Tradutor / Translator


English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Glória a Ti, Igreja Santa, oh Cidade dos Cristãos!

Pedro: a Rocha sobre a qual Cristo fundou a Igreja


O evangelista João, ao relatar o primeiro encontro de Jesus com Simão, irmão de André, assinala um fato singular: Jesus "olhou bem para Simão e disse: 'Você é Simão, o filho de João. Você vai se chamar Cefas (que quer dizer Pedra)'" (Jo 1:42). Jesus não costumava mudar o nome de seus discípulos. Excetuando-se o nome de "filhos do trovão", que atribui num caso concreto aos filhos de Zebedeu (cf. Mc 3,17) e que não volta a utilizar, Ele nunca atribuiu outro nome a nenhum de seus discípulos. Por outro lado, o fez com Simão, chamando-o Cefas. Que foi logo traduzido em grego por Petros, e em latim por Petrus. E foi traduzido precisamente porque não era só um nome; era uma "ordem" que Petrus recebia do Senhor. O novo nome de Petrus aparecerá várias vezes nos Evangelhos e acabará substituindo o nome original de Simão.

O dado é particularmente relevante se levamos em consideração que, no Antigo Testamento, a mudança de nome, em geral, significava a incumbência de uma missão (cf. Gn 17,5; 32,28 ss. etc.). De fato, a vontade de Cristo de atribuir a Pedro um papel especial dentro do Colégio apostólico fica demonstrada em numerosas provas: quando a multidão se apinhava em volta dele nas margens do lago de Genesaré, entre as duas barcas ali atracadas, Jesus escolhe a de Simão (Lc 5,3); quando em determinadas circunstâncias Jesus se faz acompanhar só de três discípulos, Pedro sempre é mencionado como o primeiro do grupo: assim foi na ressurreição da filha de Jairo (cf. Mc 5,37; Lc 8,51), na Transfiguração (cf. Mc 9,2; Mt 17,1; Lc 9,28) e, por último, durante a agonia no Jardim de Getsêmani (cf. Mc 14,33; Mt 26,36). E ainda tem mais: quando se dirigem a Pedro os cobradores de taxas do templo, o Mestre só paga por si e por ele (cf. Mt 17,24-27); Pedro é o primeiro a quem Ele lava os pés na Última Ceia (cf. Jo 13,6), e reza só por ele para que não se perca a fé e possa fortalecer com ela os demais discípulos (cf. 22,20-31).

Além do mais, o próprio Pedro é consciente de sua posição particular: frequentemente, em nome dos demais, intervém pedindo uma explicação para uma parábola difícil (Mt 15,15), ou o sentido concreto de um preceito (Mt 18,21), ou a promessa formal de uma recompensa (Mt 19,27). É ele quem resolve certas situações intervindo em nome de todos. Assim, quando Jesus, chateado pela incompreensão da multidão depois do discurso sobre o "pão da vida", pergunta: "Vocês também querem ir embora?", a resposta de Pedro é peremptória: "A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna" (Jo 6,67-69). Igualmente determinada é a profissão de fé que, também em nome dos Doze, faz em Cesareia de Felipe. Quando Jesus pergunta: "E vocês, quem dizem que eu sou?", Pedro responde: "Tu és o Messias, o filho de Deus vivo" (Mt 16,15-16). Em resposta, Jesus pronuncia então a declaração solene que estabelece, de maneira definitiva, o papel de Pedro na Igreja: "Por isso eu lhe digo: você é Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder da morte nunca poderá vencê-la. Eu lhe darei as chaves do reino do céu, e o que você ligar na terra será ligado no céu e o que você desligar na Terra será desligado no céu" (Mt 16,18-19). As três metáforas a que Jesus recorre são muito claras em si mesmas: Pedro será o alicerce de pedra sobre o qual se apoiará o edifício da Igreja; ele terá as chaves do reino do céu para abri-lo e fechá-lo a quem lhe pareça apropriado; por último, ele poderá atar e desatar, quer dizer, poderá estabelecer ou proibir o que considerar necessário para a vida da Igreja, que é e continua sendo a de Cristo. Sempre será a Igreja de Cristo e não de Pedro. Isto que está descrito com imagens tão plásticas ilustra o que a reflexão posterior qualificou com o termo de "primado de jurisdição".

Esta posição preeminente que Jesus quis conferir a Pedro verifica-se também depois da ressurreição: Jesus encarrega as mulheres de levarem a notícia a Pedro, sem citar os demais apóstolos (cf. Mc 16,7); em direção a ele e a João corre Madalena para informar que a pedra fora movida na entrada do sepulcro (cf. Jo 20,2), e João lhe cederá o passo quando os dois chegarem diante do túmulo vazio (cf. Jo 20,4-6); depois será Pedro, dentre todos os discípulos, a primeira testemunha de uma aparição do Ressuscitado (cf. Lc 24,34; 1Cor 15,5). Este papel, evidenciado com decisão (cf. Jo 20,3-10), marca a continuidade entre sua preeminência no grupo apostólico e a preeminência que seguirá tendo na comunidade nascida com os eventos pascais, como testemunha o livro dos Atos (cf. 1,15-26; 2,14-40; 3,12-16; 4,8-12; 5,1-11,29; 8,14-17; 10 etc.). Seu comportamento é considerado tão decisivo que ele se torna o centro dos olhares e também das críticas (cf. At 11,1-18; Gl 2,11-14). No conhecido Conselho de Jerusalém, Pedro desempenha uma função diretiva (cf. At 15; Lg 2,1-10) e, precisamente por ser testemunha da fé autêntica, o próprio Paulo lhe reconhecerá certa qualidade de "primeiro" (cf. 1Cor 15,5; Gl 1,18; 2,7 s. etc.). Além do mais, o fato de que vários textos-chave atribuídos a Pedro possam ser interpretados no conceito da Última Ceia, em que Cisto confere a Pedro o ministério de confirmar aos irmãos (cf. Lc 22,31 s.), mostra como a Igreja que nasce do memorial pascal celebrado na Eucaristia tem no ministério confiado a Pedro um de seus elementos constitutivos.

Esta contextualização do Primado de Pedro na Última Ceia, no momento constituinte da Eucaristia, Páscoa do Senhor, indica também o sentido último de seu Primado: Pedro, por todos os tempos, deve ser o guardião da comunhão com Cristo; deve guiar na comunhão com Cristo; deve preocupar-se que a rede não se rompa e possa perdurar a comunhão universal. Só juntos podemos estar com Cristo, que é o Senhor de todos. A responsabilidade de Pedro é garantir a comunhão com Cristo, com a caridade de Cristo, guiar-nos na realização desta caridade na vida de cada dia. Rezemos para que o Primado de Pedro, confiado a pobres seres humanos, possa exercer-se sempre com este sentido original desejado pelo Senhor e possa ser sempre melhor reconhecido em seu verdadeiro significado por irmãos que, todavia, não estão em plena comunhão conosco.

Bento XVI, Os Apóstolos e Os Primeiros Discípulos de Cristo

Pedro, tu me amas?


Numa manhã de primavera lhe será confiada [a Pedro] esta missão [de apascentar os cristãos] por Jesus ressuscitado. O encontro se produzirá nas margens do lago de Tiberíades. É o evangelista João quem nos relata o diálogo que tem lugar nesta ocasião entre Jesus e Pedro. Assistimos a um jogo de palavras muito significativo.  Em grego o verbo filéo expressa o amor da amizade, terno, mas não totalizador, enquanto o verbo agapáo significa o amor sem reservas, total e incondicional. Jesus primeiro pergunta a Pedro: "agapâs-me" (Jo 21,15). Antes da experiência da traição, o apóstolo sem dúvida teria dito: "Te amo (agapô-se) incondicionalmente". Mas agora que conheceu a amarga tristeza da infidelidade, o drama de sua própria fraqueza, diz com humildade: "Senhor, te quero (filô-se)", quer dizer, "Te amo com o meu pobre amor humano". Cristo insiste: "Me amas, mais do que eles?" E Pedro repete a resposta de seu humilde amor humano: "Kyrie, filô-se", "Senhor, te quero como sei querer". Na terceira vez, Jesus diz simplesmente a Simão: "Fileis-me?", "me quer?" Simão entende que a Jesus lhe basta o seu pobre amor, o único de que é capaz e, todavia, está triste porque o Senhor precisou dizer-lhe isto. Por isto responde: "Senhor, tu sabes tudo, sabes que te quero (filô-se)". Dir-se-ia que Jesus adaptou-se a Pedro mais do que Pedro a Jesus! É precisamente esta adaptação divina que dá esperanças ao discípulo, que conheceu o sofrimento da infidelidade. Dele nasce a confiança que o torna capaz de segui-lo até o final: "Siga-me" (Jo 21:19).

A partir deste dia, Pedro seguiu o Mestre com uma consciência clara de sua própria fragilidade: mas esta consciência não o desanimou. Sabia que podia contar com a presença do Ressuscitado ao seu lado. Desde o ingênuo entusiasmo da adesão inicial, passando pela experiência dolorosa da negação e o pranto da conversão. Pedro está agora disposto a entregar-se a este Jesus que se adaptou à sua pobre capacidade de amar. E a nós mostra também o caminho, apesar de toda a nossa fraqueza. Sabemos que Jesus se adapta à nossa debilidade. Nós o seguimos, com nossa pobre capacidade de amar, e sabemos que Jesus é bom e nos aceita. Pedro teve que percorrer um longo caminho que o converteu numa testemunha de confiança, "pedra" da Igreja, porque esteve constantemente aberto à ação do Espírito de Jesus. O próprio Pedro se qualificará como "testemunha dos sofrimentos de Cristo, e participante, também, da glória que vai ser revelada" (1Pe 5,1). Quando escreve estas palavras já é um ancião, caminhando para o fim de sua vida, que se selará com o martírio. Estará pronto, então, para descrever a alegria verdadeira e indicar onde pode ser alcançada: o manancial é Cristo acreditado e amado com nossa débil mas sincera fé, apesar de nossa fragilidade. Por isto escreverá aos cristãos de sua comunidade, e também dirá para nós: "Vocês nunca viram Jesus e, apesar disso, o amam; não o veem, mas acreditam. E por isso sentem alegria extraordinária e gloriosa, porque alcançam a meta da fé, que é a salvação de vocês" (1Pe 1,8-9)

Bento XVI, Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo.

