de salvação do Evangelho depende da graça de Deus, não do engenho humano.

(...) A vida comunal regular é geralmente vivida no ritmo dos que são ativos e extrovertidos. Impacientes com sutilezas interiores e intolerantes com o que não traz um resultado tangível, essas boas pessoas querem, no final de cada dia, ter certeza de que fizeram alguma coisa a serviço de Deus. Por isso, a vida delas está ordenada para lhes confirmar sua confiança. O dia é dividido em um número definido de exercícios, entre os quais está a prece, marcada pelo relógio e pela exatidão com o que o cerimonial é executado. A atenção está toda concentrada no desempenho exterior.

É bem verdade que a regularidade é uma coisa muito importante. Mas, quando se torna um fim em si mesma, frustra o propósito para o qual foi instituída. Quando a atenção centra-se antes de tudo no exterior, e quando há uma necessidade obsessiva de perfeição em tudo (não para a glória de Deus, mas para a obtenção de paz interior), a verdadeira contemplação se torna impossível, pois esta pressupõe que o homem esteja livre de quaisquer interesses, sejam altos ou baixos, espirituais ou materiais. Isso não quer dizer que descuido e falta de disciplina sejam mais favoráveis à oração interior do que a observância regular. Evidente, a vida regrada é necessária: mas a disciplina é boa precisamente na medida em que liberta a mente de preocupações perfeccionistas com coisas exteriores. A disciplina cuida das coisas exteriores, deixando-nos livres para meditar e orar. Evidentemente, portanto, faz uma grande diferença o espírito com que alguém se determina a cumprir uma regra religiosa. Quando a regularidade é sinal de amor e liberdade espiritual, ela favorece a contemplação. Mas, quando é sintoma de perfeccionismo legalista e pretensioso, mata então a vida contemplativa em sua raiz.

Thomas Merton, A experiência interior. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p.163-164.

O perigo do inspiracionismo


Um dos maiores perigos confrontados por todo homem que leve a sério a experiência espiritual é o perigo do inspiracionismo. O problema, nesse caso, consiste em levar de tal modo a sério a própria experiência subjetiva que esta se torna mais importante que a verdade, mais importante que Deus. Uma vez encarada como objeto, a experiência espiritual se transforma em um ídolo; torna-se uma "coisa", uma "realidade" à qual servimos. Não fomos criados para servir a "coisa" alguma, fomos criados para servir somente a Deus, que não é, nem pode ser uma "coisa". Servir Àquele que não é um "objeto" é liberdade. Viver para a experiência espiritual é escravidão, e tal escravidão faz da vida contemplativa algo tão secular (ainda de modo mais sutil) quanto o ato de servir a qualquer outra "coisa", por mais vil que essa coisa possa ser: dinheiro, prazer, sucesso. Certamente, essa avidez pelo sucesso espiritual foi a causa da ruína de muitos que poderiam ser contemplativos. É por isso que, logo no começo desse ensaio, enfatizei o perigo da busca pela "felicidade" como objetivo em uma vida de contemplação. Isso é ainda mais perigoso, diante do fato de que a satisfação derivada das coisas espirituais é pura e perfeita; logo, muito mais difícil de se sujeitar a uma crítica objetiva.

É esse o perigo de dar importância exclusiva ao que nós mesmos experimentamos, e de crer que toda intuição nos vem de Deus. Quando um homem não sabe mais olhar criticamente os movimentos que surgem em seu coração, travestidos de inspiração, os piores erros podem ser tomados como verdades.

(...) O que realmente importa na experiência espiritual não é a interioridade desta, ou sua pureza natural, seu gozo, luz, exaltação ou o efeito transformador que possa ter: todas essas coisas são secundárias e acidentais. O que importa não é o que se sente, mas o que realmente acontece além do plano do sentido ou da experiência. Na contemplação autêntica, o que acontece é um contato da realidade mais interior da pessoa criada com a infinita realidade de Deus. A experiência que acompanha esse contato pode ser um sinal mais ou menos fiel do que aconteceu. Mas a experiência, a visão, a intuição são apenas um sinal e, além disso, passíveis de ser dissociadas de qualquer realidade, tornando-se meras figuras vazias. O inspiracionista é aquele que se apega ao sinal, à experiência sem consideração pela substância invisível de um contato que transcende toda experiência.

