As condições para que um pecado possa ser qualificado como mortal ou venial são três: Matéria, Consciência e Liberdade. Explico:
A Matéria é a situação específica, se foi grave ou não, se se roubou ou se se mentiu, se houve ou não agravantes, etc. Assim, uma mentira pode ser venial ou mortal a depender das circunstâncias ou das consequências. Tais circunstâncias ou consequências são agravantes. Uma coisa é mentir a idade apenas por vaidade; outra é menti-la para que se obtenha um benefício, como um emprego; outra, ainda, é dissimulá-la a fim de isentar-se de um serviço obrigatório.
A consciência é naturalmente a auto-percepção de estar a fazer algo errado. Um ato errado sem consciência obviamente não pode ser culpabilizado. Se eu aperto um botão crendo que ele irá libertar animais presos, e, no entanto, o que ele faz é detonar uma bomba numa escola infantil, eu não posso ser culpado pelas consequências uma vez que não tinha consciência delas. Óbvio que se pode aqui questionar se tal ignorância é ou não culpável. Isto envolve um outro exame. Mas, a rigor, se faltou consciência, a culpa não pode ser aplicada. É o caso de pessoas que se casam e, depois de muitos anos, percebem que são parentes de primeiro grau. Neste caso, a culpa não lhes é imputada.
Por fim, a liberdade é a livre decisão de fazer ou não o ato referido. Roubar é errado. Porém, a gravidade da fome ou da pobreza dos parentes pode minorar - sem tornar lícito, frise-se - este ato. Do mesmo modo, certas compulsões mentais tiram ao sujeito a liberdade de agir de um modo diferente. A necessidade do ato torna-o, novamente, isento de culpa, ainda que a pessoa tivesse consciência da imoralidade do feito. Suponhamos ainda que alguém tem fobia por aranhas e está num hospital de idosos em que o silêncio é necessário. Ao ver o objeto temido, a descarga de ansiedade lhe faz gritar, e isto causa um incômodo considerável nos velhinhos, fazendo inclusive com que alguns precisem ser atendidos. Se estava em posse da pessoa não gritar, o fato de ter gritado torna-se culpável. Mas se não lhe era possível não fazê-lo, então ela não pode ser responsabilizada. Deve ser, obviamente, retirada do ambiente, mas não tem culpa. Algo similar ocorre com a blasfêmia: se feita livremente, é pecado gravíssimo. Se feita num momento de crise, a culpa pode ser minorada. Se feita porque alguém nos pôs uma arma na cabeça e ameaçou disparar se não blasfemássemos, a culpa poderá ser até nula.
Há, porém, um outro componente que julgo importante constar para que se avalie a moralidade de uma ação: é a intenção. Uma pessoa pode ter consciência de que um ato é mau, pode estar livre para fazê-lo, pode querer fazê-lo, mas ainda assim pode ter uma intenção que não é má. É o caso, por exemplo, de quem, conhecendo as regras da Igreja sobre o estado de graça necessário à comunhão, decide, num momento de inspiração, arriscar, fazer um ato de confiança cega na misericórdia divina, e tomar a santíssima espécie. Esta situação parece mais frequente do que se imagina. É claro que isto não a isenta da gravidade do ato, mas consideremos que uma coisa é que ela vá a comungar com a intenção de cometer um sacrilégio, e outra, muito diferente, é a de que esteja a fazer um ato extremado de Fé. Vê-se como a intenção é importante para uma justa avaliação dos atos. E os santos insistem particularmente nisto: a pureza de intenção. Pode-se, porém, esclarecer que, no exemplo citado, a consciência da pessoa está reduzida, uma vez que, embora conheça os ditames da Igreja, parece neles não confiar de todo, o que implica uma falta de consciência. Assim, nos casos em que a intenção é boa mas a ação não o é, tem-se um caso de ignorância, e, como dissemos, há que se investigar as causas desse defeito para se descubra se há culpa pessoal nisso ou não. Assim, embora a intenção só não seja suficiente para a moralidade de um ato, ela tampouco é dispensável.
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