Chegamos ao grande momento.
A Fé está agora na presença não de uma heresia particular como no passado – o arianismo, o maniqueísmo, dos albigenses, dos maometanos – nem está na presença de algum tipo de heresia generalizada, como ocorreu quando enfrentou a revolução protestante trezentos a quatrocentos anos atrás. O inimigo que a Fé tem de enfrentar agora, e que pode ser chamado de “O Ataque Moderno”, é um assalto indiscriminado aos fundamentos da Fé, à própria existência da Fé. E o inimigo que agora avança contra nós está cada vez mais consciente do fato de que não pode haver qualquer neutralidade. As forças que agora se opõem à Fé têm o propósito de destruí-la. A batalha é doravante travada em uma linha definida de clivagem, envolvendo a sobrevivência ou a destruição da Igreja Católica. E toda – não uma parte – de sua filosofia.
Sabemos, evidentemente, que a Igreja Católica não pode ser destruída. Porém, o que não sabemos é a extensão da área em que sobreviverá, seu poder de reviver ou o poder do inimigo de fazê-la recuar cada vez mais para suas últimas defesas, até que possa parecer que o anti-Cristo chegou, e a batalha final está para ser decidida. Esse é o momento da luta diante do mundo.
Para muitos que não nutrem simpatias pelo Catolicismo, que herdaram a velha animosidade protestante contra a Igreja (embora o protestantismo doutrinário esteja agora morto) e que pensam que qualquer ataque à Igreja tenha de ser de uma forma ou de outra uma boa coisa, a luta já se mostra como um ataque vindouro ou atual contra o que chamam “Cristianismo”.
Encontramos pessoas dizendo a todo momento que o movimento bolchevista, por exemplo, é “definitivamente anti-cristão” – “oposto a qualquer forma de cristianismo” – e que tem de ser “resistido por todos os cristãos, independentemente da Igreja particular a que se pertença”, e assim por diante.
Discursos e escritos desse tipo são fúteis, porque não significam nada de definido. Não há essa coisa de uma religião chamada de “Cristianismo” – nunca houve essa religião.
Há, e sempre houve, a Igreja e várias heresias resultantes de uma rejeição de algumas das doutrinas da Igreja por homens que ainda desejam manter o restante de seu ensinamento e moral. Mas nunca houve nem pode haver ou haverá uma religião cristã genérica, professada por homens que aceitem todos algumas importantes doutrinas centrais, embora concordando em diferir acerca de outras. Sempre houve, desde o início, e sempre haverá a Igreja e heresias várias destinadas a perecer ou, como a dos maometanos, crescer como uma religião separada. De um Cristianismo comum nunca houve e nunca poderá haver uma definição, pois nunca existiu.
Não há nenhuma doutrina essencial, de modo que, se concordarmos com ela, possamos diferir acerca do restante, por exemplo, aceitar a imortalidade, mas negar a Trindade; um homem dizer-se cristão, embora negue a unidade da Igreja Cristã; dizer-se cristão, embora negue a presença de Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento; dizer-se alegremente cristão, embora negue a Encarnação.
Não! A disputa é entre a Igreja e a anti-Igreja, a Igreja de Deus e o anti-Deus, a Igreja de Cristo e o anti-Cristo.
A verdade fica tão óbvia a cada dia que, em alguns anos, será universalmente aceita. Não classifico o ataque moderno de “anti-Cristo”, embora, no meu coração, acredite que seja o termo verdadeiro para ele: não, não o nomeio assim, porque pareceria exagerado no momento. Mas o nome não importa. Quer chamemos de “O Ataque Moderno, quer de “anti-Cristo”, é tudo a mesma coisa. Há uma questão clara agora entre a manutenção da moral, tradição e autoridade católicas, de um lado, e o esforço ativo de destruí-las, de outro. O ataque moderno não nos tolerará. E tentará nos destruir. Também não podemos tolerá-lo. Temos de tentar destruí-lo como o inimigo totalmente equipado e ardente da Verdade pela qual os homens vivem. O duelo é até a morte.
Às vezes, alguns chamam o ataque moderno de “um retorno ao paganismo”. Essa definição é verdadeira se quisermos dizer por paganismo uma negação da verdade católica. Se quisermos dizer por paganismo uma negação da Encarnação, da imortalidade humana, da unidade e personalidade de Deus, da responsabilidade direta do homem perante Deus e de todo o corpo de pensamento, sentimento, doutrina e cultura que se resume na palavra “Católico”, então, e apenas nesse sentido, o ataque moderno é um retorno ao paganismo.