(...) O verdadeiro contemplativo é um amante da sobriedade e da obscuridade. Prefere tudo o que é calmo, humilde e despretensioso. Não aprecia excitações espirituais. Estas facilmente o desgastam. Sua inclinação é para aquilo que parece ser nada, que lhe diz pouco ou nada, aquilo que nada lhe promete. Somente quem seja capaz de permanecer em paz no vazio, sem projetos ou vaidades, sem discursos para justificar sua própria inutilidade aparente, pode estar a salvo do apelo fatal dos impulsos espirituais que o convidem a auto-afirmar-se e a "ser alguma coisa" aos olhos dos outros. O contemplativo é, de todos os homens religiosos, o que mais provavelmente perceberá que não é um santo e também o que se mostrará menos ansioso por parecer tal aos olhos dos outros. Ele está, de fato, liberto das aparências e se importa muto pouco com estas. Ao mesmo tempo, já que não tem nem a inclinação nem a necessidade de ser um rebelde, não precisa alardear seu desprezo pelas aparências. Simplesmente não lhes dá atenção.

Thomas Merton. A experiência interior;. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p.154-158

Contemplação e Marxismo


Deve ficar claro que o contemplativo e o marxista nada têm em comum. Eles não pensam do mesmo modo, nem mesmo enxergam as mesmas coisas. Para ser marxista, é necessário reprimir todo e qualquer "interesse" interior e pessoal pela realização espiritual e perder-se inteiramente no mistério coletivo da revolução. A contemplação só pode interessar a um marxista se o pegar na ressaca, depois de perder a graça dialética, em um momento em que sua fome interior acidentalmente exija reconhecimento. 

(...) Há no marxismo uma quantidade suficiente de falso misticismo e pseudo-religião para seduzir quem quer que sinta necessidade de um substituto para a religião espiritual. Não há dúvida de que a exigência de "fé" e auto-sacrifício feita pelo marxismo é uma realidade muito mais humana e muito mais sólida que o irresponsável pseudocristianismo que ainda floresce em certas sociedades inteiramente devotadas a valores seculares. Existe algum perigo espiritual no marxismo e na pseudocontemplação que sua visão de mundo implica. Esse perigo reside no apelo misteriosamente religioso que este oferece àqueles que não têm mais estômago para as formas vazias de religião popular, nas quais o conceito de "deus" morreu de cansaço.

Thomas Merton. A experiência interior. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p.153-154.

O homem exterior


A vida do homem exterior é uma vida de automatismos, de pensamentos e ações ditados inconscientemente, de adaptação mecânica aos parões e preconceitos daqueles que nos cercam - ou, que seja, de mecânica e compulsiva revolta contra os mesmos padrões e preconceitos. Pois a vida interior não consiste numa rebelião contra os padrões externos. Justamente ao contrário, essa rebelião é geralmente apenas outra forma de compulsão, e certamente apenas um outro aspecto da mesma compulsão. É uma espécie de conformidade negativa.

Ora, as pessoas que vivem nesse plano "automático" não percebem, de modo algum, o quanto a vida delas é alienada e desprovida de espontaneidade. Os hábitos e as rotinas mecânicas adquiriram o poder de satisfazê-las com uma espécie de pseudo-espontaneidade, um tipo de falsa naturalidade. O que é falso e nada espontâneo se tornou, para elas, uma segunda natureza. Assim, o pensamento que para elas parece lúcido é, na verdade, confuso. O que lhes parece boa vontade é, de fato, uma fuga covarde. O que parece liberdade é mera compulsão. Isso não quer dizer, é claro, que essas pessoas não sejam moralmente responsáveis por seus atos. Não, elas são sãs e "livres". No entanto, quando se observa a vida delas do ponto de vista do homem interior e espiritual, faltam-lhes sanidade e liberdade em uma medida assustadora. Isso se aplica a todos nós: pois mesmo o espiritual não é espiritual o tempo todo. Talvez essas pessoas tenham apenas uns raros momentos de "despertar", quando percebem sua vida comum como esta realmente é - e então recaem na escravidão.

Thomas Merton, A experiência interior. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 130.

A nossa era é de decadência da religião


"A nossa era é de decadência da religião (e, espero, renascimento). Nossos contemporâneos, especialmente os que se inclinaram para a religião popular, têm frequentemente reduzido a fé à concordância com frases de propaganda desprovidas de significado. Ao presumir a realidade de essências e seres cuja existência não pode ser verificada pela experimentação científica, um número demasiado grande de pessoas liberou-se de qualquer senso de responsabilidade pelo assunto, entregando essa responsabilidade a um Deu vago, o qual, segundo lhes disseram, existie e se ocupa Ele mesmo dessas questões importantes. A pessoa comum deve ocupar-se, franca e completamente, de uma existência puramente secular: ganhar dinheiro, prazeres e sucesso. Suas prudentes excursões ao domínio do sagrado devem se limitar a umas poucas preces e a uns poucos gestos comunais, necessários à obtenção do auxílio divino para levar a bom termo os propósitos seculares. Essa "fé" é sem dúvida uma superstição moderna."