Pedro, Pescador de Homens


Jesus se encontra no lago de Genesaré e a multidão apinha-se a seu lado para escutá-lo. O grande número de ouvintes reunidos cria algum mal-estar. O Mestre vê duas barcas amarradas na margem; os pescadores saíram das barcas e estão lavando as redes. Ele pede então que o deixem subir numa das barcas, aquela de Simão, e lhe pede que a afaste um pouco da margem. Sentado nesta cátedra improvisada, começa a apaziguar a multidão desde a barca (cf. Lc 5,1-3). E é assim que a barca de Simão converte-se na cátedra de Jesus. Quando termina de falar, diz para Simão: "Avancem para águas mais profundas, e lancem as redes para a pesca". Simão respondeu: Mestre, tentamos a noite inteira e não pescamos nada. Mas em atenção à tua palavra, vou lançar as redes" (Lc 5,4-5). Jesus, que era carpinteiro, não era um especialista em pesca; e, entretanto, Simão, o pescador, confia neste "rabi", que não lhe responde e só lhe pede para confiar nele. Sua reação diante da pesca milagrosa é de estupor e de ansiedade: "Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador" (Lc 5,8). Jesus lhe responde convidando-o para que confie nele e que se entregue a um projeto que supera todas as suas expectativas: "Não tenhas medo! De hoje em diante, serás um pescador de homens" (Lc 5,10). Pedro, todavia, não podia imaginar que um dia chegaria a Roma e se converteria no "pescador de homens" para o Senhor.

Bento XVI, Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo

Catolicismo: Caminho comum e absolutamente pessoal

Sto Tomás de Aquino certa vez afirmou ter aprendido mais na escola íntima da cruz do que nos livros.

Enquanto vivemos aqui na terra, é necessário que acordemos para certas questões totalmente irrenunciáveis: o que somos, de onde viemos, para onde vamos, o que é o mundo, se há ou não Deus, etc. No entanto, há muitos que, não obstante os apelos da sua natureza humana, vivem a distrair-se de tais pensamentos, pois eles exigem, à medida que se lhes dê resposta, consequências práticas, isto é, trazem a tomada de consciência de uma efetiva responsabilidade pessoal.

Chesterton dizia que a coisa mais importante num homem é a sua visão do todo, o que inclui obviamente a sua visão de si mesmo. Sta Teresa D'Avila, por sua vez, afirmava que é muito triste que alguém não saiba quem é. 

Acontece, porém, que os cristãos somos privilegiados, pois não apenas a nossa santa religião traz continuamente diante de nós estas questões, nos forçando a dar-lhes respostas e a vivermos segundo elas, mas também nos traz Aquele que é, Ele mesmo, a garantia de não haver erro, pois é o Autor não só do mundo e da realidade tal qual a conhecemos, mas também da nossa identidade; diria Sto Agostinho que Ele é mais íntimo de nós do que nós mesmos o somos. N'Ele está, portanto, todas as respostas.

O cristianismo é, sem dúvida, um modo de vida, procedente de uma compreensão do mundo e que acreditamos ser perfeita. Ele nos ensina a verdade sobre a realidade. E esta verdade, contemplada e vivida, dá unidade à nossa vida e nos estreita a Deus. Porém, embora inseridos neste feliz grêmio de Cristo, nós continuamos com a nossa natureza ferida pelo pecado e os nossos olhos não raro cegados pelo egoísmo que trazemos no nosso íntimo. É a razão por sermos, ainda, tão míopes e de facilmente nos revoltarmos contra Deus. Mesmo quando queremos ser fiéis, há uma tensão interna à revolta. S. Paulo expressava isso quando escrevia: "faço o mal que não quero." Quando esta incoerência é consentida, temos uma atitude de pertinácia. E quando esta é disfarçada, damos com a hipocrisia. Sobre esta, diz Deus: "Este povo me louva com os lábios, mas seu coração está distante de mim".

A hipocrisia fere aquela unidade de vida necessária, pois insere na alma humana a dubiedade, da duplicidade de intenções e a dualidade entre o que se é e o que se parece.

Considerando, porém, um homem que seja sincero e intente levar vida reta e sobrenatural, obedecendo a Deus e lutando contra si mesmo para fazer-se dócil aos apelos de Nosso Senhor, ainda assim, nós o veremos exposto a uma série de erros e tentações. A soberba que trazemos segue sua luta contra Deus e vai buscando, mais ou menos conscientemente, que sejamos objeto das glórias e honras, dos prazeres e atenções. Numa disputa doutrinal, por exemplo, é muito comum que vez ou outra percamos de vista aquilo que originalmente defendíamos, e  nos vejamos tentados a vencer a luta por apreço à nossa própria imagem. Os homens, se são qualquer coisa além de robôs, haverão de notar algo destes movimentos no seu interior e, se forem sujeitos sérios, não os satisfarão, mas, antes, os combaterão na esperança de se tornarem humildes. É também neste sentido que a Escritura diz: "A vida do homem é uma luta sobre a terra", pois a velha serpente nos acompanha, na grande maior parte das vezes, até o túmulo. E queira Deus que não nos faça companhia pela eternidade!

Chega, porém, um momento em que o cristão se vê diante de duas vias: a do caminho comum e a da originalidade. Por onde deverá seguir? O que fará para não se perder? Também aqui o erro está nos extremos. Houve um tempo em que as pessoas queriam ser absolutamente originais: "o meu caminho é o Meu caminho; a minha verdade é a Minha verdade", dando a entender que a cada um caberia ser responsável por si e encontrar, individualmente, a trilha por onde seguir. Nesta ânsia por ser único, desprezavam toda proposta coletiva, toda alternativa comum. Ainda que fossem cristãos, não conviria seguirem todos umas mesmas regras. As doutrinas, deste ponto de vista, serviriam de alienadoras, sendo impostas de fora, transgredindo a suma lei da originalidade e aviltando a dignidade humana que consistia, precisamente, nesta absoluta especificidade e liberdade. Esta via será bastante enfatizada pelo protestantismo. Ocioso é dizer que nada agrada tanto ao ego humano quanto a pretensão e a crença de respirar um ar de majestade particular. O cristianismo reduzido a uma luta de egos é, realmente, uma coisa deprimente. Nada tão perigoso quanto uma via de perfeição deteriorada.

Mas há, também, o outro excesso: que é quando o indivíduo se perde numa coletividade. Aqui já não há qualquer reflexão sobre o caráter individual e realmente íntimo de cada alma humana, mas, na prática, se opta pela adesão irrefletida a um caminho por onde todos seguem. Se nota um certo automatismo na vida de Fé e o ego humano encontra aqui um dos modos de tentar ser aceito e de se auto-afirmar. Há como que uma pequena e sutil traição em que o sujeito "vende" as riquezas pessoais para dar ênfase àquilo que é aceito pela maioria. E, como preço da infidelidade a si mesmo, ele deverá restringir-se ao nível da mediocridade e da miopia espiritual. Poderá, talvez, ser aplaudido, mas estará muito aquém do que deveria, carecendo de realidade.

O  real caminho a seguir deve ser, antes, um caminho comum trilhado de modo intimamente pessoal. Esta verdade é tão somente uma consequência daquela dupla via, afirmada por todos os santos: a verdadeira santidade é acompanhada de um profundo conhecimento de Deus e de um profundo conhecimento de si mesmo. O primeiro gera amor a Deus; o segundo, desprezo de si mesmo. Se não há estas duas coisas, não há santidade; haverá, talvez, brincadeiras de adulto e jogos irrefletidos. A santidade, porém, não admite tais "irreverências". Já dizia Nosso Senhor a uma mística franciscana: "não foi para rir que eu te amei". Nós temos uma capacidade imensa de perder o rumo e frequentemente nos distraímos de estarmos num exílio. Conformar-se com o exílio é perder a forma da Pátria.

Este segundo erro pode, também, ser adotado por ingenuidade, como quando alguém, encantado pela vida de algum santo em particular, busca ser uma "reencarnação" do tal santo, ou, também, quando admirando um modo de apostolado em particular, uma pessoa procura adotar trejeitos e expressões daquele que admira. Isto acontece muito com os neófitos universitários com relação a seus professores. É, também, um dos fatores causadores de certas crises vocacionais.

Eu passei por isso. Na pré-adolescência, tomando contato com os escritos sobre S. Francisco de Assis e imediatamente fascinado por tudo aquilo, não deixei de conceber, n vezes, estratégias de sair de casa e dar-me à vida pobre dos mendigos. Mais tarde, conhecendo S. João da Cruz, agravando ainda mais a minha crise vocacional, não deixei de imprimir em tudo quanto escrevia aquele característico tom monástico e místico, tão peculiar do santo doutor. Em seguida, adentrando nestes combates tradicionais da internet, fascinado por todo este cristianismo ousado e inteligente no qual tomei por professor o saudoso Orlando Fedeli, passei a despejar certa agressividade afetada nas minhas defesas da Fé. Todas estas coisas eram feitas, não duvido, com boa intenção, mas a ingenuidade era espaço confortável para a vaidade mostrar sua cabeça nefanda. Não digo que atingi a maturidade, mas hoje julgo ver estas coisas com certa clareza. Estas meditações não me são novas e eu penso que elas sejam, sinceramente, fundamentais para um reto cristianismo.

