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Amar é ser vulnerável



"Cristo não ensinou e sofreu a fim de nos tornarmos, mesmo em nossos amores naturais, mais cuidadosos com nossa própria felicidade. Se o homem não faz cálculos com relação aos entes queridos terrenos a quem vê, irá provavelmente agir da mesma forma para com Deus a quem não vê. Iremos aproximar-nos mais de Deus aceitando os sofrimentos inerentes a todos os amores e oferecendo-os a Ele, em lugar de fazer tudo para evitá-los. É preciso despojar-nos de toda a nossa armadura defensiva. Se nossos corações tiverem de partir-se, e se Ele escolher este como sendo o meio de parti-los, assim seja."


"Amar é ser vulnerável. Ame qualquer coisa e seu coração irá certamente ser espremido e possivelmente partido. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, não deve dá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva-o cuidadosamente em passatempos e pequenos confortos, evite todos os envolvimentos, feche-o com segurança no esquife ou no caixão do seu egoísmo. Mas nesse esquife - seguro, sombrio, imóvel, sufocante - ele irá mudar. Não será quebrado, mas vai tornar-se inquebrável, impenetrável, irredimível.

A alternativa para a tragédia, ou pelo menos para o risco da tragédia é a danação. O único lugar fora do céu onde você pode manter-se perfeitamente seguro contra todos os perigos e perturbações do amor é o inferno."

C.S. Lewis, Os Quatro Amores

"Se o mundo vos odeia, sabei que odiou primeiro a Mim




Confesso que não assisto muito aos programas de televisão. Vez por outra, no entanto, tomo o controle remoto e passeio pelos vários canais. Fiz isto nesta semana e fiquei impressionando. Anunciava-se um programa “Amor e Sexo”. No comercial vi a apologia da separação matrimonial: um “ex-marido” gabando-se de estar já no sexto “casamento” e o animado aplauso que recebeu por tal façanha. O que deveria ser uma dor e uma vergonha – o fracasso de um matrimônio –, uma dor mesmo independentemente de religião e de crença, uma dor pelo simples fato de amor não ser brincadeira, relação afetiva não ser joguete, vida familiar e felicidade dos filhos não serem algo a se tratar de modo leviano, tornou-se, na nossa cultura rasa e vulgar, motivo de ufania, de gabolice, de elogio e de aplauso! Continuei pelos canais. Dei com um, infantil. Ali, num programa de desenho animado destinado a crianças, com o uso aberto e descarado de palavrões, fazia-se apologia clara, direta e insistente da prática da homossexualidade como caminho de realização e felicidade. Mais ainda: afirmou-se diretamente que os “inimigos dos homossexuais”, os homofóbicos miseráveis e preconceituosos, são os simpatizantes do Partido Republicano norte-americano, os nazistas e os cristãos! Afirmações desse quilate num programa infantil, no horário vespertino! De modo absolutamente desonesto, acusam-se os cristãos de serem homofóbicos e os equipara desavergonhadamente aos nazistas! E tudo isto num inocente desenho animado, ao qual os filhos assistem sem que os genitores se deem conta do tipo de conteúdo nocivo que vai penetrando a consciência e a inconsciência de suas crianças.

Estejamos atentos que não mais vivemos numa sociedade cristã. Muito pelo contrário, a força formadora de cultura atual, a matriz geradora do modo de pensar e viver agora é pagã, pós-cristã e até mesmo anticristã, claramente destinada a arrancar qualquer vestígio de uma consciência fundada na civilização cristã, agora vista como arcaica, opressiva, repressiva e obscurantista. Assim sendo, quem desejar ser cristão de corpo, alma e consciência, que não se iluda: esteja atento criticamente aos meios de comunicação e aos formadores de opinião – e aqui incluo também os meios acadêmicos. Vale hoje, plenamente, a advertência do Senhor: “Se o mudo vos odeia – isto é, não vos preza, não vos ama, não vos tem estima, vos despreza – sabei que primeiro odiou a Mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que é seu!” Ser cristão, mais que em outras épocas exige uma ruptura com o pensamento do mundo que nos circunda e a coragem de viver valores que brotam do Evangelho.

IHS - Continuemos.


Ultimamente, eu tenho postado pouco por aqui... I know. Eu pretendo retomar, sim, o ritmo de antes. Vocês provavelmente terão notado que a minha ênfase tem sido, atualmente, quase que exclusivamente espiritualidade. Isto não é necessariamente ruim.. Aliás, não constituiria nenhum tipo de problema, se o blog tivesse somente este tipo de objetivo. Os artigos espirituais são aqueles que falam sobre Deus e sobre nós de modo mais direto, sem rodeios, e portanto aqueles que mais se aproximam do "Único Necessário".

No entanto, é também certo que este é um tempo de combates. E eu não pretendo me isentar das lutas. Nos últimos dias e meses, tive meus combates interiores e estive, de fato, mais restrito à literatura espiritual. No entanto, à medida que vou me reestruturando em certos pontos, tornarei a escrever sobre outros temas também, como Filosofia, Liturgia, Moral, etc.

Continuamos contando com as vossas orações para que o nosso apostolado siga adiante. Porém, também me sinto feliz em poder recomendar o trabalho de tantos dos meus irmãos blogueiros. Quem quiser boa formação católica não terá dificuldades em encontrar material de primeira linha. Graças a Deus, há por aí muita gente preparada, e eu acompanho com interesse o progresso de vários deles. Que Deus os continue abençoando e conduzindo. Também continuaremos fazendo a nossa parte e assumindo nosso lugar nessa batalha monumental por Deus, por Seus direitos e pela honra da Santa Igreja. Rezem por nós.

Como se há de percorrer o caminho que leva à Fonte


"Lutai como fortes até morrer no combate. 
Não estais aqui para outra coisa, senão para pelejar"

Não vos espanteis das muitas coisas que é necessário considerar antes de iniciar esta viagem divina, caminho real para o céu. Indo por ele, ganha-se inestimável tesouro. Não é muito que, a nosso parecer, custe caro. Tempo virá em que se entenda como tudo é nada em comparação de tão grande prêmio.

Voltando agora aos que o querem seguir sem parar, até o fim, até chegar a beber desta água de vida, direi como se há de principiar.

Importa muito, e acima de tudo, uma grande e firme determinação de não parar até chegar à fonte de água viva, venha o que vier, suceda o que suceder, custe o que custar, murmure quem murmurar, quer chegue ao fim, quer morra no caminho, ou falte coragem para os sofrimentos que nele se encontram. Ainda que o mundo venha abaixo havemos de prosseguir. (...)

Por conseguinte, nada de temores. Nunca façais caso da opinião alheia. Olhai que não estamos em tempo de se dar crédito a todos, mas só aos que realmente se conformam à vida de Cristo. Procurai a limpeza de consciência e humildade, desprezo de todas as coisas do mundo e fé inabalável no que ensina a santa Madre igreja. Ficai seguros de estar no bom caminho. Deixai-vos de temores, repito, onde não há que recear. Se alguém procurar assustar-vos, declarai-lhe humildemente vosso caminho.

Sta Teresa D'Avila, Caminho de Perfeição

Nossa Senhora das Dores


Faze, ó Mãe, fonte de amor,
que eu sinta em mim tua dor,
para contigo chorar.

Faze arder meu coração,
partilhar tua paixão
e teu Jesus consolar.