Thomas Merton, A experiência interior. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 151

Enfim: Vaticano adverte que Medjugorje não pode ser assumida como verdadeira aparição



A HAIA, 06 Nov. 13 / 08:15 pm (ACI/EWTN Noticias).- O Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Dom Gerhard Müller, advertiu que as supostas aparições da Virgem Maria aos videntes de Medjugorje não podem ser assumidas como verdadeiras.

Ante a proximidade de uma série de eventos nos Estados Unidos com a participação Ivan Dragicevic, suposto vidente do Medjugorje, Dom Müller recalcou aos Bispos deste país que a posição da Igreja é que "não é possível estabelecer que houve aparições ou revelações sobrenaturais".

Através de uma carta enviada ao Secretário Geral da Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos, Dom Ronny Jenkins, o Núncio Apostólico nesse país, o Arcebispo Carlo Maria Viganò, a pedido de Dom Müller, indicou que "um dos assim chamados videntes do Medjugorje, o Sr. Ivan Dragicevic, estará presente em eventos em paróquias ao redor do país" nas que, conforme avisado, "o Sr. Dragicevic estará recebendo ‘aparições’".

Com o objetivo de "evitar escândalo e confusão", Dom Viganò recordou aos Bispos que "os clérigos e os fiéis não estão permitidos a participar de reuniões, conferências ou celebrações públicas durante as quais a credibilidade de tais ‘aparições’ seja finalmente afirmada".

"O Arcebispo Müller pede que os Bispos sejam informados sobre este tema o antes  possível", escreveu o Núncio.

ACI Digital confirmou hoje que a carta do Núncio Apostólico foi recebida nas dioceses dos Estados Unidos.

Na Carta, Dom Viganò assinalou aos Bispos americanos: "como vocês sabem bem, a Congregação para a Doutrina da Fé está no processo de investigar certos aspectos doutrinais e disciplinares do fenômeno de Medjugorje. Por esta razão, a Congregação afirmou que, a respeito da credibilidade da ‘aparição’ em questão, todos devem aceitar a declaração, com data 10 de abril de 1991, dos Bispos da Ex-república da Iugoslávia, que afirma: ‘sobre a bases da investigação realizada, não é possível estabelecer que houve aparições ou revelações sobrenaturais’".

A história destas aparições, não reconhecidas oficialmente pela Igreja Católica, começou em 1981 no povoado de Medjugorje, na atual Bosnia Herzegovina (parte da antiga Iugoslávia), onde seis meninos disseram ter visto a Virgem Maria. O então sacerdote Tomislav Vlasic, hoje retirado do estado clerical, apresentou-se como o diretor espiritual dos "videntes" e assinalou que a Virgem os visitou 40 mil vezes nos últimos 28 anos.

Embora as aparições não contam com o reconhecimento oficial da Igreja Católica, milhares de fiéis peregrinam anualmente ao lugar, onde inclusive foi construído um templo.

Em março de 2010 a Igreja criou uma comissão internacional de investigação sobre Medjugorje, sujeita à Congregação para a Doutrina da Fé, composta por cardeais, bispos, peritos e experts, que trabalha de maneira reservada no caso.

Fonte: ACI Digital

O respeito humano - Uma mentira fundamental


O respeito é, obviamente, um valor. Respeitamos alguém quando reconhecemos que ele tem dignidade em si mesmo. A dignidade é algo que não se confunde de nenhum modo com a aparência. Assim, independente do modo que uma pessoa esteja mal vestida, da cor da sua pele, dos seus dotes intelectuais, etc, a pessoa humana tem uma dignidade que lhe é própria e que deve ser reconhecida. Tal reconhecimento é, precisamente, o ato do respeito e este determinará o nosso comportamento a respeito da pessoa.

No entanto, os vícios em geral se disfarçam de bem a fim de serem desejados e praticados. Assim, pessoas amasiadas tentam se convencer de que o amor lhes redime a falta. Homossexuais buscam, pela força da repetição, tornar verdadeira a tese de que o desejo muda a natureza.. Pais de família pensam que o domínio irrestrito sobre seus filhos é prova de amor, etc. Nesses e em outros casos, temos atos errados sendo praticados como se fossem traduções autênticas do amor, da autenticidade e da sinceridade, nos casos particulares.