É preciso seguir por esta dupla via: conhecimento de Deus, da doutrina, da santa Igreja, vida em comum com todos os católicos como membros de um mesmo corpo, seguindo Aquele que é o único caminho de nós todos. Mas também, seguir com esta peculiaridade de membro único, individual, de alma imortal absolutamente única e irrepetível, que deverá seguir este caminho comum de um modo muito único. O desprezo da primeira via, leva ao individualismo auto-suficiente; o desprezo da segunda, leva ao coletivismo irrefletido e a uma certa estagnação espiritual. Sobre este segundo erro, o do coletivismo, há uma música do Pe. Fábio que pode expressar bem esta verdade. Todo mundo sabe que não aprecio muito o Pe. Fábio, com exceção de algumas músicas. Mas este trecho aqui ilustra bem o que eu quis dizer:

Se te escondes em tuas ilusões
E te ocultas naquilo que não és
Perderás a vida e não verás
A beleza de ser o que tu és"

Rima infeliz, mas verdade profunda. Enquanto a terra espera, como mulher em dores de parto, pelo despertar dos Filhos de Deus, é tristemente tão comum que estejamos dormindo sob a árvore confortável de um destes erros! Graças a Deus, muita gente tem despertado para a necessidade imensa de conhecer a doutrina católica, os dogmas, a Liturgia, etc. Porém, a segunda via parece não acompanhar o mesmo progresso. Deus Pai diz a Sta Catarina de Sena: "jamais abandones a cela do auto-conhecimento". Sto Antônio, escreve: "a humildade é o início de toda virtude, assim como o botão é o início da flor". É do conhecimento de si mesmo que surge a humildade sem a qual simplesmente e rigorosamente não há vida espiritual.

Não há humildade sem conhecimento interior. Este é um caminho do qual não se pode esquivar-se sem, ao mesmo tempo, esquivar-se da proposta autenticamente cristã. E para que, seguindo por aí, não caiamos em erros outros, a Igreja nos mantém firmes dentro de muros doutrinários seguros que, como dizia Chesterton, permitem às crianças brincar sem medo de se acidentar.

Que Nosso Senhor, cioso da Sua doutrina e cuidadoso da nossa alma, nos dê o trato sutil de saber ver estas coisas e levá-las à prática. De nada adianta ganhar o mundo, se perdermos a nossa alma. Entremos, pois, como Sta Teresa D'Avila, neste castelo interior e o defendamos, pois n'Ele habita o grande Rei.

Abaixo-assinado de apoio a S. Exa. Revma. Dom Bernardo Fellay‏


Excelência Reverendíssima. Cumprimentos respeitosos Tendo em vista os inúmeros ataques que V. Exa. Revma. tem recebido da parte de pessoas que agem de má fé, ignorância ou movidas por um espírito cismático, nós abaixo-assinados vimos por meio desta expressar nosso apoio a V. Exa. Revma. bem como nosso apreço pela sua prudência demonstrada na condução do diálogo com as autoridades romanas visando a obter não só um esclarecimento dos problemas doutrinários mas também uma estrutura jurídica adequada para a Fraternidade Sacerdotal São Pio X. 

 Como bem salientou o seu primeiro assistente Pe. Pluger, no momento a grande questão levantada pela Santa Sé a respeito da Fraternidade São Pio X não é conhecer sua posição doutrinária, suas objeções quanto ao Concílio Vaticano II e reformas posteriores (tudo isto já foi amplamente explanado por ocasião dos colóquios doutrinários), mas sim saber se a Fraternidade São Pio X efetivamente considera Bento XVI um sucessor de Pedro legítimo com poder de governo e magistério sobre toda a Igreja. Com efeito, a Fraternidade São Pio X manifestou com toda franqueza à Santa Sé suas objeções e, a despeito de tal divergência, recebeu da autoridade suprema da Igreja a proposta de ser reconhecida canonicamente como uma obra da Igreja. 

 Por conseguinte, trata-se no momento, como disse o assistente de V. Exa. Revma., de saber se a Fraternidade São Pio X tem o direito de recusar tal reconhecimento por parte da Igreja. Com efeito, a Igreja é uma sociedade e, como diz o axioma, ubi societas ibi ius. É absolutamente falso professar a fé católica e ao mesmo tempo pretender viver completamente à margem de sua estrutura jurídica. A necessidade de haver um ordenamento jurídico que regule a vida da Igreja, como bem sabemos, ressalta de diversas passagens da própria Sagrada Escritura. De fato, se um católico se contenta em dizer da boca para fora que reconhece a autoridade do papa mas não aceita estar ligado a ele pela lei, isto indica um espírito cismático que reduz primado de Pedro a um primado de honra. Ou ainda tal atitude pode significar que a real postura daqueles que se opõem por princípio ao reconhecimento canônico da Fraternidade São Pio X é a postura sedevacantista embora não declarada.

Queremos também dizer-lhe que apreciamos o realismo de V. Exa. Revma. ao analisar os problemas que afligem a Igreja militante. Não houve jamais, não há e nunca haverá uma Igreja ideal na terra. Sempre haverá o joio misturado ao trigo. Cite-se, por exemplo, o ocorrido na publicação do Syllabus. O cardeal Antonelli, secretário de Estado do Beato Pio IX, opôs-se ao documento e o combateu publicamente. Problemas e divisões sempre houve e haverá na Igreja. O importante é que o católico tenha a humildade, a caridade e a prudência de querer, por fé, viver sob a autoridade do papa, que, como ensina o Concílio Vaticano I, é o princípio perpétuo da unidade e fundamento visível da Igreja, do qual não se pode afastar sem perigo de naufragar na fé. 

Aflige-nos pensar na hipótese de, diante dos mais diversos problemas futuros, a Fraternidade vir a esfacelar-se pela sagração de bispos desunidos entre si pela divergência doutrinária, cada um arrogando para si fidelidade à tradição católica. E tudo isto por conta da recusa da submissão à autoridade da Igreja. Seria, com efeito, um esdrúxulo protestantismo tradicionalista. 

Por isso tudo queremos assegurar a V. Exa. Revma. nossas orações para que tenha as luzes e a força do Espírito Santo para conduzir a bom termo o processo de reconhecimento canônico da Fraternidade Sacerdotal São Pio X para o bem de toda a Igreja. É perfeitamente possível, com muito sofrimento e humildade, para glória de Deus e salvação das almas, lutar pela tradição da Igreja sob a autoridade do papa. 

Rogando sua bênção, 

 Pe. João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa 


 Para assinar, cliquem aqui.

S. Josemaria Escrivá e a necessidade de uma conversão real


Hoje a Santa Igreja celebra a memória de S. Josemaria Escrivá, a quem bem poderíamos chamar de "o santo do cotidiano". Nesta ocasião, eu poderia simplesmente fazer uma transcrição de algum dos seus escritos e, na verdade, nada me impede de levar a termo esta idéia. Porém, neste post em particular, quero falar, por mim mesmo, de um aspecto fundamental da vida cristã e no qual S. Josemaria poderá apoiar-me.

Como se sabe, todos nós somos chamados à santidade, pois é vontade de Deus que todos se salvem. Para que a salvação possa se dar, são necessárias absolutamente duas coisas: uma vida que se disponha ao caminho proposto por Nosso Senhor e, em seguida, o auxílio objetivo da Graça. Uma reta compreensão deste duplo aspecto falta a muita gente, e eu gostaria aqui de tentar elucidar um pouco a questão.

De um lado, há os que lutam contra uma visão que chamam de "sacramentalista" e que sugere um tipo de cristianismo mecânico, sem envolvimento interior e no qual se supõe dever o católico somente cumprir suas obrigações cultuais, quais sejam a frequência aos Sacramentos, o pagamento do Dízimo, etc., sem que, porém, os demais aspectos da sua vida sejam envolvidos pela religião. Deste modo, um sujeito poderia justificar a sua consciência entendendo que, por ter ido à igreja ou ter feito certas orações, já não há o que se lhe deva exigir. De fato, é um erro pois, a despeito da aparência, um tal sujeito torna-se impermeável à ação divina.

Há, porém, um outro problema, talvez mais atrativo, mas também mais sutil porque, embora seja no fundo uma das tantas máscaras do orgulho humano, costuma se transvestir de humildade e de cristianismo verdadeiro. Consiste na equivocada conclusão de que o cristianismo, para se isentar das meras exterioridades, deverá ser tão somente um processo de auto-persuasão, de auto-conversão, de cultivo de bons sentimentos, de disposição para a ação humanista, social; de tentativa de modificação efetiva do mundo por meio do envolvimento político, reduzindo toda a religião a um instrumento ideológico, a um grande sindicato onde deveriam ser expostas e ensinadas as idéias mestras para a libertação dos homens, entendidos aqui na sua materialidade, o que dá certa aparência de realismo a este tipo de discurso.

No entanto, uma religião onde o homem possua, por si mesmo, as idéias e a força para a mudança necessária, não é religião, mas caminho de auto-afirmação, de auto-suficiência. Uma religião, além disto, que reduza o ser humano à sua vida terrestre, amputa-lhe o que de mais essencial ele possui e, sob a máscara de uma solicitude devotada, distrai-o de sua verdadeira felicidade e objetivo. Se Deus não é necessário para a conversão humana, não há por que se aderir a uma religião. Se a importância de Deus na vida humana se restringe ao campo motivacional, poderemos trocá-lo por Buda, Gandhi, e tantos outros personagens que, inclusive, parecem incorporar melhor do que Jesus os ideais modernos.

