Tradutor / Translator


English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Dia de todos os santos - Idolatria ou Cristianismo autêntico?


Hoje, dia 01 de Novembro, a Igreja celebra o dia de todos os santos, e isso é suficiente para confirmar, aos olhos dos protestantes incautos, a idéia de que a Igreja católica é idólatra. O pior é que, nessa época profundamente protestantizada, esses receios terminam contaminando até mesmo um grande contingente de católicos. Não importa o quanto escrevamos ou formemos, em todo lugar onde se vai, há católicos sempre com as mesmas dúvidas: e as imagens?; e os santos?; e Jesus único mediador?, etc.

Pretendemos então nesse texto demonstrar - mais uma vez - que a idéia de existirem santos é algo intrínseco ao Cristianismo. 

Primeiramente, notemos que os primeiros cristãos se chamavam a si mesmos de santos: At 9,32; 26,10; Rm 16,2; Ef 4,12; 5,3; etc.

Tornar-se santo também é visto como um objetivo a ser alcançado: Ex 22,31; Lev 20,7; 1Cor 1,2. O próprio Cristo nos ordena ser santos como Deus é santo. (Mt 5,48; 1Pe 1,16).

Ora, se os primeiros cristãos se chamavam de santos e, ao mesmo tempo, ser santo é algo que o próprio Deus nos pede, a conclusão irrefutável é que é possível ser santo. Do contrário, todas essas coisas não fariam nenhum sentido. Pedro também nos diz que o propósito divino é fazer-nos participar da Sua natureza. (2Pe 1,4). A natureza divina é santa. Logo, devemos, para tomar parte nessa natureza, ser santos. O santo, então, seria aquele que conseguiu harmonizar a sua vida com o Evangelho.

Temos então, aqui, dois conceitos de santidade: o primeiro é o de que é algo que já possuímos; o segundo é o de que é uma meta, um fim a ser alcançado. No decorrer da história, o termo "santo" (hagios) começou a ficar mais reservado para indicar esta segunda acepção: santos são os que encerraram já a sua carreira nesta vida e conquistaram a beatitude (Apo 19,8).

Haveria, portanto, como o diz o livro de Hebreus, "uma grande nuvem de testemunhas no céu" (12,1), e o que o Apocalipse por sua vez descreve como "uma multidão" (19,1). Estes são os santos.

Então, primeiramente vejamos isso: a existência dos santos não contradiz a verdade de Deus como o único santo (Apo 15,4). Perceba que não há uma terceira via: ou entendemos isto ou temos de dizer que a Bíblia é contraditória. Como sabemos que ela não é, tertia non datur.

Isto entende-se assim: vimos acima que Pedro diz que devemos participar da natureza divina. Logo, devemos ter parte na santidade de Deus. Do mesmo modo, Jesus é a luz do mundo e, ao mesmo tempo, nos chama "luzes do mundo" porque participamos da Sua luz. A ninguém devemos chamar de Pai, diz Ele, mas, ao mesmo tempo, isso não proíbe que ninguém chame ao seu genitor de pai, pois este participa da paternidade única de Deus. A ninguém chameis mestres pois um só é Vosso mestre, ordenou Ele, mas o próprio Paulo diz que podemos ter vários mestres em Cristo, isto é, que participem do único mestrado de Cristo, etc. (1Cor 4,15). Portanto, não faz sentido cismar com a idéia de a Igreja chamar alguns homens de "santos".

Esta mesma lógica da participação resolve outra aparente contradição: Jesus é o único mediador (1Tim 2,5). Mas qualquer protestante, mesmo que inconsciente, trata o seu pastor mais próximo como mediador quando o pede para orar por si. A própria Bíblia torna-se mediadora na medida em que se coloca como liame entre nós e Deus, etc. Mediar é colocar-se no meio entre as partes, estabelecendo um contato entre elas. A negação dessas mediações secundárias é algo rejeitado pela Escritura e pela lógica mais básica. O que Paulo queria dizer aí é que não há mediação alternativa a Cristo. Ele é o único mediador absoluto. Mas, a partir do momento em que estamos n'Ele, tem início uma grande dinâmica espiritual em que todos nós nos tornamos partes do mesmo corpo e, como tal, podemos mediar-nos uns aos outros n'Ele. Esta mediação secundária não contradiz a d'Ele; pelo contrário, só se torna possível graças à d'Ele. A mediação secundária confirma a mediação única. Esta é a mediação dos santos.

Um santo não tem poderes nem autoridade alternativos e próprios. Tudo o que ele é se deve a Deus. Nada há nele que seja independente. O santo é uma pessoa que viveu visceralmente o Evangelho. Ele encarnou o Verbo nele mesmo, na própria alma, no próprio corpo, e consumiu a sua vida nisso. Ele foi aquela pessoa que fez pouco caso da própria vida para dedicar-se inteiramente ao seguimento do Cristo. Ele foi aquela pessoa que desprezou tudo quanto não é Deus, e gritou, não somente com a voz, mas com todo o seu ser: "Só Deus basta!". Não apenas o santo não é um estímulo à idolatria como ele mesmo é um impedimento à idolatria. Contemplar um santo é lembrar que as verdades do Evangelho são reais e que o Deus zeloso deve ser central na vida do homem. Contemplar um santo é reavivar em nós o sentido do Céu, da transcendência; é lembrar que não vivemos para esta "má noite", como dizia Sta Teresa D'Avila, nem para este "instante entre duas eternidades", como dizia Sta Teresinha. Contemplar um santo é entender que "o homem é o que é diante de Deus, e nada mais", como falava S. Francisco de Assis.

Os santos são irmãos que já conquistaram a coroa da vida. Estão no céu, com Deus. Desse modo, purificados inteiramente de quaisquer falhas e abrasados no amor divino, podem pedir por nós de modo mais perfeito e eficaz. Não hesitemos, então, pedir-lhes que rezem por nós e peçam a Deus que nos dê forças de vencer também. Neste dia de todos os santos, ergamos os olhos da alma a esta multidão que nos precede na glória e permitamos que algo daquela alegria inefável reforce a nossa esperança e nos dê ânimo, nesta época de trevas. Santos de Deus, nossos amigos e irmãos, nossos mestres em Cristo, roguem por nós! Que a Virgem Maria, Rainha de todos os santos, esteja sempre conosco conduzindo os nossos passos para que um dia também nós possamos gozar da contemplação da divina presença. Amém.
Blog Widget by LinkWithin

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...