E santa Mãe, por favor,
faze que as chagas do amor
em mim se venham gravar.

O que Jesus padeceu
venha a sofrer também eu,
causa de tanto penar.

Ó dá-me, enquanto viver,
com Jesus Cristo Sofrer,
contigo sempre chorar!

Quero ficar junto à cruz,
velar contigo a Jesus,
e o teu pranto enxugar.

Quando eu da terra partir,
para o céu possa subir,
e, então, contigo reinar.

(Hino das Laudes)

Fonte: Santa Igreja

A Via Real da Santa Cruz


A muitos parece dura esta frase do Salvador: "Renuncia a ti mesmo, toma a tua cruz e segue-me" (Lc 9,23). Porém, muito mais dura será aquela que Ele pronunciará no dia do juízo: "Apartai-vos de mim, malditos, ide para o fogo eterno" (Mt 25,41).

Aqueles que agora ouvem e praticam a palavra da cruz, não temerão então a sentença da eterna condenação.

"O sinal da cruz aparecerá no céu, quando o Senhor vier para julgar todos os povos" (ic. 24,30). Então todos os servos da Cruz que, durante a vida, se conformaram com o Crucificado, se aproximarão do divino Juiz com grande confiança.

Por que temes, pois, carregar a Cruz, pela qual se chega ao Reino? Na Cruz está a salvação, na Cruz está a vida, na Cruz a proteção contra os inimigos.

Da Cruz dimanam as suavidades celestes; na Cruz está a fortaleza da alma, a alegria do espírito. Na Cruz está a consumação da virtude, a perfeição da santidade. Não há salvação para a alma, nem esperança de vida eterna senão na Cruz. Toma, portanto, a tua Cruz, segue a Jesus e chegarás à vida eterna.

Ele foi adiante de ti, "carregando a sua Cruz" (Jo 19,7) e morreu nela por ti, para que tu leves também a tua e nela desejes morrer. "Porque se morreres com Ele, também com Ele viverás" (Rm 6,8). E se O acompanhares na dor, acompanhá-Lo-ás também na alegria.

Considera que tudo consiste em amar a cruz e em morrer nela. Para alcançar a vida e a verdadeira paz interior não há outro caminho a não ser o da santa Cruz e da mortificação quotidiana. Vai para onde quiseres, procura tudo o que desejares, não encontrarás caminho mais excelente para te elevares, nem mais seguro, para te abateres, sem perigo de cair, que o da santa Cruz.

Dispõe e ordena tudo segundo a tua vontade e o teu parecer, e encontrarás sempre alguma coisa que é necessário sofrer de boa ou má vontade; e, assim, sempre encontrarás a cruz. Com efeito, ou sentirás dores no corpo, ou suportarás tribulações no espírito.

Ora te sentirás oprimido pelo abandono de Deus, ora atormentado pelo próximo; e, o que ainda é pior, muitas vezes tornar-te-ás pesado a ti mesmo. Não encontrarás remédio nem conforto nas tuas penas; mas convém que suportes todos estes males até que agrade a Deus livrar-te deles.

Deus quer que aprendas a sofrer a dor sem consolação submetendo-te totalmente a Ele e tornando-te mais humilde com a tribulação. Ninguém sente tão intensamente a paixão de Jesus como aquele a quem já tocou sofrer qualquer coisa de semelhante.

A cruz, portanto, está sempre pronta e espera-te em toda a parte. Porquanto fujas não poderás nunca evitá-la; mesmo porque para onde quer que vás, pelo menos levarás contigo e terás sempre contigo a ti mesmo. Quer te voltes para cima ou para baixo, para fora ou para dentro, em toda a parte encontrarás sempre a cruz. É indispensável que sempre, e em toda a parte, tenhas paciência, se queres conservar a paz e merecer a coroa imortal.

Se, de boa vontade, levares a cruz, ela conduzir-te-á à almejada meta, onde não há mais sofrimento, ainda que isto não seja certamente cá na Terra. Se, pelo contrário, a levares de má vontade, aumentar-lhes-ás mais o peso, e irás mais carregado, pois é forçoso que a leves. Se te eximires duma cruz, encontrarás, certamente, outra talvez ainda mais pesada.

Como podes pensar em evitar aquilo que nenhum homem conseguiu até hoje? Qual Santo houve no mundo que tivesse vivido sem cruz e tribulação? Nem sequer Jesus Cristo, enquanto viveu na Terra, esteve uma hora sem padecer. "Era necessário - disse - que Cristo sofresse e ressuscitasse dos mortos e assim entrasse na Sua glória" (Lc 24,26).

Como, pois, procuras tu outro caminho que não seja o caminho real da Santa Cruz?

Toda a vida de Cristo foi cruel martírio, e tu queres que a tua seja descanso e alegria? Erras, enganas-te, se procuras outra coisa além do sofrimento e da dor; porque toda esta vida mortal está cheia de misérias e cercada de cruzes. E quanto mais progresso alguém fizer na vida espiritual, tanto mais pesadas cruzes encontrará, porque o amor torna o exílio cá na terra mais doloroso.

Porém, aquele que Deus prova com tantas penas, não está sem o alívio da consolação, porque sente que, sofrendo a sua cruz, lhe advém um grandíssimo acréscimo de mérito. Com efeito, quando de bom grado, a ela se sujeita, toda a acerbidade da pena se converte em confiança na consolação divina.

E, quanto mais a sua carne se sente esmagada pela dor, tanto mais o espírito se fortifica pela graça interior. Acontece até, por vezes, que é confortado de tal modo no seu estado de tribulação e contrariedade pelo amor que tem à conformidade com a Cruz de Cristo, que não quereria viver sem dores e adversidades porque está convencido de que será tanto mais agradável a Deus quanto mais numerosas penas sofrer por seu amor. Não é isto virtude humana, mas graça de Jesus Cristo, que tão grandes maravilhas opera na fraca carne humana, conduzindo-a ao ponto de lhe fazer aceitar e amar com fervor do espírito, aquilo que, naturalmente, evita e aborrece.

Não está de acordo com a natureza do homem levar a cruz, amar a cruz, castigar o corpo e reduzi-lo à escravidão, fugir das honras e sofrer, de bom grado, as injúrias, desprezar-se a si mesmo e desejar der desprezado, suportar as coisas mais adversas e danosas e não desejar nenhuma prosperidade neste mundo.

Se olhas para ti vês logo que só com as tuas forças não serás capaz de nenhuma destas coisas; mas, se confiares em Deus, receberás do Céu a força necessária, e o mundo e a carne ficarão sujeitos ao teu domínio. Mais ainda, não temerás sequer o inimigo infernal, se estiveres armado com o escudo da fé e marcado com o sinal da Cruz de Cristo.

Resolve-te, pois, como bom e fiel servo de Cristo, a levar, virilmente, a Cruz do teu Senhor, que Se deixou crucificar por teu amor. Prepara-te para enfrentar nesta miserável vida muitas adversidades e muitas angústias; eis o que te espera por onde quer que fores, eis o que encontrarás em qualquer lugar onde te encontrares.

Convém que assim seja: não há outro remédio para atenuar a dor e a tribulação dos males senão suportá-los com resignação. Bebe, pois, com amor o cálice do Senhor, se queres ser Seu amigo e partilhar com Ele da felicidade eterna. Quanto às consolações, deixa isso ao cuidado de Deus; Ele distribuí-las-á como melhor Lhe aprouver.