Não. Nada disso é catolicismo. No primeiro problema, temos uma fé caricaturada em que os sujeitos apenas encenam e anestesiam a consciência, enganando-se até o fim do mundo, onde haverão de contemplar, aturdidos, a fatuidade da própria vida. No segundo erro, temos uma fé reduzida à materialidade, e a auto-suficiência humana se disfarçando de devoção e amor ao próximo. Temos a exclusão prática de Deus e a negação da necessidade da vida da Graça, com a consequente naturalização e relativização dos preceitos religiosos e da doutrina católica. Cai-se no subjetivismo e no relativismo e o homem erige-se como norma última do bem. É o antropoteísmo.

S. Josemaria Escrivá, porém, tem outra proposta: a de uma conversão total e de unidade de vida. Primeiro, é preciso reconhecer a doença do egoísmo da qual todos sofremos enquanto labutamos nesta terra, com exceção de alguns raros santos que, ainda nesta vida, alcançam alturas vertiginosas de santidade. Quanto a nós, é preciso convencer-nos desta ruindade que todos carregamos no íntimo da alma e que tende a fazer das nossas melhores intenções e atitudes apenas uma extensão de si mesma. A consequência do pecado original foi a entronização da soberba em nós, que falseia o nosso julgamento, corrompe as nossas vontades e instrumentaliza as nossas ações. Uma vez que contemplamos tal verdade, deveremos reconhecer que, sozinhos, não temos como dar conta disso. Se fazemos mortificação por nosso próprio esforço, confiados no nosso próprio engenho, daqui a pouco estaremos, ou esmagados pela constatação absoluta da nossa fraqueza, ou perdidos na contemplação da nossa suposta e falsa grandeza. Se queremos fazer boas ações, a soberba tornará tudo quanto fizermos somente uma tentativa de adquirir aplausos e admirações. Se queremos divulgar o Evangelho, o nosso orgulho utilizará a ocasião para se auto-afirmar. E desse modo, tudo quanto fizermos será igual a nada. Já dizia S. Paulo que, sem a caridade, tudo é só barulho. A caridade é o auxílio de Deus na nossa alma para que as nossas intenções possam ser puras e para que as nossas ações sejam sobrenaturalizadas e verdadeiras.

Uma vez que reconhecemos a necessidade absoluta que temos do auxílio divino, devemos, então, entender de que modo ele nos poderá ser dado. Ora, é pelos Sacramentos da Igreja. Daí que a religião não é, de modo nenhum, dispensável. De modo nenhum! É nela que obteremos a vida da Graça e aprenderemos a verdade não somente sobre Deus, mas sobre nós mesmos, sobre os outros e sobre o mundo. Sem saber de tudo isto, não poderemos efetivamente ajudar ninguém, pois partiremos de pressupostos errados.

Uma religião, ao invés, que pretendesse a mera observância exterior dos compromissos religiosos e se restringisse geograficamente ao interior dos templos, também em nada se distinguiria da dos fariseus, e sobre isto Jesus nos diz: "se a vossa justiça não for maior do que a deles, não entrareis no Reino". Em verdade, o cristianismo deve de tal modo envolver a vida humana, que toda ela se transubstancie, isto é, se transforme, desde o seu mais íntimo, em vida cristã, em vida de Cristo, ao ponto de podermos, um dia, dizer como São Paulo que é Ele Quem vive em nós. Já dizia um santo que um verdadeiro cristão é cristão não apenas quando reza, mas quando trabalha, estuda, brinca, come e até quando dorme. A cura a que devemos ser submetidos tem de ser completa, diria C.S. Lewis, pois o que Nosso Senhor espera de nós é, nada menos, que a perfeição. Ora, tal altura está muito acima das nossas capacidades naturais. No entanto, é preciso querê-la e buscá-la, uma vez que temos o auxílio divino.

S. Josemaria propõe justamente isto: tornar a vida inteira um contínuo suspiro de amor a Deus. Mesmo no evento mais corriqueiro, mais cotidiano, mais ordinário, é possível fazer transbordar o amor divino. E isto é tão somente a aplicação prática do que S. Paulo já havia dito: "n'Ele existimos, nos movemos e somos". Se tal é assim, ter momentos totalmente seculares na vida significa distrair-se da realidade. O cristianismo, ao invés, sendo a religião da verdade, quer, não alienar, mas efetivamente despertar os homens para a verdade. Daí a necessidade de se encarnar visceralmente um cristianismo total, contínuo, que englobe a vida em todos os seus aspectos, momentos e minúcias. Esta unidade, porém, somente pode ser dada quando os homens descobrirem que, de fato, sem Ele nada podem fazer, conclusão absolutamente necessária para que se motivem a reservar-Lhe um lugar central em torno do qual gravitarão. A religião, portanto, de nenhum modo será dispensável; antes, deverá ser a garantia da visão objetiva do mundo e a fornecedora da seiva que permitirá aos homens viverem de fato, e não, apenas, encenarem.

Que S. Josemaria Escrivá interceda por nós neste caminho, difícil, pedregoso, mas amoroso e feliz.

A má formação dos filhos e a má conduta dos pais


"Porque de tal maneira se espalhou por toda parte entre os que se dizem cristãos esse péssimo costume, como se fosse lei, confirmada e preceituada por todos, que procuram educar seus filhos desde o berço com muita moleza e dissolução. Apenas nascidas, antes de começarem a falar e a balbuciar, as criancinhas aprendem, por gestos e palavras, coisas vergonhosas e verdadeiramente abomináveis. Quando se desprendem do peito de suas mães, são obrigadas não só a falar mas também a fazer coisas dissolutas e lascivas. Nenhum deles se atreve a comportar-se honestamente, forçado pelo temor da idade, para não se submeter a uma disciplina severa. Bem disse o velho poeta: "Porque crescemos no meio das depravações de nossos pais, desde a infância acompanham-nos todos os males.

Isso é bem verdade, porque tanto mais perniciosas são para os filhos as condescendências dos pais quanto maior a facilidade que encontram. E quando crescerem um pouco mais e forem por si mesmos, vão cair em coisas cada vez piores. De raiz prejudicada cresce árvore estragada, e o que já foi torcido uma vez dificilmente poderá ser endireitado. Quando chegarem à adolescência, que poderão ser esses jovens? Então, no turbilhão de toda sorte de prazeres, sendo-lhes permitido fazerem tudo que quiserem, entregar-se-ão de uma vez aos vícios. Assim, escravos voluntários do pecado, entregam seu corpo como instrumento do mal. Sem nada conservar da religiosidade cristã em sua vida e em seus costumes, defendem-se apenas com o nome de cristãos. Esses infelizes muitas vezes até fingem ter feito coisas piores do que de fato fizeram, para não passarem por mais vis na medida em que forem mais inocentes."

Tomás de Celano, Primeira Vida de São Francisco

CHIARA CORBELA PETRILLO: UMA NOVA GIANNA BERETTA MOLLA


Salvatore Cernuzio

ROMA, segunda-feira, 18 de junho de 2012 (ZENIT.org) - 

Neste sábado, na igreja de Santa Francisca Romana, da capital italiana, foi celebrado o funeral da jovem Chiara Petrillo, falecida depois de dois anos de sofrimento provocado por um tumor.

A cerimônia não teve nada de fúnebre: foi uma grande festa em que participaram cerca de mil pessoas, lotando a igreja, cantando e aplaudindo desde a entrada do caixão até a saída.
A extraordinária história de Chiara se difundiu pela internet com um vídeo no YouTube, que registrou mais de 500 visualizações em apenas um dia.

A luminosa jovem romana de 28 anos, com o sorriso sempre nos lábios, morreu porque escolher adiar o tratamento que podia salvá-la. Ela preferiu priorizar a gravidez de Francisco, um menino desejado desde o começo de seu casamento com Enrico.

Não era a primeira gravidez de Chiara. As duas anteriores acabaram com a morte dos bebês logo após cada parto, devido a graves malformações.

Sofrimentos, traumas, desânimo. Chiara e Enrico, porém, nunca se fecharam para a vida. Depois de algum tempo, chegou Francisco.

As ecografias agora confirmavam a boa saúde do menino, mas, no quinto mês, Chiara teve diagnosticada pelos médicos uma lesão na língua. Depois de uma primeira intervenção, confirmou-se a pior das hipóteses: era um carcinoma.

Começou uma nova série de lutas. Chiara e o marido não perderam a fé. Aliando-se a Deus, decidiram mais uma vez dizer sim à vida.

Chiara defendeu Francisco sem pensar duas vezes e, correndo um grave risco, adiou seu tratamento para levar a maternidade adiante. Só depois do parto é que a jovem pôde passar por uma nova intervenção cirúrgica, desta vez mais radical. Vieram os sucessivos ciclos de químio e radioterapia.

Francisco nasceu sadio no dia 30 de maio de 2011. Mas Chiara, consumida até perder a vista do olho direito, não conseguiu resistir por mais do que um ano. Na quarta-feira passada, por volta do meio dia, rodeada de parentes e de amigos, a sua batalha contra o dragão que a perseguia, como ela definia o tumor em referência à leitura do apocalipse, terminou.

Mas na mesma leitura, que não foi escolhida por acaso para a cerimônia fúnebre, ficamos sabendo também que uma mulher derrota o dragão. Chiara perdeu um combate na terra, mas ganhou a vida eterna e deixou para todos um testemunho verdadeiro de santidade.

“Uma nova Gianna Beretta Molla”, definiu-a o cardeal vigário de Roma, Agostino Vallini, que prestou homenagem pessoalmente a Chiara, a quem conhecera havia poucos meses, juntamente com Enrico.

“A vida é um bordado que olhamos ao contrário, pela parte cheia de fios soltos”, disse o purpurado. “Mas, de vez em quando, a fé nos faz ver a outra parte”. É o caso de Chiara, segundo o cardeal: “Uma grande lição de vida, uma luz, fruto de um maravilhoso desígnio divino que escapa ao nosso entendimento, mas que existe”.

“Eu não sei o que Deus preparou para nós através desta mulher”, acrescentou, “mas certamente é algo que não podemos perder. Vamos acolher esta herança que nos lembra o justo valor de cada pequeno gesto do cotidiano”.