Algo similar ocorre quando falamos de "respeito humano". Quem estiver familiarizado com a literatura dos santos, haverá de reconhecer que esta expressão é muitíssimo usada por eles e foi sempre alvo de duríssimas críticas. De fato, o respeito humano é um vício terrível e deve ser evitado de todo. É tanto mais terrível quanto mais se reveste de virtude. Ele é, na verdade, um arremedo do respeito autêntico, assim como o puro erotismo é um arremedo vulgar do amor.

Enquanto o respeito tem por objeto a dignidade intrínseca da pessoa, o respeito humano visa o conforto do seu ego. Enquanto o respeito visa preservar o próprio cerne da pessoa, evitando que este seja lesado, o respeito humano apenas quer preservar o bem-estar psicológico, mesmo quando este procede de atos objetivamente levianos. E a coisa é um tanto mais perversa: o ego do outro não é deixado intacto porque lhe querem bem, mas apenas porque não querem manchar a sua própria imagem nesse ego. O que temos aqui é a clássica hipocrisia que consiste basicamente numa divisão interior da alma enquanto insiste em manter uma distância entre aquilo que ela é e o que ela aparenta. Esta distância tende a ser amada em função da própria imagem da pessoa. É como quando alguém põe uma foto toda "photoshopiada" numa rede social de modo que quem lhe conhece só virtualmente não seria capaz de lhe identificar na vida real. A pessoa que tem respeito humano comete, na verdade, um ato de profundo desrespeito e desvalorização do outro já que o considera menos valioso do que a sua própria imagem. Num ato de auto-preservação egoísta, a pessoa contribui para o erro da outra, e não é raro que, ao mesmo tempo, cometa o pecado da lisonja. 

Este erro se assenta num equívoco que é muitíssimo comum nos dias de hoje, dias de extrema confusão em que pouca gente enxerga alguma coisa além do próprio nariz: as pessoas tendem a confundir o domínio do objetivo com o do subjetivo, preferindo na maior parte das vezes este àquele. É assim quando defendemos, num nível vertiginoso de bobice, que cada pessoa siga a religião que lhe parecer correta ou confortável. É assim quando nos negamos a pregar a inequivocidade da fé com medo de ferir susceptibilidades. O sacrilégio moderno tornou-se o desconforto pessoal. Assim, os padres, por exemplo, quase nunca falam dos erros da vida matrimonial, como a contracepção, o controle de natalidade, etc. É assim quando quase ninguém prega sobre a pureza, talvez por medo de se acusarem a si mesmos. É mais fácil achar que a verdade só deve ir até onde ela for confortável. E é assim que ficam famosos os padres cantores, os pregadores alucinados que extasiam a assembléia com a promessa de mil e uma facilidades, ao mesmo tempo em que ninguém toca no assunto dos cristãos martirizados no oriente, pois isso seria.. hum... desconfortável.

Esse tipo de pecado era enfrentado, desde o início da Igreja até pouco tempo atrás, com uma consciência muito aguda. S. Paulo chega a escrever: "se eu quisesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo." É incrível como ele consegue ser tão claro e, mesmo assim, grande parte dos padres e bispos modernos fingem não entender algo tão básico. E dá-lhe hermenêutica, releitura, etc., que nada mais são do que eufemismos para a covardia e a capitulação.

Pois bem, chegamos a isso: o respeito humano é um tipo de egoísmo que se disfarça de virtude e, nessa fuga do que é, torna-se covardia, mentira e ofensa direta ao outro enquanto lhe confirma no erro ou, pelo menos, não o esclarece sobre o correto. No entanto, nos dias de hoje, o respeito humano é louvado como a máxima virtude. Vamos nos abraçar porque isso é o que importa.. Vamos dizer "verdades" confortáveis porque as desconfortáveis - o remédio amargo e que cura - estão fora de moda. Afinal, ninguém quer voltar àqueles tempos medievais e obscuros onde o sim era sim e o não era não, sendo todo o resto considerado como da parte do demônio. 

E nesse costume, nesse simulacro de santidade, nessa lógica de sepulcros caiados, vamos gastando toda a vida, crentes que Deus participa de algum modo da nossa hipocrisia e de que, naquele dia, haverá de nos recompensar por termos sido covardemente respeitosos demais. Porém, o que acontece é o seguinte: se insistirmos nisso, teremos de tal modo acentuado essa divisão interior, privilegiando a parte externa ao invés da interna, que iremos de fato nos identificando somente àquela carecente de realidade. Aos poucos, ficaremos menos substanciosos, algo semelhante à roupa inexistente do rei nu e que ele jura que existe. Essa deformação monumental do nosso próprio caráter, levada a termo sob as bênçãos de pastores modernos,  haverá de criar uma ilusão que anda e se move. Nos tornaremos o que não somos e forçosamente teremos de ouvir o derradeiro "não vos conheço".