Tu, porém, revolve-te a suportar com paciência os sofrimentos e a olhá-los como consolações de grande valia; porque "todos os sofrimentos desta vida não têm proporção alguma com a glória que nos é prometida, e não poderias por eles merecê-las" (Rm ,18), mesmo que fosses só tu a suportá-los todos!

Quando tiveres chegado a este ponto, quer dizer, quando o sofrimento por amor de Cristo te parecer doce e gostoso, podes então considerar-te feliz, porque encontraste o paraíso na Terra. Mas enquanto o sofrimento te for molesto e procurares evitá-lo, crê que andas mal e o receio da tribulação irá contigo para onde quer que fores.

Se, pelo contrário, te decides a fazer o que deves, isto é, a sofrer e a morrer, tudo correrá melhor e encontrarás a paz. Recorda-te que, mesmo que tivesses sido arrebatado ao terceiro Céu como S. Paulo, não ficarias por isso livre do sofrimento. Jesus disse, com efeito: "Eu lhe farei ver quanto convém que ele sofra pelo meu Nome" (Ct 9,16). Se queres, pois, amar a Jesus e servi-Lo sempre, deves sofrer.

Oxalá fosses digno de sofrer alguma coisa pelo nome de Jesus Cristo! Que glória para ti! Quanta alegria para os Santos de Deus! Quanta edificação para o próximo! Com efeito, todos recomendam a paciência, ainda que poucos queiram exercitá-la! Com razão, portanto, deves querer sofrer alguma coisa por amor de Cristo, já que tantos sofrem coisas tão penosas por amor do mundo.

Tem por certo que a tua vida deve ser uma morte contínua e que, quanto mais um morre a si mesmo, tanto mais vive para Deus. Ninguém pode compreender as coisas celestes, se não se resigna a suportar por Cristo as adversidades. Nada é mais agradável a Deus, nem mais proveitoso para ti, neste mundo, do que sofrer, alegremente, por amor de Cristo.

E se te dessem a escolher, deverias antes desejar sofrer contrariedades por amor de Cristo do que ser inundado de consolações; porque, deste modo, serias mais semelhante a Jesus e mais parecido com os Santos. Com efeito, o nosso mérito e a perfeição do nosso estado não consiste em ter muitas suaves consolações, mas sim em saber suportar muitas dores e adversidades.

E, na verdade, se houvesse um método melhor e mais útil para a salvação dos homens que o sofrimento, certamente Cristo no-lo teria ensinado pela palavra e pelo exemplo. Pois, manifestamente, exorta os Seus discípulos e todos os que O querem seguir a que levem a sua cruz, dizendo: "Se alguém Me quer seguir, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me" (Mt 16,24).

Portanto, consideradas e examinadas todas as coisas, devemos concluir: "Importa passar por muitas tribulações para entrar no reino de Deus" (At 14,21).

Imitação de Cristo.

Quão poucos são os que amam a Cruz de Cristo


Jesus Cristo tem agora muitos que amam o Seu reino celeste, mas poucos que levam a Sua Cruz. Muitos desejam as Suas consolações, poucos amam as tribulações. Encontra numerosos companheiros da Sua mesa, poucos da Sua abstinência.

Todos desejam gozar com Ele, poucos querem sofrer qualquer coisa por Ele. Muitos seguem Jesus até ao momento em que parte o pão; poucos, porém, até beber o cálice da Paixão. Muitos admiram os Seus milagres, mas poucos abraçam a ignomínia da Cruz.

Muitos amam Jesus enquanto lhes não acontece qualquer desventura. Muitos louvam e bendizem Jesus enquanto recebem d'Ele algumas consolações. Porém, se Jesus Se oculta e por breve tempo os deixa sós, logo se queixam ou desanimam.

Pelo contrário, aqueles que amam a Jesus por Jesus e não por amor da própria consolação, sempre O bendizem, tanto nos períodos de angústia e tribulação como nos de inebriamento e consolação. E mesmo que Jesus lhes não concedesse nunca mais alegria alguma, não deixariam de O louvar e de Lhe agradecer.

Oh, quanto é poderoso o amor de Jesus, quanto é puro e sem mistura de interesse ou de amor próprio! Não se deveriam, com razão, chamar mercenários aqueles que estão sempre a procurar consolações? Não se deveria antes dizer que se amam a si e não a Cristo aqueles que sempre estão preocupados com o próprio interesse e bem estar? Onde se encontrará quem queira servir a Deus gratuitamente?

Raramente se encontra alguém tão espiritual que esteja desapegado de todas as coisas. Quem encontrará, pois, o verdadeiro pobre em espírito e desprendido completamente de todas as coisas criadas? "É um tesouro precioso que se deve procurar até aos confins da terra" (Pr 31,10).

"Ainda que o homem dê por ele tudo quanto possui, nada dá" (Ct 8,7)

Se fizer grandes penitências, ainda é pouco. Mesmo que adquira todas as ciências, ainda está longe. E se tiver grande virtude e ardentíssima devoção, ainda lhe falta a coisa mais necessária.

Qual é ela? Esta: que depois de ter deixado tudo, se deixe a si mesmo; que saia de si mesmo completamente sem conservar um fio sequer de amor próprio. E quando tiver feito o que devia fazer, reconheça que nada fez.

Não tenha em muito que o avaliem por grande, mas confesse com toda a sinceridade que é um servo inútil, como diz a Verdade: "Quando tiverdes feito tudo aquilo que vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis" (Lc 17,10).

Só quando o homem chegar a este ponto, poderá chamar-se verdadeiro pobre de espírito e desapegado de tudo, e então poderá repetir como o Profeta: "Sou pobre e só" (Sl 24,16). Contudo, ninguém é mais rico, mais poderoso, mais livre do que aquele que sabe dsprender-se de si mesmo e de todas as coisas e colocar-se no último lugar.

Imitação de Cristo.

A Ciência da Cruz


"'Quão estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida. Poucos são os que o encontram" (Mt 7,14) Devemos observar bem a ênfase dada à partícula 'quão', pois é como se dissesse 'na verdade é muito estreita, mais do que podeis imaginar...' Essa via ao alto monte da perfeição exige viajantes que não levem fardos que os façam pender para baixo... Já que se tem o propósito de somente buscar e alcançar a Deus, somente a ele se há de buscar e alcançar de fato! Instruindo-nos e incitando-nos nesse caminho, Jesus Cristo proferiu essa doutrina tão admirável e, receio dizer, tanto menos praticada pelas almas (que se sentem atraídas à vida espiritual) quanto mais necessária!

'Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas o que perder a sua vida por causa de mim e do evangelho, irá salvá-la'. (Mc 8,34)

Oh! Quem poderia aqui agora dar a entender, praticar e saborear este conselho!... aniquilação de toda a suavidade em Deus... aridez... tédio... sofrimentos... eis a pura cruz espiritual e a nudez do espírito pobre, segundo Jesus. O verdadeiro espírito antes procura em Deus a amargura que as delícias, prefere o sofrimento ao consolo, a privação ao gozo, a aridez e as aflições às doces comunicações celestes, sabendo que isto é seguir a Cristo e renunciar-se. Agir de outro modo é buscar-se a si mesmo em Deus, o que é muito contrário ao amor. Buscar a Deus nele mesmo... é inclinar-se a escolher, por amor a Cristo, tudo quanto há de mais áspero, seja de Deus, seja do mundo"1. A renúncia, segundo a vontade divina, consiste em "morrer para sua natureza... aniquilando-a... em tudo quanto a vontade julga ser valioso na ordem temporal, natural e espiritual... Quem assim tomar a cruz sobre si experimentará o jugo suave e o fardo leve, encontrando em todas as coisas grande alívio e suavidade... Quando a alma ficar desfeita em nada - isto é, a suprema humildade - estará realizada a união espiritual entre a alma e Deus... união que consiste numa viva morte de cruz, sensitiva e espiritual, interior e exterior"2.