“Nesta manhã, estamos vendo o que o centurião viveu há dois mil anos, ao ver Jesus morrer na cruz e proclamar: Este era verdadeiramente o filho de Deus”, afirmou em sua homilia o jovem franciscano frei Vito, que assistiu espiritualmente Chiara e a família no último período.

“A morte de Chiara foi o cumprimento de uma prece. Depois do diagnóstico de 4 de abril, que a declarou doente terminal, ela pediu um milagre: não a própria cura, mas o milagre de viver a doença e o sofrimento na paz, junto com as pessoas mais próximas”.

“E nós”, prosseguiu frei Vito, visivelmente emocionado, “vimos morrer uma mulher não apenas serena, mas feliz”. Uma mulher que viveu desgastando a vida por amor aos outros, chegando a confiar a Enrico: “Talvez, no fundo, eu não queira a cura. Um marido feliz e um filho sereno, mesmo sem ter a mãe por perto, são um testemunho maior do que uma mulher que venceu a doença. Um testemunho que poderia salvar muitas pessoas...”.

A esta fé, Chiara chegou pouco a pouco, “seguindo a regra assumida em Assis pelos franciscanos que ela tanto amava: pequenos passos possíveis”. Um modo, explicou o frade, “de enfrentar o medo do passado e do futuro perante os grandes eventos, e que ensina a começar pelas coisas pequenas. Nós não podemos transformar a água em vinho, mas podemos começar a encher os odres. Chiara acreditava nisto e isto a ajudou a viver uma vida santa e, portanto, uma morte santa, passo a passo”.

Todas as pessoas presentes levaram da igreja uma plantinha, por vontade de Chiara, que não queria flores em seu funeral. Ela preferia que cada um recebesse um presente. E no coração, todos levaram um “pedacinho” desse testemunho, orando e pedindo graças a esta jovem mulher que, um dia, quem sabe, será chamada de beata Chiara Corbela.

(Tradução:ZENIT)

Famosa blogueira ateísta se torna católica - Deo Gratias!


Vi hoje, no Sentir com a Igreja, a feliz notícia de que uma famosa blogueira atéia, a Leah Libresco,  acaba de se converter ao catolicismo. Oh Deus, como coisas deste tipo me alegram! Poderão ler a notícia com mais detalhes aqui. Se quiserem, vão até o blog dela - que é em inglês - e lhe escrevam algumas palavras de incentivo. 

Que ela seja, mesmo, muito bem vinda! Que Nosso Senhor a segure firme em Suas mãos e não deixe inacabada esta obra que Ele começou. Que a Virgem Santíssima conduza os passos desta que acaba de dispor-se sob o Seu manto e sob os Seus cuidados.

Viva à Una, Santa, Romana, Católica e Apostólica Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo!

Parada Gay


Vejam como é legítima, bonita e sacro-santa a causa gay.

Assistam ao Vídeo: "Diga NÃO à cultura de morte"


Pessoal, não se trata de sensacionalismo nenhum. Muito pelo contrário, mesmo o vídeo não é capaz de nos acordar para a extrema e absoluta gravidade deste assunto. Depois de assisti-lo, poderão assinar a petição clicando aqui. Que Deus nos proteja.

Lógica Secularista Moderna


A religião é questão de escolha pessoal: 
 deve restringir-se ao foro íntimo e não entrar nas discussões do Estado. 

 A sexualidade é questão de escolha pessoal: 
 deve ser debatida diariamente, problematizada, desconstruída e ensinada às crianças nas escolas. 

 What?!

16 de Junho - Dia do Imaculado Coração da Virgem Maria


Maria não tinha pecado que expiar, nem original nem atual; não recebera de Deus, como Jesus, o fardo de nossas iniquidades, e por que foi então que sofreu tanto em sua vida, durante a qual teve incessantemente, diante dos olhos, o quadro da morte de seu Filho? E por que, principalmente, teve de suportar o martírio do Calvário?

É que o sofrimento é a lei do amor, e foi o amor de Maria que teceu o seu martírio, e porque amava mais do que todas as criaturas sofreu um martírio incomparável.

Outra razão de ser do sofrimento é que ele é a glorificação atual de Jesus Cristo em nós; padecendo, continuamos e completamos o seu sacrifício (cf. Cl 1,24). No caso de Maria, existe ainda o motivo de que a glória da maternidade deve ser conquistada pelo sofrimento. Ao dar à luz o seu Filho Imaculado, foi isenta desta lei, mas quando se tratou de tornar-se nossa Mãe e nos fazer nascer à vida da graça, teve de experimentar-lhe todo o rigor.

Quanto sofreu Jesus Cristo para nos regenerar! Maria sofrerá com Ele, imóvel ao pé da Cruz, partilhando em seu coração todos os tormentos da Paixão a fim de se tornar nossa Mãe adotiva.

***

Oh! quanto haveis de ser amados por Maria se servirdes bem ao seu Jesus! Quanto vos protegerá, se trabalhardes somente para a glória de Jesus! Quanto haverá de vos enobrecer, vendo que viveis unicamente do amor de Jesus! Torná-lA-eis assim duplamente Mãe, porque A colocais de um modo mais perfeito na sua graça e missão de Mãe dos adoradores de Jesus.

Sede porém modestos como a Santíssima Virgem; lembrai-vos de sua modéstia diante do Anjo e imaginai quão modestamente Ela servia seu Filho no Santíssimo Sacramento.

Sede puros como a vossa boa Mãe, que teria mesmo renunciado à glória da maternidade divina para conservar a flor de sua virgindade.

Sede humilde, a seu exemplo, pois se abismava no seu nada inteiramente entregue à graça de Deus. Sede amáveis e mansos visto que Maria era a suave expressão do coração de Jesus. Revesti-vos das virtudes e méritos da Santíssima Virgem quando fordes à Sagrada Mesa, e assim comungareis com a sua fé e o seu coração.

Oh! quão feliz sentir-se-á Jesus encontrando em vós a imagem e a reprodução de sua Mãe amabilíssima!

S. Pedro Julião Eymard, Flores da Eucaristia.

Sangue e Água que jorram do Sagrado Coração


Saíram sangue e água do coração traspassado de Jesus. Em todos os séculos, a Igreja, segundo a palavra de Zacarias, olhou para esse coração traspassado e nele reconheceu a fonte de bênção indicada antecipadamente no sangue e na água. A palavra de Zacarias impele mesmo a buscar uma compreensão mais profunda daquilo que lá aconteceu.

Um primeiro grau desse processo de penetração encontramo-lo na Primeira Carta de João, que retoma vigorosamente o discurso do sangue e da água saídos do lado de Jesus: "Este é O que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não com a água somente, mas com a água e o sangue. E é o Espírito que testemunha, porque o Espírito é a verdade. Porque três são os que testemunham: o Espírito, a água e o sangue; e os três tendem ao mesmo fim" (5,6-8).

Que entende dizer o autor com a afirmação insistente de que Jesus veio não só com a água, mas também com o sangue? Pode-se provavelmente supor que aluda a uma corrente de pensamento que dava valor apenas ao Batismo, mas punha de lado a cruz. E talvez isso signifique também que se considerava importante só a palavra, a doutrina, a mensagem, mas não "a carne", o corpo vivo de Cristo, exangue na cruz; signifique que se procurava criar um cristianismo do pensamento e das idéias, do qual se queria tirar fora a realidade da carne: o sacrifício e o Sacramento.

Os Padres viram nesse duplo fluxo de sangue e água uma imagem dos dois sacramentos fundamentais - a Eucaristia e o Batismo -, que brotam do lado traspassado do Senhor, do seu coração. São a corrente nova que cria a Igreja e renova os homens. Mas os Padres, diante do lado aberto do Senhor que dorme na cruz o sono da morte, pensaram também na criação de Eva do lado de Adão adormecido, vendo assim, na corrente dos sacramentos, ao mesmo tempo a origem da Igreja: viram a criação da nova mulher do lado do novo Adão.

Bento XVI, Jesus de Nazaré: da entrada em Jerusalém até a ressurreição.

Eis o Coração que tanto amou o mundo


S. Pedro Julião Eymard

Ao Coração de Jesus, vivo no Santíssimo Sacramento, honra, louvor, adoração e realeza por todos os séculos dos séculos! (cf. Ap 5,12-13)

A finalidade da festa do Sagrado Coração é honrar, mais fervorosa e ardentemente, o amor de Jesus Cristo sofrendo e instituindo o Sacramento de seu Corpo e Sangue.

A fim de penetrar no espírito da devoção para com o Coração de Jesus, é mister, portanto, honrar os sofrimentos do Salvador e reparar as ingratidões de que é diariamente saturado na Eucaristia.

Quão profundas foram as dores do Coração de Jesus! Todas as provocações convergiram para Ele. Foi cumulado de humilhações, ferido pelas mais revoltantes calúnias, que procuravam roubar-Lhe a honra; foi saciado de opróbrios e coberto de desprezos. Apesar de tudo isto, porém, ofereceu-se voluntariamente, sem a mais leve queixa. Seu amor foi mais forte que a morte, e as torrentes da desolação não conseguiram arrefecer-lhe o ardor (cf. Ct 86-7).

Essas dores já terminaram, sem dúvida, mas, desde que Jesus as suportou por nós, o nosso reconhecimento deve persistir, e compete ao nosso amor honrá-las como se estivessem presentes aos nossos olhos.

**

As razões que determinaram a instituição da Festa do Sagrado Coração, e o modo pelo qual Jesus manifestou seu Coração, ensinam-nos que é na Eucaristia que O devemos honrar, pois é aí que O encontramos na plenitude de seu amor.