Só então, talvez, nos daremos conta de que de nada vale ganhar o mundo e vir a perder-se a si mesmo. De  que nada vale agradar ao mundo e faltar com a verdade. De que nada vale o respeito humano se todo o bem que nos venha daí será sempre um bem inexistente porque fundado numa mentira. Talvez então percebamos que toda a falsaria da nossa vida nos tornou totalmente impermeáveis àquele que é a própria Verdade. Só então, talvez, entenderemos que, no fundo, nós passamos a vida sem entender nada.

Dia de Finados


Hoje a Igreja celebra o dia de Finados. Nele, nós lembramos dos nossos amados que já partiram, sentimos saudade e a esperança de revê-los mais uma vez, só Deus sabe quando e como. Mas não é só deles que nós devemos lembrar. A morte é uma condição de toda a natureza humana, e nós estamos obviamente incluídos nessa natureza. De que modo a pensamos, então? Se é que pensamos...

Sim, nós vamos morrer, e saber disso não é ruim. Aliás, os santos da Igreja nos recomendam com insistência: lembrai-vos da vossa morte. É a idéia da finitude que imprime peso à nossa vida. Este peso aqui indica seriedade, gravidade, profundidade. Mas é uma finitude especiosa. Na verdade, ela não faz acabar senão um modo de existência; mas é porta para outro, mais completo, mais denso, mais real. A perspectiva de uma eternidade que será, de certo modo, efeito da nossa vida aqui na terra nos força a ter um senso de responsabilidade que, bem entendido, nos deveria acordar das nossas ilusões, fantasias e brincadeiras. Mas, ao mesmo tempo, a esperança a que somos chamados é suficiente para iluminar, de modo assombrosamente feliz, as dores deste exílio. Com efeito, diz São Paulo, os sofrimentos daqui não possuem proporção alguma com o peso de glória que deles pode proceder. Há, portanto, uma profunda assimetria entre esta vida e a outra, de modo que, feita a comparação, isso aqui não é mais que um sonho.

Quando vemos um morto, não devemos agir como sujeitos míopes que não enxergam muito além do nariz. A rigor, uma pessoa nunca morre, mas passa pela morte. A morte acontece no corpo, que é somente a parte material da pessoa. Porém, a personalidade, a consciência, a unidade espiritual constituída de inteligência e vontade, permanece, mantém-se, e isso pela eternidade. Vejam o alcance disso: uma vez que existimos, somos eternos.

Esta vida, comparada com a eternidade, é ainda menos do que o período de gestação em comparação com a vida pós parto. Na verdade, isto aqui é menos de um segundo diante da eternidade. Isto significa que este segundo será bom ou ruim segundo a sua relação com a realidade vindoura. Este segundo, se mal vivido, terá uma repercussão de desgraças eternas. Do mesmo modo, se bem vivido, nos abrirá para a bem aventurança sem fim. É como a hora do "sim" - ou do "não" - do casamento. Uma resposta, breve, curta, rápida, decidirá se haverá festa ou choro.

O dia de finados tende a nos tornar sérios, graves, meditativos. Mas isso não deve indicar tristeza, pois, como diz a Escritura, não há utilidade nenhuma na tristeza. Uma pessoa triste demonstraria não entender bem as coisas. É claro que é natural que nos invada a saudade, sobretudo porque neste dia costumamos visitar o cemitério, onde dormem os corpos dos nossos queridos. Porém, mais do que isso, este dia deve servir para nós como uma janela, ainda fechada, mas que, por sua própria existência, fala de um ambiente depois dela. Agora, estamos num casebre, ou, no dizer de Sta Teresa, numa pobre choupana. Os limites disso aqui são estreitos e há pouca luz. Mas, por esta janela, é possível meio que vislumbrar um ambiente muito distinto no qual a largueza se estenda até a linha do horizonte. Isto é um símbolo da perfeita liberdade que pode nos esperar, então. Mas, para tal, é preciso examinarmos a nossa vida, fazermos um sério exame de consciência e passar a viver segundo a vontade de Jesus. Este é o amor que vence a morte.

Neste dia de finados, rezemos pelos nossos defuntos, pelas almas do purgatório, e pensemos naquela que S. Francisco de Assis chamava de "irmã morte". Ele o fazia porque, não obstante a aparência, é a morte que nos abre, se estivermos devidamente maturados e limpos, as portas para o doce encontro com o Cristo.