Para tanto não há outro caminho, pois, segundo o plano divino da salvação, Cristo houve por "remir a alma e desposá-la consigo, servindo-se dos próprios meios que haviam causado a ruína e a corrupção da natureza humana; pois, assim como por meio da árvore proibida no paraíso, foi essa natureza estragada e perdida por Adão, assim na árvore da cruz foi remida e reparada"3. Se quiser partilhar com ele da vida, com ele deverá passar pela morte de cruz, e deverá como Cristo crucificar a própria natureza por uma vida de mortificação e renúncia, entregando-se à crucifixão pelos sofrimentos e pela morte, conforme Deus determinar e permitir. Quanto mais perfeita for a crucifixão ativa e passiva, tanto mais íntima será a união com o crucificado, e tanto maior será a participação na vida divina.

Eis os traços principais que caracterizam a ciência da cruz.

1- São João da Cruz, Subida, 1. II, cap. 7, §5
2- São João da Cruz, Subida, II, 7, §§7 a 11.
3- S. João da Cruz, Cântico Espiritual, Explicação da Canção XXIII

STEIN, Edith. A Ciência da Cruz. São Paulo: Loyola, 2004.

Uma educação que amputa o cérebro


ESCRITO POR JOSÉ MARIA E SILVA | 07 SETEMBRO 2012

O Brasil das Olimpíadas segue as diretrizes do Ministério da Educação e trata os negros como seres dançantes e gregários, destituídos de razão pelos feitores de almas.

Antes mesmo de pisar em solo inglês para disputar as Olimpíadas de 2012, o Brasil já vinha de uma queda de braço com o Reino Unido. Trata-se de uma disputa econômica para ver quem ocupa o sexto lugar da economia mundial. A princípio, a vitória é do Brasil. Com um PIB (Produto Interno Bruto) de 2,45 trilhões de dólares em 2011, o Brasil havia ultrapassado o Reino Unido, tornando-se a sexta maior economia do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e França. Todavia, com a desvalorização do real frente ao dólar, ocorrida nos últimos meses, o PIB brasileiro deve cair para o patamar de 2,34 trilhões de dólares, levando o Reino Unido a recuperar a sexta posição, enquanto o Brasil voltará a ser a sétima economia mundial, ainda assim, à frente da Itália, Rússia e Canadá.

Em outras palavras, o Brasil não é mais o longínquo País de 1936, do qual o escritor Stefan Zweig (1881-1942) se despediu, ao cabo de sua primeira visita, pensando: “Percebi que havia lançado um olhar para o futuro do mundo”. Nosso futuro já chegou.

Talvez não saibamos aproveitá-lo. Antes daquele elogio do escritor austríaco, o Conde Afonso Celso (1860-1938), enumerando, em 1900, as grandezas que o levavam a ufanar-se do Brasil, indagava a respeito do País: “É verdade que a grandeza não deriva da simples posse de dons valiosos, mas do seu sábio aproveitamento. Por que, porém, deixaremos de pôr em ação os nossos prodigiosos recursos?”. Essa pergunta reboa até hoje nos ouvidos da nação, que, a despeito de estar entre as maiores economias do mundo, ainda se vê como a pátria da esperança e não das realizações.

O brasileiro nunca percebeu o Brasil como obra sua e, sim, como dádiva de Deus. Por isso, a despeito de ser a sexta ou sétima economia do mundo, o gigante continua deitado em berço esplêndido, comodamente adaptado ao olhar estrangeiro, que sempre viu o País como uma exuberante natureza morta, destituída de pessoas à altura da história. Como confessa Stefan Zweig: “Imaginava que o Brasil fosse uma república qualquer das da América do Sul, que não distinguimos bem umas das outras, com clima quente, insalubre, com condições políticas de intranquilidade e finanças arruinadas, mal administrada e só parcialmente civilizada nas cidades marítimas, mas com bela paisagem e com muitas possibilidades não aproveitadas – país, portanto, para emigrados ou colonos e, de modo nenhum, país do qual se pudesse esperar estímulo para o espírito”.

A fúria machadiana

E esse mal não é novo. Já incomodava o “Escritor Nacional” (como diria o personagem Donga Novais do novelário de Autran Dourado), a propósito de quem a escritora Nélida Piñon cinzelou a máxima: “Se Machado de Assis existiu, então o Brasil é possível”. Escrevendo semanalmente na Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, entre 24 de abril de 1892 e 11 de novembro de 1900, o criador do alienista Simão Bacamarte dedicou uma de suas crônicas a repudiar o viciado olhar estrangeiro que só via no Brasil a paisagem natural, desprezando completamente o povo que habitava essas paragens, como se não fora digno de constar nem mesmo no rodapé da história.

Em 20 de agosto de 1893, a propósito de um telegrama de Sarah Bernhardt (1844-1923), em que a atriz parisiense desmentia os conceitos a respeito do Brasil que um jornal argentino lhe atribuíra, Machado de Assis (1839-1908) discorre sobre essa espécie de síndrome do Brasil telúrico, sempre mais próximo da natureza do que da cultura. Para desculpar-se com o Brasil, Sarah Bernhardt havia empregado a expressão “pays féerique” (“país feérico”), razão da crítica de Machado: “Uma das minhas convicções (e tenho poucas) era esta: se algum dia Sarah escrever a nosso respeito, não empregará a velha chapa de todos os viajantes que por aqui passam: ce pays féerique. E tu, amiga minha, tu arrancas-me sem piedade esta ilusão do meu outono”.

Machado de Assis é sarcástico: “O meu sentimento nativista, ou como quer que lhe chamem, – patriotismo é mais vasto, – sempre se doeu desta adoração da natureza. Raro falam de nós mesmos; alguns mal, poucos bem. No que todos estão de acordo, é no pays feérique. Pareceu-me sempre um modo de pisar o homem e as suas obras. Quando me louvam a casaca, louvam-me antes a mim que ao alfaiate. Ao menos, é o sentimento com que fico; a casaca é minha; se não a fiz, mandei fazê-la. Mas eu não fiz, nem mandei fazer o céu e as montanhas, as matas e os rios. Já os achei prontos”.

O escritor lembra, nesta crônica, que há muitos anos havia ciceroneado um estrangeiro no Rio e que este, numa noite em que falaram da cidade e sua história, mostrou desejo de conhecer uma velha construção: “Citei-lhe várias; entre elas a igreja do Castelo e seus altares. Ajustamos que no dia seguinte iria buscá-lo para subir o morro do Castelo. Era uma bela manhã, não sei se de inverno ou primavera. Subimos; eu, para dispor-lhe o espírito, ia-lhe pintando o tempo que por aquela mesma ladeira passavam os padres jesuítas, a cidade pequena, os costumes toscos, a devoção grande e sincera”.