Foi diante do Santíssimo Sacramento exposto que Santa Margarida recebeu as revelações do Sagrado Coração; foi na Santa Hóstia que Jesus se lhe apresentou com o Coração entre as mãos, dizendo estas adoráveis palavras, o mais eloquente comentário de sua presença eucarística: "Eis o Coração que tanto amou os homens".

E Nosso Senhor, aparecendo à venerável Madre Mectilde, fundadora de um Instituto de Adoradoras, recomendou-lhe que honrasse e amasse com o ardor possível o seu Sagrado Coração no Santíssimo Sacramento, e LhO deu como penhor de seu amor para lhe servir de refúgio durante a vida e consolação na hora da morte.

Ó Jesus, sede a minha luz, minha nuvem luminosa no deserto (cf. Ex 13,21-22; Sl 104,39) desse mundo, meu único Senhor, pois não quero outro! Sede minha única ciência. Fora de Vós, tudo é nada para mim.

S. Pedro Julião Eymard, Flores da Eucaristia

O que é Filosofia I


Jacques Maritain

Definição da Filosofia

A filosofia apresentou-se primeiramente como sendo a sabedoria humana. Agora que sabemos melhor, pela história da sua própria gênese, em que consiste esta sabedoria e de que se ocupa, podemos dizer com mais precisão o que é a Filosofia.

Consideremos para isto a filosofia por excelência (Filosofia primeira ou Metafísica). O que dela dissermos em sentido absoluto (simpliciter) poderá aplicar-se sob certo ponto de vista (secundum quid) às demais partes da Filosofia.

1) Podemos perguntar agora se a Filosofia é uma sabedoria no sentido de sabedoria de comportamento, de regra de vida, que faz agir bem; chamamos por vezes de sábio àquele que é virtuoso. (Os ingleses empregam neste caso o termo bom.) Será neste sentido que a Filosofia é uma sabedoria? Não, a Filosofia é uma sabedoria que consiste em
CONHECER.
2) Conhecer como? - Conhecer no sentido pleno e perfeito da palavra, isto é, com certeza, e podendo dizer por que a coisa é tal e não pode ser de outro modo.
CONHECER PELAS CAUSAS
A investigação das causas é com efeito a grande tarefa dos filósofos, e o conhecimento de que se ocupam não é um conhecimento simplesmente provável, como o que proporcionam os oradores nos discursos; é um conhecimento capaz de exercitar a inteligência, como o que os geômetras proporcionam pelas suas demonstrações. Mas o que se entende por conhecimento certo pelas causas? É o que se chama ciência. A Filosofia é uma ciência.

3) Conhecer por que meio, graças a que luz? Conhecer pela razão, graças ao que se denomina
A LUZ NATURAL
da inteligência humana. Eis o caráter comum a toda ciência puramente humana (em oposição à Teologia).

O critério de verdade que emprega, o que regula a Filosofia, é, pois, a evidência do objeto.

O meio ou a luz pela qual uma ciência atinge as coisas, é o que se chama em linguagem técnica o lumen sub quo desta ciência, luz sob a qual esta ciência apreende o objeto que conhece (chamado objeto quod). Cada uma das ciências possui uma luz distinta (lumen sub quo, medium seu motivum formale) que corresponde aos princípios formais pelos quais atinge seu objeto. Mas estes diversos princípios têm de comum o seguinte: todos são conhecidos pelo exercício espontâneo da nossa inteligência, tomada como meio natural de conhecer, ou melhor, pela luz natural da razão, - e não como os princípios da teologia, por uma comunicação sobrenatural feita aos homens (revelação) e pela luz da fé.

Resta-nos considerar o objeto quod da Filosofia.

4) Conhece o quê? Para responder a esta pergunta, convém lembrar aquilo de que se ocupam os diversos filósofos cujas doutrinas resumimos anteriormente. Ocupam-se de tudo, - do conhecimento e dos seus processos, do ser e do não ser, do bem e do mal, do movimento, do mundo, dos seres vivos e não vivos, do homem, e de Deus... A Filosofia, portanto, trata de todas as coisas: é uma ciência universal. Isto significará que a Filosofia absorve em si todas as ciências, que é a ciência única de que todas as outras apenas seriam partes, ou então, que ela mesma se absorve nas outras ciências, de que não seria senão a coleção ordenada ou a sistematização? Não, ela possui natureza e objeto próprios; é distinta das demais ciências. Caso contrário, nada seria, e os vários filósofos, cujas doutrinas resumimos, teriam tratado de problemas inexistentes. Para provar que a filosofia é algo de real e que os problemas de que ela se ocupa são os problemas que mais temos necessidade de estudar, basta dizer que é absolutamente impossível, para o espírito humano, deixar de se interessar por estes problemas: o espírito não pode deixar de se pôr estas questões que foram tratadas pelos filósofos e que se referem intrinsecamente aos princípios dos quais dependem as certezas de toda e qualquer ciência.

"Dizeis que é preciso filosofar?, dizia Aristóteles num dilema célebre. "Então, é preciso filosofar de fato. Dizeis que não é preciso filosofar? Então, ainda é preciso filosofar (para o demonstrar). De qualquer modo é necessário filosofar.

Entretanto como poderá a Filosofia ser uma ciência à parte, ocupando-se de todas as coisas? Precisamos entender sob que ponto de vista ela se ocupa de todas as coisas, ou ainda o que a interessa diretamente e por si mesmo em todas as coisas: ocupando-se do homem, por exemplo, procura saber acaso o número de vértebras ou as causas de suas doenças? Não, é domínio da Anatomia e da Medicina. A Filosofia trata do homem para saber, por exemplo, se ele tem uma inteligência que o distingue absolutamente dos outros animais, se tem uma alma, se é feito para gozar de Deus ou para gozar das criaturas, etc. Chegando a este ponto, não é possível formular perguntas além e mais alto. Digamos que a Filosofia vai procurar nas coisas, não o porquê mais próximo dos fenômenos que caem sob os sentidos, mas, pelo contrário, o porquê mais remoto desses fenômenos, o porquê mais elevado, aquele que a razão não pode ultrapassar. Em linguagem filosófica, isto significa que a Filosofia não se preocupa com as causas segundas ou razões próximas, mas com as causas primeiras ou os princípios supremos, ou as razões mais elevadas.

Além disso, vimos que a Filosofia conhece as coisas pela luz natural da razão. Diremos, pois, que procura as causas primeiras ou os princípios supremos que dizem respeito à ordem natural.

Ao explicarmos que a Filosofia trata de tudo, de tudo o que é, de tudo o que se pode conhecer, não falamos de modo preciso; mostramos a matéria de que se ocupa, ou seja, seu objeto material; não assinalamos em que ponto de vista ou sob quais determinações esta matéria lhe diz respeito, não nos referimos ao seu objeto formal ou seu ponto de vista formal. O objeto formal de uma ciência é a determinação por meio da qual ela atinge alguma coisa, ou ainda, aquilo que por si mesmo e antes de tudo é considerado por ela e em virtude do que considera tudo o mais; e o que a Filosofia considera formalmente nas coisas e sob cujo ponto de vista considera tudo o mais, são
AS CAUSAS PRIMEIRAS
ou princípios supremos das coisas, enquanto estas causas ou princípios se relacionam com a ordem natural.

O objeto material de uma faculdade, ciência, arte, virtude é simplesmente a coisa ou a matéria - nada mais - à qual se aplica esta faculdade, ciência, arte, virtude. Assim o objeto material da Química são os corpos não vivos; do sentido da vista, as coisas colocadas diante de nós. Contudo, isto não basta para distinguir a Química da Física, que também trata dos corpos não vivos, nem para distinguir a vista do tato. Para definir exatamente a Química, será necessário dizer que tem por objeto as mudanças profundas (mudanças substanciais) dos corpos não vivos; do mesmo modo em relação à vista, cujo objeto é a cor. Ter-se-á assim destacado o objeto formal (objectum fomale quod), isto é, aquilo que por sua própria natureza e imediatamente, ou ainda por si mesmo e diretamente, ou também necessariamente e em primeiro lugar (estas expressões se equivalem e correspondem à fórmula latina per se primo), é atingido ou considerado nas coisas por esta ciência, arte, faculdade e em virtude do que elas atingem ou consideram tudo o mais.

Assim, entre todos os conhecimentos humanos, só a Filosofia tem por objeto tudo o que é. E em tudo o que é procura as primeiras causas. Ao contrário, as demais ciências têm por objeto esta ou aquela parte daquilo que é, nelas procurando as causas segundas ou os princípios próximos. Equivale a dizer que a Filosofia é dos conhecimentos humanos o mais alto.

Significa também que a Filosofia é uma sabedoria, pois é próprio da sabedoria considerar as causas mais elevadas, sapientis est altissimas causas considerare. Em um pequeno número de princípios abrange a natureza inteira, enriquecendo a inteligência sem sobrecarregá-la.

5) Tudo o que acabamos de dizer pertence pura e simplesmente à Filosofia primeira ou Metafísica, mas pode aplicar-se a toda a Filosofia, considerada como um conjunto cuja parte capital é a Metafísica. Diremos, então, que a Filosofia, em geral, é um corpo de ciências universal, cujo ponto de vista formal, são as causas primeiras (quer sejam as causas absolutamente primeiras, os princípios absolutamente primeiros, objeto formal da Metafísica; quer sejam as causas primeiras em certa ordem, os princípios supremos em uma ordem dada, objeto formal das outras ciências filosóficas). Diremos igualmente que a Metafísica merece o nome de sabedoria pura e simplesmente (simpliciter), e que as outras partes da Filosofia o merecem sob certo ponto de vista (secundum quid).

MARITAIN, Jacques. Elementos de Filosofia. Rio de Janeiro: Agir, 1972.