Que a Virgem Maria, mãe do Verbo, esteja sempre conosco, cuide de nós e nos conduza por estes benditos caminhos do Seu Filho. E que, na hora da morte, seja ela a vir nos buscar e nos introduzir naquele bendito Reino, que é a nossa Pátria.

Indulgência Plenária para o dia de Finados


INDULGÊNCIAS PLENÁRIAS PARA O DIA DE FINADOS!!
Podemos, apenas nessa semana, levar 8 almas do purgatório para o céu!

Ao fiel que visitar devotamente um cemitério e rezar, mesmo mentalmente (sem palavras audíveis), pelos defuntos, concede-se indulgências somente aplicável às almas do Purgatório. Esta indulgência será plenária (cumprindo as 3 condições), cada dia, de 01 a 08 de novembro; nos outros dias do ano será parcial;

Como fazer para adquirir essa indulgência plenária para as almas do purgatório?

Para adquirir a INDULGÊNCIA PLENÁRIA é preciso ir ao cemitério, rezar devotamente pelos defuntos e preencher essas três condições:

a) confissão sacramental - cada confissão vale para as indulgências obtidas até uns 15 dias antes e para as que serão obtidas até uns 15 dias depois de recebido o sacramento;

b) comunhão eucarística - é necessária uma comunhão para cada indulgência;

c) oração nas intenções do Sumo Pontífice - rezar para cada indulgência;

Tenho que me confessar, comungar e rezar pelo Papa no mesmo dia?

As três condições podem ser preenchidas em dias diversos, antes ou após a realização da obra prescrita; mas convém que a comunhão e a oração nas intenções do Soberano Pontífice se façam no mesmo dia em que se faz a obra.

Quais as orações devo fazer pelas intenções do Santo Padre?

A condição da oração nas intenções do Sumo Pontífice pode ser plenamente cumprida recitando em suas intenções um Pai-nosso e Ave-Maria; mas é facultado a todos os fiéis recitarem qualquer outra oração conforme sua piedade e devoção para com o Pontífice Romano. 

Não fui ao cemitério, nem rezei pelos defuntos ou pelas intenções do Papa, nem confessei e não comunguei no Dia de Finados. E agora, posso ainda conseguir as indulgências para as almas do purgatório?

Sim. Para aqueles que não foram ao cemitério no dia de finados, não confessaram, não comungaram e/ou não rezaram pelo Papa ainda há uma chance. Eles tem até o dia 08 de novembro para observarem todas as condições e obterem a indulgência plenária para uma alma.

O reconhecimento da própria fraqueza e as misérias desta vida mortal


"Confessarei, Senhor, contra mim mesmo a minha iniquidade" (Sl 31,5). Confessar-Vos-ei, Senhor, a minha fraqueza. Muitas vezes qualquer nada me abate e contrista. Sim, proponho pelejar virilmente; mas, apenas chega uma pequena tentação, fico logo angustiado.

Algumas vezes, da coisa mais insignificante provém uma grande tentação. E quando me julgo seguro, encontro-me, às vezes, sem dar por isso, quase vencido e derrubado por um sopro.

Reparai, Senhor, na minha abjeção e fraqueza, que tão bem conheceis. Tende piedade e "tirai-me d lodo, para que não fique atolado" (Sl 68,15), nem fique para sempre submerso.

Aquilo que continuamente me atormenta e confunde perante Vós é ver quão amiúde escorrego e como sou fraco para resistir às tentações. Ainda que não chegue ao pleno consentimento, é para mim dolorosa e molesta a sua insistência contínua e causa-me grande aborrecimento viver nessa luta quotidiana. Por isso reconheço a minha fraqueza: as abomináveis fantasias entram mais facilmente na minha alma do que saem.

Oxalá, ó fortíssimo Deus de Israel, que Vós, tão zeloso das almas fiéis, Vos dignásseis pôr os olhos na fadiga e dor do Vosso servo, ajudando-o nas suas empresas.
 
Fortalecei-me com a virtude celeste, para que não me domine nem o homem velho nem esta mísera carne, ainda rebelde ao espírito, contra a qual importa combater enquanto vivemos nesta misérrima vida mortal.

Pobre de mim, que espécie de vida é esta, onde nunca faltam sofrimentos e misérias, onde todas as coisas ocultam ciladas e inimigos! Ainda uma tribulação ou tentação não passou, já outra nos advém; ainda não terminamos o combate da primeira, já outras surgiram.