Mas a decepção de sempre aguardava Machado: “Chegamos ao alto, a igreja estava aberta e entramos. Sei que não são ruínas de Atenas; mas cada um mostra o que possui. O viajante entrou, deu uma volta, saiu e foi postar-se junto à muralha, fitando o mar, o céu e as montanhas, e, ao cabo de cinco minutos: ‘Que natureza que vocês têm!’ (...) A admiração do nosso hóspede excluía qualquer ideia da ação humana. Não me perguntou pela fundação das fortalezas, nem pelos nomes dos navios que estavam ancorados. Foi só a natureza”.

Enegrecimento à força

Se Machado de Assis encarnasse uma de suas criaturas, o defunto-autor Brás Cubas, e se fizesse cronista póstumo deste Brasil da Copa e das Olimpíadas, haveria de notar que as coisas pioraram ainda mais e que já não é apenas a geografia do País que se conforma em ser cartão-postal – hoje, é a própria alma da nação que se entrega feito natureza morta. Como no verso do poeta e crítico piauiense Mário Faustino (1930-1962) – “o olhar recebe a forma e esquece a essência” –, o brasileiro é convocado a encarnar em sua própria alma a aparência que o mundo formou dele: um ser feito só de sentidos, em que o instinto é maior do que a razão.

É o que se percebe, por exemplo, no clipe com a canção-tema das Olimpíadas, dirigido por Estevão Ciavatta, da Pindorama Filmes, e lançado em agosto pela Prefeitura do Rio de Janeiro. O clipe reforça esse Brasil para inglês ver, expresso pela alma carioca no que ela ter de pior – a absorção, em si mesma, do clima tórrido e insalubre, palco da terrível febre amarela, no passado, e da dengue, no presente, como se essas enfermidades do corpo plasmassem o próprio espírito da gente trêfega, que, de modo bisonho e malemolente, desfila por esse vídeo que vai mostrar ao mundo a imagem do palco oficial das Olimpíadas de 2016.

Composta por Arlindo Cruz, Rogê e Arlindo Neto e produzida por Alexandre Kassin, a música-tema Os Grandes Deuses do Olimpo Visitam o Rio de Janeiro é interpretada por Diogo Nogueira, Mart’nália, Mr. Catra, Thalma de Freitas, Zeca Pagodinho, Ed Motta e pelo próprio Arlindo Cruz. Além dos intérpretes, ela reúne vários músicos, como Buchecha, Fernanda Abreu, Fundo de Quintal, Jorge Aragão, Pedro Luís, Roberta Sá, Ronaldo Bastos, Sandra de Sá, Toni Garrido, Zélia Duncan e as Velhas Guardas do Império Serrano e da Vila Isabel. No clipe, aparece até mesmo a escritora Nélida Piñon, fazendo o papel da deusa Atena, em meio a outros artistas, como Fernanda Montenegro e Rodrigo Santoro, que também encarnam personagens mitológicas. Mas a música nada tem a ver com o corpo atlético de Apolo. Ela exalta o corpo relaxado de Baco: “Ficaram na roda de samba até clarear / ficaram até de perna bamba de tanto sambar”.

Os deuses do Olimpo são praticamente os únicos brancos do clipe. A inclusão do negro no imaginário visual do país está sendo feita à custa da exclusão do branco – que, no entanto, representa 47,7% do total de brasileiros, segundo dados do IBGE. Os negros propriamente ditos são apenas 7,6%. Mas como o governo petista – cavalo de santo do racismo de laboratório produzido pela academia – está empenhado em fomentar uma guerra racial no país, os negros passaram a ser chamados oficialmente de “pretos” (termo que até outro dia era amaldiçoado pela ditadura do politicamente correto) e, somados aos 43,1% de pardos (que foram enegrecidos à força), formam um contingente de 50,7% de negros estatísticos. Obviamente, essa população negra só existe na mente pueril das autoridades, teleguiada pela insanidade moral dos intelectuais universitários.








Eugenia às avessas

O clipe das Olimpíadas de 2016 reduz os brasileiros ao perfil simiesco de exportação, em que as gentes dos trópicos são sempre apresentadas como não tendo cérebro, feitas exclusivamente para rebolar no samba e jogar bola. E, como sempre, o negro é convocado a fazer esse papel abjeto. Seguindo a política racialista iniciada pelo governo Fernando Henrique e transformada em eugenia às avessas pelo governo Lula, o clipe faz do Brasil um país exclusivamente de negros. E o que é mais grave: uma vez que o País é uma nação de negros, a Prefeitura do Rio entendeu que é também uma nação de bola, pandeiro e cachaça. Só faltou explorar a indefectível imagem das mulatas seminuas esfregando as calipígias formas no rosto louro de algum estrangeiro.


Nos últimos anos, especialmente depois da ascensão de Lula ao poder, o símbolo por excelência do Brasil passou a ser o negrinho de periferia jogando bola nas ruas, utilizado exaustivamente em comerciais de TV. Essa imagem, confesso, me dá asco duplamente: primeiro, por vilipendiar o negro, circunscrito a corpo e sentido, sem cérebro; segundo, por conseguir esconder o verdadeiro e óbvio racismo que está por trás dessa redução do negro a uma espécie de fenômeno bruto da natureza, incapaz de se relacionar com elementos nobres da cultura, como um livro, um violino, uma aquarela.

É claro que jogar bola e dançar capoeira não avilta ninguém, mas fazer dessas atividades a expressão por excelência da cultura negra é, sem dúvida, alijar o negro do universo intelectual que produziu o teatro de Shakespeare, as sinfonias de Beethoven, a física de Einstein.



Mas, no fundo, é justamente isso o que faz o Ministério da Educação no documento Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais, publicado em 2006, na gestão do ex-ministro Fernando Haddad, atual candidato a prefeito de São Paulo. Citando o jornalista e sociólogo Muniz Sodré, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o documento do MEC enfatiza textualmente: “Na cultura negra o corpo é fundamental”. Só na cultura negra? – cabe a pergunta. Um povo que não considerasse o corpo como fundamental estaria condenado ao suicídio coletivo.

Toda cultura zela pelo corpo com sua melhor tecnologia, sejam as raízes cultivadas pela tradição, seja o bisturi adestrado na ciência. Até a cultura judaico-cristã, acusada de vilipendiar o corpo com jejuns e martírios, foi uma precursora da profilaxia, como se vê nas leis de Moisés.

Mas, obviamente, o MEC não está falando da dimensão simplesmente física e médica do corpo. Fala de um corpo que é quase um cosmos em si mesmo. O documento parte de uma concepção demencial do negro, como se ele não fosse um brasileiro como os outros e tivesse acabado de aportar no Brasil do século XXI proveniente da Angola do século XVI. É o que fica claro no restante do texto do MEC: “Na cultura negra o corpo é fundamental. Sobre o corpo se assenta toda uma rede de sentidos e significados. Esse não é apartado do todo, pertence ao cosmos, faz parte do ecossistema: o corpo integra-se ao simbolismo coletivo na forma de gestos, posturas, direções do olhar, mas também de signos e inflexões microcorporais, que apontam para outras formas perceptivas”.