"Dizemos não"


Comecemos com a primeira parte, a renúncia. São três, e tomo primeiramente a segunda:“Renunciais às seduções do mal para que o pecado não vos escravize?”. O que são essas seduções do mal? Na Igreja antiga, e ainda por séculos, aqui existia a expressão: “Renunciais à pompa do diabo?”, e hoje sabemos qual era a intenção desta expressão “pompa do diabo”. A pompa do diabo era, sobretudo, os grandes espetáculos sangrentos, nos quais a crueldade tornava-se diversão, nos quais matar homens tornava-se uma coisa espetacular: espetáculo, a vida e a morte de um homem. Estes espetáculos cruéis, esta diversão do Mal é a “pompa do diabo”, onde aparece com aparente beleza, mas na realidade, aparece com toda sua crueldade.

Mas, além deste sentido imediato da palavra “pompa do diabo”, queria se falar de um tipo de cultura, de um way of life, de um modo de viver, no qual não conta a verdade, mas a aparência, não se busca a verdade, mas o efeito, a sensação, e, sob o pretexto da verdade, na realidade, se destroem homens, quer-se destruir e criar somente a si mesmos como vencedores.

Então, esta renúncia era muito real: era a renúncia a um tipo de cultura que é uma anti-cultura, contra Cristo e contra Deus. Dizia-se contra uma cultura que, no Evangelho de São João, é chamada “kosmos houtos”, “este mundo”. Com “este mundo”, naturalmente, João e Jesus não falam da Criação de Deus, do homem como tal, mas falam de certa criatura que é dominante e se impõe como se fosse ‘este’ o mundo, e como se fosse este o modo de viver que se impõe.

Deixo, agora, cada um de vocês a refletir sobre esta “pompa do diabo”, sobre esta cultura a qual dissemos “não”. Ser batizados significa justamente, basicamente, um emancipar-se, um libertar-se desta cultura. Conhecemos também hoje um tipo de cultura no qual não conta a verdade; também se aparentemente se quer mostrar toda a verdade, conta somente a sensação e o espírito de calúnia e destruição. Uma cultura que não busca o bem, na qual o moralismo é, na realidade, uma máscara para confundir, criar confusão e destruição. Contra esta cultura, na qual a mentira se apresenta na veste da verdade e da informação, contra esta cultura que busca somente o bem-estar material e nega a Deus, dizemos “não”.


O Positivismo de Augusto Comte


Tenho notado que uma das maiores dificuldades que alguns sujeitos parecem ter com relação à aceitação da realidade de Deus e de tudo aquilo que se refere a uma dimensão superior à dos sentidos é a adesão crédula e cega ao método positivista que os estreita a visão e os faz reduzir toda a realidade ao modesto campo daquilo que pode ser percebido pelos seus cinco sentidos e submetido a experimentação. Isto ficou particularmente evidente no recente debate que ocorreu entre três católicos e três ateus, na rádio vlogs.

Pois bem. Tendo identificado qual seja a dificuldade, exponhamos o que seja o positivismo e qual a sua origem. Abaixo, transcrevo as palavras do grande Pe. Leonel Franca a respeito desta corrente de pensamento, fundada por Augusto Comte. Boa leitura.

***

O positivismo em geral

O dogma fundamental do positivismo é este: só o sensível é objeto do conhecimento, só o sensível é real. De sua natureza, o homem está condenado a ignorar tudo o que ultrapassa a ordem empírica. Qualquer investigação que pretenda elevar-se acima dos fatos, indagando-lhes a origem, o fim e as causas está de antemão condenada à irremediável esterilidade. O homem só tem um modo de conhecer: o positivo, isto é, o sensível. No estudo dos fenômenos e no descobrimento das relações invariáveis de semelhança e sucessão, que os ligam, deve cifrar-se toda a nossa atividade intelectual. A metafísica é impossível. Possível é só a ciência positiva.

Lei sociológica dos três estados

A lei dos três estados, "a generalização mais fundamental das doutrinas de Comte, a espinha dorsal de sua filosofia"1 resume, na opinião do fundador do positivismo, as fases porque passou a humanidade na sua evolução intelectual. Segundo A. Comte estas fases ou estados reduzem-se a três: teológico, metafísico e positivo. O estado teológico ou fictício precede todos os outros. A inteligência explica então os fenômenos da natureza atribuindo-os à intervenção de divindades e seres misteriosos e sobrenaturais. O fetichismo, o politeísmo, o monoteísmo são os seus três graus em ordem ascendente. O estado metafísico ou abstrato é caracterizado pela substituição de entidades abstratas às divindades primitivas. As formas substanciais, as faculdades da alma, as afinidades químicas, a força vital, as qualidades ocultas, explicam então todos os fatos. No terceiro estado, o positivo, reconhece finalmente o homem a futilidade de todas estas abstrações e substitui a investigação das causas pela observação dos fenômenos e de suas leis, o estudo do absoluto pelo do relativo. O primeiro estado é provisório, o segundo transitório, o terceiro definitivo.

O estado teológico dominou na antiguidade; o metafísico na idade média; o positivo nos tempos modernos. Augusto Comte, com sua lei sociológica, consagrou-o definitivamente em 1822.

A lei dos três estados preside não só à evolução da humanidade em geral senão ainda à formação de cada ciência e ao desenvolvimento individual de cada homem.

Clarificação e hierarquia das ciências

Para Augusto Comte, a filosofia reduz-se à sistematização geral dos conhecimentos positivos. Daí a importância por ele ligada à classificação das ciências. Segundo o critério da generalidade decrescente e complexidade crescente dos fenômenos estudados, enumera seis ciências fundamentais dispostas do seguinte modo: matemática, astronomia, física, química, biologia, sociologia. Esta série, sobre indicar a subordinação e a dependência dos diferentes ramos do conhecimento científico, encerra a vantagem de precisar a ordem de sua formação histórica e transição para o estado positivo. A sociologia é a única ciência que não entrou ainda nesta fase definitiva. Comte tomou sobre si a tarefa de incorporá-la às outras ciências positivas. Com este fito, partindo do postulado gratuito que os fenômenos sociais se acham subordinados a leis naturais como os fenômenos de ordem físico-química, divide a sociologia ou física social em estática e dinâmica. A estática tem por objeto o estudo do equilíbrio social e das condições que asseguram a permanência da sociedade. A dinâmica investiga, com o método positivo, as leis do progresso. Quanto à psicologia, Comte redu-la a um capítulo da biologia: a fisiologia do cérebro. Como ciência particular não tem razão de existir. O método de observação interna e introspectivo, imprescindível no estudo dos fenômenos conscientes, parece-lhe simplesmente absurdo.

Misticismo

Na segunda fase da sua vida, relegando em plano subalterno as doutrinas especulativas, entregou-se Comte com toda a alma à fundação de uma nova religião - a religião positiva, sem Deus. A humanidade abstrata sob o título de grande ser - Grand Etre - é o objetivo do novo culto. Ao lado do "Grande Ser" são também objeto de veneração o Grande Meio (o espaço) e o Grande Fetiche (a terra). Juntos constituem o "triunvirato religioso" ou a "trindade positiva". Nem faltam à nova religião calendário próprio, sacerdotes, pontífices, altares e sacramentos. Tudo, caricatura grotesca, paródia imoral da majestade severamente divina do culto e da liturgia católica.

Juízo sobre Augusto Comte

O positivismo como qualquer forma de empirismo é a destruição não só da filosofia como também de toda a ciência. Sem princípios absolutos necessários e universais não há dedução nem indução possíveis, não há conhecimento certo de natureza alguma. A contradição positivista, pois, neste ponto fundamental, é flagrante: se o princípio de causalidade não tem valor, não há ciência possível; se é verdadeiro, não há limitá-lo arbitrariamente; ele nos leva fatalmente ao suprassensível, à alma, a Deus.

Todas as afirmações positivistas em contrário repousam sobre a ignorância da distinção tão rudimentar em psicologia entre a imagem e a ideia, entre a sensibilidade e a inteligência.

As invectivas contra a metafísica são de uma injustiça flagrante. Comte desconhece inteiramente a verdadeira noção de metafísica, da qual fez um vasto receptáculo de idéias condenadas, para onde desdenhosamente atirou quanto não entrava no plano sistemático das suas teorias preconcebidas. "Aug. Comte, combatendo a metafísica, criou um fantasma para ter em seguida o prazer de trucidá-lo"2

A lei dos três estados, fundamento do edifício positivista, é destituída de todo o valor histórico. Para não citarmos senão um ou outro fato: a evolução da filosofia grega, do positivismo de Demócrito à teurgia dos neoplatônicos, passando pela metafísica ática, segue uma marcha inteiramente oposta à exigida pela lei. O idealismo alemão do século XIX, precedido pelo empirismo inglês e seguido pelo positivismo francês é outro fato rebelde ao que devera ser o princípio regulador do desenvolvimento histórico do pensamento humano. A teologia, a verdadeira teologia de que Comte mostra não conhecer as noções mais rudimentares, conviveu na idade média em boa harmonia com a mais profunda metafísica e na idade moderna perdura cheia de seiva e de vida combatendo vitoriosamente todos os sistemas positivistas que se vão sucedendo e esfacelando ao seu lado.

Aplicada aos indivíduos não é mais verdadeira a imaginária lei. Porventura não aliou Aristóteles, na mais robusta síntese, o gênio do metafísico à exatidão do observador? Alberto Magno, Newton, Leibniz, Descartes, Pascal, Ampère, Cauchy, não foram, a uma, crentes fervorosos, metafísicos conceituados e cientistas exímios? Kant, Helmholtz e Wundt, contrariamente ao que quisera Comte, não começaram pela ciência para acabarem pela metafísica? Mas, o mais formal desmentido à lei dos estados, no-lo dá a transformação intelectual por que passou o próprio fundador do positivismo. Comte, que começou tão fervoroso no estado "positivo", daí evolveu mais tarde para terminar no mais grosseiro fetichismo, atribuindo sentimento e vontade aos corpos brutos e prestando culto de veneração ao espaço e à terra, condecorados com os pomposos nomes de Grande Meio e Grande Fetiche   - Ironia do destino? Não; lições da Providência.