Como é possível que ame uma vida tão cheia de amarguras, sujeita a tantas angústias e misérias? Como é possível chamar-lhe vida, quando gera tantas mortes e pestes? E, apesar de tudo, muitos ainda a amam e procuram nela a felicidade. 

Criticamos muitas vezes o mundo porque é enganador e vão; no entanto, quanta dificuldade temos em abandoná-lo, isto porque são os apetites sensuais que nos dominam!

Algumas coisas incitam-nos a amar o mundo, outras a desprezá-lo. Incitam-nos a amá-lo "os desejos dos sentidos, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida" (IJo 2,16): porém, as penas e miséria que juntamente se lhes seguem, geram o ódio e o aborrecimento do mundo.

Mas, ai!, o prazer desordenado domina de tal modo a alma humana, até ao ponto de lhe fazer pensar que é delicioso viver na escravidão dos sentidos; isto porque nunca conheceu nem experimentou a suavidade de Deus e a alegria interior da virtude.

Pelo contrário, aqueles que desprezam perfeitamente o mundo e se esforçam por viver para Deus, sob uma santa disciplina, esses conhecem realmente a doçura divina, prometida àqueles que sinceramente renunciam a si mesmos e compreendem claramente como nos engana o mundo e de quantos modos nos ilude."

Imitação de Cristo, Cap. XX.

Dia de todos os santos - O que são os santos


Hoje a Santa Igreja comemora o dia de todos os santos e este é um assunto ainda polêmico, infelizmente. É polêmico porque em geral não é bem compreendido por quem não é católico. Ontem eu estava dando aula e, como tratava do pensamento sofista de Protágoras, fiz uma ponte pra falar do intenso relativismo contemporâneo no qual vivemos. A fim de usar um exemplo que fosse bem conhecido dos alunos, eu fiz menção à problemática religiosa de que o mundo atual tem sido palco. Há uma infinidade de religiões; pelo menos no Brasil, é comum ver, em uma só rua, mais de uma igreja protestante. E o que determina qual religião deve ser seguida é, no mais das vezes, o gosto pessoal. Há inúmeros exemplos de pessoas que, aderindo a uma prática que não é aceita pela sua denominação atual, mudam para uma religião que os acolha sem ser preciso que mudem de conduta.

E assim, a coisa toda fica muito solta: eu decido o que seguir não pela verdade deste ou daquele discurso, mas segundo este ou aquele discurso me agrade, concorde comigo e com os meus interesses. Temos um self service de religiões. Há algumas delas que desafiam os limites do absurdo. Um dos grandes determinantes para aderir a um caminho religioso se tornou o próprio conforto, o bem estar; em suma, o egoísmo. É a mesma lógica de quem peca: buscar prazer, conforto, bem estar, etc.

Mas isso tudo em nada se parece com a "negação de si" de Cristo falou. Converter-se é conformar-se ao Evangelho, e não adaptar o Evangelho a si. E isto é o básico. Se sequer isto é compreendido, está-se em maus lençóis, pois é prova de que não se dispõe do mais mínimo para compreender qual seja a natureza do cristianismo ou do fenômeno religioso como um todo. Uma religião vivida segundo os moldes atuais antes deforma do que forma; as pessoas que se acostumam a este tipo de coisa terminam tendo o próprio caráter grandemente prejudicado, e o hábito da auto-mentira tende a assumir um status divino. É o caminho da iniquidade institucionalizada e disfarçada de religião. Como atacar algo que foi identificado com a própria natureza do sagrado? E isto tudo, além de impedir uma vida espiritual autêntica nos seus seguidores, termina servindo de escândalo e de troça diante dos outros.

Pois bem, eu estava falando do relativismo religioso, e uma das alunas falou que uma das grandes diferenças, hoje, é a entre evangélicos e católicos. A distinção, segundo ela, consistia no fato de que os primeiros adoravam a Deus, enquanto que os segundos serviam aos santos. Este tipo de ignorância total a respeito do catolicismo ou dos santos em geral não é exclusivo dos protestantes. Muitos católicos terminam adquirindo uma visão parecida, seja no sentido de desprezar os santos, seja no sentido de divinizá-los. Mas essas visões são de todo equivocadas. A fim de que nossa fé seja sadia, é importante que a gente compreenda bem tudo isso. Esclareçamos, portanto:

A santidade implica sempre um altíssimo grau de bondade. Não se concebe que um santo seja mau. Quando dizemos de outro: "é um santo", queremos significar que este outro tem ações e intenções puras e boas. A santidade pressupõe a bondade. Porém, "só Deus é bom", diz Jesus. Esta afirmação não significa que não haja bondade no mundo, mas que não há outra fonte de bondade a não ser o próprio Deus. Fora de Deus, nada é bom. Com Deus, tudo é bom. O segredo da bondade é estar em Deus. Aquele que vive com Ele termina participando da Sua bondade e se torna bom por participação. Ora, se a bondade leva à santidade, então é preciso admitir que também os homens podem ser santos na mesma medida em que participem da santidade de Deus. E tal é a ordem de Jesus: "Sede santos como vosso Pai é santo!" Ora, se o próprio Cristo nos ordena tal, é porque tal é possível e, antes, exigido aos homens. Não há, então, nenhuma contradição no fato de existirem santos. Do que foi dito, também é preciso excluir a idéia de que o santo represente qualquer tipo de poder alternativo a Deus. O santo é, antes, uma pessoa humana que mergulhou tão profundamente em Deus que ficou "molhado" da Sua santidade e não apenas na superfície do seu corpo, mas desde dentro. A santidade significa uma profunda transfiguração de tudo quanto é humano. Ser santo é ser divinizado por Deus por participar da vida d'Ele. Com efeito, diz Jesus: "Se alguém me ama, meu Pai o amará, e eu virei a ele e me manifestarei nele." Ora, o modo de Jesus manifestar-se não é outro senão santificando aquilo em que Ele se manifesta. É o que aconteceu com S. Paulo: "Já não sou eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim".

O que são os santos, pois? São pessoas humanas que, não obstante as suas fraquezas e inclinações ao egoísmo e ao pecado - como qualquer um de nós -, se abandonaram de tal modo a Deus que como que saltaram por cima de si mesmos, numa confiança absoluta, e se renderam inteiramente a Ele num estrito combate contra si mesmos, numa contínua auto-negação e, neste processo, segundo a pureza de suas intenções, foram auxiliados pelo próprio Deus que, então, os revestiu de Si, os transfigurou em Si e nos deu, de modo claro e inequívoco, a prova de que as verdades do Evangelho são eficazes e possíveis e que superabundam as nossas mais felizes expectativas.

A santidade não é outra coisa senão a reaquisição da saúde interior que nós perdemos pelo pecado. É o limpar dos olhos da alma que permitirá aos homens vencerem as ilusões e distorções deste mundo. Isto possibilitará uma visão totalmente nova das coisas e de si mesmos, pois, então, tudo se revela na sua relação mais íntima com Deus. Depois, é também a libertação das forças profundas da alma, em particular da força do amor, o que permite que a alma vença a sua estreiteza e a sua timidez de ocupar sempre e somente o pequeno espaço da sua redoma de desejos e medos. O santo é como alguém que redescobriu a liberdade e só então teve consciência da baixeza da sua escravidão anterior.

O santo, ao retomar a veracidade de sua vida, ao sair das ilusões e das escravidões, e ao tomar consciência mais clara do amor de Deus e do que significa ser Seu filho, descobre a felicidade. Uma felicidade que, como dizia S. Josemaria Escrivá, é algo muito diferente do prazer de animal sadio; é, antes, uma felicidade íntima, que surge de dentro, e muito diferente dos prazeres cá de baixo que meio que raspam na superfície do nosso ser. Ao descobrirem a natureza de tal felicidade, querem comunicá-la aos demais. O santo é assim uma poderosa testemunha do Cristo e da Verdade. É um inimigo dos confortos mundanos e dos prazeres egoístas. E, neste sentido, é uma constante ameaça às nossas hipocrisias e aos nossos auto-enganos. É alguém que grita como um alucinado, mas com profunda sobriedade: "é preciso sangrar por Cristo!" É alguém que, aos olhos do mundo, pode parecer um maluco. Mas, na verdade, o santo é aquele que se tornou sadio e denuncia a loucura do mundo.

Neste dia de todos os santos, olhemos para essas lâmpadas ardentes do fogo do amor divino. Cada um em sua época soube reacender no mundo aquele fogo que Jesus sonhava em fazer arder. Olhemos para eles e permitamo-nos inflamar de novo por Deus, para este Deus que se fez homem, deu Sua vida por nós e nos dá a oportunidade de nos tornarmos felizes na medida em que o amemos e imitemos. A santidade é o segredo da felicidade, assim como o pecado é o caminho para a frustração. Não sejamos tolos: amemos a Deus com a nossa vida; que ela seja uma canção de amor agradável a Ele. Que a nossa alma exale o Seu perfume. Que os santos intercedam por nós. Que a Virgem Santíssima nos dê as devidas disposições para seguir o Seu Filho. Amém.


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