Negro como natureza

Não há limite para a demência do MEC e das universidades nas orientações que fornecem à escola sobre o modo de tratar a cultura negra. Depois de afirmar que “o corpo é a representação concreta do território em movimento” (uma frase digna de hospício), o documento do MEC sustenta: “Ao contrário de uma percepção de mundo na qual a alma é onde reside a força e a possibilidade de continuidade, para uma cultura negra a força está no corpo, não existe essa ideia de uma força interior alavancada pela ação da fé. Toda possibilidade encontra-se no corpo potente que procura suas mediações nas relações que constitui no cosmos, daí o compartilhamento como práxis ser uma questão fundamental para se entender a dinâmica de uma cultura negra no Ocidente”.

Releiam esta absurda frase: “Para uma cultura negra a força está no corpo, não existe essa ideia de uma força interior alavancada pela ação da fé”. Esse documento do MEC fere frontalmente a Constituição ao querer impedir os negros brasileiros – majoritariamente cristãos – de exercer livremente sua crença. E mais do que ofender a fé do negro, o MEC – neste texto vil e moralmente criminoso – vilipendia a própria humanidade do negro ao negar-lhe a alma, o espírito, a razão, deixando-lhe tão-somente o corpo, como faziam os traficantes de escravos. Estarrece saber que esse documento oficial do MEC foi escrito por cinco mulheres – vítimas potenciais de toda cultura centrada na força física. A mulher só tem lugar na civilização, onde impera o cérebro; onde manda o corpo, ela vira repasto do macho, como ocorre entre a maioria dos animais.

Mas o MEC não se contém em suas orientações sobre a cultura negra na escola e chega a reduzir o negro a um mero elemento da natureza. Eis o que diz o documento: “Todos trocam algo entre si, homens, mulheres, árvores, pedras, conchas. Sem a partilha, não há existência possível. Faz-se necessário pensar que a cultura negra não está marcada por uma necessidade de conversão. Existe um sentido de agregação que não gira em torno de uma verdade única”. Após esse ataque nada sutil ao cristianismo, o MEC regurgita outras bobagens sobre as “comunidades de matriz africana” (isso existe no Brasil?) para concluir: “Uma visão de mundo negra implica a possibilidade de abertura para o mundo, para a vida e principalmente para o outro. Por exemplo, em uma ‘roda de capoeira’, todos que compartilham os códigos são aceitos, desde que se coloquem como parceiros(as) e respeitem a hierarquia”.

Pensamento mágico do MEC

Para essa abominável pedagogia do MEC, herdeira da nefasta autoajuda marxista de Paulo Freire, o negro não é um brasileiro como os demais: cristão, falante do português, eivado dos mesmos sonhos da gente comum, que quer estudar, trabalhar, constituir família, criar filhos, vencer na vida. Para os lunáticos do MEC, o negro é um ser à parte, prisioneiro da materialidade do seu próprio corpo, que se agrega à natureza como um elemento indistinto dela. O MEC está tratando o negro como sempre tratou o índio: arranca-lhe a alma humana, legada pela civilização, e o atira na paisagem de uma cultura telúrica – em vez de ser sujeito da natureza, o negro se torna tão objeto dela quanto os bichos, as pedras, as plantas. Se isso não for racismo, não sei o que seja.

Para completar, o documento do MEC chega a flertar com o pensamento mágico, que vê na cultura do negro brasileiro uma circularidade ancestral. Eis o que diz o texto, sentenciosamente: “E aqui vale uma pequena abordagem relativa à circularidade. Para a cultura negra (no singular e no plural), o círculo, a roda, a circularidade é fundamento, a exemplo das rodas de capoeira, de samba e de outras manifestações culturais afro-brasileiras. Em roda, pressupõe-se que os saberes circulam, que a hierarquia transita e que a visibilidade não se cristaliza. O fluxo, o movimento é invocado, e assim saberes compartilhados podem constituir novos sentidos e significados, e pertencem a todos e todas elas”. Alguém consegue imaginar cientistas e matemáticos movimentando-se em rodas de capoeira para formular teoremas, descobrir o antibiótico, inventar o avião? Pensar é concentrar-se. Esse negro gregário, plástico, permanentemente aberto ao outro que o MEC inventa não é capaz de criar civilização – é objeto e não sujeito de sua própria cultura.

E aí voltamos ao clipe das Olimpíadas de 2016, da Prefeitura do Rio, que segue integralmente as diretrizes do MEC e das universidades relativas à cultura negra. O clipe mostra um Dionísio caindo de bêbado nas ruas (numa infeliz referência a Baco, que é o antônimo de Olimpíadas), uma negra sambando num bar e ainda um trabalhador negro, de calção e sem camisa, carregando uma geladeira ao mesmo tempo em que dança. É essa a imagem que o Brasil vende ao mundo: a de um povo tão esculhambado que não leva a sério nem o trabalho. E, como sempre, cabe ao negro encarnar esse papel vergonhoso.

Como se não bastasse tudo isso, entre os negros chamados a representar o Brasil monocromático do samba está um tal Mr. Catra. Fui pesquisar quem é o sujeito. Ele se diz convertido ao judaísmo apenas para poder praticar, sob as leis do país, a poligamia de Fernandinho Beira-Mar, tendo várias mulheres e mais de 20 filhos, dos quais ele nem sabe o nome. Suas letras – facilmente encontradas na Internet – colocam as mulheres muito abaixo das cadelas de rua. Impossível citá-las aqui como exemplo. Seria como abrir o esgoto. Não creio que alguma corrente do judaísmo aprove isso. Mas a Prefeitura do Rio, o MEC e os intelectuais universitários aprovam. Tanto que Mr. Catra é um queridinho da mídia.

Feitores de almas

É lamentável que se dê espaço tão nobre para esse tipo de negro, como se ele fosse representativo da cultura afro-brasileira. Os negros legaram ao Brasil, entre muitas outras coisas, o maior poeta simbolista do país, que é também o maior escritor de um dos Estados mais brancos – Cruz e Sousa (1861-1898), de Santa Catarina. Também legaram um dos maiores músicos eruditos da América Latina, o padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), em cuja obra se inspira o próprio Hino Nacional Brasileiro. E seria preciso escrever um verdadeiro tratado de história e sociologia do conhecimento para enumerar todos os mulatos – começando por Machado de Assis, Lima Barreto (1881-1922) e o engenheiro André Rebouças (1838-1898) – que, em plena escravidão, legaram obras fundamentais ao país em todas as áreas.

Mas tanto no clipe das Olímpiadas, quanto nas diretrizes do MEC e nas teses universitárias, não há lugar para esse tipo de negro altivo, cerebral, não gregário. Para os racialistas do MEC e da academia, os negros foram feitos para dançar e sorrir. Não sentem tristeza, não sabem o que é reflexão, não se permitem ser introspectivos. E andam sempre em bando, como se não fossem indivíduos, mas reses de algum rebanho. Sua música jamais seria um blues. É sempre um samba, falando ao corpo, jamais à alma. Aliás, todas as manifestações culturais tidas como autenticamente negras pelas universidades – como a capoeira, o hip hop, a roda de samba, o funk – costumam ter essas duas características: são gregárias e dançantes, condenando o negro a viver em bando, superficialmente.

Ao tratar o negro dessa forma, a universidade brasileira age da mesma forma que os brutais traficantes de escravos. Foram eles que criaram – na base do açoite – esse negro dançante e sorridente. No livro A Vida dos Escravos do Rio de Janeiro (Editora Companhia das Letras, 2000), a historiadora norte-americana Mary Karasch descreve a venda de escravos no Valongo (o grande mercado de negros da corte) e conta que os comerciantes negreiros, a fim de convencer os compradores de que suas peças não estavam com “preguiça” ou depressão, ministravam-lhes estimulantes como pimenta, gengibre e tabaco. “Um segundo remédio para a nostalgia era ‘estimular’ os africanos a cantar e dançar a música de suas terras natais”, acrescenta a historiadora.