Porém, há mais de um paganismo. Houve um paganismo de onde todos viemos: o paganismo nobre e civilizado da Grécia e de Roma. Houve o paganismo bárbaro das tribos selvagens germânicas, eslavas e outras. Há o paganismo degenerado da África, o paganismo alienado e desesperador da Ásia. Agora, como de todos esses foi possível trazer homens para a Igreja universal, qualquer novo paganismo que rejeite a Igreja conhecida seria certamente muito diferente dos paganismos para os quais a Igreja era ou é desconhecida.
Um homem subindo um monte pode estar no mesmo nível que outro descendo, mas estão voltados para caminhos diferentes e têm diferentes destinos. Nosso mundo, saindo do antigo paganismo da Grécia e de Roma para a consumação da Cristandade e de uma civilização Católica da qual todos provimos, é a própria negação do mesmo mundo que deixa a luz de sua religião ancestral e desliza para o escuro.
Considerando isso, vamos examinar o Ataque Moderno – o avanço anti-Cristão – e distinguir sua natureza especial.
Verificamos, para começar, que é ao mesmo tempo materialista e supersticioso.
Há aqui uma contradição da razão, mas a fase moderna, o avanço anti-Cristão, abandonou a razão. Preocupa-se com a destruição da Igreja Católica e da civilização proveniente dela. Não está preocupada com contradições aparentes em seu próprio corpo, contanto que a aliança geral seja para acabar com tudo pelo que temos até agora vivido. O ataque moderno é materialista, porque, em sua filosofia, considera apenas causas materiais. É supersticioso apenas como um subproduto de seu estado mental. Alimenta em sua superfície os caprichos tolos do espiritualismo, o disparate vulgar da “Ciência Cristã”, e sabe Deus quantas outras fantasias. Mas essas tolices são produzidas não por uma fome de religião, mas pela mesma raiz que tornou o mundo materialista: por uma incapacidade de entender a verdade primeira de que a fé está na raiz do conhecimento, por pensar que nenhuma verdade é apreensível, exceto através de experiência direta.
Há aqui uma contradição da razão, mas a fase moderna, o avanço anti-Cristão, abandonou a razão. Preocupa-se com a destruição da Igreja Católica e da civilização proveniente dela. Não está preocupada com contradições aparentes em seu próprio corpo, contanto que a aliança geral seja para acabar com tudo pelo que temos até agora vivido. O ataque moderno é materialista, porque, em sua filosofia, considera apenas causas materiais. É supersticioso apenas como um subproduto de seu estado mental. Alimenta em sua superfície os caprichos tolos do espiritualismo, o disparate vulgar da “Ciência Cristã”, e sabe Deus quantas outras fantasias. Mas essas tolices são produzidas não por uma fome de religião, mas pela mesma raiz que tornou o mundo materialista: por uma incapacidade de entender a verdade primeira de que a fé está na raiz do conhecimento, por pensar que nenhuma verdade é apreensível, exceto através de experiência direta.
Assim, o espiritualista se gaba de suas manifestações demonstráveis, e seus vários rivais, de suas claras provas diretas. Mas todos concordam que a Revelação deva ser negada. Foi bem notado que nada é mais marcante do que a maneira pela qual todas as práticas quase religiosas modernas concordam com isso: que a Revelação deva ser negada.
Podemos inferir, então, que o novo avanço contra a Igreja – que talvez se mostre o avanço final contra a Igreja, que é, de qualquer maneira, o único inimigo moderno de importância – é fundamentalmente materialista. É materialista em sua leitura da história e, acima de tudo, em suas propostas de reforma social.
Por ser ateísta, é característico da onda que avança que repudie a razão humana. Essa atitude mais uma vez poderia parecer uma contradição em termos, pois, se você nega o valor da razão humana, se você diz que não podemos, por nossa razão, chegar a qualquer verdade, então, nem mesmo a afirmação acima feita pode ser verdade. Nada pode ser verdade, e nada vale ser dito. Mas o grande Ataque Moderno (que é mais do que uma heresia) é indiferente à auto-contradição. Simplesmente afirma. Avança como um animal, dependendo apenas da força. De fato, pode-se notar, de passagem, que isso bem pode ser a causa de sua derrota final, pois, até agora, a razão sempre sobrepujou seus oponentes, e o homem é o mestre da besta pela razão.
De qualquer forma, temos o Ataque Moderno em seu caráter principal, materialista e ateísta, e, por ser ateísta, é necessariamente indiferente à razão. Porque Deus é a Verdade.
Mas há (como os maiores dos gregos antigos descobriram) uma certa Trindade indissolúvel de Verdade, Beleza e Bondade. Não se pode negar ou atacar uma dessas três sem, ao mesmo tempo, negar ou atacar ambas as outras. Conseqüentemente, com o avanço desse novo e terrível inimigo contra a Fé e toda a civilização que a Fé produz, vem não apenas um desprezo pela beleza, mas um ódio a ela, e, colado em seus calcanhares, aparece um desprezo e um ódio à virtude.
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