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A Igreja é Santa - Scott Hahn


Scott Hahn

Frequentemente o Novo Testamento fala da Igreja em termos de santidade. A Igreja é uma "nação santa" (1Pd 2,9). É a esposa de Cristo (Ef 5,31-32). É o "templo do Deus vivo" (2Cor 2,12). Como anteriormente mencionamos, a Igreja é o santo Corpo de Cristo.

Os membros da Igreja são "fiéis consagrados" (At 9,13; 1Cor 6,1), ou "santos", dependendo da tradução da Bíblia que você usa.

O conceito de santidade é central para uma religião bíblica, ou seja, para aquela que se baseia tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. O profeta Daniel previu que "os santos do Altíssimo receberão o reino e o possuirão para sempre" (Dn 7,18).

A palavra hebraica para santidade é kiddushin que, literalmente, significa "separado", reservado para um propósito especial, como o Templo está colocado à parte de outras construções, como o Shabbat é reservado frente aos outros dias, e como uma esposa é "separada" para seu noivo (de fato, kiddushin pode significar "casamento" também). O povo santo de Deus é aquele que Ele criou à parte de todo o resto da criação, para ser a coroa da Sua criação, Sua maior glória na criação; não simplesmente Suas criaturas ou Seus servos (o que já seria uma grande honra), mas Seus amados filhos e filhas.

A Igreja é santa porque ela compartilha da Sua vida divina. Como Corpo de Cristo, a Igreja possui e distribui a própria vida de Cristo. Seus membros são santos porque, pelo Batismo, são "participantes da natureza divina" 92Pd 1,4). Este é o significado da graça: uma partilha da vida do próprio Deus.

As pessoas que a Igreja honra como "santos" são aqueles que correspondem, de forma exemplar, à graça de Deus. Muitas vezes, esta graça se manifestou em sinais exteriores como uma vida heroicamente virtuosa, a morte de um mártir, ou até mesmo com a ocorrência de grandes milagres.

Mas aqui precisamos ter cautela. Atualmente, muitas pessoas equiparam santidade com uma mera justiça ou com um bom comportamento, mas que não significa a mesma coisa, embora suas qualidades devam coexistir na mesma alma (esse é o significado literal de "justificação" e "santificação". Somos "feitos justos" e "santos"). A santidade é a vida divina, a vida de Cristo reproduzida na existência e na morte do santo. No mártir, a santidade é reproduzida de uma forma vívida e preeminente. E é esta a vida de Cristo que centelha nossa reverência e temor.

A Igreja antiga venerava os mártires, como atesta o Novo Testamento (Hb 11,35-38; Ap 6,9-11). Os cristãos posteriores veneravam ainda outro grupo além dos mártires. Em tempo, alguns autores diriam que tal grupo viveu uma espécie de "martírio brando", não morrendo de uma violência gloriosa, mas morrendo para si mesmos, em silêncio, no decorrer normal de suas vidas. Este grupo era composto de cristãos que tinham renunciado a uma vida normal em favor de Cristo e do Seu reino; tratava-se dos membros celibatários da Igreja e das virgens consagradas.

Jesus elogia os celibatários como aqueles "que se fizeram eunucos por causa do Reino do Céu" (Mt 19,12). No mundo antigo, os eunucos eram homens castrados nas cortes reais, muitos dos quais guardavam o harém do rei (ver, por exemplo, At 8,27 e uma nota de rodapé em sua Bíblia). Por serem incapazes de ter relações sexuais eram confiáveis para atender às questões do Estado, sem as distrações ou tentações que poderiam assolar outros ministros do rei. Mas Jesus não se refere a estes eunucos físicos. Ele explica que, na Nova Aliança, haverá homens celibatários que renunciam ao sexo e ao casamento para guardar a Igreja, a verdadeira noiva do Rei dos reis. Jesus conclui que tal ofício não é para qualquer um, mas "quem puder entender, que entenda" (Mt 13,12).

São Paulo dedica grande parte de um capítulo, na primeira Carta aos Coríntios, aos cuidados com as virgens (cap. 7). Enquanto Paulo afirma os benefícios do casamento, repetidas vezes, ele volta à superioridade do celibato (vv 1, 7, 8, 27-35, 38, 40), citando sua própria experiência pessoal. O livro do Apocalipse apresenta as virgens e os celibatários como aqueles que já estão vivendo como se estivessem no céu, livres para seguir a Cristo: "para aqueles que são castos; aqueles que seguem o Cordeiro aonde quer que Ele vá. Foram resgatados do meio dos homens e foram os primeiros a serem oferecidos a Deus e ao Cordeiro" (Ap 14,4). De fato, o próprio Jesus enfatizou o celibato como uma condição da vida celeste (cf. Mt 12,25); e Paulo falou das virgens consagradas como "aquelas que tiram partido deste mundo, como se não desfrutassem, porque a aparência deste mundo é passageira" (1Cor 7,31).

Durante os primeiros séculos do Cristianismo, a Igreja continuou a observar e venerar a virgindade e o celibato, frenquentemente invocando os precedentes do Novo Testamento. Além disso, um apologista cristão dos primórdios, chamado Santo Afraates, observou que o celibato não é uma bênção somente do Novo Testamento, mas também no Antigo. Ele ressaltou que a abstinência temporária era uma condição da santificação de Moisés em Israel (Ex 19,10.15), e que Josué, Jeremias, Elias e Eliseu eram celibatários -, Jeremias por ordem explícita do Senhor (Jr 16,2). Também era costume para os sacerdotes de Israel que se abstivessem de relações conjugais normais durante o serviço no santuário.

Nada disso implica que o sexo e o casamento sejam maus ou de alguma forma "sujos". O celibato é sagrado precisamente por causa do valor do que é sacrificado. Ninguém tentaria consagrar lixo colocando-o sobre o altar; assim, o casamento e o sexo são belas dádivas do nosso bondoso Deus. E os cristãos, até mesmo os profetas e sacerdotes pré-cristãos, estavam dispostos a abrir mão de algo bom pelo bem de Alguém melhor; estavam dispostos a abster-se de relações - o que, novamente, é a maior definição de santidade - como um sinal da santidade, da kiddushin, do casamento de Deus com Sua esposa, a Igreja.

Este sinal de santidade é proeminente nas Escrituras. Foi também em toda parte na Igreja antiga e medieval, e mesmo em épocas posteriores. Hoje eu consigo pensar somente numa Igreja Cristã onde esse sinal de santidade é tão proeminente, e esta é a Igreja Católica Romana. O celibato não é uma soma de santidade, mas sim um importante sinal, e um sinal bíblico no qua todos os outros sinais - justiça, milagres, fidelidade - se unem em plenitude.

HAHN, Scott. Razões para crer. São Paulo: Ed Cléofas, 2015. p.87-90.
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