“Assim, o som de tambores e palmas e das canções africanas enquanto os escravos dançavam contribuía para a atmosfera do Valongo. Se alguns escravos se recusassem a tomar parte, um feitor forçava-os a dançar, porque acreditavam que a falta de movimento estimularia a nostalgia e assim diminuiria seus lucros. Além disso, exigia-se com frequência que os africanos dançassem de ‘maneira alegre’ durante seu exame físico, a fim de convencer os compradores de sua saúde excelente. Se expressassem seus verdadeiros sentimentos ou apatia e depressão eram açoitados”, conta a historiadora. Felizmente, o negro se libertou daqueles antigos feitores de corpos; mas precisa se libertar dos atuais feitores de almas – que tentam anular sua mente, reduzindo seu ser a um corpo que samba.

Publicado no Jornal Opção, de Goiânia.

Ilustrações: Jornal Opção

José Maria e Silva é sociólgo e jornalista.

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O ardor amoroso de Sta Teresinha


Ser tua esposa, ó Jesus, ser carmelita, ser mãe das almas pela união contigo, deveria ser bastante para mim... Mas, assim não acontece... Sem dúvida, as três prerrogativas constituem exatamente minha vocação: Carmelita, Esposa, e Mãe. Contudo, sinto em mim outras vocações. Sinto em mim a vocação de GUERREIRO, de SACERDOTE, de APÓSTOLO, de DOUTOR, e de MÁRTIR. Sinto, afinal, a necessidade, o desejo de realizar por ti, Jesus, todas as obras, as mais heróicas... Sinto na alma o arrojo de Cruzado, de Zuavo Pontifício. Desejaria morrer no campo de batalha pela defesa da Igreja...

Sinto em mim a vocação de SACERDOTE. Com que amor, ó meu Jesus, não te carregaria nas mãos, quando à minha voz descesses do Céu... Com que amor te não daria às alma!... Mas, que fazer? Com todo o desejo de ser sacerdote, admiro e invejo a humildade de São Francisco de Assis, e sinto a vocação de imitá-lo, quando recusou a sublime dignidade do sacerdócio.

Ó Jesus! meu amor, minha vida... como conciliar tais contrastes? Como tornar realidade os desejos de minha pobre alminha?...

Oh! apesar de minha pequenez, quisera esclarecer as almas, como os Profetas, os Doutores. Tenho vocação de ser Apóstola... Quisera percorrer a terra, apregoar teu nome, e chantar em terra de infiéis tua gloriosa Cruz. Mas, ó meu Bem-Amado, uma única missão não me seria bastante. Quisera anunciar, ao mesmo tempo, o Evangelho pelas cinco partes do mundo até as ilhas mais remotas... Quisera ser missionária não só por alguns anos, mas quisera sê-lo desde a criação do mundo, e sê-lo até a consumação dos séculos... Mas, acima de tudo, quisera, ó meu amado Salvador, por ti quisera derramar meu sangue até a última gota...

Martírio! eis o sonho de minha juventude! O sonho que cresceu comigo à sombra dos claustros do Carmelo... Aí, também, percebo que meu sonho é loucura, pois não conseguiria limitar-me a apetecer um só gênero de martírio... Para me satisfazer, precisaria de todos eles... Quisera, como tu, meu adorado Esposo, ser flagelada e crucificada... Como São Bartolomeu, quisera morrer esfolada... Como São João, quisera ser escaldada em azeite a ferver. Quisera submeter-me a todos os tormentos que se infligiam aos mártires... Com Santa Inês e Santa Cecília, quisera apresentar meu pescoço à espada, e, como Joana D'Arc, minha querida irmã, quisera sobre a fogueira murmurar teu nome, ó JESUS... Pensando nos tormentos que serão a sorte dos cristãos na era do Anticristo, sinto o coração alvoroçar-se, e quisera que tais tormentos me fossem reservados... Jesus, Jesus, quisesse escrever todos os meus desejos, ser-me-ia necessário pedir emprestado teu Livro da Vida, onde se relatam todos os feitos dos Santos, e quereria tê-los praticado por amor a ti...

Sta Teresinha de Lisieux, Carta à Irmã Maria do Sagrado Coração.

Jesus tem sede de amor


Eis aí tudo o que Jesus exige de nós. Não precisa de nossas obras, mas unicamente de nosso amor, pois o mesmo Deus [que] declara não ter necessidade de dizer-nos, quando está com fome, não se corre de mendigar um pouco de água à Samaritana. Tinha sede... Mas, quando disse: "dai-me de beber" (Jo 4,7), era o amor de sua pobre criatura que o Criador do Universo reclamava. Tinha sede de amor... Oh! sinto mais do que nunca, Jesus está com sede. Entre os discípulos do mundo, só encontra ingratos e indiferentes; entre seus próprios discípulos, infelizmente, só encontra poucos corações que a Ele se entreguem sem reserva, que compreendam toda a ternura de seu amor infinito.

Sta Teresinha de Lisieux, Carta à Irmã Maria do Sagrado Coração.

O silêncio interior visto por uma irmã Carmelita - importância da interioridade e do recolhimento!


Disponibilizo este post sobre o silêncio, escrito há tempos atrás por uma Irmã Carmelita para o extinto blog "Em Defesa de Lefebvre" da queridíssima Teresa (Magdália). É um dos textos mais claros e profundos sobre o tema e que fiz questão de guardar, na época. É com muito gosto que o ponho aqui. Aproveitem.

***

«Silêncio não significa apenas exclusão de palavras e não pode ser considerado somente no seu aspecto negativo. Silêncio não é um estado de esquecimento, de vazio, de “nada”; pelo contrário, o silêncio ao qual nos referimos distingue-se pelo seu carácter positivo; é uma linguagem que transborda de uma presença impregnada de vida, de solicitude, de oblação.

O silêncio a que aludimos, “faz falar pouco para ouvir muito”. A necessidade de se derramar em palavras inúteis vai diminuindo progressivamente, porque existe uma vida interior cada vez mais intensa, que se vai impregnando da pura atenção ao OUTRO que é Deus...É o silêncio do egoísmo, das susceptibilidades, das vontades e dos caprichos.

Este silêncio é o comportamento indispensável para ouvir Deus e para acolher a sua comunicação; é a atmosfera VITAL da Oração, da Salmodia e de todo o Culto Divino.

Este silêncio é progressivo, amassado primeiramente em muito domínio, quer da língua, quer da imaginação e da memória. É deixar-se avassalar por uma Presença que não é outra senão Deus e da qual provém o silêncio do coração.

A necessidade e o valor do silêncio da língua – que é o mais elementar - encontram na Sagrada Escritura um precioso testemunho. Jesus, ao calar-se diante de Pilatos, eleva o silêncio a uma virtude heróica. Recorda com os seus ensinamentos a importância do silêncio. Retira-se para lugares desérticos e silenciosos para passar a “noite em oração” (Lc. 6,12).

O silêncio da palavra e das manifestações exigentes (violentas) do egoísmo dá passo ao silêncio interior.