O positivismo, finalmente, sob as vestes do agnosticismo e protestando aparentemente a mais completa abstenção de juízo sobre a essência das coisas, resolve-se na realidade, num mal disfarçado materialismo. Nas questões acerca da origem, da natureza e dos destinos do homem, é impossível a neutralidade. Não a manteve o próprio Comte, para o qual a alma não passa do conjunto das funções do cérebro e a moral de uma combinação de instintos altruístas e egoístas, resultantes da nossa constituição psicológica. Alguns dos seus discípulos menos reservados chegaram francamente ao materialismo e ao ateísmo, corolários fatais de uma filosofia sem princípios, de uma psicologia sem alma, de uma religião sem Deus.

A falência do positivismo, como sistema de filosofia, era, portanto, inevitável. Hoje, é um fato.

Que resta, pois, da obra de Comte? Em alguns sábios a tendência positivista, que se traduz geralmente, por um menosprezo, às vezes por declarada aversão a qualquer especulação metempírica: e este é um mal. Em outros, na maioria, uma fidelidade mais escrupulosa ao método positivo, um estudo mais exato dos fatos, um rigor maior na observação, um cuidado de fundar mais solidamente na experiência as teorias científicas: e este é um bem, cujo merecimento é parcialmente de Comte. Este, e só este.

1- Stuart Mill. Auguste Comte et le positivisme.
2- Farias Brito, A base física do espírito, p. 35.

Pe Leonel Franca. Noções de História da Filosofia. 5ª Ed.

Bento XVI aos Namorados


Queridos namorados!

Sinto-me feliz por concluir este dia intenso, ápice do Congresso Eucarístico Nacional, encontrando-me convosco, como que querendo confiar a herança deste acontecimento de graça às vossas jovens vidas. De resto, a Eucaristia, dom de Cristo para a salvação do mundo, indica e contém o horizonte mais verdadeiro da experiência que estais a viver: o amor de Cristo como plenitude do amor humano. 

Agradeço a saudação cordial do Arcebispo de Ancona-Osimo, D. Edoardo Menichelli, e a todos vós por esta vivaz participação; obrigado também pelas perguntas que me fizestes e que acolho confiando na presença entre nós do Senhor Jesus: só Ele tem palavras de vida eterna para vós e para o vosso futuro!

Aquilo que pondes em questão, no atual contexto social, assume um peso maior. Gostaria de vos oferecer apenas algumas orientações para uma resposta. Em certos aspectos, o nosso é um tempo difícil, sobretudo para vós jovens. 

A mesa está posta com tantas coisas apetecíveis, mas, como no episódio evangélico das bodas de Caná, parece que faltou o vinho da festa. Sobretudo a dificuldade de encontrar um trabalho estável é causa de incerteza sobre o futuro. Esta condição contribui para adiar a tomada de decisões definitivas, e incide de modo negativo sobre o crescimento da sociedade, que não consegue valorizar plenamente a riqueza de energias, de competências e de criatividade da vossa geração.

Falta o vinho da festa também a uma cultura que prescinde com frequência de critérios morais claros: na desorientação, cada qual é estimulado a mover-se de maneira individual e autônoma, muitas vezes unicamente só no perímetro do presente. 

A fragmentação do tecido comunitário reflete-se num relativismo que afeta os valores essenciais; a consonância de sensações, de estados de ânimo e de emoções parece mais importante do que a partilha de um projeto de vida. Também as opções fundamentais se tornam assim frágeis, expostas a uma revogabilidade perene, que com frequência é considerada expressão de liberdade, mas ao contrário, indica a sua carência. 

Faz parte de uma cultura privada do vinho da festa também a aparente exaltação do corpo, que na realidade banaliza a sexualidade e tende a fazê-la viver fora de um contexto de comunhão de vida e de amor.

Queridos jovens, não tenhais medo de enfrentar estes desafios! Nunca percais a esperança. Tende coragem, também nas dificuldades, permanecendo firmes na fé. Tende a certeza de que, em todas as circunstâncias, sois amados e protegidos pelo amor de Deus, que é a nossa força. 

Deus é bom. Por isso é importante que o encontro com Ele, sobretudo na oração pessoal e comunitária, seja constante, fiel, precisamente como o caminho do vosso amor: amar a Deus e sentir que Ele me ama. Nada nos pode separar do amor de Deus! 

Depois, tende a certeza de que também a Igreja está próxima de vós, vos ampara, não cessa de olhar para vós com grande confiança. Ela sabe que tendes sede de valores, dos verdadeiros, sobre os quais vale a pena construir a vossa casa! O valor da fé, da pessoa, da família, das relações humanas, da justiça. Não desanimeis face às carências que parecem afastar a alegria da mesa da vida. 

Nas bodas de Caná, quando o vinho terminou, Maria convidou os servos a dirigirem-se a Jesus e deu-lhes uma indicação clara: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2, 5). Valorizai estas palavras, as últimas de Maria descritas nos Evangelhos, quase um seu testamento espiritual, e tereis sempre a alegria da festa: Jesus é o vinho da festa!

Como namorados estais a viver uma fase única, que abre para a maravilha do encontro e faz descobrir a beleza de existir e de ser preciosos para alguém, de poder dizer um ao outro: tu és importante para mim. Vivei com intensidade, gradualidade e verdade este caminho. Não renuncieis a perseguir um ideal alto de amor, reflexo e testemunho do amor de Deus! 

Mas como viver esta fase da vossa vida, como testemunhar o amor na comunidade? Gostaria de vos dizer antes de tudo que eviteis fechar-vos em relações intimistas, falsamente animadoras; fazei antes com que a vossa relação se torne fermento de uma presença ativa e responsável na comunidade. 

Depois, não vos esqueçais de que para ser autêntico, também o amor exige um caminho de amadurecimento: a partir da atração inicial e do «sentir-se bem» com o outro, educai-vos a «amar» o outro, a «querer o bem» do outro. O amor vive de gratuidade, de sacrifício de si, de perdão e de respeito do outro.

Queridos amigos, cada amor humano é sinal do Amor eterno que nos criou, e cuja graça santifica a escolha de um homem e de uma mulher de se entregarem reciprocamente a vida no matrimônio. 

Vivei este tempo do namoro na expectativa confiante desse dom, que deve ser aceite percorrendo um caminho de conhecimento, de respeito, de atenções que nunca deveis perder: só sob esta condição a linguagem do amor permanecerá significativa também com o passar dos anos. 

Portanto, educai-vos desde já para a liberdade da fidelidade, que leva a proteger-se reciprocamente, até viver um para o outro. Preparai-vos para escolher com convicção o «para sempre» que conota o amor: a indissolubilidade, antes de ser uma condição, é um dom que deve ser desejado, pedido e vivido, para além de qualquer mutável situação humana. 

E não penseis, segundo uma mentalidade difundida, que a convivência seja uma garantia para o futuro. Acelerar as etapas acaba por «comprometer» o amor, que ao contrário precisa de respeitar os tempos e a gradualidade nas expressões: tem necessidade de dar espaço a Cristo, que é capaz de tornar um amor humano fiel, feliz e indissolúvel. 

A fidelidade e a continuidade do vosso gostar um do outro tornar-vos-ão capazes de estar também abertos à vida, de ser pais: a estabilidade da vossa união no Sacramento do Matrimônio permitirá que os filhos que Deus vos conceder cresçam confiantes na bondade da vida. 

Fidelidade, indissolubilidade e transmissão da vida são os pilares de qualquer família, verdadeiro bem comum, patrimônio precioso para toda a sociedade. Desde já, fundai sobre eles o vosso caminho rumo ao matrimônio e testemunhai-o também aos vossos coetâneos: é um serviço precioso! 

Sede gratos a quantos vos acompanham na formação com zelo, competência e disponibilidade: são sinal da atenção e da solicitude que a comunidade cristã vos dedica. Não estejais sós: sede os primeiros a procurar e a acolher a companhia da Igreja.

Gostaria de voltar mais uma vez a falar de um aspecto essencial: a experiência do amor tem no seu interior a propensão para Deus. O verdadeiro amor promete o infinito! Por conseguinte, fazei deste vosso tempo de preparação para o matrimônio um percurso de fé: redescobri para a vossa vida de casal a centralidade de Jesus Cristo e do caminhar na Igreja. 

Maria ensina-nos que o bem de cada um depende do escutar com docilidade a palavra do Filho. Em quem confia n’Ele, a água da vida quotidiana transforma-se no vinho de um amor que torna a vida boa, bela e fecunda. 

De fato, Caná é anúncio e antecipação do dom do vinho novo da Eucaristia, sacrifício e banquete no qual o Senhor nos alcança, nos renova e transforma. Não percais a importância vital deste encontro: a assembleia litúrgica dominical vos encontre sempre plenamente partícipes: da Eucaristia brota o sentido cristão da existência e um novo modo de viver (cf. Exort. ap. pós-sinodal Sacramentum caritatis, 72-73). Então, não tereis medo de assumir a importante responsabilidade da escolha conjugal; não receareis entrar neste «grande mistério», no qual duas pessoas se tornam uma só carne (cf. Ef 5, 31-32).

Caríssimos jovens, confio-vos à proteção de São José e de Maria Santíssima; seguindo o convite da Virgem Mãe — «Fazei o que Ele vos disser» — não vos faltará o gosto da verdadeira festa e sabereis levar o «vinho» melhor, aquele que Cristo dá à Igreja e ao mundo. Também eu gostaria de vos dizer que estou próximo de vós e de todos os que, como vós, vivem este maravilhoso caminho de amor. Abençoo-vos de coração!

Bento XVI, 21 de setembro de 2011

Fonte: Opus Dei
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...