Para vermos melhor a importância do silêncio interior, citaremos apenas alguns Padres da Igreja, a saber:
1-S. Gregório de Nazianzo recorda o “ deserto como fonte de progresso em direcção a Deus, de Vida Divina e chama ao Louvor a filha do Silêncio”.
2-S. Basílio recorda o valor purificador e a vantagem da “solidão silenciosa” para o encontro com Deus
3-S. João Clímaco insere o silêncio na “escala de perfeição” (10º, 11º e 12º)
4- Sto. Ambrósio fala da “taciturnidade como remédio da alma” e compara a “quem fala muito com uma vasilha furada incapaz de conservar os segredos do Rei”
5-Sto. Agostinho fala da “alegria de ouvir silenciosamente”

Na Tradição Monástica, o costume de retirar-se para o deserto a fim de ouvir Deus, praticado pelos primeiros eremitas e monges, já remonta aos tempos de Moisés, Elias e os demais profetas

Tanto na vida eremítica como na vida cenobítica e vidas mistas, o silêncio é um elemento fundamental para se criar um clima de atenção a Deus. Na vida cenobítica, desde os primeiros séculos, o silêncio aparece como preceito de perfeição, moralmente indispensável. Cassiano prescreve observar o silêncio rigoroso durante a noite, à mesa, no Coro e em todo o tempo que se emprega a cantar o Ofício Divino.

No nosso tempo, temos exemplos luminosos de uma atracção particular pelo silêncio: Santa Teresinha do Menino Jesus, Charles de Foucauld, mas principalmente a Beata Isabel da Trindade, chamada também a “Santa do Silêncio”, que sentiu em si a missão de atrair as almas ao silêncio e ao recolhimento interior.

O Silêncio interior

O silêncio interior, como se depreende da palavra que o classifica, é aquele que diz respeito ao nosso mundo interior, íntimo, que pode ser ajudado, só minimamente, pelo silêncio exterior. Apesar daquele não poder, de modo algum depender deste, acontece muitas vezes que se desencadeia o crescimento do silêncio interior a partir do exterior, porque o exterior criou um certo ambiente que propiciou a atracção da alma para o interior. Mas prestemos atenção ao reino interior, que há que pacificar e silenciar:

a)Silêncio da Imaginação e da memória: Enquanto o ser humano tem poder para “implantar” o silêncio nos seus movimentos exteriores, nos ruídos que a sua actividade pode suscitar, aqui, no ‘reino interior,' tem pouco poder. É todo um mundo em que só à força de muita paciência, perseverança e constantes esforços, poderá conseguir alguma coisa. À partida, temos de saber que o verdadeiro silêncio só pode ser outorgado por Deus, e normalmente isto acontece só depois de muitos esforços da nossa parte. É um dom para a Contemplação.

O encontro com Deus exige a exclusão das dissipações da actividade interior, exercendo sobre a mesma um controle efectivo. O homem, em primeiro lugar, tem de criar o ‘vazio’ nas suas ‘potências’ interiores - desocupar a alma de uma forma muito activa, esforçar-se constantemente por dominar – quanto dele possa depender - pensamentos, desejos, que normalmente se vão fixar naquilo que ama ou teme. É o “desocupar o Palácio da alma” de Santa Teresa, de recordações interiores que perturbam a paz, empregando todas as suas forças para entrar no recolhimento activo. Todo este trabalho de ‘silenciamento’ das nossas faculdades ‘sensíveis’ é muito necessário e até imprescindível para que o homem se encontre nas condições mínimas da verdadeira escuta.

b)Silêncio com as criaturas e Silêncio do coração: Este silêncio é um dos mais necessários àquele que procura “ver” Deus, possuir o coração puro requerido para a pura contemplação. É também chamado o silêncio do amor vigilante, que consiste em reagir, vigorosa e energicamente, contra todo o afecto puramente natural que se manifesta em pensamentos, conversas “interiores”, desejos demasiado ardentes, porque demasiado sensíveis, ‘à flor da pele’, como se costuma dizer, para se dirigir, com um movimento de fé e amor, a Deus. O homem deve vigiar o desejo de satisfações contrárias à Vontade de Deus : prazeres, gostos, preferências, simpatias absorventes, etc.; tudo aquilo que dificulta a adesão total ao Senhor É necessário fazer calar; calar estes desejos que dividem o coração humano através do exercício do ‘amor virginal’, desinteressado e disposto a renunciar a esses ‘objectos amados’, desejados, sacrificando as próprias exigências egoístas pelo bem alheio, através do dom generoso de si mesmo.

Ao nível sobrenatural, há que mortificar a devoção demasiado ardente, sensível; simplificar a sua relação com Deus (não multiplicar as orações, as penitências) e aceitar em paz as purificações que se manifestam de mil e uma maneiras no dia-a-dia, e tudo aquilo que, na Providência de Deus, Ele permite para nos livrar cada vez mais dos nossos apegos e maus hábitos a fim de estarmos livres para o Amor.

c) Silêncio do espírito e do juízo: A vida contemplativa do homem, quando chega a um certo nível de perfeição, pode resumir-se num só acto: abrir-se e escutar Deus, para receber a irradiação da Sua Luz, que só será possível se a inteligência permanecer livre e vazia de raciocínios, “razões” e juízos naturais, de investigações intelectuais e de intenções alheias a Deus . Este silêncio de que nos fala S. João da Cruz na Noite do Espírito significa o despojamento total do intelecto, é o "nescivi" (nada sei) de S. Paulo e o “apagar qualquer outra luz” de Isabel da Trindade.

Antes que Deus intervenha poderosamente com as suas purificações, o homem tem que fazer todo o possível por se purificar activamente; só assim é que ELE poderá agir, numa alma que se dispôs com o seu próprio trabalho.

O Silêncio Divino

Este silêncio é o silêncio mais precioso que o homem pode alcançar. Brota de uma vontade já totalmente decidida de se estar sempre unido a Deus, na mais completa abnegação pessoal. É um dom oferecido pelo próprio Deus a todo aquele que se deixou trabalhar pelo seu FOGO (grandes ou pequenas purificações; aquelas descritas por João da Cruz ou aquelas de que o Santo não fala; tudo o que faz parte da nossa vida pode transformar-se em momento privilegiado de purificação = santificação).

O grande teólogo P. Lacordaire Lagrange, deixou escrito que este silêncio representa o supremo esforço da alma que sai de si mesma, sem saber nem poder já expressar-se. A pessoa, para atingir este nível que lhe é oferecido por Deus, deverá antes ter-se abeirado do último e supremo esforço humano na colaboração com o trabalho de Deus; só depois é que as ‘núpcias espirituais’ acontecem.

Este silêncio não deve ser um silêncio qualquer, mas um silêncio amoroso, porque relacionado directamente com a Pessoa Divina.

Quando a intimidade divina é profunda, o silêncio distingue-se pela sua “pureza”, onde os ídolos e os desejos alheios a Deus começam a estar ausentes. O silêncio do coração torna-se em ‘puro desejo de Deus’, ' saudades de Deus ', reflexo de um coração não dividido. O silêncio que se vai alastrando a todo o ser da pessoa, é o próprio Deus que avança na posse da alma.

Assim, o silêncio interior é como o nosso ‘oxigénio’, é imprescindível à nossa vocação esponsal, vocação de pura união com Deus.

Fonte: Em Defesa de Lefebvre - Tradição Católica
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